Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Forna, Namina (2021). As Mulheres Douradas. Alfragide: Gailivro.

Nº de páginas: 384

Início da leitura: 26/09/2021

Fim da leitura: 29/09/2021

Tradutora: Ana Pereira

SINOPSE

Somos raparigas ou somos demónios? Vamos morrer ou vamos sobreviver?

Deka, de 16 anos, devido à sua intuição e natureza sente-se diferente e vive com medo do ritual do sangue, o qual irá determinar se pode ou não ser um membro da sua aldeia. Se o seu sangue correr vermelho, será aceite pela comunidade. Mas no dia da cerimónia o seu sangue revela ser dourado - a cor da impureza, de um demónio, e as consequências serão pior do que a morte.

A jovem vê-se forçada a abandonar a aldeia onde sempre vivera na companhia de uma mulher misteriosa e a juntar-se a um exército de raparigas como ela - as alaki. Um grupo de raparigas quase imortais com dons raros e as únicas capazes de travar a maior ameaça do império.

Mas, à medida que avança até à capital para treinar para a derradeira batalha, Deka descobre que a grande cidade murada encerra em si muitas surpresas. Nada nem ninguém é exatamente o que parece ser - nem mesmo Deka…

OPINIÂO

Sendo este um romance de fantasia Young Adult, parti para a sua leitura sem grandes expetativas. Sinceramente, decidi lê-lo, porque gostei muito da capa.

Apesar de não ser dos livros que mais gostei, acabei por me ver embrenhada na história, seguindo Deka, uma jovem que se sentiu sempre desprezada, com um tom de pele mais escuro do que as jovens que viviam na mesma localidade, acabando por se considerar feia. A mãe terá morrido de varicela e vive apenas com o pai. O sonho dela é vir a comprovar-se, durante um típico ritual da aldeia, que é uma jovem pura, de sangue vermelho, para poder continuar a viver ali.

O que não sucede…

Mas, então, o que acontece a Deka?

Não vou entrar em pormenores, mas posso afirmar que nada é o que parece e tudo pode acontecer. As características que se destacam nesta personagem é a sua necessidade de afeto, o seu espírito de resiliência, a coragem e a perseverança.

É um livro de fantasia que me fez lembrar a distopia de Os Jogos da Fome ou até da coleção Divergente/Convergente/Insurgente. Quem gostou destes livros, vai adorar As Mulheres Douradas.

Pepetela (1997). Parábola do Cágado Velho. Lisboa: Círculo de Leitores.

Nº de páginas:190

Início da leitura: 23/09/2021

Fim da leitura: 25/09/2021

SINOPSE

"Falo de um amor e de uma transgressão." "Quem sabe, talvez a transgressão nunca fosse possível. Mas a granada existiu, essa granada que traçou no ar espantado do planalto a figura da mulher amada. Mas uma granada, mesmo com tal magia, pode materializar um Mundo?"

Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em Benguela, Angola, em 1941. Licenciou-se em Sociologia, em Argel, durante o exílio. Foi guerrilheiro do MPLA, político e governante. A partir de 1984, foi professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e tem sido dirigente de associações culturais, com destaque para a União de Escritores Angolanos e a Associação Cultural Recreativa Chá de Caxinde. A atribuição do Prémio Camões (1997) confirmou o seu lugar de destaque na literatura lusófona.

OPINIÃO

Como é que estive até agora sem ler este livro? Uma fábula simplesmente fabulosa!

É notório que Pepetela nos remete, nesta obra, para a guerra civil angolana, num ambiente rural e sob a perspetiva dos habitantes do kimbo (ou povoado).

Esta fábula tem claramente uma função pedagógica, uma vez que transmite vários ensinamentos.

Não tenciono contar a história, mas destaco a relação de Ulume com um cágado velho que, todos os dias, se deslocava calmamente até às águas do regato para beber. Quando o cágado acabava de beber, dirigindo-se à sua gruta, Ulume bebia da mesma água e perdia-se em profundas meditações, pois ele acreditava que o cágado possuía uma sabedoria ancestral. Desejava que este, um dia, respondesse às suas perguntas. É o único habitante que mantém esta relação com o cágado, que acredita na sua sabedoria.

Luzolo e Kanda, filhos de Ulume, partem para a guerra, mantendo-se cada um em “facções” opostas, num confronto que realça bem o caráter absurdo desta guerra civil.

Durante os ataques, os soldados aproveitam para saquear os bens alimentares dos povos, raptavam raparigas e engravidavam outras, destruindo os kimbos.

A par da guerra, surge o amor de Ulume por Munakazi e, a par das tradições destas povoações, surgem novas formas de pensar. Por exemplo, quando Munakazi rejeita a proposta de casamento com Ulume por este ser casado, e considerar que os tempos eram outros, já não era o pai que mandava nela, ela é que tinha de decidir se aceitava ou não e considerava que nenhuma mulher se deveria sujeitar a partilhar o homem com outra mulher.

Saliento, por fim, a capacidade de Ulume em recomeçar do zero, de cada vez que o kimbo era destruído, a perseverança, a coragem, a resiliência que poderiam muito bem servir de exemplo a todos os angolanos.

Um livro muito bem escrito, de que aconselho muito a leitura e a reflexão sobre a história que Pepetela nos apresenta desta bela forma metafórica.

