Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Costa, Mélissa da (2023). Todos os Amanhãs. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Inês Fraga
Nº de páginas: 296
Início da leitura: 29/04/2023
Fim da leitura: 30/04/2023

**SINOPSE**
É num verão brilhante e insuportável que a jovem Amande Luzin entra pela primeira vez na casa que arrendou na zona rural francesa de Auvergne. Para a acolher, encontra janelas fechadas, escuridão e silêncio: um refúgio.

É ali, longe de todos, que decide esconder-se para viver o seu luto. Amande nunca abre as portadas e raramente sai à rua, evitando a interferência da luz na sua vida. Até que, um dia, encontra os diários e calendários da antiga proprietária, a senhora Hugues. Numa caligrafia redonda e elegante, há instruções detalhadas para os cuidados do jardim e para a confeção de receitas, uma espécie de almanaque caseiro.

Amande é uma mulher da cidade que nunca usou galochas nem utensílios de jardinagem. No entanto, apesar da dor que a corrói, decide seguir as instruções da senhora Hugues e recuperar o jardim abandonado, um espaço que parece mágico. A cada semente, encontra um rebento: no pântano da sua dor, cada amanhã traz uma pequena e perfumada promessa de futuro.
Este é, provavelmente, o livro mais doce que li nos últimos tempos. Com isso, não quero dizer que seja lamechas. Pelo contrário. Fala-nos de acontecimento muito duro: como lidar com a perda, através de uma mulher que, após perder o marido e a filha ter nascido morta, aluga uma casa numa zona rural, para se fechar na sua dor. Efetivamente, é o que acontece. Mas, nesta história, percebemos que é possível renascer das cinzas e que o espaço, a terra, a semente, os cadernos e calendários escritos pela antiga proprietária da casa, a companhia de um gato, não a deixarão, por muito tempo, permanecer enclausurada na dor (como ela queria), numa casa sombria e sem vida, a que não abre portadas, numa cama, numa espécie de coma emocional. Poderá Amande sair deste torpor em que a sua vida se encontra? É pela voz da própria Amande enquanto narradora, que vamos seguindo avidamente toda a sua história de vida, que nos comove e nos aquece a alma. Afinal, como diria Sebastião da Gama "Pelo Sonho é que vamos,/comovidos, mudos. Chegamos? Não chegamos?/ Haja ou não haja frutos,/pelo sonho é que vamos." Recomendo muito a leitura!

Cardoso, Dulce Maria (2014). Tudo São Histórias de Amor. Lisboa: Tinta da China.

Nº de páginas: 248
Início da leitura: 28/04/2023
Fim da leitura: 29/04/2023

**SINOPSE**
"Inclui «Não esquecerás», o conto sobre a tragédia de Entre-os-Rios que já inspirou uma peça de teatro (de Mónica Calle) e um filme (de João Mário Grilo).
Uma velha que em clausura depende do que o seu cão fiel lhe recolhe, uma mulher que mata a sua alma gémea, nós que nos tornamos cúmplices num autocarro em noite de temporal, um rio que devolve os ecos de duas crianças a quem aguarda um terrível milagre, uma ilha onde congeminam os faroleiros e suas zelosas esposas, um assassino a salvo na biblioteca, uma menina desaparecida, uma mulher intrigada pelo homem desconhecido. Um destino chamado amor.

Neste inquietante livro, Dulce Maria Cardoso revela mais uma vez a sua mestria literária."
Dulce Maria Cardoso não desilude. Numa linguagem forte, com personalidade, traz-nos várias histórias, algumas delas que partem de acontecimentos reais. A triste história de Dóris, em "Este Azul que Nos Cerca" coloca-nos logo perante a crueldade humana. Até onde pode ir a crueldade de mulheres que veem a chegada de uma mulher bonita à terra como uma ameaça? Em "A biblioteca", "livremente inspirado em factos reais", somos confrontados com um narrador, que assassinou vários homens e que nos diz "Os livros salvaram-me" e "As vidas que li não foram menos minhas. Não há diferença entre o que se vive lendo e o que se vive vivendo." "Não esquecerás" é um conto sobre a tragédia de Entre-os-Rios, onde percebemos que o "amanhã, ama-nhã, a-ma-nhã, a-m-a-n-h-ã, o tempo em que cabem os sonhos", pode não chegar. E tantos outros contos a que não ficamos indiferentes. Adorei e recomendo a leitura!

