Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Cruz, Afonso (2021). Sinopse de Amor e Guerra. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 192

Início da leitura: 24/02/2022

Fim da leitura: 26/02/2022

**SINOPSE**

Theobald Thomas e Bluma Janek estão fadados a ficar juntos desde que vêm ao mundo. Os livros são o seu ponto de encontro. Mas a Berlim do pós-guerra, uma cidade enlutada e dividida, haverá de contrariar o que o destino parecia ter escrito.

Numa noite de Agosto, sem aviso, o chão de Berlim é rasgado pelos alicerces de um muro o mais famoso da História e a promessa do primeiro beijo fica adiada.

O novo romance de Afonso Cruz parte de uma trama real em que o amor e a guerra se entrelaçam para questionar certos limites, encontrando no fado individual de dois amantes o reflexo de algo universal: o que seríamos capazes de fazer por paixão, que barreiras ultrapassaríamos? Pode o amor saltar muros sem que alguém se magoe?

**OPINIÃO**

É sempre um prazer ler Afonso Cruz. A forma poética como nos conduz pela história, por mais dura que seja, é sempre um deleite.

Berlim, após a Segunda Guerra Mundial, vê-se dividida pelo muro que divide a parte ocidental da oriental. As personagens cativam-nos desde o início. O sonho de Theobald é casar com Bluma, uma jovem leitora. Para a conquistar, decide ler os livros por ela lidos e os seus encontros são todos em torno dessas leituras. Muitas vezes, quando Bluma diz em voz alta passagens de livros, Theobald surpreende-a, dizendo o final com ela.

A construção do muro de Berlim veio trocar as voltas ao destino e separar Theobald e Bluma. Poderá a guerra afastar os que se amam? Até que ponto somos capazes de transpor os muros, as barreiras com que a vida nos vai confrontando?

Como o título indica, é uma “sinopse”, não tendo sido desenvolvidos alguns acontecimentos e pormenores como eu gostaria. Não deixa de ser um bom livro, apesar de me ter sabido a pouco.

Bértholo, Joana (2018). Ecologia. Alfragide: Editorial Caminho.

 

Nº de páginas:504

Início da leitura: 17/02/2022

Fim da leitura: 24/02/2022

 

**SINOPSE**

Numa sociedade que se fundiu com o mercado - tudo se compra, tudo se vende - começamos a pagar pelas palavras.

A estranheza inicial dá lugar ao entusiasmo.

Afinal, como é que falar podia permanecer gratuito? Há seis mil idiomas no mundo.

Seis mil formas diferentes de dizer ecologia, e tão pouca ecologia.

Seis mil formas diferentes de dizer paz, e tão pouca

paz. Seis mil formas diferentes de dizer juntos, e cada um por si.

 

**OPINIÃO**

Começo por alertar para o facto de este não ser um romance muito vulgar, não só pela temática e forma como é abordada, mas pela própria estrutura e pela escrita da autora. Depois, quem quiser fruir desta leitura, não o pode fazer de forma rápida, pois, necessariamente, sentimos necessidade de nos determos em algumas passagens para refletirmos ou para, simplesmente, complementar a informação que nos é dada com o que se esconde por detrás dos códigos QR, que nos vão surgindo ao longo do texto, ou mesmo em algumas imagens.

No meu entender, há toda uma lógica na forma como está escrito, nas longas listas de palavras, nos jogos de palavras, porque tudo contribui para realçar a mensagem que se pretende transmitir.

Lucía trabalha para uma empresária de sucesso, há muito que existe entre ela e o marido um grande distanciamento e nem sempre tem paciência para a filha questionadora, que coleciona palavras num caderninho e que, quando não percebe, questiona, ainda que algumas questões nos arranquem sorrisos ou até gargalhadas, pelo facto de nunca nos ter passado tal ideia pela cabeça. Candela é uma criança deliciosa, que satura os adultos, mas a quem eu acho muita piada. Dou aqui alguns exemplos. Quando a mãe fala nos “dias que correm”, Candela questiona “Por que é que correm? Qual é a pressa? Correm para onde?” ou quando a mãe diz que "o tempo está embrulhado", questiona "quem, como se "embrulha"?, é um presente, e é uma oferta para quem?".

Trabalha para Darla Walsh, uma diretora-executiva de uma multinacional sediada em Dublin. Carolina é a Mulher – Eco de Darla, tendo por única função repetir o que Darla diz.