Destaco algumas das frases que me despertaram a atenção. Claro está, entre muitas outras… E passo a citar:

“A guerra voltou. Aviões e canhões destruíram os Kimbos e as gentes tornaram a se entranhar nas profundezas das Mundas para sobreviver e lutar. Anos e anos. E a fome sempre presente, pois é difícil cultivar ou tratar do gado se vivemos escondidos em fuga. Ulume entendeu as razões desta dura guerra contra a fome, o imposto e a palmatória.” (pág. 21)

“…homem prudente dá uma volta ao rochedo antes de urinar nele…” (pág. 58)

“E não posso aceitar ser segunda mulher. São outros tempos, aprendemos ideias novas.” (pág. 60)

Kawabata, Yasunari (2009). Mil Grous. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 152

Início da leitura:19/09/2021

Fim da leitura: 21/09/2021

Tradução: Mário Dias Correia

SINOPSE

Com uma contenção que mal disfarça a ferocidade das paixões das suas personagens, um dos grandes romancistas japoneses do pós-guerra conta uma luminosa história de desejo, arrependimento, e da saudade quase sensual que liga os vivos aos mortos. Quando Kikuji é convidado para uma cerimónia do chá organizada por uma antiga amante do falecido pai, não está à espera de se ver envolvido com a rival e sucessora desta, a senhora Ota. Nem suspeita do sofrimento profundo que nascerá dessa relação. Mas, na cerimónia do chá, cada gesto tem um significado. E, em Mil Grous, até o toque mais fugaz ou o comentário mais casual têm o poder de iluminar vidas inteiras... por vezes no mesmo instante em que as destroem.

OPINIÃO

Com uma linguagem aparentemente simples, os livros de Kawabata têm de ser lidos nas entrelinhas, dada toda a simbologia evocada em cada comportamento, em cada personagem e até nos objetos que a nós nos poderiam parecer mais corriqueiros.

Começando pelo título, o grou é um dos símbolos mais tradicionais do Japão. Os japoneses acreditam que o grou é uma ave sagrada que simboliza paz e longevidade. Elas também simbolizam o amor conjugal e a fidelidade, porque essas aves são monogâmicas, unidas até à morte. Nos casamentos, muitos costumam juntar os amigos e parentes para dobrar mil origamis de grous dourados para dar sorte, fortuna e desejar ao casal uma vida longa e feliz.

Não consegui, porém, talvez me tenha escapado algo, compreender totalmente a relação entre o título e a história em si, salvo o momento em que o protagonista masculino fica encantado com o lenço de uma jovem com um padrão de grous.

Porém, não foi essa felicidade, essa longevidade que encontrei neste livro, antes uma imensa fragilidade humana, a infidelidade, a complexidade que é a mente humana nas suas decisões, relações e obsessões. Há, neste livro, algum surrealismo e não se torna fácil juntar as peças para lhe conferir um total sentido.

Considerei algo confusas as relações entre as personagens e fiquei com a sensação de que estas carregam em si as relações dos seus antepassados, como uma sina.

Gostei imenso das descrições dedicadas à preparação do chá, “a mais excelente das bebidas para cultivar o espírito”, os rituais, o culto dos utensílios utilizados para beber o chá, a preparação do chá no recipiente de ferro sobre as brasas, muito bem planeada, o recolhimento necessário, a concha de bambu, o silêncio, os gestos, a sensualidade…

Há uma efemeridade humana que contrasta com a longevidade dos utensílios onde é servido, cerimoniosamente, o chá. Mas este é também ele efémero.

As plantas do chá demoram tanto até dar a flor que, efemeramente, murcham para se apreciarem num breve momento em que se saboreia o chá. Não serão também as pessoas flores que, inevitavelmente, murcham?

Gosto de ler Kawabata, apesar de toda a complexidade, há na sua narrativa uma efusão que nos aquece o espírito.

Peixoto, José Luís (2014). Galveias. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 280

Início da leitura: 18/09/2021

Fim da leitura: 19/09/2021

SINOPSE

Galveias está entre os grandes romances alguma vez escritos sobre a ruralidade portuguesa.

O universo toca uma pequena vila com um mistério imenso. Esse é o ponto de acesso ao elenco de personagens que compõe este romance e que, capítulo a capítulo, ergue um mundo.

Como uma condensação de portugalidade, Galveias é um retrato de vida, imagem despudorada de uma realidade que atravessa o país e que, em grande medida, contribui para traçar-lhe a sua identidade mais profunda.

OPINIÃO

Galveias é uma vila no Alentejo, onde nasceu José Luís Peixoto e dá nome ao livro. A ação decorre nesta vila em 1984.

A história começa com a queda de “a coisa sem nome”, um possível meteorito que liberta um intenso cheiro a enxofre que se propaga por toda a vila e, numa zona rural como Galveias, em que se trabalha essencialmente sob um céu aberto e em que se acredita nos desígnios de Deus e dos céus, aquela pedra não vaticinava nada de bom. Durante toda a narrativa, as personagens sabem que tudo está diferente, tudo está impregnado daquele cheiro, tudo sabe a enxofre e nunca mais nada foi igual (é o caso do pão, que agora tem um amargor que nunca se lhe sentiu. Ora, simbolicamente o pão não significa apenas o alimento do corpo, mas também o alimento espiritual, a vida, a renovação, a prosperidade, a humildade e o sacrifício. E, como diz o provérbio, “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”). Mas ninguém se atreve a aproximar-se muito de “a coisa sem nome”, a única coisa sem nome na vila.

