Perda da inocência das palavras

(imagem do Google)

Nem sempre conseguimos cuspir as palavras
que nos irrompem na mente
perante uma atitude inadequada.
Asfixiamo-las na garganta,
impedindo-as de jorrarem,
com medo de as receber de volta.
Nem sempre a força e a coragem
nos permitem dizer o que pensamos,
o que nos vem prontamente à cabeça.
Limamos o pensamento de tal forma
que nada fica para dizer
de tudo o que não foi dito.

Por isso as crianças são genuínas,
não limam as palavras,
proferem-nas sem reservas,
ainda que constituam a maior barbaridade.

Quem me dera ser criança
para não ter o peso da consciência,
para poder dizer o que penso
quando penso e como penso.
Ser recebida com condescendência,
ser perdoada pela ignorância,
desculpada pela inocência
das palavras que soam à infância.
Que saudades, Deus meu,
desses tempos em que era genuína,
em que o limite era o céu
e os meus sonhos de menina.
Palavras brincalhonas, dançantes,
rebolando da mente para fora,
palavras agressivas, sonantes,
que irrompem da boca sem demora.
Palavras trôpegas, tropeçando em inocência,
soltas qual voos de ave embriagada,
recebidas com profunda benevolência.
Palavras mal ditas, inadequadas,
algumas inocentemente maldosas,
simplesmente desculpabilizadas,
ausentes de mensagens maliciosas.

Mas a idade é uma condição,
um posto, que traz a consciência.
E a palavra perde a expressão
remetida ao silêncio da sua incoerência,
não desculpável pela inocência!
                                             Célia Gil

7 Comentarios

  1. Muito bem obsewrvado e escrito. Vamos crecendo, perdendo o espontâneo das coisas e afastando cada vez mais nossas palavras dos nossos sentimentos.
    Beijos e bom dia querida!!

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  2. Adorei, Célia, parabéns! Bjo.

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  3. Lindo post Célia, uma ótima tarde. bjs

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  4. Minha querida

    Obrigada pela visita e pelas palavras...gostei muito de tudo o que li, e estou seguindo para voltar.

    Beijinho
    Sonhadora

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  5. Boa noite, querida amiga Célia.

    Muito obrigada pela honra da sua visita.

    Seu texto é lindo. Apesar da ética, dos limites,etc... Quando a verdade é uma constante na nossa vida, praticamente continuamos nos comunicando como crianças.

    Um grande abraço.
    Tenha uma linda semana de paz.

    Maria Auxiliadora (Amapola)

    Estou lhe seguindo.

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  6. Célia Gil! FASCINANTE!

    Que poema maravilhoso sobre a perda da inocência e consequentemente a perda da liberdade de expressão por nós mesmas imposta.

    Gostei da parte de limar as palavras, tenho feito isso diariamente para que alguma palavra bruta não escape e estrague a convivência...

    Um grande beijo e obrigada pelo carinho.

    Chris

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