Num mundo onde tudo se paga, tudo se taxa, determina-se que as palavras ditas terão de se começar a pagar. E é Darla que subsidia um centro de estudo da linguagem, um “laboratório de Línguas”, numa perpetiva unicamente economicista.

A narradora vai sendo bastante irónica, quando critica o facto de o ser humano tudo aceitar, arranjar formas de achar normal o impensável (ex: “Uma mulher paga a outra mulher para que lhe limpe a casa enquanto ela vai a um ginásio correr numa plataforma estática.” (…) “uma jovem paga a uma mulher mais velha para que lhe coloque pestanas mais longas sobre as suas pestanas originais. Comentam:

- Ninguém diria que são falsas!”

“Um jovem crente paga à sua Igreja para que o seu Deus zele por ele”. E muitos, muitos exemplos desta sociedade em que vivemos. De tal forma se paga por tudo e se encontram explicações para os benefícios que esse pagamento nos trouxe, que o resultado é uma evolução tecnológica desenfreada.

Este romance distópico, é um manifesto de intervenção, um grito de revolta, uma mão na consciência.

A privatização da linguagem vai decorrer em três grandes vagas e, aos poucos, à medida que as vagas avançam, o ser humano está completamente controlado pelo progresso tecnológico, que permite vigiá-lo constantemente, e fazê-lo pagar avultadas somas em multas, que levam a uma necessária contenção, um fechar de bocas, como se, progressivamente as pessoas se fossem esvaziando do que ainda lhes restava, como que automatizadas. Esta é uma situação que angustia, nos deixa de coração apertado. O que nos vale é Candela, a criança que continua a colecionar palavras, a querer compreendê-las, aprender novas palavras, perceber por que podem ter mais de um significado. Onde nos poderá conduzir a tragédia da incomunicabilidade?

Se a autora tivesse reduzido determinadas listas de palavras, não se teria perdido o conteúdo e a mensagem da obra. Porém, é um grande livro, um bom livro, de que aconselho a leitura. Para quem tem paciência em termos de leitura!

 

Chiziane, Paulina (2003). Ventos do Apocalipse. Lisboa: Editorial Caminho.


Nº de páginas:296

Início da leitura:14/02/2022

Fim da leitura: 16/02/2022

**SINOPSE**

Guerra. Destruição. Miséria. Sofrimento. Humilhação. Ódio. Superstição. Morte. 
Este é o cenário dantesco, boscheano, que encontramos nas páginas de Ventos do Apocalipse. As palavras fortes, cruas, incisivas, dilacerantes e delirantes da autora levam-nos a questionar-nos quanto de ficção existirá no realismo das descrições deste palco apocalíptico em que a guerra mais aberrante será talvez a de dois povos, os mananga e os macuácua, colocados entre dois fogos e não sabendo quem os defende e quem os ataca.

 Paulina Chiziane é uma contadora nata de estórias. Consegue levar-nos ao âmago do mais baixo dos mais baixos degraus de degradação do ser humano. Com ela percorremos as vinte e uma noites de pesadelo e tormentos que foi o êxodo dos sobreviventes de uma aldeia. Através dela aprendemos a respeitar Sixpence, tornado o herói simbólico, emblemático, e líder venerado desses fugitivos.

**OPINIÃO**

Chiziane, vencedora do Prémio Camões 2021, é uma excelente contadora de “estórias”. Nesta obra, a autora recria um cenário ficcional do resultado que as longas e sucessivas guerras de Moçambique terão tido nos povos Mananga e Macuácua, vitimados pela violência, a fome e a morte. E é de forma dura que retrata a seca, a fome, a guerra, o fogo, o desespero, a loucura, a morte, a perda de valores – o apocalipse. Conta-nos sobre o momento em que, tendo a natureza deixado de ser feliz, também os homens se tornaram infelizes: “A terra abre violentas fendas ávidas de água. Será necessário desabar o céu inteiro para dar de beber à terra e aos homens com ela.” (pág. 24). Mesmo perante a “decadência do mundo, o desnudar da terra” (pág. 55), ou quando “a morte das árvores vaticina a morte dos homens” (pág. 66) e “o silêncio de sepultura” toma conta dos caminhos de areia enegrecidos, dos “campos calcinados” (pág. 95), estes homens carregam dentro de si a esperança, demonstrada através dos cânticos que erguem aos céus, onde estão os seus queridos defuntos, porque “dentro de cada homem há soldados nobres que combatem” a dor (pág. 117). Esta força, não a vão buscar aos livros nem às bibliotecas, que não têm, vem de uma herança dos seus antepassados, pois “os seus segredos residem na massa cinzenta dos antigos, cada cabeça é um capítulo, um livro, uma enciclopédia, uma biblioteca” (pág.120). Mas conseguirá o povo, perante a barbárie de todas as catástrofes, manter-se fiel às suas crenças, tradições e defuntos, mesmo perante a morte iminente? Que mudanças lhes reservarão os ventos?