Apesar de neste romance surgirem muitas personagens, todas elas têm o seu lugar no romance e em Galveias. São as personagens que todos nós, ainda que não sendo de Galveias, reconhecemos das nossas aldeias: o padre, as viúvas, os bêbados, os velhos, a professora primária, o mecânico das motorizadas, os homens da guarda, o senhor doutor, as prostitutas, cada um com a sua devida alcunha. Reconhecem-se os espaços: as tascas, a escola, a barbearia, o salão de cabeleireira, a discoteca…Afinal, também eu vivo no interior de Portugal e, apesar de muita coisa ter mudado, algumas das nossas aldeias preservam as suas tradições, as suas “personagens”, os seus cheiros, os seus sabores, o frio cortante do inverno e o calor abafado do verão, as paixões, as rixas, as decisões, a loucura, a pobreza, o duro trabalho no campo, as superstições, a crença... Pena que outras estejam a desaparecer, as escolas a fechar e as memórias a ficarem perdidas num tempo passado.

É numa escrita dura, por vezes irónica, que nos chegam as histórias destas gentes de Galveias, numa prosa limpa, com uma maior preocupação com o conteúdo do que com os floreados linguísticos. Simples, como simples é Galveias da memória do autor.

Termino com três excertos, de entre muitos que poderia citar:

“Todos temos um lugar onde a vida se acerta. Cada mundo tem um centro. O meu lugar não é melhor do que o teu, não é mais importante: Os nossos lugares não podem ser comparados porque são demasiado íntimos. Onde existem, só nós os podemos ver. Há muitas camadas de invisível sobre as formas que todos distinguem (…)” (Fala de Dona Fátima – pág. 202).

“Havia demasiada noite a preencher o céu e os campos. A lua era pouco mais do que uma linha arqueada e, mesmo assim, continuava a minguar, como se quisesse desaparecer e desresponsabilizar-se. As estrelas cobriam o mundo de relevo, desenhavam outeiros na escuridão, propunham um terreno invertido, onde se pudesse imaginar outra vida” (pág. 233).

“O futuro está cheio de momentos impossíveis à espera de acontecerem.” (pág. 247).

Escusado será dizer que gostei muito deste livro e que recomendo vivamente a sua leitura!

Moriarty, Liane (2014). O Segredo do Meu Marido. Alfragide: Edições ASA.


Nº de páginas: 416

Início da leitura: 15/09/2021

Fim da leitura: 17/09/2021

O Segredo do Meu Marido é um romance escrito por Liane Moriarty e traduzido por Helena Ruão.

SINOPSE

A carta do marido dizia: "Para ler apenas após a minha morte."

Mas ele estava vivo. E escondia um segredo aterrador.

Cecilia encontrou a carta acidentalmente. Na penumbra do sótão, soube de imediato que não devia lê-la. Que devia devolvê-la ao seu esconderijo, fingir nunca a ter encontrado e respeitar a vontade do marido. Afinal amava John-Paul. Juntos, tinham três filhos e uma vida sem sobressaltos. Argumentos que de pouco serviram perante a sua curiosidade crescente. E quando começou a ler, o tempo parou. A confissão de John-Paul fulminou-a como um raio, dividindo a sua vida em dois: o antes e o depois da carta. Cecilia vai ficar agora perante uma escolha impossível.

Se o segredo do seu marido for revelado, tudo o que construíram será destruído. Mas o silêncio terá um efeito igualmente devastador. Porque há segredos com os quais não se pode viver…

OPINIÃO

Apesar de a premissa principal ser a do segredo do marido de Cecilia, neste romance cruzam-se muitas outras histórias, muitas outras personagens, muitos outros segredos que, de certa forma, parecem estar todos interligados numa teia intricada da qual, uma vez captados e presos, parece impossível sair.

No início do livro, a autora, vai buscar o “mito de Pandora”. Tal como Pandora não resiste a abrir o vaso que contém todos os males que atormentarão para sempre a humanidade, neste livro, uma vez revelado um segredo, parece que estes não têm fim e, tal como o vaso de Pandora, trazem com eles uma quantidade infindável de sofrimento, de dramas, de dúvidas que parecem não ter fim.

Gostei bastante deste livro. O facto de cada capítulo entrar em casa de uma família diferente, pode parecer-nos, no início, um pouco confuso. Mas, à medida que vamos conhecendo melhor as personagens, sentimos necessidade em continuar a acompanhá-las e cada capítulo termina num ponto-chave, deixando-nos curiosos em relação à continuação daquele ponto da história. Uma alternância das ações muito bem conseguida e que nos faz querer continuar a ler.

Gostei das personagens, porque as achei credíveis nos seus dramas e dilemas diários, nas suas dúvidas, nas suas fraquezas e angústias. Cada uma com o cérebro a fervilhar de dilemas, de segredos por revelar, de escolhas para fazer, de decisões para tomar.

Ruiz Zafón, Carlos (2008). O Jogo do Anjo. Alfragide: Dom Quixote.

