Peters, Amanda (2024). Os Apanhadores de Bagas. Lisboa: TopSeller.
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Os Apanhadores de Bagas, Amanda Peters
quarta-feira, 30 de julho de 2025
As Perfeições, Vincenzo Latronico
Latronico, Vincenzo (2024). As Perfeições. Lisboa: Elsinore.
Tradução: Vasco Gatoterça-feira, 29 de julho de 2025
O Sonho do Jaguar, Miguel Bonnefoy
Bonnefoy, Miguel (2025). O Sonho do Jaguar. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Prémio Femina 2024
Finalista do Prémio Médicis 2024
Finalista do Prémio Renaudot 2024
Finalista do Prémio Jean Giono 2024
Quando uma pedinte muda de Maracaíbo, na Venezuela, encontra um recém-nascido abandonado nos degraus de uma igreja, nem imagina o destino invulgar que o pequeno órfão virá a ter. Criado na miséria, Antonio será sucessivamente vendedor de cigarros, carregador nos cais, empregado num bordel, até se tornar, graças à sua fervilhante energia, um dos mais ilustres cirurgiões do seu país. Uma companheira excecional será a sua inspiração. Ana Maria irá ficar conhecida como a primeira médica da região. Terão uma filha, a quem darão o nome do próprio país: Venezuela. Ligada tanto pelo nome como pelas suas origens à América do Sul, só pensa, porém, em ir para Paris. Mas ninguém consegue alguma vez deixar verdadeiramente os seus. E será nos cadernos de Cristóbal, o último elo da corrente familiar, que as mil histórias desta espantosa linhagem poderão finalmente ancorar.
Nesta vibrante saga de personagens inesquecíveis, com um estilo flamejante, Miguel Bonnefoy pinta o retrato, inspirado nos seus próprios antepassados, de uma família extraordinária cuja história se entrelaça com a da Venezuela."
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Viradas do Avesso, Joana Kabuki
Kabuki, Joana (2023). Viradas do Avesso. Lisboa: Clube do Autor.
N.º de páginas: 272Início da leitura: 26/07/2025
Fim da leitura: 27/07/2025
**SINOPSE**
domingo, 27 de julho de 2025
Mademoiselle Chanel e o Perfume do Amor, Michelle Marly
Marly, Michelle (2021). Mademoiselle Chanel e o Perfume do Amor. Lisboa: Planeta.
Paris, 1919. A cidade vive rendida ao estilo de Gabrielle Coco Chanel. A sua moda revolucionária tornou a sua criadora num verdadeiro símbolo da elegância. Mas, quando Coco perde o grande amor da sua vida num acidente de viação sucumbe à tristeza.
Muitos temem que seja o fim da sua carreira.
No entanto, um novo e ambicioso projeto arranca-a do profundo estado de depressão e angústia em que vivia: a ideia de criar um perfume que junte uma fragrância misteriosa, moderna e o cheiro do amor.
Gabrielle parte, então, numa verdadeira aventura em busca do perfume perfeito, capaz de imortalizar o amor que vivera. Enquanto procura a essência certa, Gabrielle visita Veneza, onde encontra Dimitri Romanov, um grão-duque russo exilado, e fica a conhecer a história do perfume criado em honra de Catarina, a Grande. E estas serão duas das inspirações que marcarão o antes e o depois da vida de Coco e o aroma do seu perfume: o icónico Chanel N.º 5, que se tornará o perfume mais famoso do mundo até aos dias de hoje.
Baseado em factos reais, este romance apaixonante conta-nos a história do mítico Chanel N.º 5 e mostra-nos a mulher por trás da criadora. O seu lado sensível, apaixonado e generoso num período fascinante e ainda misterioso da vida de Coco Chanel."
domingo, 20 de julho de 2025
A Governanta, Samantha Hayes
Hayes, Samantha (2025). A Governanta. Lisboa: Alma dos Livros.
Tradução: Sónia Lopesquinta-feira, 17 de julho de 2025
As Terças com Morrie, Mitch Albom
Albom, Mitch (2025). As Terças com Morrie. Porto: Albatroz.
