Terra Ferida, Clare Leslie Hall

Hall, Clare Leslie (2025). Terra Ferida. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Inês Guerreiro
N.º de páginas: 344
Início da leitura: 26/06/2025
Fim da leitura: 28/06/2025

**SINOPSE**
"Beth e o seu amável marido, Frank, têm um casamento feliz, mas ambos guardam segredos, e a sua relação depende do facto de o passado permanecer enterrado. Mas quando Jimmy, o cunhado de Beth, mata um cão que invade a quinta onde moram, Beth não se apercebe de que o tiro irá alterar o rumo das suas vidas. O cão pertencia a Gabriel Wolfe, o homem que Beth amava na adolescência e que lhe partiu o coração.

Gabriel regressou à aldeia com o seu filho Leo, um rapaz que faz lembrar muito a Beth o seu próprio filho, que morreu alguns anos antes num trágico acidente. À medida que Beth é puxada de volta para a vida de Gabriel, as tensões na aldeia aumentam e perigosos segredos e ciúmes do passado ressurgem, desta vez com consequências fatais. Beth é, então, forçada a fazer uma escolha entre continuar a ser a mulher que se tornou ou transformar-se na mulher que um dia desejou ser."

Terra Ferida revelou-se, para mim, uma leitura marcante, não apenas pela densidade emocional que atravessa toda a narrativa, mas também pela forma hábil como Clare Leslie Hall constrói as suas personagens e dá corpo a um enredo que prende desde as primeiras páginas.

Um dos aspetos que mais me cativou foi precisamente a riqueza e complexidade das personagens. Não se trata de figuras bidimensionais ou previsíveis; pelo contrário, são seres humanos com as suas contradições, fragilidades e forças, o que contribui imenso para a verosimilhança e o envolvimento emocional do leitor. A autora demonstra um apurado sentido psicológico, conseguindo que as motivações de cada personagem surjam de forma natural, mesmo quando os seus comportamentos nos surpreendem ou desiludem. Isso torna-os genuínos e próximos, quase como se os conhecêssemos pessoalmente.

O enredo, por sua vez, apresenta-se como uma teia habilmente urdida, onde os acontecimentos, embora por vezes inesperados ou dolorosos, mantêm sempre um fio condutor coerente e emocionalmente intenso. A história consegue ser emocionante sem recorrer a dramatismos excessivos, o que revela maturidade na escrita. Clare Leslie Hall não cede ao facilitismo dos clichés, optando antes por um ritmo bem doseado, onde o suspense e a emoção convivem com momentos de introspecção e reflexão.

Gostei particularmente da forma como a autora explora temas complexos e, por vezes, incómodos, sem recorrer a julgamentos simplistas. A "terra ferida" do título funciona não só como metáfora literal dos acontecimentos, mas também como imagem das feridas emocionais e sociais que atravessam as personagens e o próprio ambiente onde a história decorre. Recomendo!

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