Nº de páginas: 576

Início da leitura: 12/09/2021

Fim da leitura: 15/09/2021

Da tetralogia O Cemitério dos Livros Esquecidos de Carlos Ruiz Zafón, tinha lido apenas A Sombra do Vento e faltavam-me os outros três. Agora li O Jogo do Anjo. O Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos ficarão para uma próxima oportunidade. Tenho necessidade de ir intercalando leituras e raramente leio dois seguidos do mesmo autor.

Foi traduzido por Isabel Fraga.

Sinopse:

“Na turbulenta Barcelona dos anos de 1920, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe a proposta de um misterioso editor para escrever um livro como nunca existiu, em troca de uma fortuna e, talvez, de muito mais.

Com um estilo deslumbrante e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo à Barcelona de o Cemitério dos Livros Esquecidos para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos, onde o encantamento dos livros, a paixão e a amizade se conjugam num romance magistral.”

Opinião:

Zafón é Zafón, com o seu estilo muito próprio, que marca todas as suas obras. Concilia romance, policial, thriller, terror, fantasia, gótico, drama, pelo que é muito difícil integrar os seus livros numa categoria específica da literatura.

Depois, a forma como nos são narradas as histórias, quase sem pausas, sem momentos mortos, num ritmo alucinante, com descrições cinematográficas, prende-nos de tal maneira, que é com alguma contrariedade que pousamos os seus livros. Este não foi exceção. E penso que tem de ser lido nesse ritmo que se quer alucinante, uma vez que tem imensas personagens e episódios enigmático, sem intervalarmos muito as leituras, para não corremos o risco de nos perdermos na narrativa e termos de retomar um pouco atrás. Neste livro, contrariamente ao que sucedeu em A Sombra do Vento, temos, de facto, momentos em que é difícil acompanhar e entender na totalidade alguns acontecimentos, uma vez que o narrador, protagonista da obra, é acometido por vários devaneios de loucura e ficamos, em alguns momentos, na dúvida do que aconteceu e do que é fruto dessa demência.

A linguagem de Zafón é magistral, é dura, direta, mas muito bem conseguida. Os discursos diretos das personagens, tornam-nas tão reais, mesmo que fantasiada a história, que as conseguimos perfeitamente imaginar. A linguagem de cada personagem é a sua linguagem e uma marca da personalidade, da forma de estar e encarar a vida. E cada personagem é diferente da outra. Tantas e tão bem trabalhadas! Que pena tenho de não podermos ser contemplados com novas obras do autor! Pudesse ele usufruir dos poderes do “patrão”, “o anjo negro” de O Jogo do Anjo, que o pudesse trazer de novo à vida e poderíamos continuar a deliciar-nos com os seus livros…

Neste livro, voltamos a Barcelona, nas primeiras décadas do século XX. O protagonista é David Martín, um jovem jornalista que anseia ser escritor e que assume o papel de narrador. Não terá um percurso muito fácil e, quando se deslumbra com a proposta de um editor, Andreas Corelli, ver-se-á obrigado a tentar descobrir o preço que terá de pagar e que faça jus à incrível oferta monetária de Corelli. Destaco como personagens que apreciei particularmente o livreiro Sempere, um bom amigo, que parece ler a alma de David. Gostei também muito da Isabella, uma personagem muito autêntica, com uma força inesgotável e que, também ela, constituirá uma força positiva na vida de David.

Termino com uma das muitas passagens da obra que poderia realçar, e passo a citar:

“Um escritor nunca esquece a primeira vez que aceita umas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um teto sobre a cabeça, um prato quente no fim do dia e o que mais deseja: o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que com certeza viverá mais do que ele.”

Piedade, Susana (2020). O Lugar das Coisas Perdidas. Alfragide: Oficina do Livro.

Nº de páginas: 256

Início da leitura: 11/09/2021

Fim da leitura: 12/09/2021

Já me tinha surpreendido com outro romance desta autora, As Histórias que Não se Contam, e voltei a ficar fascinada com a forma como a Susana Piedade escreve.

Sinopse:

“Numa pacata vila de província, uma criança desaparece misteriosamente a caminho da escola, deixando a mãe em estado de choque e os vizinhos incrédulos e alvoroçados. No início, todos se oferecem para ajudar Mariana a encontrar a filha, mas, como sempre acontece nos meios pequenos, as intrigas, os medos e as desconfianças acabam por desenterrar histórias do passado e segredos que se julgavam a salvo, desencantando um culpado em cada esquina.

O caso torna-se ainda mais enigmático quando, na manhã em que a Alice sumiu, quase todos os que lhe eram próximos tiveram, curiosamente, atitudes estranhas, pelo que, entre tantos rostos conhecidos, talvez ninguém esteja, afinal, completamente inocente. E o pior é que a única pessoa que assistiu a tudo é também a única que não o poderá contar.

Num romance trepidante que mantém o suspense até à última página, Susana Piedade - finalista do Prémio LeYa com o romance As Histórias Que não Se Contam - regressa ao tema da perda e da culpa, oferecendo-nos uma história profunda e surpreendente, na qual quase nada é o que parece.”

Opinião:

Gostei tanto deste livro! Numa escrita muito boa, Susana cruza ficção e acontecimentos reais, sempre de forma a captar o leitor e a mantê-lo preso à história.

