Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Branco, Camilo Castelo. Amor de Perdição. Porto: Porto Editora, 2016.

Nº de páginas: 208

Início da leitura: 29/12/2022

Fim da leitura: 30/12/2022

**SINOPSE**

"Obra incontornável do movimento romântico português, Amor de Perdição leva-nos a conhecer uma das mais apaixonantes histórias de amor de todos os tempos. Simão e Teresa (qual Romeu e Julieta) pertencem a famílias inimigas, mas a paixão que os une fá-los acreditar que tudo é possível. Poderá este amor vencer todos os obstáculos ou será o caminho para a sua perdição?"

Mais uma releitura. Já perdi a conta das releituras deste livro. Sempre que o leciono, gosto de o revisitar. Cada vez que o releio, constato que este género de literatura não é a que mais me seduz. Apesar da escrita literária de Camilo Castelo Branco, a história em si nunca me seduziu verdadeiramente. Teresa é, a cada vez que releio este livro, uma desilusão (mas compreende-se que não tenha lutado verdadeiramente pelo seu amor, por ser muito nova e imatura e a sociedade da época muito rígida...). Já Mariana convence-me mais, pois tudo faz e a tudo renuncia por Simão. Ela, sim, vive verdadeiras provações.
De salientar que o facto de ter sido escrito na prisão, de se assemelhar muito à história de vida do autor e de se basear na história de um tio, conferem a esta obra uma veracidade única. Uma obra do romantismo português, com laivos de um realismo muito natural e próprio do autor.
Quem ainda não leu, vai sempre a tempo de o fazer!

Folman, Ari; Guberman, Lena (2022). À Procura de Anne Frank. Porto: Porto Editora. 

Tradução: Elsa T. S. Vieira

Nº de páginas: 162

Início da leitura: 27/12/2022

Fim da leitura: 29/12/2022

**SINOPSE**

No seu famoso diário, Anne Frank criou uma amiga imaginária, Kitty. Agora, o realizador e autor Ari Folman, juntamente com a artista Lena Guberman, dão-lhe vida.
Quando uma estranha tempestade se abate sobre Amesterdão e quebra o vidro que protege o diário guardado na Casa de Anne Frank, Kitty irrompe daquelas páginas e vai viver uma verdadeira aventura em busca da sua amiga.
Acompanhada pelas memórias dos dias passados no anexo secreto, Kitty percorre as ruas da capital holandesa de hoje e com a ajuda de amigos inesperados irá descobrir o que foi o Holocausto, o que isso significou para Anne e o que, por sua vez, o seu diário continua a representar para as crianças de todo o mundo.
À procura de Anne Frank é uma história apaixonante, lançada simultaneamente em livro e em filme de animação.

Li a novela gráfica O Diário de Anne Frank e, quando vi esta nova novela gráfica pensei se não seria apenas mais uma versão diferente da primeira, mas baseada na mesma história. Mas esta novela gráfica, apesar de partir da mensagem transmitida através do Diário de Anne Frank, vai para além disso e pega numa personagem ficcional, que entrou no diário enquanto amiga imaginária de Anne Frank para nos deixar uma importante mensagem.
Otto H. Frank, enquanto único herdeiro da filha Anne Frank, publicou o diário da filha e fundou a Anne Frank Fonds, na Suíça, em 1963, designando-a como sua legatária. Este foi um livro publicado em colaboração com esta Fundação, em prol da defesa dos Direitos das Crianças, especialmente no que concerne ao acesso à educação e à erradicação da pobreza. A maior parte das receitas obtidas reverte para a UNICEF, que coopera com a Fundação Anne Frank.
Para além da nobreza do gesto, este livro deixa uma mensagem muito importante: o roubo do Diário de Anne Frank pela sua amiga imaginária a quem ela dirigiu o Diário, Kitty, teve por objetivo mostrar que este diário encerra uma causa mais nobre do que dar apenas o nome de Anne Frank a pontes, teatros, escolas e hospitais: a da necessidade de salvar vidas, dar asilo a refugiados, porque cada um deverá fazer "os possíveis para salvar do perigo uma alma que seja. Uma só alma, a alma de uma única criança, vale uma vida inteira!"
Um livro para todas as idades e que vale a pena ser lido. 

Jones, Sandie (2022). O Primeiro Erro. Lisboa: Chá das Cinco.

Tradução:

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 24/12/2022

Fim da leitura: 28/12/2022

**SINOPSE**

Depois da morte do marido, Alice reconstruiu a sua vida: a empresa de design de interiores tornou-se numa referência no mercado e a seu lado, a apoiá-la, tem o novo companheiro, Nathan, e a melhor amiga, Beth. A vida é melhor do que alguma vez imaginou.

Entre as constantes viagens de trabalho do marido e os encontros com Beth para analisarem as tristezas da vida, Alice começa a aperceber-se do comportamento estranho de Nathan. E se este lhe garante que os estranhos indícios de que está a ter um caso são meras coincidências, já os conselhos da melhor amiga fazem-na pensar duas vezes…

Um thriller aditivo sobre amor, obsessão e traição, que questiona as relações que estabelecemos e a lealdade incondicional nas pessoas mais próximas.

Apesar de não ser um thriller comum e de, em vários momentos, se tornar um pouco previsível, confesso que gostei. 
Alice perde Tom, o primeiro marido, que desaparece misteriosamente. Volta a casar, após alguns anos, com Nathan, que parece ser o marido perfeito, atencioso, compreensivo. Apesar de parecer uma relação perfeita, Alice não é uma mulher bem resolvida. Muitos fantasmas do passado a assolam e a impedem de uma entrega completa ao amor. As dúvidas, o medo da traição, acompanham-na ao longo do livro. O que terá acontecido na sua vida para se tornar assim? Poderá confiar no querido Nathan?
A meio da história de Alice, temos a história de Beth, que por acaso era a melhor amiga de Alice. Também ela amou e foi enganada. De que forma as suas histórias se cruzam?
Para terem resposta a estas e outras questões, terão de ler. Uma boa história para entreter!