Seidel, Romy (2023). A Filha de Freud. Lisboa: Alma dos Livros. 

Tradução: Nazaré Matias
Nº de páginas: 336
Início da leitura: 25/04/2023
Fim da leitura: 27/04/2023

**SINOPSE**
"Viena, 1923. Na Europa vivem-se tempos turbulentos. No período entre duas grandes guerras mundiais, uma jovem divide-se entre a devoção pelo pai, Sigmund Freud — o fundador da psicanálise —, de quem é secretária e confidente, e o desejo de realizar os próprios sonhos.

Este livro acompanha a vida de Anna Freud, a filha mais nova do casal Martha e Sigmund Freud, desde Viena, onde cresce e começa a trabalhar, abrindo o seu primeiro consultório no apartamento dos pais, até Londres, onde a família se refugia no alvorecer da Segunda Guerra Mundial.

O eclodir do nazismo e os ventos de mudança que alastram por toda a Europa impelem a jovem Anna a decidir afirmar a sua individualidade e a seguir o seu rumo, independente da vontade dos outros. Mas, terá ela a força e a capacidade de vencer o peso do nome da família, enquanto luta por sobreviver ao espectro ditatorial que está prestes a destruir a Europa?"

Gostei muito de ler este livro. A autora parte de vários acontecimentos reais que giraram em torno desta figura de que pouco se fala, Anna, a filha mais nova de Sigmund Freud, e ficciona parte da história, que é, com efeito, desconhecida. Resultou muito bem. 
Anna foi uma jovem determinada, muito preocupada com a família, em especial com o pai, acompanhando-o durante a doença dele, até ao fim da vida deste. Anna seguiu as pisadas do pai, mas optou por fazê-lo com crianças, que já soubessem expressar o que sentiam. 
Anna revela-se também determinada a nível sentimental, sentindo, desde cedo, que não nasceu para casar e ter filhos. Acaba por se afeiçoar a Dorothy Burlingham, com quem viveu.
Mais não posso contar. Destaco as conversas de Anna com o pai e várias personagens, com as quais a protagonista se terá cruzado: Virgínia Woolf, Stefan Zweig, Salvador Dalí, entre outras. Aconselho a leitura!

 Gonçalves, Hugo (2015). O Filho da Mãe. Alfragide: Casa das Letras.

N.º de páginas: 200

Início da Leitura: 22/04/2023

Fim da leitura: 24/04/2023

**SINOPSE**

"Quando José é convocado pelo velho patriarca da família, com quem não fala há anos, a sua perplexidade é enorme e, por isso, inescapável a recordação do verão de 1982, em que o avô - nadador de longas distâncias e anticomunista fanático, a quem o cancro levou todas as mulheres - o foi buscar a uma aldeia algarvia onde a mãe o deixara com uma estranha, decidido a tornar-se o pai que ele nunca tivera.
Foi nesse verão que a perigosa quadrilha de Mancha Negra fugiu da cadeia, provocando uma caça ao homem sem precedentes que deixou o País em sobressalto; que José mergulhou da rocha mais alta e que foi atingido por um raio, julgando assim ganhar os superpoderes necessários para descobrir o paradeiro dos bandidos e resolver o mistério do desaparecimento da mãe; e que, na companhia de um rafeiro chamado Rocky e de três amigos extraordinários, viu nascer dentro de si uma força e uma ferida que, mais tarde, o levariam a tentar corrigir os males do mundo pelas próprias mãos. As memórias da vida numa mansão do Estoril, com o avô austero, uma tia devota e uma prima cúmplice, levam-no a regressar à serra algarvia 30 anos depois, para resgatar o que ficou dessas férias grandes, descobrindo, afinal, o que precisava de saber sobre si próprio.
O Caçador do Verão é um romance fascinante sobre a importância da família e da infância nas nossas vidas, que recupera um tempo em que Portugal se aproximava velozmente da Europa, com tudo o que isso tinha de grato e fatídico."
Ainda que tenha gostado mais de O Filho da Mãe, devo reconhecer que Hugo Gonçalves escreve muito bem. Num discurso fluído, cria personagens credíveis, intercalando analepses e presente da narrativa, o que nos permite perceber o que levou o protagonista a ser como é, a comportar-se como se comporta. Gostava, porém, de ficar a conhecer melhor a relação do protagonista com o avô, porque muito poderia ter sido dito...
Quero muito voltar a ler mais livros do autor, mas mais na linha narrativa de O Filho da Mãe.