Cada capítulo se foca em determinadas personagens da pacata vila onde decorre a ação e termina sempre quando mais queríamos continuar a ler, num momento-chave, partindo para um novo capítulo a morrer de curiosidade em saber como continua o anterior. Por isso mesmo, é quase impossível largá-lo. Se não o li no mesmo dia, foi porque outros afazeres inadiáveis me obrigaram a pousá-lo. Confesso, sempre numa ânsia de retomar!

Adorei as personagens, muito bem construídas, muito credíveis.

A história é feita de vários dramas, dramas que são mais comuns do que possamos pensar, mas em que não queremos sequer pensar.

Tudo começa com a queda da ponte Entre Rios. Num dos autocarros, seguia mãe e filhos. Em casa tinham ficado o pai e a filha, Mariana. Quando se deu o acidente, era imperioso encontrar quem tomasse conta da pequena Mariana, uma vez que o pai bebia muito e era de uma grande violência. Mariana vai então viver com a tia. A partir daqui, desenrolam-se muitos acontecimentos, todos interligados, histórias de gentes da terra, de gentes que têm por hábito julgar os demais, que têm os seus problemas (muitos vindos da infância), os seus pecados, os seus crimes. Muitos são os temas abordados: a desestruturação da família, após a morte de familiares, a violência doméstica, a traição, a desistência da vida, o alcoolismo, a amizade, a doença de alzheimer, o rapto de crianças e outros. Temas muito bem estruturados, numa linguagem direta, simples, mas, ao mesmo tempo, cativante e bela, pelos recursos utilizados na dose adequada.

Poderia exemplificar com muitas frases, mas cito apenas algumas:

“A infância nunca foi um sítio tranquilo.”

“Mas o medo arranjou um esconderijo dentro dela.”

“Ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça de quem se vai desligando do mundo.”

“Algumas pessoas são tempestades. Trazem consigo uma carga enorme e acabam sempre por desabar.”

“As palavras adormeceram-lhe na boca.”

“Trazia o passado como um cadáver às costas, pesado e pestilento, na esperança de um dia o largar num buraco e nunca mais lhe sentir o cheiro.''

Recomendo muito a leitura deste livro!


Backman, Fredrik (2021). Beartown – A Cidade dos Grandes Sonhos. Porto: Porto Editora.

Nº de Páginas: 424

Início da leitura: 04/09/2021

Fim da leitura: 11/09/2021

Beartown A Cidade dos Grandes Sonhos é o novo romance de Fredrik Backman, traduzido por Elsa T. S. Vieira.

Sinopse:

“As pessoas dizem que Björnstad, a Cidade do Urso, está acabada. A pequena localidade aninhada nas profundezas da floresta tem vindo lentamente a perder terreno para as árvores, sempre invasoras. Mas junto ao lago existe um velho rinque, construído há gerações pelos trabalhadores que fundaram a cidade. E esse rinque é o motivo pelo qual as pessoas acreditam que o dia de amanhã será melhor do que o de hoje. A equipa de juniores de hóquei no gelo está prestes a competir nas meias-finais nacionais e tem realmente hipóteses de vencer. Todas as esperanças e sonhos deste lugar repousam agora sobre os ombros de uma mão-cheia de rapazes adolescentes.

Mas ser o responsável pelas ambições da povoação inteira é um fardo pesado, e o jogo das meias-finais torna-se o catalisador de um ato violento, que traumatizará uma rapariga e deixará Björnstad em pé de guerra. São feitas acusações que, como uma pedrada no charco, percorrem a cidade, afetando todos.

Beartown explora os grandes desejos que unem uma comunidade pequena, os segredos que a separam e a coragem necessária para um indivíduo lutar contra a corrente.”

Opinião:

Apesar de inicialmente ter pensado para comigo “será esta apenas uma história sobre uma equipa de hóquei?”, não sei como, ou até sei, o engenhoso escritor conseguiu rapidamente que me sentisse parte integrante de Björnstad. Esta é uma pequena cidade gelada, isolada no meio de florestas, onde o único prazer dos habitantes é a equipa de hóquei.

É interessante a forma como a história é desenvolvida. As personagens são-nos apresentadas de forma pormenorizada, o que nos permite ficar a conhecê-las como se as conhecêssemos desde sempre.

Pela primeira vez, surge a esta equipa de hóquei a possibilidade de jogar com os melhores, de serem eles próprios, os “ursos” os melhores. Muito é o trabalho que envolve o treino destes jovens, que, apesar das parcas posses e de nem sempre terem os melhores equipamentos, têm uma determinação que os torna os guerreiros do hóquei.

Mas as vidas destes jovens nem sempre é fácil, ou porque têm tudo exceto o amor dos pais, ou porque têm famílias degradadas, cheias de problemas, ou são de bairros de extrema pobreza. Certo é que o hóquei os torna iguais, no objetivo que os une – chegar à vitória.

Mas, quando se juntam em casa de um dos jogadores para festejar uma vitória, um acontecimento vem alterar a união que se fazia sentir na cidade e dividir as pessoas entre o sonho e a verdade. Em que é que realmente acreditam? No que consideram certo ou no que pode ser mais conveniente de acordo com o que os une?

Um livro muito bem escrito, que nos faz rir, com o humor de Backman, que nos faz sentir em campo, que nos revolta, que nos provoca emoções e só esse facto de nos provocar emoções, já revela que é um livro bom, que mexe connosco! Além disso, não satura, prende-nos de tal forma, que o lemos avidamente.