 Lupano, Wilfrid; Fert, Stéphane (2022). Branco em Redor. Estoril: Arte de Autor.

                                         

Tradução: Helena Romão

Nº de páginas: 144

Início da leitura: 22/12/2022

Fim da leitura: 26/12/2022

**SINOPSE**

"Esta história, inspirada em factos reais, desenrola-se no ano de 1832, em Canterbury, uma pequena cidade tranquila do Connecticut, trinta anos antes da abolição da escravatura, na região norte dos Estados Unidos esta já fora abolida. Aqui, os negros são livres, mas não têm nenhum direito de cidadania. Negros, aliás, há muito poucos. E a maioria branca que ali vive pensa muitas vezes que ainda assim são de mais…

Prudence Crandall administra uma escola para meninas. Um dia, uma menina negra pede para se inscrever. É o início de uma batalha entre a comunidade de Canterbury e a escola que se tornará a primeira escola exclusiva para meninas negras nos Estados Unidos.

Classificado como local histórico nacional, o museu Prudence Crandall, vestígio da Canterbury Female Boarding School, comprometeu-se com a luta pela equidade na educação, inscrevendo a escola no coração da história da luta mundial pelos direitos cívicos e encorajando o seu público a tomar parte no debate cívico e nas acções civis."


Mais uma novela gráfica fantástica, baseada numa história real, como podemos confirmar  nas últimas páginas do livro.
A ação decorre numa pequena localidade, na América de 1832. Prudence é professora numa escola para meninas. Tudo corre bem, até Prudence tornar a escola numa escola para meninas negras, que ela própria passa a dirigir. A comunidade não aceitava que os negros tivessem quaisquer direitos, muito menos o direito à instrução, o que acaba por gerar conflitos entre a comunidade e a escola. Nem sempre, contudo, é fácil lutar contra uma comunidade despeitada. E a vida destas estudantes não vai ser nada fácil.
Além da história, sublinho as pranchas, tão bem desenhadas, que acabam por conferir um grande realismo à história, dar força aos sentimentos e emoções manifestados pelas personagens. Há nas imagens uma alternância entre a luz e as sombras, entre a esperança e o medo.
Para além disso, há uma aura mística, a ideia de Eliza de que Deus é uma mulher, que ela vira banhar-se na floresta, a enigmática mulher, Miriam, que ajudam a desprender-se de uma árvore, onde estava de cabeça para baixo e que lhes explica que o medo dos homens está na vida que elas podem conceber, nas mulheres negras que podem conceber e tornar cada vez mais instruídas e, assim, povoar de cor este "branco em redor".
Uma delícia em todos os sentidos!

Cardoso, Dulce Maria (2018). Eliete. Lisboa: Tinta da China. 

Nº de páginas: 288

Início da leitura: 23/12/2022

Fim da leitura: 24/12/2022

**SINOPSE**

"Novo romance de Dulce Maria Cardoso, sete anos depois do estrondoso sucesso de O Retorno, o livro que pôs Portugal a falar pela primeira vez sobre os retornados, o maior tabu da sua história recente.

Eliete é um romance construído em torno da protagonista homónima, e é o seu mundo que Dulce Maria Cardoso apresenta agora aos leitores. Estar a meio da vida é como estar a meio de uma ponte suspensa, qualquer brisa a balança. A vida da Eliete vai a meio e, como se isso não bastasse, aproxima-se um vendaval.

Mas este é ainda o tempo que será recordado como sendo já terrivelmente estranho, apesar de ninguém dar conta disso. Porque tudo parece normal. Deus está ausente ou em trabalhos clandestinos. De tempos a tempos, a Pátria acorda em erupções festivas, mas lá se vai diluindo. E a Família?"
Que bom que é ler Dulce Maria Cardoso. Mais um livro que não me desiludiu. Daqueles que nos prende do início ao fim e cujo final também nos consegue surpreender.
Eliete é, como costumam dizer as pessoas, uma mulher de meia idade. Vê-se confrontada com a falta de auto estima, as dúvidas, a falta de amor, a desilusão das mudanças corporais, que muitas mulheres sentem nesta idade. Sente que deixou simplesmente de ser, as filhas estão a "ganhar asas", o marido, que nunca foi de demonstrar sentimentos, liga com indiferença em relação aos seus sentimentos e vontades. 
Quando a avó de Eliete é internada e ela resolve levá-la para casa dela até recuperar, Eliete resolve mudar a sua vida, de forma a sentir-se novamente uma mulher, uma mulher se não amada pelo menos desejada.
Recomendo a leitura.

Queirós, Eça de. Os Maias. Lisboa: Livros do Brasil, 2001.

Número de páginas: 720

Início da leitura: 18/12/2022

Fim da leitura: 22/12/2022

**SINOPSE**

Os Maias encerra uma crónica de costumes, retratando, com rigor fotográfico e muito humor, a sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX.
Trata-se da obra-prima de Eça de Queirós, publicada em 1888, e uma das mais importantes de toda a literatura portuguesa.
Vale principalmente pela linguagem em que está escrita e pela fina ironia com que o autor define os caracteres e apresenta as situações. É um romance realista (e naturalista), onde não faltam o fatalismo, a análise social, as peripécias e a catástrofe próprios do enredo passional.
A obra ocupa-se da história de uma família (Maia) ao longo de três gerações, centrando-se depois na última geração e dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda.
Mas a história é também um pretexto para o autor fazer uma crítica à situação decadente do país (a nível político e cultural) e à alta burguesia lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que configura a derrota e o desengano de todas as personagens.
Esta é, se não me escapa nenhuma das leituras, a sexta vez que leio esta grande obra. Reler Os Maias não é para mim um castigo, antes um enorme prazer. Aliás, revisitar as obras de Eça é algo que, de vez em quando, gosto de fazer. 
Que bem escrevia o nosso Eça! Uma obra tão completa: desde as descrições (exaustivas mas belíssimas e repletas de significado); a força com que nos são apresentadas as personagens, que nos parece conhecê-las há longos anos; o romance, as intensas emoções; a crítica social; o retrato de uma sociedade de finais do século XIX tão bem feito, tão minucioso e precioso, o poder dos jornais da época (e até as "fake news"), tudo! 
Eça é Eça!
Quem nunca leu, vai sempre a tempo de o fazer!