Tradução: Alexandra GuimarãesAs Terças com Morrie é uma
obra comovente e profundamente humana, que transcende o relato biográfico para
se tornar uma verdadeira lição de vida. Mitch Albom reconstrói, com
sensibilidade, os últimos meses de vida do seu antigo professor, Morrie
Schwartz, diagnosticado com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), e transforma
esse reencontro tardio numa série de conversas transformadoras sobre os grandes
temas da existência.
Apesar de não ser uma leitura
de estrutura linear fácil – com alternâncias entre passado e presente que
exigem atenção do leitor – essa fragmentação acaba por espelhar a própria
complexidade da memória, da reflexão e da condição humana. A narrativa é entrecortada
por memórias, trechos de entrevistas e episódios da juventude, compondo uma
teia rica que aprofunda o impacto emocional da história.
O mais impressionante,
contudo, é a forma serena, quase luminosa, com que Morrie encara a sua doença
terminal. Ao contrário da expectativa comum diante da morte – sofrimento,
revolta, resignação amarga – Morrie transforma o processo de morrer num exercício
de sabedoria e amor. A dor inicial dá lugar a uma aceitação madura, onde o medo
é superado pela rotina, e o foco se desloca para aquilo que realmente importa:
os afetos, os vínculos, a entrega genuína ao outro.
A lição maior que o livro nos
oferece é essa: o que nos mantém vivos é o amor. Não o amor romântico ou
idealizado, mas o amor que se manifesta no cuidado com o outro, na escuta, no
toque, no tempo que se doa. Em meio à desgraça física, há uma grandeza moral e
espiritual que emerge com força: a de que a vida ganha sentido apenas quando
nos dedicamos aos outros, não com posses, mas com presença e compaixão.
Este livro não é apenas sobre a morte, mas sobretudo sobre a vida – vivida com propósito, empatia e verdade. É uma obra que, embora dolorosa, conforta. Embora triste, inspira. E, acima de tudo, ensina que mesmo nas circunstâncias mais difíceis, é possível escolher o amor como resposta. Aconselho vivamente.
O Aniversário, Andrea Bajani
Bajani, Andrea (2025). O Aniversário. Lisboa: Alfaguara.
N.º de páginas: 144
Início da leitura: 16/07/2025
Fim da leitura: 16/07/2025
terça-feira, 15 de julho de 2025
Uma Questão de Conveniência, Sayaka Muraka
Muraka, Sayaka (2019). Uma Questão de Conveniência. Alfragide: Publicações Dom Quixote.
Sayaka Murata oferece-nos, em Uma
Questão de Conveniência, um retrato incomum e provocador da sociedade
japonesa contemporânea, visto através dos olhos de uma protagonista que recusa
seguir os padrões sociais estabelecidos. Este breve romance, apesar da sua
aparente simplicidade, revela-se profundamente crítico e inquietante,
levantando questões sobre identidade, normalidade e conformismo social.
A protagonista, Keiko Furukura,
é uma mulher de 36 anos que trabalha há dezoito anos numa konbini (loja de
conveniência). A escolha deste ambiente como palco central da narrativa não é
casual: a loja é uma metáfora do funcionamento padronizado da sociedade
japonesa — rotineiro, impessoal, mas funcional. A monotonia inicial da
narrativa reflete deliberadamente a rotina obsessiva de Keiko, cujo mundo está
meticulosamente estruturado em torno das regras e ritmos da loja. Esta secção
do livro pode parecer estagnada a nós, leitores ocidentais, pouco habituados à
valorização da repetição e da contenção emocional que caracterizam certos
aspetos da cultura japonesa.
Contudo, o verdadeiro impacto
da obra emerge quando Shiraha, um ex-colega socialmente marginalizado, entra em
cena. A decisão de Keiko de o acolher em sua casa marca uma rutura na aparente
estagnação da narrativa. Não por uma súbita transformação da protagonista, mas
porque esta mudança revela com clareza a hipocrisia e a violência simbólica das
expetativas sociais. A relação entre Keiko e Shiraha, longe de ser romântica ou
mesmo amistosa, é uma aliança estratégica que ironiza as pressões exercidas
sobre o indivíduo para se “normalizar” — casar, ter um emprego “aceitável”, e
conformar-se com o que a sociedade considera sucesso ou maturidade.