Os temas abordados são muito atuais e pertinentes, a exigência em relação aos jovens, que se vê também nos jovens que jogam futebol, que andam na música, na dança e em tantas outras atividades. Penso que, muitas vezes, os pais transpõem para os filhos o desejo de vitórias que eles próprios não alcançaram. Outros temas como a corrupção, que é tão comum em vários setores; a droga; a homossexualidade; o abuso sexual… Temas que são aqui abordados na dose certa.

Recomendo muito a leitura deste livro.

Breen, Marta e Jordahl, Jenny (2020). Mulheres Sem Medo – 150 anos de combate pela igualdade, liberdade, sororidade. Lisboa: Bertrand Editora.


Nº de páginas: 128

Início da leitura: 08/09/2021

Fim da leitura: 09/09/2021

Mulheres Sem Medo é uma Banda Desenhada escrita por Marta Breen, ilustrado por Jenny Jordahl e foi traduzido por Pedro Porto Fernandes.

SINOPSE

“Liberdade, Igualdade, sororidade. Mulheres sem Medo é uma novela gráfica que cobre 150 anos de história do feminismo. São 150 anos de coragem, garra e visão de quem lutou e ainda luta pelos direitos das mulheres à volta do globo. Da luta abolicionista ao movimento #MeToo, passando pela história das sufragistas e do direito ao aborto e à contraceção e pela reivindicação dos direitos LGBTQ e do casamento gay... está (quase) tudo aqui. Atreve-te a ser ouvid@ e a juntar a tua voz às del@s..”

OPINIÃO:

Sempre gostei de BD, mas, a partir do momento em que me aventurei nas novelas e romances gráficos, tenho ficado fascinada com o excelente trabalho desenvolvido neste género.

Mulheres sem Medo não é exceção. Uma obra educativa, que relembra o longo percurso efetuado pelas mulheres em prol da igualdade de direitos. Um percurso exemplar, uma longa batalha feita por mulheres corajosas, esclarecidas e com convicções muito bem fundamentadas (com o apoio de alguns homens, esses sim, bem formados e informados) passo a passo, em momentos diferentes ao longo do mundo.

Mostra-nos o lado mais cru e duro desta batalha, de quanto e quantas mulheres sofreram, foram mortas das formas mais desumanas, foram presas, foram forçadas a comer em greves de fome (danificando órgãos ou levando à morte). Mas conta-nos também o quão necessárias se revelaram para cuidar dos doentes nas guerras mundiais, os trabalhos que começaram a desenvolver de forma exímia e do reconhecimento, ganho, infelizmente, de forma muito lenta. 

Este livro fala-nos de todas essas conquistas, ao longo de muitos séculos e por muitas mulheres que ficaram na história, pioneiras, guerreiras em prol dos direitos humanos.

Aconselho vivamente a leitura deste livro por tod@s!

Gómez-Jurado, Juan (2021). Loba Negra. Lisboa: Editorial Planeta.

Nº de páginas:432

Início da leitura: 06/09/2021

Fim da leitura: 08/09/2021

Thriller

Tradução: Madalena Galamba

Sinopse:

“Continuar viva

Antonia Scott não tem medo de nada. Só de si mesma.

Nunca foi

Mas há alguém ainda mais perigoso do que ela. Alguém que até a pode vencer.

Tão díficil

A Loba Negra está cada vez mais próxima e Antonia, pela primeira vez, está assustada.

Depois do sucesso de Rainha Vermelha, com mais de 800 mil exemplares vendidos em Espanha, o autor best-seller Juan Gómez-Jurado regressa com mais um livro empolgante. O livro de que todos estavam à espera.”

Opinião:

Este é mais um bom livro de Juan Gómez-Jurado, com uma história bem pensada, bem elaborada, uma linguagem direta mas que confere à obra um grande realismo descritivo.

Segundo livro de uma trilogia de que aguardamos o terceiro, Rei Branco.

Mais uma vez acompanhamos, com prazer, a dupla Antonia Scott e Jon Gutierrez, tão diferentes e tão complementares, sempre com um sentido de humor incrível, o que nos faz criar a imagem destas personagens na nossa cabeça.

Neste livro, o desafio dos inspetores tem a ver com a máfia russa que domina a criminalidade na conhecida Costa do Sol espanhola, a atividade ilegal num país repleto de conspirações no que concerne negócios ilegais e lavagens de dinheiro. Estarão eles à altura de um caso tão complicado como este?

Surge ainda, nesta obra uma rival de Antonia. Estará essa rival à altura da inteligência de Antonia? Isso é o que poderão descobrir se lerem o livro. Fica, desde já, o convite.

 

 

Ó humano ser que me corróis

com as tuas dúvidas,

com as tuas críticas,

com as tuas exigências,

com os teus anseios.

Não ser eu simples de espírito

e ficar a ver fluir a vida

com um sorriso nos lábios.

Não!

Há esta mente que pensa,

Há este dormir com sonhos

de consumir em suores frios.

Há este estar sem querer estar,

ansiando estar já noutro estado,

noutros sítios, noutros sonos e sonhos.

Há este pisar um chão que não se pisa,

como um viver solto da própria vida.

Há este anseio não sei de quê,

nem sei porquê…

E num devorar de páginas de um livro,

anseio já o seguinte.

E no curso de um dia,

anseio já o seu fim.

