Infância roubada



Diz-me, criança triste,
onde esconderam a tua alegria?
onde perdeste o brilho dos teus olhos?
Porque não corres e sorris?

«Sou criança sem tempo para ser criança,
a alegria escondeu-se atrás do que não fui,
do que não cheguei ou chegarei a ser.
O brilho dos meus olhos naufragou
no dia em que perdi os afectos.
Os meus olhos eram prados
onde jorrava uma fonte água cristalina.
O meu sorriso abria de encanto
quando corria para os braços de meus pais.
No dia em que partiram,
os meus olhos secaram,
neles fundiram as estrelas brilhantes,
perdidas na escuridão da noite.
No dia em que contemplei o vazio
do colégio do meu futuro,
fechei o meu sorriso à chave
e escondi-a para sempre
no vazio da minha alma.
Hoje o meu coração já não bate de ansiedade,
no meu peito carrego apenas saudade
de tudo o que ficou atrás do sorriso.
Já silenciei na garganta o grito,
sou a adulta que a sociedade me exige!»

A voz morre-me na garganta,
não tenho palavras ante esta criança adulta
a quem foi roubada a infância.
Quedo-me junto dela,
partilhamos o momento,
olhos marejados, os meus,
olhos secos, os dela.
O meu peito batendo de emoção,
o dela silencioso, encostado ao meu.
Estarei aqui até recuperares os afectos,
esperarei pacientemente que me sorrias
e reencontres a alegria de viver!
Serei paciente.
                                             Célia Gil

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