A partir deste ponto, o livro
ganha em intensidade e complexidade. O leitor passa a perceber que o verdadeiro
conflito não é entre Keiko e o mundo exterior, mas entre a sua autenticidade e
a necessidade de parecer “funcional” aos olhos dos outros. A prosa contida de
Murata, quase minimalista, reforça esse contraste entre o absurdo social e a
lógica interna da personagem, que, embora vista como “anormal”, vive em
coerência com os seus próprios valores.
No final, Murata não oferece uma solução ou redenção tradicional. Em vez disso, reafirma a singularidade da protagonista e desafia-nos a reconsiderar o que significa “viver bem”. A aparente simplicidade da história mascara uma crítica feroz ao conformismo e à opressão das normas sociais, que se fazem sentir tanto no Japão como em muitas outras culturas.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
A Bibliotecária de Auschwitz, novela gráfica - Salva Rubio e Loreto Aroca
Rubio, Salva (2024). A Bibliotecária de Auschwitz. Lisboa: Penguin Random House.
Quando Dita reúne um punhado de livros e se torna a bibliotecária de Auschwitz, ela arrisca a vida para que crianças e adultos possam escapar, nem que seja por breves instantes e somente com a imaginação, à terrível vida no campo de extermínio. Os livros estão proibidos e tê-los é uma sentença de morte. Dita precisa de ter muito cuidado: o temível Dr. Mengele, famoso pelas suas experiências horríveis, está a vigiá-la de perto.
A Bibliotecária de Auschwitz é uma adaptação para novela gráfica, por Salva Rubio e Loreto Aroca, do romance bestseller de Antonio Iturbe, que conta esta incrível, inspiradora e comovente história verídica."
domingo, 13 de julho de 2025
O Casal do Lado, Shari Lapena
Lapena, Shari (2017). O Casal do Lado. Barcarena: Editorial Presença.
Este livro apresenta-se como
um thriller psicológico instigante, com uma premissa promissora: o
desaparecimento de um bebé enquanto os pais jantam na casa ao lado. No entanto,
ao longo da leitura, fica claro que a promessa de tensão e profundidade dá
lugar a uma narrativa superficial, com muitas lacunas e um ritmo
surpreendentemente monótono para um livro do género.
A escrita de Shari Lapena é
funcional, mas amadora em vários aspetos. O estilo é simples demais, com
diálogos artificiais e descrições apressadas, o que prejudica a construção do
suspense. Os personagens são rasos, muitas vezes se comportando de maneira
incoerente, mais a serviço da trama do que de qualquer verossimilhança
psicológica.
Embora a autora tente inserir
reviravoltas, muitas delas soam forçadas ou previsíveis. A narrativa fica
“parada” em vários momentos, repetindo pensamentos dos personagens ou
insistindo em explicações já compreendidas, o que quebra o ritmo e diminui o
impacto da tensão.
O livro cumpre um papel básico de entretenimento rápido — ideal para quem procura uma leitura leve, sem grandes exigências literárias. No entanto, para quem espera um suspense bem construído, com densidade narrativa e personagens consistentes, é um livro que dececiona.
A Baía, Allie Reynolds
Reynalds, Allie (2025). A Baía. Lisboa: Casa das Letras.
Kenna chega a Sydney para surpreender a sua melhor amiga, chocada por saber que ela vai casar com um rapaz que acabou de conhecer. Mas Mikki e o seu noivo Jack estão prestes a partir numa viagem e Kenna dá por si a acompanhá-los.
A Baía da Tristeza é linda, selvagem e perigosa. Um local remoto para surfar com ondas mortíferas, isolado do resto do mundo. Aqui, Kenna conhece um misterioso grupo de pessoas que fará tudo para manter o seu paraíso em segredo. Sky, Ryan, Clemente e Victor vieram para surfar as ondas e desaparecer da vida. O que é que eles vão achar de Kenna aparecer sem avisar?
À medida que Kenna é atraída para o mundo deles, vê os extremos a que estão dispostos a chegar para obter a próxima emoção. E todos parecem estar a esconder alguma coisa. Em que é que a sua melhor amiga se envolveu, e como é que ela a pode afastar? Mas uma coisa está a tornar-se rapidamente clara na Baía: nunca ninguém se vai embora."