Adorei este livro, a forma como Chiziane escreve. Consegue falar de acontecimentos terríveis de forma direta e crua, mas, ao mesmo tempo, tão poética, tão comovente! E sempre em contante diálogo com o leitor, numa linguagem repleta de marcas de oralidade, que nos faz sentir ali, a observar todos os acontecimentos que nos são narrados. Absolutamente imperdível!

Dueñas, Maria (2021). Sira. Porto: Porto Editora.

Tradução: Carla Ribeiro

Nº de páginas: 608

Início da leitura: 07/02/2022

Fim da leitura: 13/02/2022

**SINOPSE**

A Segunda Grande Guerra está a chegar ao fim, e o mundo avança para uma reconstrução tortuosa. Depois de cumprir as suas obrigações como colaboradora dos serviços secretos britânicos, Sira encara o futuro ambicionando alguma serenidade. Mas essa paz tarda em chegar. O destino reserva-lhe um infortúnio trágico que a obrigará a reinventar-se e a, mais uma vez, tomar as rédeas da sua vida sozinha e lutar com todas as forças para se adaptar ao futuro.

Entre factos históricos que marcarão uma época, Jerusalém, Londres, Madrid e Tânger serão os cenários para as novas aventuras de Sira, onde enfrentará desgostos e novos riscos, reencontros inesperados e a experiência da maternidade.

Sira Bonnard – antes de Arish Agoriuq, antes de Sira Quiroga – não é a inocente costureira que nos deslumbrou com figurinos e mensagens clandestinas, mas o seu encanto permanece intacto.

Sira está de volta, carismática e inesquecível.

O regresso da protagonista de O tempo entre costuras.

**OPINIÃO**

Como tinha lido e gostado imenso de O Tempo Entre Costuras, quando surgiu este livro fiquei logo com vontade de o ler, porque Sira é, sem dúvida, uma personagem carismática e interessante. Realmente, Dueñas não desilude. Escreve muito bem. De tal forma que não damos pela passagem das 608 páginas. O ritmo fluído, a ação constante e emocionante, a temática abordada do pós Segunda Guerra, prendem-nos à história do início ao fim.

Sira é uma inspiração, uma mulher de garra que, mesmo na adversidade, não esmorece, adaptando-se a cada novo desafio que a vida lhe vai reservando. Ex modista, desde O Tempo entre Costuras que se vê envolvida como espia ao serviço do governo britânico. Agora, tenciona viver calmamente a vida com o filho, mas é novamente arrastada para o mundo da espionagem, quando lhe propõem acompanhar Eva Perón a Espanha.

Para além de ser envolvente e muito bem escrito, está historicamente muito bem contextualizado. A autora presenteia-nos, no fim do livro, na “Nota da autora”, com vários títulos de livros, cerca de 30, que leu para mais fidedignamente esboçar um fiel panorama do ambiente e acontecimentos narrados. Excelentes propostas de que anotei algumas para a minha lista infindável de livros a ler.

Aconselho vivamente a leitura. 

Ishiguro, Kazuo (2019). As Pálidas Colinas de Nagasáqui. Lisboa: Gradiva.

Tradução: Gabriela Gonçalves

Nº de páginas: 224

Início da leitura: 04/02/2022

Fim da leitura: 05/02/2022

**SINOPSE**

Depois do suicídio da filha, Etsuko, viúva japonesa que mora em Inglaterra, fica a sós com as suas recordações.

Etsuko é assim transportada a um verão quente de Nagasáqui, num tempo em que procurava reconstruir a vida, depois da guerra. E quando as reminiscências a levam à sua estranha amizade com Sachiko, uma mulher rica que ficou reduzida a uma vida errante, o passado e o presente fundem-se numa narrativa intensamente envolvente e de uma perturbante nitidez.

**OPINIÃO**

Este foi o romance de estreia de Ishiguro, publicado originalmente em 1982. O facto de o autor ter nascido em Nagasáqui, confere às descrições um grande realismo.

