Perda da sensibilidade



Hoje o dia amanheceu cinzento
e pesa toneladas no meu peito.
Para onde foi a minha sensibilidade?
Porque não se levantou hoje comigo?
Queria acordar com o canto das aves
bebericando a chuva da primavera
no peitoril da janela.
Queria contemplar as nuvens
e ver nelas mil e uma formas diferentes
e um cavalo alado
onde o meu sonho pudesse galopar.

Mas hoje sou só verdade,
hoje sou dura realidade
e os meus olhos são apenas olhos,
não vêem nada nas nuvens,
os meus ouvidos não escutam os pássaros
e até a minha pele ignora o arrepio
das gotas de chuva primaveris.

O meu peito não bate por nada,
está numa apática amnésia de prazer.
Os meus lábios não sorriem
nem sequer se contraem em dor,
estão ausentes de vida.

Onde se escondeu a minha sensibilidade?
Amanhã, se voltar a acordar sem ela
noticiarei o seu desaparecimento nos jornais.

Não sei viver sem o brilho,
o arrepio, a vontade, o prazer,
não sei limitar-me a existir
num existir sem emoções,
nesta morte espiritual.
                                      Célia Gil

5 Comentarios

  1. Olá,Célia!!

    Nossa!!Fiquei toda arrepiada!!tem dias que me sinto exatamente como sua poesia diz...mas espanto logo e não permite que esta sensação me acompanhe mais que uns minutos do meu dia...confesso que as vezes não é nada fácil me livrar dela...
    Mas preciso ver o belo,acreditar e buscar sempre o melhor!
    Amei sua poesia!!!Parabéns!!
    Bom início de semana!!
    Beijos!

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  2. Ser só verdade, às vezes, é muito duro; temos que ser sonhos, esperança, desejos....
    Alguns dias levanto-me da mesma forma.
    Lindo!
    Beijos Célia,
    Carla

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  3. Obrigada pela visita e gentil comentário!
    Bela poesia e bela foto.

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  4. Minha for do narciso!!!!

    Isto é uma afronta a minha beleza!!!! rsrsrs Quanta palavra linda junta... e tão bem colocada... tão bem sentida e vivida, ausentou até a tristeza do fundo poetico q vinha de inicio... Parabéns!

    bjs

    Catita

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  5. Célia,
    Você, com maestria, descreveu muito bem aqueles dias cinzentos pelos quais todos passamos. O bom é que ele passam. Belo poema, pra variar, né minha flor linda! Bjs. Te adoro!!!

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