Este livro foi promovido como
um thriller psicológico ambientado no mundo do surf, mas, para muitos leitores
– como no meu caso – a obra não cumpre inteiramente a promessa de tensão e
mistério típicos do género. Ao esperar um verdadeiro thriller, é natural sentir
frustração ao deparar-se com uma narrativa que se aproxima mais do drama de
grupo do que do suspense psicológico. Embora haja elementos de mistério, eles
são diluídos num ambiente onde o surf e as relações interpessoais tomam
demasiado protagonismo. A adrenalina do desporto substitui a tensão narrativa –
o que, para um thriller, é, a meu ver, insuficiente.
O enredo gira em torno de um
grupo isolado numa baía australiana, onde há segredos e mortes a esclarecer. No
entanto, a narrativa tende a estagnar, com longas passagens dedicadas à rotina
do surf, o que compromete o ritmo e diminui o suspense. A construção do
mistério é previsível em certos pontos, e o clímax pode parecer forçado ou
pouco merecido.
Um dos maiores pontos fracos que identifico é a falta de profundidade das personagens. São jovens com um espírito pseudo-rebelde, que vivem à margem da sociedade, mas sem que se explore verdadeiramente o “porquê” dessas escolhas. As motivações são rasas e muitas vezes incoerentes, tornando difícil criar empatia ou sequer interesse genuíno. O grupo criado na Austrália parece artificial, como se reunido apenas para servir ao enredo, sem verosimilhança psicológica ou social.
quinta-feira, 10 de julho de 2025
Laranja de Sangue, Harriet Tyce
Tyce, Harriet (2020). Laranja de Sangue. Amadora: Topseller.
A vida de Alison parece perfeita. Tem um marido dedicado, uma filha adorável, uma carreira em ascensão como advogada e acaba de lhe ser atribuído o primeiro caso de homicídio. Só que Alison bebe. Demasiado. E tem vindo a negligenciar a família. Além de que esconde um caso amoroso quase obsessivo com um colega que gosta de ultrapassar os limites.
«Eu fi-lo. Matei-o. Devia estar presa.»
A cliente de Alison não nega ter esfaqueado o marido e quer declarar-se culpada. No entanto, há algo na sua história que não parece fazer sentido. Salvar esta mulher pode ser o primeiro passo para Alison se salvar a si própria.
«Estou de olho em ti. Sei o que andas a fazer.»
Mas alguém conhece os segredos de Alison. Alguém quer fazê-la pagar pelo que fez. E não irá parar até ela perder tudo o que tem.
Um thriller envolvente, com um final absolutamente inesperado e chocante, protagonizado por uma personagem muito empática."
Ao começar a leitura deste
livro, esperava encontrar um thriller jurídico centrado na investigação de um crime
— especialmente tendo como protagonista uma advogada especializada em
investigação criminal. No entanto, depressa percebi que o foco da narrativa não
está tanto no crime cometido por Madeleine Smith, mas sim na vida pessoal,
profissional e emocional de Alison, a advogada que a defende.
No entanto, reconheço que essa
opção da autora traz uma camada mais profunda ao livro. Harriet Tyce conduz-nos
por um percurso psicológico sombrio, onde o verdadeiro "crime" parece
ser emocional: os abusos, as manipulações e as relações tóxicas que se instalam
de forma quase invisível na sua vida quotidiana.
A forma como a autora
entrelaça a história pessoal de Alison com o caso de Madeleine funciona como um
espelho narrativo muito eficaz. Ambas as mulheres estão presas em relações
destrutivas, e o processo judicial torna-se simbólico — mais do que uma busca
pela verdade dos factos, é uma espécie de catalisador para que Alison confronte
a sua própria vida.
Gostei especialmente da metáfora sugerida no título: a laranja de sangue, que por fora parece normal, mas por dentro esconde algo denso, escuro e inesperado — tal como a vida da protagonista. A escrita é envolvente, e senti um crescendo de tensão emocional mais do que policial, o que acabou por me prender ao livro de uma forma diferente da esperada.
terça-feira, 8 de julho de 2025
A Trilogia de Paris, Colombe Schneck
Schneck, Colombe (2025). A Trilogia de Paris. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Esta obra de Colombe Schneck é
uma narrativa fragmentada, intensa e profundamente humana, onde a leveza da
leitura contrasta com a densidade emocional e filosófica dos temas abordados.