Anseio deitar-me e dormir

um sono sem sonhos,

um sono reparador

que me transforme por dentro

e me mostre que há vida cá fora,

que há paisagens onde poisar os olhos cansados,

que há sol, há chuva, há vento, há seca.

E não apenas o constante nublado

que não permite ver para além das sombras.

Que há uma paz nas coisas mais simples

que não faz tremer as mãos

e enche de alegria o coração.

Ó humano ser, onde escondeste quem era?

                                                             Célia Gil



Niffenegger, Audrey (2004). A Mulher do Viajante no Tempo. Barcarena: Editorial Presença.

Nº de páginas: 484

Início da leitura: 03/09/2021

Fim da leitura: 05/09/2021

A Mulher do Viajante no Tempo é um romance de estreia de Audrey Niffenegger, distinguido com o British Book Award 2006. Foi traduzido por Fernanda Pinto Rodrigues.

Sinopse:

“Audrey Niffenegger estreia-se na ficção com um primeiro romance absolutamente prodigioso. Revelando uma concepção inovadora do fenómeno da viagem temporal, cria um enredo intrigante e arrebatador, que alia com magistralidade a riqueza emocional a um apurado sentido do suspense. Este livro é, antes de mais, uma celebração do poder do amor sobre a tirania inflexível do tempo. Para Henry, essa inexorabilidade assume contornos estranhamente inusitados: ele é prisioneiro do tempo, mas não como o comum dos mortais. Cronos preparou-lhe uma armadilha caprichosa que o faz viajar a seu bel-prazer, para uma data e um local inesperados, onde aparece completamente desprovido de roupa ou de outros bens materiais. A Clare, sua mulher e seu grande amor, resta o papel de Penélope, de uma Penélope eternamente reiterada a cada nova partida de Henry para onde ela não pode segui-lo. Quando Clare e Henry se encontram pela primeira vez, ela é uma jovem estudante de artes plásticas de vinte anos e ele um intrépido bibliotecário de vinte e oito. Clare já o conhecia desde os seis anos… Henry acabava de a conhecer…Estranho?! Poderia parecer, não fosse a mestria de Audrey para tecer os fios do tempo com uma espantosa clareza. Intenso e fascinante, "A Mulher do Viajante no Tempo" é um livro inesquecível pela qualidade das reflexões que provoca, pela sensibilidade com que nos retrata a luta pela sobrevivência do amor no oceano alteroso do tempo. Na orla desse oceano, perscrutando o horizonte, ficará sempre Clare, à espera de um regresso anunciado…”

Opinião:

Este é um livro no mínimo estranho. Mas, por vezes, “no início estranha-se, depois entranha-se” (para quem gosta do género).

O protagonista, Henry, é um bibliotecário que sofre de uma doença genética que o faz viajar no tempo. Por isso, no início, a história apresenta-se um pouco confusa, pois viajamos com ele entre o passado, o presente e o futuro.

Estas viagens, não controladas pelo protagonista, sucedem essencialmente em momentos em que é dominado por fortes emoções que o deixam stressado.

É desta forma que conhece Clare, uma estudante de arte. Porém, tanto está com Clare no presente, casado, como está com Clare na infância, como seu amigo; como com Clare no futuro.

Penso que só se compreende este livro se se ler seguido, sem grandes interrupções e com algum foco para não perder o fio à meada.

É um livro que, ainda assim, se lê bem, apesar de não ser o meu género favorito. Não gosto deste tipo de ficção, tão improvável e considero que a tradução poderia ser melhor. As personagens em si são interessantes, a história foi bem pensada, mas não me cativou.

Lee, Harper (2019). Mataram a Cotovia – O Romance Gráfico. Lisboa: Relógio D’Água.

Nº de Páginas: 288

Início da leitura: 02/09/2021

Fim de leitura: 03/09/2021

Mataram a Cotovia – O Romance Gráfico, foi magistralmente adaptado e ilustrado por Fred Fordham e traduzido por Fernando Ferreira-Alves.

SINOPSE

Um retrato assombroso de raça e classes sociais, inocência e injustiça, hipocrisia e heroísmo, tradição e transformação no Sul Profundo dos EUA dos anos trinta. Mataram a Cotovia, de Harper Lee, mantém a mesma atualidade que tinha em 1960, quando foi escrito, durante os turbulentos anos do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos.

Agora, este aclamado romance renasce como romance gráfico. Scott, Jem, Boo Radley, Atticus Finch e a pequena cidade de Maycomb, no Alabama, são representados de forma nítida e comovente pelas ilustrações de Fred Fordham.

Opinião:

Gostei tanto deste romance gráfico! As ilustrações são fabulosas, pois consigo imaginar as personagens da forma como foram ilustradas. O facto de o ilustrador ter retirado, “tanto quanto possível” o texto do próprio romance, torna a história fidedigna.




As ilustrações de Fred fazem renascer, de forma comovente, a história do crescimento de uma rapariga (Scout) numa sociedade racista, injusta, cruel e hipócrita numa pequena cidade imaginária do Alabama, Maycomb, durante a Grande Depressão. Além desta questão do racismo, temos a questão do bullying de que são alvo os irmãos Finch na escola, pelo facto de o pai, enquanto advogado, defender um negro. É revoltante como o preconceito pode tornar uma comunidade tão injusta!

