Towles, Amor (2025). Mesa para Dois. Alfragide: Publicações Dom Quixote.
N.º de páginas: 528
Início da leitura: 04/08/2025
Fim da leitura: 06/08/2025
**SINOPSE**
"É com Pushkin que começa este livro - não o famoso escritor, mas antes um camponês, também ele uma espécie de poeta, que por amor à mulher (uma deslumbrada comunista) se muda para Moscovo em 1918. Na grande metrópole, descobre os limites da revolução proletária (é despedido num ápice) e o rosto da nova Rússia: falta tudo, o pão, o leite, os medicamentos… Sem desanimar, encontra um novo afazer, guardar lugar nas filas. E é graças ao seu talento que, após várias peripécias, acaba por partir para Nova Iorque no fim de 1929. Nada é inocente na escrita de Amor Towles. O facto de a primeira história começar na Rússia e acabar nos Estados Unidos estabelece a ponte entre este livro e os dois primeiros romances do autor: As Regras da Cortesia (Nova Iorque, anos 30) e Um Gentleman em Moscovo (que arranca no despontar da União Soviética).
Estabelece ainda outro paralelo. As cinco histórias que se seguem, embora ambientadas em Manhattan, são herdeiras de Gogol, Tchékov ou até Pushkin, eivadas pela mesma deriva moral, pelo existencialismo, a duplicidade, o vício, o amor ao belo. É também este universo que o autor transporta para o breve romance que encerra este livro: Eve em Hollywood. Aqui, Amor Towles recupera uma das suas grandes criações, Evelyn Ross, que perdêramos de vista em As Regras da Cortesia. A personagem, de estonteante beleza, rasgada por uma profunda cicatriz, reaparece agora em Los Angeles, em 1938. E com ela redescobrimos o noir americano, pisamos o terreno antes trilhado por Chandler - não na pista de um crime, mas como investigadores dos profundos recessos da alma humana. Mesa para Dois é isto, seis contos e uma novela que nos devolvem um dos mais extraordinários escritores americanos contemporâneos, no auge do seu talento narrativo."
Com um estilo sofisticado, preciso e profundamente cinematográfico, Towles conduz-nos por seis histórias ambientadas em Nova Iorque e uma novela final, passada em Hollywood, numa homenagem clara ao espírito e estética dos anos dourados do cinema.
Neste livro, oferece-nos um retrato da alma americana — não tanto pela grandiosidade dos acontecimentos, mas pelo detalhe subtil dos gestos e escolhas que moldam os destinos individuais.
Towles move-se com mestria entre personagens aparentemente banais, revelando, com acutilância e graça, os dramas e contradições que habitam os seus quotidianos. Há uma elegância latente na sua escrita que, sem nunca resvalar para o exibicionismo literário, nos recorda que estamos perante um autor que respeita profundamente a inteligência e a sensibilidade do leitor.
O conto que dá título ao livro — «Mesa para Dois» — é particularmente boa, oferecendo uma reflexão mordaz sobre ambição, destino e identidade. Towles tem uma capacidade rara de construir personagens complexas em poucas páginas, e fá-lo com diálogos vivos, uma ironia discreta e um domínio absoluto do ritmo narrativo.
A novela final, “Eve in Hollywood”, é quase um livro dentro do livro — um épico contido, que remete para os ecos de Fitzgerald e de Capote, onde o glamour serve de pano de fundo para dilemas morais e encontros inesperados.
Quem nunca leu nada do autor, não pode mesmo deixar de ler, este e os anteriores.
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