 Agualusa, José Eduardo (2017). As Mulheres do Meu Pai. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 416
Início da leitura: 15/04/2023
Fim da leitura: 22/04/2023

**SINOPSE**
"Ao morrer, o famoso compositor angolano Faustino Manso deixou sete viúvas e dezoito filhos. A filha mais nova, Laurentina, realizadora de cinema, tenta então reconstruir a atribulada vida do falecido músico. Em As Mulheres do Meu Pai, realidade e ficção correm lado a lado, a primeira alimentando a segunda. Nos territórios que José Eduardo Agualusa atravessa, porém, a ficção participa da realidade. As quatro personagens do romance que o autor escreve, enquanto viaja, vão com ele de Luanda, capital de Angola, até Benguela e Namibe.
Cruzam as areias da Namíbia e as suas povoações-fantasma, alcançando finalmente Cape Town, na África do Sul. Continuam depois, rumo a Maputo, e de Maputo a Quelimane, junto ao rio dos Bons Sinais - e dali até à ilha de Moçambique. Percorrem, nesta deriva, paisagens que fazem fronteira com o sonho, e das quais emergem, aqui e ali, as mais estranhas personagens. As Mulheres do Meu Pai é um romance sobre mulheres, música e magia.
Nestas páginas anuncia-se o renascimento de África, continente afetado por problemas terríveis, mas abençoado pelo talento da música, o sempre renovado vigor das mulheres e o secreto poder de deuses muito antigos."
Não vou falar da história em si, uma vez que a sinopse já o faz, de forma bastante completa. Quero apenas realçar que é sempre um prazer ler Agualusa, não apenas pela linguagem que utiliza e que tem o dom de nos prender às histórias, mas pelos lugares por onde nos leva a viajar (Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul), as personagens que nos dá a conhecer, tão bem concebidas, que a fusão entre realidade e ficção ocorre de forma tão natural, conferindo uma grande verosimilhança ao que nos é contado. Não é um livro de leitura fácil, mas é um livro que fica connosco, que nos dá a conhecer espaços únicos e mulheres fantásticas e diferentes entre si. Recomendo muito a leitura!
Deixo duas passagens, de entre muitas que me captaram a atenção:
"Há silêncios plácidos e outros convulsos. Silêncios alegres e outros dramáticos. Há aqueles que cheiram a incenso, e os que tresandam a estrume. Há os que sabem intensamente a goiabas maduras; os que se guardam no bolso interior do casaco (...); os que andam nus pelas ruas; os silêncios arrogantes e os que pedem esmola." (pág. 94).
"- Leve os sonhos a sério - sussurrou - Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado." (pág. 413).

Ferreira, José Gomes. Aventuras de João Sem Medo. Panfleto Mágico em Forma de Romance. 5ªedição, 2012. Alfragide: Biis.

