Cronin , Marianne (2021). Os Cem Anos de Lenni e Margot. Lisboa: Editorial Presença.
Tradução:
Maria do Carmo Figueira
Nº
de páginas 336
Início
da leitura: 29/01/2022
Fim
da leitura: 04/02
**SINOPSE**
Lenni
tem 17 anos e pouco tempo de vida.
Mas
o encontro com Margot, um espírito rebelde com 83, está prestes a mudar tudo
nos seus dias.
A
vida é curta. Ninguém sabe isso melhor do que Lenni, de 17 anos, internada numa
enfermaria para doentes terminais. Em breve, aprenderá que não é apenas o que
se faz com a vida que importa - mas também como e com quem a partilhamos.
Contrariando as ordens do médico, Lenni começa a frequentar aulas de arte. É lá
que conhece Margot, uma doente de outra enfermaria, com 83 anos e um espírito
rebelde. O laço que se cria entre elas é instantâneo, ao perceberem que,
somando as suas idades, viveram cem anos incríveis.
Para
celebrar o seu século em comum, decidem pintar as histórias das suas vidas: de
como é envelhecer e ser jovem, dar alegria, receber bondade, perder o amor ou
encontrar a pessoa da nossa vida.
À
medida que esta maravilhosa amizade se aprofunda, os dias de Lenni e Margot
ganham cada vez mais luz, esperança e… vida.
Extraordinariamente
espirituoso e cheio de ternura, Os Cem Anos de Lenni e Margot é um
romance que nos relembra de que é feito, verdadeiramente, o admirável dom da
vida. Uma história sobre a nossa capacidade infinita de criar amizade e amor,
mesmo nos momentos mais difíceis - em que mais precisamos deles.
**OPINIÃO**
Gostei
muito deste livro. Não é um tema que me seja fácil de ler. Falar de doenças
terminais é uma temática que mexe comigo, que me deixa desconfortável. Porém,
as personagens que se destacam neste livro, tornam esta realidade menos penosa,
talvez pela maneira de serem e encararem a doença.
Lenni
surpreende-nos logo aquando da sua visita à capela. É de forma dura, mas tão
compreensível que ela pergunta ao reverendo: “Porque é que eu estou a morrer?". Lenni revela-se, nas suas conversas com o padre, uma jovem muito perspicaz, curiosa, preocupada e amiga.
O
próprio facto de Lenni proibir o pai de voltar ao hospital, é revelador da sua
maturidade, pois entende que os que estão a sofrer com ela, estão a morrer com
ela. Sentiu, então, necessidade de os libertar das garras da morte, para
amenizar o sentimento da perda e não verem a evolução doença que leva o ser
a um estado vegetativo que só poderia deixar ainda mais tristes os que os amam
e acompanham.
Nada
é por acaso, como o encontro entre a jovem Lenni, de 17 anos e a senhora de 83
anos, Margot, na sala das artes. Aos poucos edifica-se entre elas uma amizade
improvável mas muito forte. A partir das pinturas, e depois através de registos
escritos que Lenni prefere às pinturas, estas duas pessoas condenadas à morte,
contam histórias do seu passado, das suas vidas. Ao perceberem que juntando as
idades das duas, a conta perfaz cem, decidem que é a idade delas é essa, a soma
das suas idades. Por isso, já viveram muito, já viveram 100 anos!
«Mas, à minha frente, estavam dois números importantes, dois números que seriam importantes para o resto dos meus dias contados.
— As nossas idades juntas — disse-lhe em voz baixa — são cem anos.»
Ambas não tiveram vidas fáceis e interessam-se pela vida uma da outra. Achei extremamente interessante a capacidade de Lenni de se transpor para o passado de Margot e de se imaginar lá, com ela. Afinal, é o sonho que nos mantém vivos. Não necessariamente para sempre, mas enquanto vivemos, ainda que de forma apagada, sem brilho, confinados ao espaço de um hospital. Também é importante o sonho para percebermos que a luz está lá em cima, nas estrelas e, saber que as estrelas que brilham são as que já morreram, também ameniza a própria aceitação da morte, como algo natural, como a continuação da vida terrena numa outra esfera, numa outra dimensão, que poderá até ter mais luz, menos sofrimento, mais harmonia.
«Não me lembrava da última vez que tinha visto as estrelas. (...) Faziam o mundo parecer outra vez grande. Há tanto tempo que o meu mundo estava reduzido ao hospital.»
A
narrativa é fluída, a linguagem simples. E é tão fácil gostar e admirar a Lenni. Aconselho vivamente a leitura.
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