 Ahern, Cecelia (2021). Garra. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Ester Cortegano
Nº de páginas: 288
Início da leitura: 12/12
Fim da leitura: 17/12

**SINOPSE**
"Se quer rir, comover-se, amar, sentir menos culpa, chorar, ser confortada, mostrar a garra existe uma história para si.

Garra são 30 histórias interligadas, que capturam as diferentes facetas da vida das mulheres. Divertidas, comoventes, surreais e instigantes, as histórias capturam os momentos em que as personagens são dominadas pela culpa, a confusão, a frustração, a intimidação, a exaustão - aqueles momentos em que sentem a necessidade de mostrar a garra.

A autora bestseller Cecelia Ahern, traz-nos uma coleção ferozmente feminista de histórias que iluminam, às vezes de maneira fantástica, como as mulheres navegam o mundo hoje. Ahern assume os aspectos familiares da vida das mulheres - as rotinas, os constrangimentos e os desejos - e os eleva com a sua mistura astuta de realismo mágico e percepção social."
Este é um livro diferente, bastante fora da caixa, mas que nos cativa e prende na sua totalidade. É um livro para quem gosta de contos. São contos muito breves, mas que abordam questões de género, não de forma linear, mas de forma metafórica. São histórias alegóricas, através das quais se impõe uma reflexão sobre o mundo feminino e os seus dilemas - os medos, as angústias, as inseguranças, as dificuldades, as rotinas, as solidões, os abandonos... 
Com um grande sentido de humor, a autora vai nos apresentando uma série de mulheres sem nome (apenas mulheres. Os títulos dos contos começam sempre por "A mulher que..."), que se deparam com problemas de vária ordem, mas que acabam por conseguir superar grande parte das suas dificuldades, porque mostram a sua garra.
Um livro muito interessante, que me surpreendeu pela positiva e que aconselho.

Melo, Filipe e Cavia, Juan (2021). Comer/Beber. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 80

Início da leitura: 09/12/2022

Fim da leitura: 10/12/2022

**SINOPSE**

"Durante a Segunda Guerra Mundial, o polaco Franz Majowski esconde uma garrafa de champanhe no cofre do seu popular restaurante em Berlim. Quatro décadas mais tarde, uma célebre tarte de maçã é o motor da viagem de um homem pelo interior da América.
Paladar e memória cruzam-se nestas duas histórias de magnífica simplicidade, uma delas real e a outra imaginada, em que a comida e a bebida são pretexto de reflexão sobre algo maior.

Comer / Beber é o quarto livro dos multipremiados criadores de Os Vampiros e Balada para Sophie."
Este livro é constituído por dois contos gráficos, uma delícia para os devoradores de novelas gráficas (que é o meu caso). Só tenho de agradecer à minha amiga que mo ofereceu! Obrigada Ana Paula Catarino!
O primeiro conto, "Majowski", parte de uma história real - uma página de um diário (de Beatrice Schilling, mãe de Nádia Schilling, que é coautora do guião com Filipe Melo, cantora e arquiteta). Este é um conto realmente maravilhoso, não só pela história em si, mas pelas ilustrações belíssimas que nos transportam para a época da invasão da Polónia pelos nazis. Associo este conto ao "beber", uma vez que há uma garrafa de champanhe que vai ter aqui um destaque especial.
O segundo conto, "Sleepwalk", uma narrativa ficcional, que nos transporta para a América dos anos 80, das injustiças raciais, onde a estrela é uma tarte de maçã, e, por isso mesmo, associo este conto à parte do título "comer". Não posso contar a história, mas devo referir que este conto deixa-nos um travo na garganta, fazendo-nos refletir.
As ilustrações revelam plenamente sentimentos e avivam memórias.
É, por isso mesmo, uma refeição completa que nos invade e domina os sentidos e que foi muito bem servida ao leitor.
Aconselho! Tal como o Balada para Sophie, da mesma dupla!

Mola, Carmen (2022) A Rede Púrpura. Lisboa: Suma das Letras.


Tradução: João Pedro Tapada

Nº de páginas: 376

Início da leitura: 09/12/2022

Fim da leitura: 13/12/2022

**SINOPSE**

"Num dia quente de verão, a inspetora Elena Blanco, chefe da BAC, irrompe na casa de uma família de classe média e dirige-se ao quarto do filho adolescente. No ecrã do computador, confirmam aquilo que temiam: o rapaz está a assistir a uma sessão snuff ao vivo, na qual dois homens encapuzados torturam uma rapariga. Incapazes de ajudar, observam como o sádico espetáculo continua até à morte da vítima, cujo nome ainda não conhecem. Quantas antes dela caíram nas mãos da Rede Púrpura?

O BAC investiga esta organização sinistra desde que veio a lume no caso Noiva Cigana. Há meses que se recolhe informação sobre este grupo que trafica, em vídeos de violência extrema, na Dark Web, o lado negro da Rede. Durante todo este tempo, Elena Blanco manteve em segredo, mesmo do seu parceiro, o sub-inspetor Zárate, a sua mais importante descoberta e o seu maior medo: que o desaparecimento do filho, Lucas, quando era apenas uma criança pudesse estar relacionado com esta macabra conspiração."

