Ishiguro, Kazuo (2019). As Pálidas Colinas de Nagasáqui. Lisboa: Gradiva.
Tradução:
Gabriela Gonçalves
Nº
de páginas: 224
Início
da leitura: 04/02/2022
Fim
da leitura: 05/02/2022
**SINOPSE**
Depois
do suicídio da filha, Etsuko, viúva japonesa que mora em Inglaterra, fica a sós
com as suas recordações.
Etsuko
é assim transportada a um verão quente de Nagasáqui, num tempo em que procurava
reconstruir a vida, depois da guerra. E quando as reminiscências a levam à sua
estranha amizade com Sachiko, uma mulher rica que ficou reduzida a uma vida
errante, o passado e o presente fundem-se numa narrativa intensamente
envolvente e de uma perturbante nitidez.
**OPINIÃO**
Este
foi o romance de estreia de Ishiguro, publicado originalmente em 1982. O facto
de o autor ter nascido em Nagasáqui, confere às descrições um grande realismo.
Neste
romance, vão-se intercalando o presente, em que Etsuko vive em Inglaterra e
recebe a visita da filha mais nova Niki, após o suicídio da filha mais velha, Keiko.
A visita da filha, desencadeia recordações por parte de Etsuko. Surge assim a
memória de um passado, logo após a bomba que deixou Nagasáqui em “ruínas
carbonizadas” e em reconstrução. É incrível a descrição que o autor faz da
terra devastada, das valas que se abriram, da água estagnada, do lodo, da noção
de que muitas doenças adviriam desta devastação.
Etsuko
recorda a sua improvável amizade com Sachiko, uma estranha mulher recém-chegada
a Nagasáqui, num momento em que ela está grávida de Keiko. Estranha também era
a forma como Sachiko tratava e educava a filha, Mariko, que não só não frequentava
a escola, como era deixada sozinha por várias vezes, correndo sérios riscos nas
margens inseguras do rio.
Etsuko
relembra ainda a altura em que o sogro os foi visitar, a forma como via o
trabalho do marido, que não tinha tempo para se dedicar à família, a forma
preconceituosa com que ele encarava o casamento, considerando que a mulher
deveria fazer tudo o que o marido mandava e que considerava que uma mulher que
não votasse no partido do marido, era o princípio de uma relação doente e que
estas modernices vinham dos EUA.
Este
contraste de mentalidades é também muito evidente entre Etsuko e Sachiko, cujo
sonho era emigrar para a América. Aliás, são vários os momentos da obra em que
se sente a fusão entre as duas culturas, a noção de perda de uma identidade japonesa.
Apesar
de ter sentido que gostava de saber um pouco mais sobre o que sucedeu a Sachiko
e à própria filha de Etsuko, Keiko, não posso deixar de salientar esta
capacidade de Ishiguro de nos transportar para as histórias, os locais, as personagens,
através de diálogos intimistas que convocam a nossa presença e atenção
constantes. Não adorei, mas gostei!
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