Nº de páginas: 173

Início da leitura: 14/04/2023

Fim da leitura: 15/04/2023

**SINOPSE**

João Sem Medo habita na aldeia Chora-Que-Logo-Bebes, cujos habitantes vivem presos à tradição de que tanto se orgulham: chorar de manhã à noite. Um dia, o nosso herói decide saltar o Muro que protege a aldeia da Floresta Branca, local onde «os homens, perdidos dos enigmas da infância, haviam estalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos». Tem assim início uma viagem surpreendente, na qual João Sem Medo se irá cruzar com bichas de sete cabeças, gigantes de cinco braços, fadas, bruxas, animais que falam, e ainda com o mítico Príncipe das Orelhas de Burro. História fantástica que recorre ao imaginário mágico, por vezes de inspiração surrealista, este romance de José Gomes Ferreira é um prodígio de efabulação e engenho narrativo. Uma obra intemporal que continua a arrebatar tanto adolescentes como adultos.

Já tinha lido vários excertos desta obra, mas nunca a obra completa. Desta vez, peguei-lhe e surpreendi-me. Primeiro, pela capacidade imaginativa do autor, pelas sucessivas aventuras e desventuras do protagonista, pela coloquialidade da linguagem, capaz, com certeza de captar miúdos e graúdos e pela metáfora tão atual das características humanas: o pessimismo tão português, a irresistível gastronomia portuguesa "temperada de lágrimas", a crítica irónica a uma sociedade que se guia pelas aparências, precipitada e que não teme as consequências, a cegueira, a monstruosidade humana, a insensatez, a maldade, a crueldade, a malícia, as crenças e crendices, o medo ante os obstáculos, a frieza, a luta pela sobrevivência, a persistência, a aceitação e o regresso. Estes são alguns dos temas que perpassam ao longo de uma série de aventuras que leva João Sem Medo a ousar sair das normas impostas pelas tradições familiares e sociais em que vive em "Chora-Que-Logo-Bebes" e a saltar o "descomunal" Muro em redor da Floresta Branca. Farto de "choriquice", de ver andar de "monco caído", das "canções de cemitério", de lástimas "de manhã até à noite", João Sem Medo resolver enfrentar esses seres dessa espécie de "Parque de reserva de Seres Fantásticos". 
Quem ainda não leu, convido a viajarem com João Sem Medo e a acompanharem-no nas suas aventuras, que, com certeza, não deixam ninguém indiferentes.

 Burton, Jessie (2017). A Musa. Queluz de Baixo: Editorial Presença.

Tradução: Manuela Madureira
Nº de páginas: 392
Início da leitura: 11/04/2023
Fim da leitura: 14/04/2023
**SINOPSE**
"Londres, anos sessenta do século vinte: uma imigrante proveniente das Caraíbas trabalha numa galeria de arte onde surge um quadro perdido durante a Guerra Civil espanhola e envolto em segredos inexplicáveis.

Quem terá pintado este quadro admirável que surgiu de parte nenhuma?

A verdade acerca desta pintura remonta a 1936 e a uma grande casa rural em Espanha, onde Olive Schloss, filha de um abastado negociante de arte, acalenta ambições que os pais desconhecem.

Por este frágil paraíso, na Andaluzia, passam o artista revolucionário Isaac Robles e a sua meia-irmã, Teresa.

Ambos se insinuam no seio da família Schloss, com consequências inimagináveis e desastrosas..."