Gostei muito de A Noiva Cigana, e, logo que saiu A Rede Púrpura (segundo volume de uma trilogia, de que falta sair o terceiro), fiquei em pulgas para o ler. O mesmo ritmo alucinante, que não nos deixa parar para respirar!  Pena tive de não o poder ler todo de seguida. As paragens na leitura de um livro assim são um "pecado", fazem-nos perder um pouco o rumo e não apreciar convenientemente toda a história. O ritmo alucinante deve-se também à própria brevidade dos capítulos.

Neste livro acompanhamos, mais uma vez, Elena Blanco e a sua equipa de inspetores, que, desta feita, têm em mãos um caso muito complexo de uma rede que age através da "dark web". 
Tudo começa com uma morte transmitida em direto para quem pagou para assistir. Mas este é muito mais do que um novo caso a deslindar: esta rede poderá estar, de alguma forma, relacionada com o desaparecimento do filho da própria inspetora, há uns tempos atrás. Será ela capaz de não se deixar envolver emocionalmente?
Nos dois livros perpassa uma grande violência, detalhe sádico e terrífico, pelo que não aconselho a pessoas demasiado sensíveis.
Aconselho aos apreciadores de bons thrillers e garanto que ficará expectante até ao fim e que até o fim é surpreendentemente "diferente" e inesperado. Ainda assim, gostei mais do primeiro.

 Dalcher, Christina (2019). Vox. Amadora: Topseller.

Tradução: Renato Carreira

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 04/12/2022

Fim da leitura: 08/12/2022

**SINOPSE**

Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»

Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.

E isto é apenas o início.

Este é um livro que mexe connosco. É uma distopia que não queremos que aconteça nunca, pois seria uma regressão, ou pior ainda, a uma época em que as mulheres não podiam falar. Calar as mulheres numa sociedade, a sua voz ativa, os seus sentimentos, é caminhar para uma sociedade cruel e injusta, uma sociedade em que cada vez mais se cavaria um fosso entre homens e mulheres, em que, para além de deixar de haver igualdade de género, seria punido quem amasse o mesmo género. 
E quando as crianças do sexo feminino ficam também impedidas de dizer mais de 100 palavras por dia, sob a pena de levarem choques elétricos, é aterrador. E é também aterrador as mães terem de encontrar estratégias para impedirem as filhas de falarem e de conhecerem as consequências de que serão alvo se infringirem as leis dos ditos "Puros". Se uma criança deixar de falar, haverá consequências para a vida: a criança deixa de saber falar, de ter vocabulário, de evoluir, de intervir. É a anulação do ser.
Este é um livro que nos amedronta, enraivece e penso que foi mesmo esse o propósito da autora: abanar as consciências. Podemos não deixar de falar por uma questão de perda da liberdade feminina, mas, hoje em dia, cada vez se exige um maior filtro de tudo o que se diz, quando se diz e porque se diz. A limitação da linguagem (não apenas nas mulheres), a proibição, o medo que se gera através do "isso agora não se pode dizer", a deturpação do que se diz, fazem com que cada vez mais o ser humano limite a fala ao essencial, não tenha liberdade de expressão (liberdade com consciência e civismo), como se tivéssemos de nos formatar, de pensar e dizer todos o mesmo. 
Foi isso que me fez gostar de Jean, a protagonista e narradora do livro, que consegue rebelar-se contra o sistema, consegue assumir a sua quota parte de culpa em não ter feito a parte dela: votar, para que não elegessem o demagogo que viria a tornar-se no seu pior pesadelo e no pesadelo de muitas outras mulheres. E gostei de Lorenzo, um homem que lutou ao lado de Jean, também ele com ideias próprias e que não se deixou formatar.
Um livro que nos faz refletir!

Raúf, Onjali Q. (2019). O Rapaz ao Fundo da Sala. Amadora: Booksmile.

Tradução: Maria Leitão
Nº de páginas: 288
Início da leitura: 03/12/2022
Fim da leitura: 04/12/2022

**SINOPSE**
«Um livro sobre um tema atual, visto pelo olhar de uma criança. Uma história memorável e premiada, que salienta a importância da amizade e da bondade num mundo tantas vezes intolerante e sem sentido.

Há um colega novo na turma. Ele senta-se sempre na última fila, mas não fala com ninguém nem olha para ninguém. Este rapaz enigmático e misterioso não sorri. O seu nome é Ahmet.

Intrigados, quatro meninos muito especiais tentam fazer amizade com ele e conhecer a sua história. Descobrem que o Ahmet é um rapaz refugiado que foi separado da família. Ele teve de abandonar o seu país para fugir à guerra.

Uma vez que nenhum adulto consegue ajudar o Ahmet a reencontrar a família, o quarteto de amigos elabora um plano audaz — nada mais do que A Melhor Ideia do Mundo — que os levará numa aventura extraordinária envolvendo a própria Rainha de Inglaterra!

Um livro multipremiado: vencedor do Prémio Blue Peter para Melhor História e do Prémio Waterstones para Melhor Livro Infantil, foi ainda finalista do Prémio Jhalak e nomeado para o Carnegie na categoria de Melhor Livro Infantil.»
Li este livro para poder realizar a prova para a primeira fase do Concurso Nacional de Leitura (a nível de escola) e considero que é um livro que todos os jovens deviam ler. A mensagem é-nos contada com a candura e a inocência de uma criança, o que lhe tira muita da carga emocional que poderia torná-la pesada para crianças e jovens. É uma forma leve de abordar temas muito importantes e atuais: fala-nos de um refugiado, como exemplo de muitos, de tudo o que passou, da sua dificuldade inicial de integração na escola e num novo país, da emoção que sentem quando se lembram da sua "casa"; fala-nos dos bullies que destruíram os seus países e os levaram a fugir em pequenos botes; mas fala-nos também dos bullies da escola, das vítimas, do medo que muitos alunos e até professores despertam noutros alunos. E, além disso, fala-nos de um grupo de jovens que, ao fazer tudo para ajudar o novo rapaz da turma, constituem um raiozinho de esperança na forma como integram e ajudam este refugiado. Um livro muito interessante e humano.