Neste romance, vão-se intercalando o presente, em que Etsuko vive em Inglaterra e recebe a visita da filha mais nova Niki, após o suicídio da filha mais velha, Keiko. A visita da filha, desencadeia recordações por parte de Etsuko. Surge assim a memória de um passado, logo após a bomba que deixou Nagasáqui em “ruínas carbonizadas” e em reconstrução. É incrível a descrição que o autor faz da terra devastada, das valas que se abriram, da água estagnada, do lodo, da noção de que muitas doenças adviriam desta devastação.

Etsuko recorda a sua improvável amizade com Sachiko, uma estranha mulher recém-chegada a Nagasáqui, num momento em que ela está grávida de Keiko. Estranha também era a forma como Sachiko tratava e educava a filha, Mariko, que não só não frequentava a escola, como era deixada sozinha por várias vezes, correndo sérios riscos nas margens inseguras do rio.

Etsuko relembra ainda a altura em que o sogro os foi visitar, a forma como via o trabalho do marido, que não tinha tempo para se dedicar à família, a forma preconceituosa com que ele encarava o casamento, considerando que a mulher deveria fazer tudo o que o marido mandava e que considerava que uma mulher que não votasse no partido do marido, era o princípio de uma relação doente e que estas modernices vinham dos EUA.

Este contraste de mentalidades é também muito evidente entre Etsuko e Sachiko, cujo sonho era emigrar para a América. Aliás, são vários os momentos da obra em que se sente a fusão entre as duas culturas, a noção de perda de uma identidade japonesa.

Apesar de ter sentido que gostava de saber um pouco mais sobre o que sucedeu a Sachiko e à própria filha de Etsuko, Keiko, não posso deixar de salientar esta capacidade de Ishiguro de nos transportar para as histórias, os locais, as personagens, através de diálogos intimistas que convocam a nossa presença e atenção constantes. Não adorei, mas gostei!

Cronin , Marianne (2021). Os Cem Anos de Lenni e Margot. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Maria do Carmo Figueira

Nº de páginas 336

Início da leitura: 29/01/2022

Fim da leitura: 04/02

**SINOPSE**

Lenni tem 17 anos e pouco tempo de vida.

Mas o encontro com Margot, um espírito rebelde com 83, está prestes a mudar tudo nos seus dias.

A vida é curta. Ninguém sabe isso melhor do que Lenni, de 17 anos, internada numa enfermaria para doentes terminais. Em breve, apren­derá que não é apenas o que se faz com a vida que importa - mas também como e com quem a partilhamos.
Contrariando as ordens do médico, Lenni começa a frequentar aulas de arte. É lá que conhece Margot, uma doente de outra enfermaria, com 83 anos e um espírito rebelde. O laço que se cria entre elas é instantâneo, ao perceberem que, somando as suas idades, viveram cem anos incríveis.

Para celebrar o seu século em comum, decidem pintar as histórias das suas vidas: de como é envelhecer e ser jovem, dar alegria, receber bon­dade, perder o amor ou encontrar a pessoa da nossa vida.

À medida que esta maravilhosa amizade se aprofunda, os dias de Lenni e Margot ganham cada vez mais luz, esperança e… vida.

Extraordinariamente espirituoso e cheio de ternura, Os Cem Anos de Lenni e Margot é um romance que nos relembra de que é feito, ver­dadeiramente, o admirável dom da vida. Uma história sobre a nossa capacidade infinita de criar amizade e amor, mesmo nos momentos mais difíceis - em que mais precisamos deles.

**OPINIÃO**

Gostei muito deste livro. Não é um tema que me seja fácil de ler. Falar de doenças terminais é uma temática que mexe comigo, que me deixa desconfortável. Porém, as personagens que se destacam neste livro, tornam esta realidade menos penosa, talvez pela maneira de serem e encararem a doença.

Lenni surpreende-nos logo aquando da sua visita à capela. É de forma dura, mas tão compreensível que ela pergunta ao reverendo: “Porque é que eu estou a morrer?". Lenni revela-se, nas suas conversas com o padre, uma jovem muito perspicaz, curiosa, preocupada e amiga.

O próprio facto de Lenni proibir o pai de voltar ao hospital, é revelador da sua maturidade, pois entende que os que estão a sofrer com ela, estão a morrer com ela. Sentiu, então, necessidade de os libertar das garras da morte, para amenizar o sentimento da perda e não verem a evolução doença que leva o ser a um estado vegetativo que só poderia deixar ainda mais tristes os que os amam e acompanham.