Gosto da escrita elegante de Jessie Burton e da forma como conduz a narrativa. Neste caso, como tem vindo a ser comum em vários romances, há uma alternância entre tempos da história: os anos sessenta e 1936. Na primeira data referida, conhecemos Odelle Bastien, uma imigrante vinda das Caraíbas e que trabalha numa galeria de arte e, na segunda data, contactamos com uma imigrante espanhola, Olive Schloss, filha de um abastado negociante de arte e que tem interesses que não vão ao encontro do que o pai imaginou para ela. A ação decorre em Londres e, tendo estado lá, durante a leitura do livro, foi uma aventura ainda maior, pois fui traçando um roteiro geográfico, na minha mente, de todos os locais mencionados. A acrescentar ainda mais visualismo à história, está a mestria com que a autora tece as descrições dos espaços. De realçar a importante contextualização histórica que vai sendo feita, não só em termos geográficos e históricos, mas também nas mentalidades, formas de agir e de pensar.
Alguém tem exatamente a noção do que está por detrás de uma obra de arte? Quem foi realmente o pintor, as suas escolhas, os seus sentimentos? Será mais importante o desejo de fama ou o reconhecimento, ainda que anónimo, de uma obra de arte?
Neste livro reflete-se sobre arte, sobre os conflitos geracionais no que concerne aos interesses dos filhos, sobre as inseguranças  e dilemas provenientes do medo e do respeito pelos pais, sobre a visão sexista da arte, os papéis sociais de uma determinada época, 
Ambas as histórias nos despertam a atenção e nos mantêm presos ao livro até ao fim, momento em que tudo se interliga na perfeição.
Apesar de ter gostado mais de "O Miniaturista", também aconselho muito a leitura desta obra.

Moriarty, Liane (2023). Quem Sai aos Seus. Alfragide: Edições ASA.

Tradução: Isabel Veríssimo

Nº de páginas: 528

Início da leitura: 04/04/2023

Fim da leitura: 10/04/2023

**SINOPSE**

"Vista de fora, a família Delaney é perfeita. Joy e o marido, Stan, são treinadores de ténis famosos e arrasam nos courts e fora deles. Os seus quatro filhos - Amy, Logan, Troy e Brooke - já são independentes. Após vidas ativas tão intensas, Joy e Stan decidem vender a sua reputada academia de ténis e desfrutar da tranquilidade da reforma.

Mas quando uma mulher misteriosa entra inesperadamente na vida do casal e Joy desaparece sem explicação, deixando apenas uma mensagem enigmática, tudo é subitamente posto em causa. A polícia interroga Stan. Para alguém que se diz inocente, o marido parece ter muito a esconder. Dois dos filhos acreditam na inocência do pai, mas os outros dois não têm assim tanta certeza.

Divididos, eles têm pela frente o desafio mais duro e a pergunta mais arrepiante das suas vidas: será que alguma vez conheceram verdadeiramente os pais?
Está na hora de os irmãos Delaney reavaliarem a história da família…   Os direitos para TV de Quem Sai aos Seus foram já adquiridos, após o estrondoso sucesso das adaptações televisivas das obras da mesma autora: Pequenas Grandes Mentiras e Nove Perfeitos Desconhecidos (ambas protagonizadas por Nicole Kidman)."

Tenho lido os livros da autora e gosto muito da forma como escreve. Apesar de ser um livro grandinho, não cansa e prende à narrativa. A entrada de uma estranha na vida "perfeita" de um casal é o mote para se começar a perceber melhor que a perfeição não existe e que todos têm o seu feitio muito peculiar e os seus defeitos e virtudes. À medida que a ação avança, conhecemos melhor esta família, o que vai intercalando com um momento mais avançado da ação - o do desaparecimento da mulher, mãe e esposa, Joy Delaney.

Savannah, a suposta desconhecida, será mesmo uma desconhecida? Até que ponto esta família será tão feliz, harmoniosa e bem-sucedida como gosta de se apresentar? 

Convido-vos a desvendarem as respostas a estas perguntas com a leitura deste livro, que aconselho!

Luís, Agustina Bessa (1987). A Sibila. 10ºed. Viseu: Guimarães Editores.