Jorge, Lídia (2022). Misericórdia. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 464

Início da leitura: 01/12/2022

Fim da leitura: 03/12/2022

**SINOPSE**

«Misericórdia é um dos livros mais audaciosos da literatura portuguesa dos últimos tempos. Como a autora consegue que ele seja ao mesmo tempo brutal e esperançoso, irónico e amável, misto de choro e riso, é uma verdadeira proeza.

Não são necessárias muitas palavras para apresentá-lo - o diário do último ano de vida de uma mulher incorpora no seu relato o fulgor das existências cruzadas num ambiente concentracionário, e transforma-se no testemunho admirável da condição humana.

Isso acontece porque o milagre da literatura está presente. Nos tempos que correm, depois do enfrentamento global de provas tão decisivas para a Humanidade, esperávamos por um livro assim. Lídia Jorge escreveu-o.»
Que livro tão bom! É difícil explicar os sentimentos que despertou em mim, mas não foram poucos. Emocionou-me com uma intensidade como há muito não o fazia um livro. Talvez até por saber que este foi um livro que a mãe da autora lhe pediu que escrevesse antes de morrer. Como referiu a própria escritora,  "Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”. Não pretendeu escrever um livro piegas, sobre a morte, mas sim "um livro sobre a vida, absolutamente; sobre o esplendor da vida que acontece quando as pessoas estão para partir, foi isso que eu verifiquei - os atos de resistência magníficos, que as pessoas têm no fim da vida”.
Esta mãe tem tanto do que tinha a minha própria mãe, que era como se a revisse neste Hotel Paraíso (se tivesse vivido para além dos escassos 55 anos). 
É pela voz de D. Alberti, Maria Alberta, que conhecemos o Hotel Paraíso, um Lar de Idosos. E, apesar da sua fraca mobilidade, que a fazia deslocar-se na sua cadeira de rodas, é de uma lucidez incrível, de uma força, de uma coragem, de um otimismo que nos enche a alma, nos comove e surpreende.
Esta personagem não nos conduz apenas pelo espaço exterior, mas pelos seus pensamentos, as suas divagações, os seus sentimentos, as suas resistências e renitências e os seus apoquentos. 
Foi sempre uma mulher que gostou de ler, de viajar através do globo que tinha em casa, de saber, de conhecer. Por isso mesmo, se deixa cativar pelo leitor que passava de quando em quando pelo Lar, cuja voz e forma de ler, tinha o poder de o tornar belo, ele que não tinha sido bafejado pela beleza natural. 
Ainda que gostasse de histórias com finais felizes e o aconselhasse à filha (escritora), de quem considerava que as histórias que escrevia eram sempre tristes, tinha uma perceção muito real e despojada das coisas: "Quando aqui cheguei e vi setenta pessoas sentadas, imóveis, caladas, passando-lhes por cima a bênção da tevê, desejei que viesse uma peste invisível que nos levasse a todos ao mesmo tempo, saltando, de mãos dadas, para o outro lado desta praia."
Através dela, conhecemos os cuidadores, as suas origens, a forma como as suas mãos tratavam os mais velhos; os restantes moradores do Lar, as suas inquietações, a sua clausura, os desaparecimentos quase diários dos que, entretanto, iam morrendo, para dar lugar a novos residentes.
Através dela, conhecemos melhor a noite e a forma desafiadora como esta tratava a nossa protagonista, que se recusava a engolir os comprimidos que lhe davam para sossegar. Mas também conhecemos a forma como D. Alberti ousava enfrentar a noite, não lhe cedendo, até ao fim. E nestas suas constantes conversas e confrontos com a noite, chega a explicar-lhe que "O além é um lugar onde se guardam para sempre as trouxas com os bens mais preciosos da nossa vida." O além é um livro e "Um livro não tem fim, cada página uma vida, cada vida uma página, quantas mais vidas mais páginas. Isso é o além."
Aconselho vivamente a leitura deste livro magnífico.

Harris, Joanne (2007). Sapatos de Rebuçado. Lisboa: Edições ASA.

Tradução: Teresa Curvelo

Nº de páginas: 504

Início da leitura: 27-11-2022

Fim da leitura: 30-11-2022

**SINOPSE**

"Sapatos de Rebuçado é mais uma viagem ao mundo encantado de Joanne Harris. Um (esperado) regresso a Chocolate.

Após ter abandonado a aldeia de Lansquenet-sur-Tannes, cenário de Chocolate, Vianne Rocher procura refúgio e anonimato em Paris, onde, juntamente com as suas filhas Anouk e Rosette, vive uma vida pacífica, talvez até mesmo feliz, por cima da sua pequena loja de chocolates. Não há nada fora de comum que as destaque de todos os outros. A tempestade que caracterizava a sua vida parece ter acalmado... Pelo menos até ao momento em que Zozie de l’Alba, a mulher com sapatos de rebuçado, entra de rajada nas suas vidas e tudo começa a mudar…
Mas esta nova amizade não é o que parece ser. Impiedosa, retorcida e sedutora, Zozie de l’Alba tem os seus próprios planos - planos que vão despedaçar o mundo delas. E com tudo o que ama em jogo, Vianne encontra-se perante uma escolha difícil: fugir, tal como fez tantas outras vezes, ou confrontar o seu pior inimigo…
Ela própria."