Nada é por acaso, como o encontro entre a jovem Lenni, de 17 anos e a senhora de 83 anos, Margot, na sala das artes. Aos poucos edifica-se entre elas uma amizade improvável mas muito forte. A partir das pinturas, e depois através de registos escritos que Lenni prefere às pinturas, estas duas pessoas condenadas à morte, contam histórias do seu passado, das suas vidas. Ao perceberem que juntando as idades das duas, a conta perfaz cem, decidem que é a idade delas é essa, a soma das suas idades. Por isso, já viveram muito, já viveram 100 anos! 

«Mas, à minha frente, estavam dois números importantes, dois números que seriam importantes para o resto dos meus dias contados.

— As nossas idades juntas — disse-lhe em voz baixa — são cem anos.»

Ambas não tiveram vidas fáceis e interessam-se pela vida uma da outra. Achei extremamente interessante a capacidade de Lenni de se transpor para o passado de Margot e de se imaginar lá, com ela. Afinal, é o sonho que nos mantém vivos. Não necessariamente para sempre, mas enquanto vivemos, ainda que de forma apagada, sem brilho, confinados ao espaço de um hospital. Também é importante o sonho para percebermos que a luz está lá em cima, nas estrelas e, saber que as estrelas que brilham são as que já morreram, também ameniza a própria aceitação da morte, como algo natural, como a continuação da vida terrena numa outra esfera, numa outra dimensão, que poderá até ter mais luz, menos sofrimento, mais harmonia. 

«Não me lembrava da última vez que tinha visto as estrelas. (...) Faziam o mundo parecer outra vez grande. Há tanto tempo que o meu mundo estava reduzido ao hospital.»

A narrativa é fluída, a linguagem simples. E é tão fácil gostar e admirar a Lenni. Aconselho vivamente a leitura.

Gunnis, Emily (2019). A Rapariga da Carta. Amadora: TopSeller.

Tradução: Ana Reis

Nº de páginas: 352

Início da leitura: 30/01/2022

Fim da leitura: 03/02/2022

**SINOPSE**

No inverno de 1956, a jovem Ivy Jenkins engravida e é enviada em desgraça para St. Margaret, uma sombria casa de acolhimento para mães solteiras, no sul de Inglaterra. A bebé é adotada contra a sua vontade, e Ivy teme nunca sair daquele lugar aterrador. Sessenta anos mais tarde, Samantha Harper, uma jornalista desesperada por um furo, depara-se com uma carta do passado, e o seu conteúdo chocante comove-a. A carta é de Ivy, uma jovem mãe que implora para ser resgatada de St. Margaret… antes que seja tarde de mais. Samantha é arrastada para esta história trágica e descobre uma série de mortes repentinas e inexplicáveis em torno daquela rapariga e da sua filha.

Com o edifício antigo de St. Margaret prestes a ser demolido, Samantha tem apenas algumas horas para desvendar os terríveis segredos que aquele lugar esconde, antes que a verdade, perturbadoramente perto de si, se perca para sempre…

** OPINIÃO**

Que livro! Este é daqueles livros em que é impossível não nos comovermos. É uma história muito intensa. Apesar de St. Margaret ser um espaço ficcional, tal como toda a história, a autora parte de uma investigação que fez sobre muitas casas de acolhimento que existiram, em especial na Irlanda, tendo existido casas semelhantes no Reino Unido. Para estas casas eram enviadas as mães solteiras, para que as famílias não tivessem de passar pela vergonha. Os bebés, após o nascimento, eram tirados às mães contra a sua vontade. As recém-mães eram tratadas como pecadoras, maltratadas pelas freiras que geriam estas casas. A maior parte das crianças era adotada, mas havia muitas que ficavam escondidas, chegando a ser submetidas a ensaios clínicos por parte de farmacêuticos. Muitas destas mães não conseguiram ter mais filhos, acabando por sofrer de doenças mentais. Toda a comunidade compactuava e deixava que acontecessem verdadeiras atrocidades.

Um livro que não se esquece facilmente e que angustia, porque nos apresenta o ser humano no que de pior este pode ter e ser.

A história prende logo desde o início e torna-se quase impossível parar a leitura. Intercalando diversos momentos da ação passados com presentes, torna-se viciante e impossível de largar até desvendar todo o mistério que nos vai sendo apresentado. Uma história que choca, que dilacera e uma escrita fluída, direta e envolvente, fez-me gostar muito deste livro. Aconselho a leitura, mas alerto os mais suscetíveis para a dureza de todos os pormenores.

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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