Insatisfação (des)humana


          Encaro, por vezes, a vida como se tivesse acabado de nascer. Tudo me parece irreal, entre a ficção e a realidade, mas muito improvável. E sinto que os meus pés não estão fixos no chão. Pairam sobre uma plataforma de esponja irregular, que nem sempre sei contornar. As vozes que antes escutava ali, são agora vozes que se escutam ao longe, num eco que não consigo evitar. Vozes cujas mensagens não consigo ou não quero discernir. Vozes da razão, em gente que domina o mundo, que se sente segura de si, cheia de si, tão plena de si que os outros são meras partículas neste seu mundo.  Eu que me sinto ínfima partícula, deslocada deste mundo de heróis, só tenho vontade de voltar às origens, à infância, ao momento em que não precisava ser dona de nada, senhora de qualquer coisa, mas em que era verdadeiramente eu, na minha mais pura essência. Tão bom ser assim, sem precisar parecer! Tão feliz assim quando não me exigiam que fosse feliz! Tão eu!


Insatisfação (des)humana

Quem sou eu?
Quem nunca se questionou?
Quem nunca desejou
que o tempo voltasse atrás?

Todos pensamos e ponderamos
se escolhemos o melhor caminho,
a profissão certa,
a vida desejada…
Porque a vida desilude,
põe-nos a toda a hora à prova.
E se? E se?
Quantos ses na nossa vida…

O ser humano é assim,
um eterno insatisfeito!
Um pensador nato,
que perde tempo a interrogar-se,
passa a vida a lamentar-se,
os dias a desculpar-se
dos erros que não enfrenta,
das dificuldades que se lhe deparam.
Sempre com a alma iludida,
insatisfeito por profissão,
sem encontrar uma razão,
passa ao lado da vida.
                                       Célia Gil

2 Comentarios

  1. Que maravilha te ler. Parece que estamos lado a lado numa conversa. E como é bom nada precisar mostrar pra ninguém, simplesmente ser e pronto, tocando a vida! Lindo e a poesia, maravilhosa! beijos,linda semana! chica

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  2. Olá, querida Célia
    Gostei do que disse sobre ser a gente mesma sem ter que fingir ou forçar a barra... Muito bom!!!
    Muitos questionamentos e as respostas vêm com o passar do tempo... a maturidade no-las concede...
    Bjm de paz e bem

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