Os Esquecidos de Domingo, Valérie Perrin

Perrin, Valérie (2023). Os Esquecidos de Domingo. Barcarena: Editorial Presença.

Tradução: Maria de Fátima Carmo
Nº de páginas: 312
Início da leitura: 09/04
Fim da leitura: 12/04

**SINOPSE**
"Aos 22 anos, Justine vive com os avós e o primo, Jules, desde que os pais de ambos morreram num acidente. Os dias de Justine parecem suceder-se sem que nada se altere: trabalha nas Hortênsias, um lar de idosos na pequena aldeia onde habita, e adora conversar com os residentes. Entre eles, está Hélène, uma centenária cujo sonho sempre foi aprender a ler.

Justine e Hélène criam um profundo laço de amizade, alimentado pelas horas que passam a escutar-se e a partilhar memórias e sentimentos. E eis que, enquanto as conversas se multiplicam, três coisas acontecem: Justine começa a interrogar-se sobre a morte dos pais, compra um caderno no qual começa a escrever regularmente, e, no lar, surgem estranhos telefonemas que vão provocar uma pequena revolução nas Hortênsias… De que forma se entrelaçam as histórias? Como podem as antigas e novas memórias fazer Justine mudar o rumo da sua vida?

Como já nos habituou, Valérie Perrin deslumbra-nos com a sua enorme sensibilidade ao tratar os temas mais delicados das nossas vidas num romance em que a melancolia e a graça andam de mãos dadas e nada é deixado ao acaso do destino."
Valérie Perrin escreve maravilhosamente! Neste livro, acompanhamos Justine, que trabalha no lar de idosos das Hortênsias. Entre ela e Hélène, uma das idosas de quem cuida, nasce uma amizade que é feita de cumplicidade, de desabafos (que parecem alucinações), de uma história de vida, que Justine vai escrevendo no seu caderno e que surgem de forma entrecortada (momento em que Justine se torna narradora da sua própria história). Ficamos a conhecer a história de vida de Hélène, que ficará para sempre na praia da sua memória, onde espera pelos olhos de que jamais esquecerá, com a gaivota que lhe faz companhia. Ficamos, ao mesmo tempo, a saber que Justine perdeu muito cedo os pais, que terão morrido num acidente de viação, tendo sido criada por uma avó intransigente.
Apenas ressalvo que estas histórias surgem de tal forma interligadas, que se fundem e confundem, caso não seja uma leitura atenta. É um livro que exige pré-disposição mental e que nos deixa uma lição de vida: cada vez mais os idosos se tornam nos "esquecidos de domingo", enquanto os filhos vão adiando visitas, deixando para o domingo, acabando mesmo por não se fazer. Por seu turno, Justine sente que também foi esquecida pelos pais, que morreram quando iam para um batizado, numa manhã de domingo. Por vezes, as histórias enlaçam-se de tal maneira que se tornam numa única história. Recomendo!
Deixo uma passagem:
"O domingo é o dia das visitas. Não para todos. Por isso bebi cinco cafés para conseguir ocupar-me dos que não as recebem. O domingo é um dia que é preciso «tratar com pinças». Está carregado de desgosto.Aqui, poderia pensar-se que todos os dias são domingo, mas não é assim. É como um relógio biológico. Todos os domingos, os velhos sabem que é domingo."

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