quarta-feira, 30 de julho de 2025

As Perfeições, Vincenzo Latronico

Latronico, Vincenzo (2024). As Perfeições. Lisboa: Elsinore.

Tradução: Vasco Gato
N.º de páginas:136
Início da leitura: 29/07/2025
Fim da leitura: 30/07/2025

**SINOPSE**
"Anna e Tom, jovem casal de nómadas digitais, recém-chegados a Berlim, acreditam levar uma vida invejável: um trabalho criativo de que gostam, um apartamento cuidadosamente decorado com objetos de design, amigos interessantes, uma relação sexual aberta e serões que terminam na manhã seguinte. Tudo aquilo com que sonharam. No entanto, por detrás desta imagem de «perfeição» nasce uma insatisfação tão profunda quanto difícil de compreender. Os anos passam. O trabalho torna-se repetitivo, a vida social monótona. A cidade já nada tem de novo para lhes oferecer. Anna e Tom sentem-se presos e atormentados por encontrar algo mais real e genuíno. Resta-lhes perseguir noutro lugar esse sonho de autenticidade que lhes parece fugir.

Um dos romances mais aclamados da literatura italiana contemporânea, As Perfeições é o retrato magistral, fiel e desencantado de uma inteira geração, uma parábola das nossas vidas assediadas pelas imagens das redes sociais e da procura por uma autenticidade cada vez mais frágil e rara."
Este é um daqueles livros que, apesar de curtos, ficam a ecoar na cabeça por bastante tempo. As Perfeições podia ser só mais uma história sobre um casal jovem a viver em Berlim — Anna e Tom, dois freelancers criativos a tentar "viver a vida" — mas o que Latronico faz aqui é muito mais do que isso. O escritor pega nesse cenário aparentemente moderno e cosmopolita e desmonta, com uma calma quase cirúrgica, o que se esconde por detrás da imagem: o vazio.

O livro é como um espelho do nosso tempo, especialmente para quem cresceu com redes sociais e vive numa bolha onde tudo precisa de parecer bonito, interessante e bem-sucedido. Anna e Tom estão constantemente a tentar construir uma vida perfeita — mas não para viverem nela, e sim para a mostrarem aos outros. E quanto mais tentam que tudo esteja "no lugar certo", mais se vão afastando daquilo que é real: emoções verdadeiras, conexões profundas, imperfeições humanas.

Há uma frieza propositada na forma como a história é contada — sem grandes dramas, quase tudo contido — e isso acaba por intensificar ainda mais o sentimento de desconexão. Como se a vida deles fosse uma sequência de fotos com filtro: esteticamente belas, mas vazias de sentido. E o mais interessante (e desconcertante) é que nunca sentimos que eles estão propriamente infelizes… mas também nunca parecem verdadeiramente vivos.

Latronico não acusa nem moraliza. Apenas observa — e convida-nos a fazer o mesmo. Ao fim da leitura, fica a sensação de que muitos de nós estamos (ou já estivemos) presos nesta lógica: a de viver para parecer. E a perfeição, afinal, é só mais uma ilusão que nos afasta daquilo que realmente importa.

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