Li Chocolate há muitos anos, logo que foi publicado e gostei muito por várias razões, nomeadamente por se passar num ambiente muito fechado e "religioso", onde a abertura de uma chocolataria era vista como um pecado que vinha aguçar a gula dos mais fracos. Adorei as descrições da realização dos chocolates, da decoração das montras, de como, aos poucos, foi fazendo parte dos hábitos dos habitantes daquela pequena aldeia. Até da história de amor...
Quanto a este romance, que regressa às personagens do livro anterior, desta feita em França, penso que ficou um pouco aquém do que esperava. Paris surge descrita como uma cidade feia, fria, vazia... Se calhar as minhas expetativas tornaram-se mais exigentes. Achei a história muito longa, por vezes repetitiva, outras tantas demasiado fantasiosa. Gostei particularmente da pequena Anouk, uma adolescente muito inteligente. Já a mãe, Vianne Rocher, surge de forma muito apagada na narrativa, como se o facto de se ter escondido toda a vida, tivesse contribuído para anular a sua personalidade. Chega até a aceitar uma proposta de casamento com um homem dominador e execrável, apenas para dar às filhas uma vida mais segura e confortável. Apeteceu-me abanar Vianne! Onde ficou a mulher corajosa que lutava pelos seus ideais? 
Zozie é uma nova personagem (também ela com poderes sobrenaturais, tal como Vianne), mas é uma personagem maléfica, que surge "com pele de cordeiro" e os seus extravagantes "sapatos de rebuçado" para seduzir a família, especialmente Anouk. O que quererá essa mulher tenebrosa? Quem é, afinal, esta mulher tão "solícita"?
O final, que se pretendia emocionante, também não me cativou, pois a fantasia torna-se excessiva, anulando, em parte, o que a história tinha de credível. 
Gostei bastante mais de Chocolate (que li sempre acompanhada de um bom chocolatinho).  
Tinha ideias de continuar esta tetralogia, mas fiquei com receio de que O Aroma das Especiarias e A Menina que Roubava Morangos me continuassem a dececionar.    

Wilkerson, Charmaine (2022). Bolo Negro. Porto: Porto Editora.

Tradução: Carla Ribeiro

Nº de páginas: 404

Início da leitura: 21/11/2022

Fim da leitura: 26/11/2022

**SINOPSE**

"Conta uma história tão intensa quanto deliciosa. - Taylor Jenkins Reid
Os irmãos Byron e Benedetta não se veem há oito anos, mas a súbita morte da mãe obriga-os sentarem-se finalmente à mesma mesa. Eleanor deixou-lhes um bolo no congelador com a críptica instrução de que o deverão partilhar «na altura certa».
Para além do bolo, uma homenagem às origens caribenhas da família, há ainda uma longa gravação áudio que abre com uma revelação impensável: Byron e Benedetta têm uma irmã.
Este, porém, é apenas o primeiro dos muitos segredos que a mãe quer agora, depois de morta, revelar, na esperança de emendar alguns erros do passado.
Nesta estreia surpreendentemente madura, Charmaine Wilkerson explora com fina sensibilidade as questões difíceis da identidade pessoal e social, numa saga familiar intensa, que cruza o tempo e a geografia, fazendo-nos acreditar que é sempre possível regressar a casa.
Bestseller do New York Times em adaptação para a televisão por Oprah Winfrey"
Uma boa estreia da escritora. Este é um drama forte e envolvente e que, apesar de, no início, parecer um pouco confuso pela quantidade de personagens e pela alternância entre vários momentos temporais e personagens, acaba por nos envolver.
Nem sempre o que parece é e os segredos acompanham Eleanor até à sua morte. Os filhos, Benny e Byron, só verão desvendados os segredos da mãe, após a sua morte, através de uma gravação áudio que deixou com o seu advogado. E é precisamente este acontecimento que volta a juntar os irmãos, antes inseparáveis, que viveram os últimos anos tão afastados. Mas é também esse acontecimento que vem desvendar muitos segredos guardados por esta mulher. As personagens são muito verosímeis, com virtudes e defeitos, o que lhes confere credibilidade. É o bolo negro, que passou de geração em geração, que volta a juntar os irmãos.
De salientar também toda a relação da família com o mar, através do surf; a questão do preconceito social em relação aos negros; a questão das crianças dadas para adoção; a orientação sexual (nem sempre fácil de aceitar pelos pais); os conflitos geracionais; as tradições; o multiculturalismo...Tem todos os ingredientes para uma boa história. É excecional? Não, apenas boa. Pelo menos na minha ótica.
Aconselho a quem gosta de um bom drama familiar!

García-Márquez, Gabriel (1995). Crónica de uma Morte Anunciada. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 4ªed.

Tradução: Fernando Assis Pacheco

Nº de páginas: 112

Início da leitura: 19/11/2022

Fim da leitura: 20/11/2022

**SINOPSE**

"Vítima da denúncia falaciosa de uma mulher repudiada na noite de núpcias, o jovem Santiago Nasar foi condenado à morte pelos irmãos da sua hipotética amante, como forma de vingar publicamente a sua honra ultrajada e sob o olhar cúmplice ou impotente da população expectante de uma aldeia colombiana: é esta a história verídica que serve de base a este romance, e que, logo nas suas primeiras linhas, é enunciada.

A capacidade de Gabriel García Márquez em reconstruir um universo possuído pela nostalgia, mágica e encantatória da infância e a sua genial mestria em contar histórias fazem deste romance mais uma das obras-primas que consagraram definitivamente este autor."
Este autor colombiano também não engana, escrevia muito bem, o que lhe valeu o Prémio Nobel em 1982. A 1ª edição deste livro saiu em 1981.
Uma história verídica serve de base a esta obra, muito bem ficcionada pelo autor que era, sem dúvida, um excelente contador de histórias. 
É um livro pequeno (daí o ter intitulado de "Crónica"), que se lê num ápice, e que nos conta os meandros de uma morte anunciada: a de Santiago Nasar. Uma morte que poderia ter sido evitada, se as pessoas da vila a quem tinha sido dada a conhecer a intenção de matarem Nasar ou as premonições sentidas, tivessem sido levadas a sério. Parece que, mesmo que tenham acreditado nessa possibilidade, não o conseguiam evitar e nada fizeram para que tal não acontecesse, como se algo as prendesse à decisão tomada e anunciada. E é precisamente a necessidade de saber como mataram Nasar, o enredo em si, e não tanto quem matou e porquê, que isso nos é dito logo no início, ou o clímax da ação com a morte de Nasar, que nos aguça a curiosidade e nos prende à narrativa.
Há mortes que se fazem anunciar, como se estivessem predestinadas...

