segunda-feira, 28 de julho de 2025

Viradas do Avesso, Joana Kabuki

 Kabuki, Joana (2023). Viradas do Avesso. Lisboa: Clube do Autor.

N.º de páginas: 272
Início da leitura: 26/07/2025
Fim da leitura: 27/07/2025

**SINOPSE**

"Fascinada pelo comportamento e pelas relações humanas, Joana Kabuki escreve sobre sentimentos universais e leva-nos a refletir sobre como, muitas vezes, vivemos aprisionados no tempo. Um romance sobre a relatividade das memórias, o peso do passado e a derradeira escolha sobre quem queremos ser quando a vida nos vira do avesso.

Berta, Alice e Carlota são inseparáveis. Jovens e inocentes, desconhecem que a força do passado não encontra limites. Na sequência de um trágico acontecimento, Berta desaparece. A brutalidade dos eventos muda irremediavelmente as suas vidas, condicionando as suas escolhas e os seus caminhos.

Vinte anos depois, Berta reaparece de forma tão enigmática como desaparecera. O reencontro das três mulheres origina o desfiar de memórias difusas e revela segredos e traumas há muito encarcerados. Ao invés de verem sarar as feridas, confrontam-se, uma vez mais, com novos e profundos golpes.

Qual o verdadeiro motivo que levou ao desaparecimento?
Passados tantos anos, serão capazes de desenlear o nó das suas vidas e reconciliar-se com o passado e consigo próprias?"
Esta obra, romance de estreia de Joana Kabuki, distingue-se pela sensibilidade emocional, pela estrutura narrativa cuidada e pela construção de personagens femininas complexas. A história desenvolve-se a partir do reencontro de três mulheres — Alice, Berta e Carlota — cuja amizade foi marcada por um acontecimento traumático na juventude, há vinte anos. A súbita reaparição de Berta, após anos de ausência, é o ponto de partida para uma narrativa que alterna entre o presente e o passado, explorando o peso das escolhas, a memória e as diferentes formas de lidar com a dor.

Um dos aspetos mais conseguidos do livro é a estrutura em três vozes narrativas, que nos permite, a nós leitores, aceder ao universo interior de cada protagonista. Esta escolha narrativa, além de dar profundidade à história, permite múltiplas perspetivas sobre os mesmos acontecimentos, o que enriquece a compreensão dos conflitos, das mágoas e dos afetos que as unem e afastam.

Joana Kabuki revela-se também uma autora com sensibilidade para os detalhes emocionais. A sua escrita é fluida, intimista e pontuada por imagens poéticas que contribuem para a criação de uma atmosfera nostálgica e, por vezes, melancólica. O tema da amizade, o silêncio das feridas antigas e o desejo de reconciliação atravessam o romance com uma força contida, mas persistente.

Outro ponto forte da narrativa é o suspense emocional que se vai construindo à medida que o leitor descobre, a par das personagens, o que levou Berta a desaparecer. Não se trata de um thriller, mas há uma tensão constante — um fio invisível de mistério que prende o leitor até ao fim.

Ainda assim, nem tudo é irrepreensível. A opção por dar voz a três personagens conduz, por vezes, a repetições desnecessárias, com descrições semelhantes de episódios já conhecidos, o que pode quebrar o ritmo da leitura. Além disso, as protagonistas, apesar de marcantes, por vezes aproximam-se de arquétipos previsíveis — a sonhadora, a intensa, a contida — o que limita ligeiramente a riqueza psicológica esperada.

O final do romance, embora coerente dentro da lógica emocional da obra, deixou-me com a sensação de ligeira artificialidade ou de excesso de dramatismo. Depois de uma construção tão cuidadosa, esperava um desfecho mais contido, que mantivesse o tom introspetivo do início.

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