sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Kairos, Jenny Erpenbeck

Erpenbeck, Jenny (2024). Kairos. Lisboa: Relógio D'Água.


Tradução: António Sousa Ribeiro
N.º de páginas: 336
Início da leitura: 27/08/2025
Fim da leitura: 28/08/2025

**SINOPSE**

"Berlim. 11 de Julho de 1986. Encontram-se por acaso num autocarro. Ela é uma jovem estudante. Ele é mais velho e casado. Nasce uma atracção súbita e intensa, alimentada por uma paixão partilhada pela música e pela arte e intensificada pelo secretismo que precisam de manter.
Mas, quando ela se afasta por uma única noite, ele não lhe consegue perdoar. Uma fissura surge entre os dois, abrindo espaço para a crueldade, a punição e o exercício do poder.
Entretanto, o mundo em redor está a mudar. À medida que a RDA começa a ruir, também as velhas certezas e lealdades se desfazem, anunciando uma nova era cujas conquistas trazem consigo uma perda profunda.
Um relato íntimo e devastador do caminho de dois amantes pelos escombros de uma relação, num dos períodos mais turbulentos da história europeia."
O romance acompanha a relação entre uma jovem estudante e um homem mais velho, uma ligação que oscila entre a paixão avassaladora e a sombra da manipulação, sempre em paralelo com a lenta derrocada da República Democrática Alemã. Erpenbeck procura fundir o íntimo e o político, mostrar como as estruturas de poder que moldam um país também contaminam os afetos. A intenção é forte e ambiciosa, mas a execução nem sempre cativa. A prosa é minuciosa, por vezes quase clínica, e essa atenção ao detalhe, que podia ser uma virtude, acaba por saturar: capítulos que se arrastam, diálogos que parecem repetir-se, uma cadência que exige do leitor mais paciência do que recompensa.

Há momentos de grande lucidez — quando a autora expõe a fragilidade da memória, ou quando deixa entrever como o amor pode degenerar em prisão — mas esses instantes surgem dispersos, perdidos num tecido narrativo que, a certa altura, se torna cansativo. Talvez seja essa a razão do incómodo: Kairos tem todos os elementos de uma obra importante, mas a sua densidade aproxima-se mais do exercício intelectual do que da experiência viva da leitura.

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