Aconselho a leitura!

Figueiredo, Isabela (2022). Um Cão no Meio do Caminho. Lisboa: Editorial Caminho.

Nº de páginas: 296

Início da leitura: 18/11/2022

Fim da leitura: 19/11/2022

**SINOPSE**

"Este novo romance de Isabela Figueiredo, a que ela deu o sugestivo e justificado título de Um Cão no Meio do Caminho, conta-nos as histórias de um homem e de uma mulher que sofrem, cada um à sua maneira, um dos grandes males da vida moderna - a solidão.

Neles a solidão é a resposta aos violentos acidentes com que a vida os agrediu. As sociedades modernas vivem sobre a violência. Mas há quem a recuse, como é aqui o caso de José Viriato e da sua misteriosa vizinha, Beatriz, que todos conhecem como a Matadora. O acaso junta-os, como o leitor verificará com a leitura deste livro.

Que resultado obtemos quando se juntam duas solidões? É esta a questão que este novo romance da autora do aclamado A Gorda vem equacionar, deixando a resposta ao critério de cada leitor. Eventualmente um cão pode ajudar."
Que livro tão, mas tão bom! Se já tinha gostado de A Gorda, este correspondeu e ultrapassou quaisquer expetativas criadas. 
Primeiro: as canções sugeridas na ficha técnica para nos acompanharem durante a leitura enquanto "som ambiente" são, já de si, uma excelente companhia e um estímulo à leitura. A música tem o poder de me ajudar a relaxar, a descontrair, criando, assim, o ambiente ideal à concentração na leitura.
Segundo: a abertura da narrativa: "O futuro não está escrito (...) O futuro está em aberto até à sua revelação, cujo calendário desconheço. A surpresa é que nos catapulta para o passo seguinte. Um encontro inesperado, um acidente, uma história…"
Terceiro: duas personagens riquíssimas: a vizinha do narrador, que prende a sua solidão à dele quando lhe conta o seu caso de amor decorrido "há muito tempo", que é uma mulher solitária, uma acumuladora de lixo, lixo esse que são as suas recordações, especialmente da mãe, junto com as fotos que tirou e que continua a tirar, que guarda religiosamente, tudo muito organizado, em caixas. As histórias "fortes" dela, do seu passado, que ele escuta com interesse, porque "gostava de uma boa história". Depois, temos o narrador, um homem igualmente solitário, por opção, que vive apenas com os seus cães e que, durante a noite, vasculha os contentores do lixo à procura de "coisas" que possa vender. Enquanto nos é descrito o dia a dia destas personagens, vamos (re)conhecendo as ruas da Margem Sul, de 2019.
Quarto: a narrativa é magnífica. O passado é recuperado através de analepses, através de conversas entre estas duas personagens, uma vez que "A memória de cada um é o seu bilhete de identidade íntimo": os dramas familiares do narrador, o divórcio dos pais, a entrega da mãe ao álcool, o resgate de "um cão no meio do caminho", a morte da mãe, a mudança para casa da avó, o seu amor pelos animais, a necessidade de ser livre… são muitas as recordações. Também aqui surge a perspetiva histórica sobre a cidade da sua infância: a visão crítica dos "de cá" em relação aos "retornados" (que o ajudaram a resgatar o cão ferido, a quem chamou, mais tarde, Cristo), como "os que têm o rei na barriga", "uns vândalos", enxotados pelos vizinhos...
Quinto: a elegância da linguagem, a oralidade das "gentes" que nos vão sendo descritas, sempre sem momentos mortos, adensando o interesse do leitor a cada passagem.
Poderia continuar a enumerar qualidades, que são muitas, mas não quero adiantar mais sobre este magnífico livro.
Um livro que não pode mesmo deixar de ler!

Cachapa, Possidónio (2019). A Vida Sonhada das Boas Esposas. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 240

Início da leitura: 15/11/2022

Fim da leitura: 17/11/2022

**SINOPSE**

"Madalena viveu, durante décadas, uma vida exclusivamente dedicada a um marido que nunca a amou, à casa que não escolheu e aos filhos que pouco se importavam com ela. A morte Súbita do marido e o segredo que lhe foi desvendado levam-na a embarcar num navio de cruzeiro, o que vai alterar a sua perspetiva de vida e o olhar sobre si própria. A par das amigas hilariantes de carne e osso, as personagens dos romances de Corín Tellado ou Emily Brontë saltam das prateleiras para lhe assombrar os sonhos e fazer questionar o seu direito a ser, finalmente, livre. O encontro com um galã hiper-romântico, semelhante aos dos livros que a tinham feito sonhar, e um tsunami muito real colocarão definitivamente em causa a possibilidade de voltar a ocupar o lugar de viúva recatada e submissa a que parecia condenada."

Mais um autor que estou a descobrir e de quem, com certeza, lerei outros títulos. É um livro leve, divertido, mas bem escrito e com grande criatividade na forma como o autor introduz na narrativa os livros que assaltam os sonhos da protagonista. Além disso, coloca-nos questões importantes: quem era eu na infância? De que gostava? Continuo a ser a mesma ou anulei a minha personalidade? Estas e outras questões são feitas pela protagonista a si própria e acredito que poderiam ser respondidas por muito mais mulheres de carne e osso. 

Desta forma, aliam-se nesta ficção personagens com que nos cruzamos no dia a dia,  personagens ficcionais de outros livros e, ainda, personagens improváveis. 

