Hall, Clare Leslie (2025). Terra Ferida. Lisboa: Suma das Letras.
Tradução: Inês GuerreiroTerra Ferida revelou-se, para mim, uma leitura marcante, não apenas pela densidade emocional que atravessa toda a narrativa, mas também pela forma hábil como Clare Leslie Hall constrói as suas personagens e dá corpo a um enredo que prende desde as primeiras páginas.
Um dos aspetos que mais me cativou foi precisamente a riqueza e complexidade das personagens. Não se trata de figuras bidimensionais ou previsíveis; pelo contrário, são seres humanos com as suas contradições, fragilidades e forças, o que contribui imenso para a verosimilhança e o envolvimento emocional do leitor. A autora demonstra um apurado sentido psicológico, conseguindo que as motivações de cada personagem surjam de forma natural, mesmo quando os seus comportamentos nos surpreendem ou desiludem. Isso torna-os genuínos e próximos, quase como se os conhecêssemos pessoalmente.
O enredo, por sua vez, apresenta-se como uma teia habilmente urdida, onde os acontecimentos, embora por vezes inesperados ou dolorosos, mantêm sempre um fio condutor coerente e emocionalmente intenso. A história consegue ser emocionante sem recorrer a dramatismos excessivos, o que revela maturidade na escrita. Clare Leslie Hall não cede ao facilitismo dos clichés, optando antes por um ritmo bem doseado, onde o suspense e a emoção convivem com momentos de introspecção e reflexão.
Gostei particularmente da forma como a autora explora temas complexos e, por vezes, incómodos, sem recorrer a julgamentos simplistas. A "terra ferida" do título funciona não só como metáfora literal dos acontecimentos, mas também como imagem das feridas emocionais e sociais que atravessam as personagens e o próprio ambiente onde a história decorre. Recomendo!
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