Nº de páginas: 252

Início da leitura: 01/04/2023

Fim da leitura: 03/04/2023

**SINOPSE**

"No norte de Portugal, em finais do século XIX, na propriedade da Vessada, há já muito tempo que são as mulheres que, perante a indolência e os sonhos de evasão que os homens alimentam, asseguram como podem a gestão da propriedade. Quina era uma adolescente franzina e inculta, que desde cedo participava nos trabalhos do campo ao lado dos trabalhadores. Com a morte do pai, com a propriedade quase em abandono, Quina passa a ter que ter uma ainda maior responsabilidade na administração da mesma. Graças ao seu esforço a todos os níveis, começa a acumular de novo a riqueza que seu pai desperdiçara, o que lhe vale a admiração da sociedade. Quina era uma pessoa lúcida, astuta e sempre em demandas, o que faz com que esta se torne conhecida por Sibila…

O romance A Sibila foi concluído no dia 16 de Janeiro de 1953 e logo depois apresentado ao Prémio de romance Delfim Guimarães, instituído pela Guimarães Editores, que lhe foi atribuído. Foi publicado pela primeira vez, logo depois, em 1954, há 55 anos. Esta edição fixa o texto definitivo da obra. É o livro mais famoso da autora, traduzido em várias línguas."
Passados 36 anos, revisitei A Sibila, de Agustina Bessa Luís. Em 1987, li-a pela primeira vez, no meu 12º ano. Foi, na altura, uma obra difícil de ler e de entender. As muitas personagens e situações narradas, tornaram-na confusa à minha faixa etária. Continuo a considerar que não é um livro para ser lido aos 17 anos e, acredito até, que nessas idades, não havendo uma perceção plena do que se lê, é um livro que pode arredar da leitura, quem se está a estrear em romances mais complexos.
Porém, passados tantos anos, não o li com os mesmos olhos e gostei. Foi uma forma de tentar perceber o que não compreendi antes, me passou despercebido, não me cativou.
A linguagem é cuidada e ornamentada, as personagens trabalhadas de forma complexa, as reflexões vastas e a realidade outra, que, em tenra idade, é difícil entender.
Nesta obra acompanhamos a história de uma família, na qual se destaca Quina. Esta é a Sibila, que dá título à obra e que terá sido escolhido tendo como ponto de referência a vida da Sibila de Delfos (sé. VIII a.C.), que vivia sé e em castidade. Guardava a casa do seu Deus. Ouvia as preocupações, os problemas, as angústias, os segredos da vida e entendia o mistério da existência.
Ficamos a conhecer os proprietários da emblemática Casa da Vessada, as suas histórias de vida, os diferentes estratos sociais, as diferenças de poder entre homens e mulheres, num ambiente rural de uma dureza incontornável, num contexto entre o Douro e o Minho.
As personagens adquirem uma grande densidade, e, por mais que se tentem apresentar ou as tentemos compreender, ficamos sempre com a noção de serem impenetráveis, o que, de certa forma, é o espelho da complexidade humana.
Apesar de nos depararmos com várias personagens extremamente ricas, destaca-se Quina, de quem acompanhamos a infância, a juventude, a pitonisa ligada aos poderes ancestrais - sibila, a herança de sangue, a velhice e a morte.
Não é uma obra feminista, ainda que tenham sido as mulheres a manter a casa, encontramos sim estas mulheres que mais não são do que vítimas de um machismo e que tentam manter o patriarcado que lhes foi legado.
E esse legado fica para Germa, a quem compete dar continuidade à obra de Quina. Eis Germa, eis a sua vez agora e o tempo de traduzir a voz da sua sibila. Talvez, porém, o seu tempo seja improdutivo e nefasto, e ela fique de facto silenciosa, porque - quem é ela para ser um pouco mais do que Quina e esperar que os tempos novos sejam mais aptos a esclarecer o homem e a trazer-lhe a solução de si próprio? Talvez a sua história fique hermeticamente fechada no círculo de aspirações que não conseguiu detalhar e cumprir, porque aconteceu ser cedo ou ser tarde, porque não se compreende ou não se crê o bastante, porque se deseja demasiado, e isto é todo o destino, porque... porque..."
Se é um livro fácil? Não. Se é um livro para qualquer leitor? Não.
Se é um bom livro? Sim, é um livro muito bom!
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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