Temos uma filha que, infelizmente, representa muitos filhos, na realidade: pouco importada com o que a mãe sente e quer, convenceu a mãe a ter a sua conta bancária em conjunto com ela e considera, dá-se ao direito de lhe cancelar o acesso à conta, considera que a mãe  deveria ser uma devota viúva, pensar mais nos netos...Mas não teria o direito de ser livre, de viver a vida que lhe fora negada todos os anos em que fora casada e até filha? Já o filho, tem uma outra perspetiva, mas isso deixo para que saibam através da leitura do livro. Isso e muitos outros pormenores!

Aconselho!

Gardeazabal, José (2021). Quarentena: Uma História de Amor. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 208

Início da leitura: 12/11/2022

Fim da leitura: 15/11/2022

**SINOPSE**

"Um casal, decidido a separar-se e de malas feitas, é obrigado pelas autoridades de saúde a uma quarentena. O seu apartamento transforma se numa arena de proximidade física e distâncias calculadas, onde os restos da vida amorosa e o trautear televisivo de uma pandemia mudam o mundo por dentro e por fora.

Ali, sob o regime forçado de uma intimidade perdida, percebemos como, entre antigos amantes, vizinhos e desconhecidos, a saudade das multidões e dos sentimentos sempre estiveram à altura de nos resgatar do peso do presente.

Um olhar provocador sobre uma experiência coletiva.
Uma introspeção inesperada, à porta fechada, sobre o que é o amor, onde começa, acaba e recomeça.

Uma história de amor em 40 dias."

Ainda não tinha lido nada do autor português, que desconhecia. Quando vi o livro, chamou-me a atenção, mas o facto de o tema se centrar na pandemia, deixava-me sempre reticente. Quando vi que ganhou, em 2016, o Prémio INCM/Vasco Graça Moura e que, em 2018, foi finalista do Prémio Oceanos, decidi-me à leitura. Entretanto, já comecei a pesquisar outros livros do autor para ler.
Gostei da forma como escreve e, apesar de o tema ser um pouco penoso para quem vivenciou e se ressentiu com esta pandemia por COVID19, a forma como Gardeazabal o aborda, capta-nos a atenção. É uma espécie de história de amor invertida, uma vez que o casal, quando decide separar-se, vê-se obrigado a fazer a quarentena em casa, o que impede a separação imediata. E esta permanência em casa, este confinamento, separados pelo muro de "papel higiénico" que colocaram a dividir a sala, leva o protagonista a várias reflexões, não só em termos pessoais, mas também sociais e políticos. 
Confesso que gostei mais da parte inicial e final, pois considero que, pelo meio, se perde um pouco em divagações. Mas, no seu todo, é uma obra bem escrita, com uma linguagem cuidada. Deixo algumas passagens que assinalei:
"...a morte não tem conteúdo, pensamos nela, na melhor das hipóteses, como uma linha reta no céu, acima do horizonte,"
"A paciência é o tempo com pessoas dentro..."
"O tempo é invisível, é o contrário do espaço. O espaço entra-nos pelos olhos dentro."
"A paz é um eufemismo do fim. Na guerra ansiamos pelo fim, não pela paz."

Antunes, António Lobo (2022). O Tamanho do Mundo. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 288

Início da leitura: 09/11/2022

Fim da leitura: 11/11/2022

**SINOPSE**

Por entre os estalos dos móveis da sua casa em Lisboa, um idoso observa o outro lado do Tejo enquanto se perde nas memórias sobre uma cave e um pequeno jardim com um baloiço.

Independentemente de ter acabado por se tornar presidente de uma grande empresa, o sucesso jamais debelou a perda daquele tempo, acorrendo repetidas vezes ao local e imaginando que as pequenas coisas e as personagens (mais significativas, como a filha, ou mais casuais, como uma senhora que passa com um carrinho das compras) se mantêm intactas, tal qual um tempo impoluto.

A escrita de Lobo Antunes deixa-nos sem fôlego. Para acompanharmos a história, temos de nos deixar ir ao sabor da narrativa que, inicialmente, parece tão desfragmentada quanto a forma escrita (com as suas frases inacabadas, mudanças repentinas de narrador, mudanças repentinas das histórias dentro da história...) e temos de o fazer sem perder muito tempo, sem pousarmos o livro por muitas horas seguidas, pois corremos o risco de nos perdermos na narrativa, de sentirmos necessidade de voltar atrás para retomar o "fio à meada". 
É incrível como, aos poucos, todas essas histórias se juntam e fazem tanto sentido! É como se acompanhássemos um caso policial de difícil resolução, que nos desorienta mas, ao mesmo tempo, nos cativa. Assim foi ler este livro. 
Uma forma linguística de nos manter presos está num certo coloquialismo, numa narrativa que nos parece dialogar com os nossos pensamentos, o que Lobo Antunes consegue pelas inúmeras repetições ao longo do livro. Essas repetições avivam-nos a memória em relação a acontecimentos narrados anteriormente, captam-nos a atenção para os pormenores e, ao mesmo tempo, encaixam perfeitamente na personagem do idoso que é invadido por recordações e cuja "memória é um sótão onde tudo acaba por se misturar num nada sem nexo".
E há um vaivém entre memórias de um passado economicamente difícil numa cave, mas em que recorda momentos felizes, como aquele em que, no "jardinzeco", empurrava a filha no baloiço, quando "o relógio do corredor, cheio de ancas, baloiçava horas gordas"; o baloiço abandonado, quando se tornou num homem de sucesso nos negócios e se afastou, tornando-se num homem pretensioso, arrogante, mulherengo... Sempre um vaivém, do baloiço, do amor, da cama que rangia na parede, das histórias, da própria vida.
Agora, resta-lhe uma solidão que se mede "pelos estalos dos móveis", "pelo pânico das ambulâncias na rua", com um relógio "a tricotar minutos graças às agulhas dos ponteiros, tecendo o cachecol do tempo a caminho da noite". 
Aconselho vivamente! Para quem gosta do género, claro!

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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