Erpenbeck, Jenny (2024). Kairos. Lisboa: Relógio D'Água.
Tradução: António Sousa Ribeiro
N.º de páginas: 336
Início da leitura: 27/08/2025
Fim da leitura: 28/08/2025
**SINOPSE**
"Berlim. 11 de Julho de 1986. Encontram-se por acaso num autocarro. Ela é uma jovem estudante. Ele é mais velho e casado. Nasce uma atracção súbita e intensa, alimentada por uma paixão partilhada pela música e pela arte e intensificada pelo secretismo que precisam de manter.
Mas, quando ela se afasta por uma única noite, ele não lhe consegue perdoar. Uma fissura surge entre os dois, abrindo espaço para a crueldade, a punição e o exercício do poder.
Entretanto, o mundo em redor está a mudar. À medida que a RDA começa a ruir, também as velhas certezas e lealdades se desfazem, anunciando uma nova era cujas conquistas trazem consigo uma perda profunda.
Um relato íntimo e devastador do caminho de dois amantes pelos escombros de uma relação, num dos períodos mais turbulentos da história europeia."
Mas, quando ela se afasta por uma única noite, ele não lhe consegue perdoar. Uma fissura surge entre os dois, abrindo espaço para a crueldade, a punição e o exercício do poder.
Entretanto, o mundo em redor está a mudar. À medida que a RDA começa a ruir, também as velhas certezas e lealdades se desfazem, anunciando uma nova era cujas conquistas trazem consigo uma perda profunda.
Um relato íntimo e devastador do caminho de dois amantes pelos escombros de uma relação, num dos períodos mais turbulentos da história europeia."
O romance acompanha a relação entre uma jovem estudante e um homem mais velho, uma ligação que oscila entre a paixão avassaladora e a sombra da manipulação, sempre em paralelo com a lenta derrocada da República Democrática Alemã. Erpenbeck procura fundir o íntimo e o político, mostrar como as estruturas de poder que moldam um país também contaminam os afetos. A intenção é forte e ambiciosa, mas a execução nem sempre cativa. A prosa é minuciosa, por vezes quase clínica, e essa atenção ao detalhe, que podia ser uma virtude, acaba por saturar: capítulos que se arrastam, diálogos que parecem repetir-se, uma cadência que exige do leitor mais paciência do que recompensa.
Há momentos de grande lucidez — quando a autora expõe a fragilidade da memória, ou quando deixa entrever como o amor pode degenerar em prisão — mas esses instantes surgem dispersos, perdidos num tecido narrativo que, a certa altura, se torna cansativo. Talvez seja essa a razão do incómodo: Kairos tem todos os elementos de uma obra importante, mas a sua densidade aproxima-se mais do exercício intelectual do que da experiência viva da leitura.


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