Dividida em três partes que se
entrelaçam como capítulos de uma mesma existência, a trilogia conduz-nos pelos
recantos da vida contemporânea com um olhar ao mesmo tempo delicado e
impiedoso. A autora mergulha nas grandes questões da experiência humana — o
amor, a amizade, a maternidade, a perda, a doença, o envelhecimento — sem
recorrer a artifícios narrativos, apenas com a força da palavra nua e da
memória afetiva.
A escrita de Schneck é marcada
por uma fluidez que convida à leitura rápida, quase impulsiva, mas a sua
verdadeira força reside naquilo que nos obriga a parar e pensar. É um livro
que, ao mesmo tempo que nos envolve na história, nos espelha — somos levados a
refletir sobre o que fazemos com o nosso tempo, como construímos os nossos
afetos e como lidamos com as inevitabilidades da vida.
A cidade de Paris, mais do que
um cenário, é uma presença viva, quase uma personagem. Serve de pano de fundo
aos dilemas íntimos da narradora e dos seus afetos, conferindo à narrativa uma
dimensão urbana e contemporânea, mas também melancólica e contemplativa.
O texto não procura grandes revelações nem dramatizações excessivas. Ao invés, é no quotidiano, no detalhe aparentemente banal, que Schneck encontra o extraordinário. A autora sabe que a vida é feita de camadas, e é nelas que mergulha — sem medo, sem pudor e com uma honestidade rara. Gostei muito e recomendo vivamente!
segunda-feira, 7 de julho de 2025
O País das Laranjas, Rosário Alçada Araújo
Araújo, Rosário Alçada (2019). O País das Laranjas. Lisboa: Edições ASA.
Este é um romance juvenil que,
apesar da sua aparente simplicidade, transporta o leitor para uma reflexão
profunda sobre temas como a emigração, a saudade e as raízes culturais. A
autora, com grande sensibilidade e através de uma linguagem clara, despojada e
elegante, constrói uma narrativa próxima e acessível, mas nunca desprovida de
beleza literária.
Um dos grandes trunfos desta
obra é o modo como a ação se enraíza num contexto geográfico real e familiar: a
Covilhã e a região da Beira Interior. Para quem conhece ou vive perto desta
zona, como é o meu caso, a leitura ganha um sabor especial, pela familiaridade
dos lugares, das tradições e da forma de ser das personagens. Este realismo
geográfico torna a história mais próxima e verosímil, permitindo ao leitor
sentir-se quase parte do enredo.
Além disso, destaca-se a capacidade da autora de trabalhar sentimentos universais — o amor familiar, a perda, a esperança — de uma forma subtil, sem dramatismos excessivos, mas com uma intensidade que convida à empatia e à reflexão. Recomendo!
quarta-feira, 2 de julho de 2025
2084. O Fim do Mundo, Boualem Sansal
Sansal, Boualem (2016). 2084. O Fim do Mundo. Lisboa: Quatzal Editores.
Tradução: Ana Cristina LeonardoEste romance, publicado em 2015, posiciona-se
claramente como uma homenagem e atualização do clássico 1984 de George
Orwell. Boualem Sansal, escritor argelino conhecido pela sua crítica a regimes
autoritários e ao fundamentalismo religioso, constrói um universo distópico
fortemente inspirado na realidade contemporânea, sobretudo nas teocracias
totalitárias e no extremismo religioso.
A história decorre em Abistan, um império
fictício governado por uma teocracia absoluta, onde tudo gira em torno da
adoração cega de Yölah e do seu profeta Abi. Tal como em 1984, a
vigilância constante, o controlo total da linguagem e o esmagamento do
pensamento individual estão no centro do enredo.
Como pontos positivos, saliento a atualidade
temática, com questões relevantes como o perigo do extremismo religioso, da
submissão coletiva e da negação da liberdade.
Considero, porém, alguns pontos menos positivos, como uma construção pouco elaborada das personagens e do enredo, o excesso de momentos expositivos e a falta de consistência deste universo de Abistan e alguma tendência à repetição de ideias.