Mostra-nos a importância da família, dos valores passados de pais para filhos (que nem sempre são os melhores) e que opõem a forma de pensar dos irmãos Fincher das outras crianças. Saliento, neste ponto, uma passagem que considero fulcral, quando o pai explica ao filho o que é a verdadeira coragem, e passo a citar “Queria que visses o que é a verdadeira coragem, em vez de pensares que coragem é um homem com uma arma nas mãos. Coragem é sabermos que estamos vencidos à partida, mas recomeçar na mesma e avançar incondicionalmente até ao fim. Raramente se ganha, mas às vezes conseguimos.”

Jem, o irmão de Scout, explica muito bem as divergências sociais, quando refere: “No mundo há quatro tipos de pessoas. Há o tipo de pessoas normais como nós e os nossos vizinhos, o tipo de pessoas dos bosques, como os Cunninghams, o tipo de pessoas que vivem em lixeiras, como os Ewells, e os negros. O que acontece é que as pessoas como nós não gostam dos Cunninghams, os Cunninghams não gostam dos Ewells e os Ewells odeiam e desprezam as pessoas de cor”.

Para quem gosta de Banda Desenhada, aconselho vivamente este romance gráfico.

Posteguillo, Santiago (2014). A Vida Secreta dos Livros. Lisboa: Clube do Autor.

Nº de páginas: 232

Início da leitura: 01/09/2021

Fim da leitura: 02/09/2021

A Vida Secreta dos Livros é um livro escrito por Santiago Posteguillo, professor de Língua e Literatura Inglesa e doutor europeu pela Universidade de Valência. Foi Prémio das Letras e Prémio Internacional de Romance Histórico. Esta obra foi traduzida por Ana Glória Lucas.

Sinopse:

“Quem escreveu de facto as obras de Shakespeare? Quem era o escritor que incomodava a Gestapo? Que autor conseguiu ludibriar o Índice de Livros Proibidos da Inquisição? Que livro inquietou os serviços secretos soviéticos? Estes e outros enigmas literários encontram resposta nas páginas deste livro, uma viagem no tempo através da história da literatura universal.

Entusiasmante e original, A vida secreta dos livros revela os mistérios e os pormenores menos conhecidos por trás da génese de alguns dos maiores clássicos de sempre. Escrito por um professor e apaixonado pela literatura, esta obra é uma homenagem aos grandes autores e ao maravilhoso mundo dos livros. Uma leitura para todos os que gostam dos livros - e não só!”

Opinião:

Gosto deste tipo de livros, que falem de livros, de escritores e de literatura. Neste livro alia-se essa temática aos segredos que estão por detrás dos grandes clássicos da literatura.

Quem inventou a ordem alfabética, para que se pudesse organizar a biblioteca de Alexandria?

Sabiam que os viquingues, sem saberem, contribuíram para a história da literatura? A conquista da “lagoa negra”, Dublin do século XXI, pelos viquingues, contribuiu para que esta cidade fosse declarada pela UNESCO como Cidade da Literatura. Quem for a Dublin, não deixe de visitar, por exemplo, o Museu dos Escritores e a Biblioteca do Trinity College, onde Hollywood se inspirou para recriar a biblioteca de Hogwarts do Harry Potter.

Sabiam que há publicações académicas que duvidam que as obras atribuídas a Shakespeare tenham sido escritas por ele, que seria um ator a quem propuseram que assinasse as obras de outro autor? O nome do autor? Poderá ter conhecimento dele neste livro!

E quem sabe que Miguel de Cervantes Saavedra terá escrito D. Quixote de La Mancha, a partir de uma prisão pública?

E quem conhece a história do menino coxo que escreveu Ivanhoe, primeiro grande romance histórico da literatura moderna?

E Alexandre Dumas, sabiam que recorreu a vários colaboradores para escrever as suas obras? Muitos eram os escritores que utilizavam os “escritores-fantasma” para escrever as suas obras.

Aos 21 anos, uma escritora viu a publicação do seu livro “Primeiras Impressões”, recusada. Esta obra só é publicada 16 anos depois. Trata-se de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen.

Terá o autor de um livro conceituado a total liberdade para matar o protagonista? Curiosa a história de Arthur Conan Doyle.

E quando um escritor, antes de morrer, pede para queimarem toda a sua obra?

O que está por detrás da obra O Principezinho?

Alexandre Soljenitsine atreveu-se a criticar Estaline, o que lhe valeu a detenção e condenação a trabalhos forçados na Sibéria. Escreveu o chamado “manuscrito fatal”, cuja publicação foi proibida durante longos anos – O Arquipélago de Gulag. Neste livro pede desculpa aos seus companheiros mortos na Sibéria “Por favor, perdoem-me por não ter visto tudo, não me recordar de tudo e não contar tudo”.

Muitos foram os escritores que cometeram homicídios. Santiago Posteguillo teve oportunidade de conhecer Juliet Hulme, que participou no homicídio da mãe de uma amiga, com 45 golpes de tijolo. Passou a chamar-se Anne Perry, escritora de policiais. Como esta, muitos outros são mencionados.

Sabiam que a publicação de Harry Potter se deveu a uma menina de 8 anos, Alice Newton, filha de um editor, que havia menosprezado o livro que lhe fora enviado para apreciação editorial, mas que a filha leu e referiu ter sido o melhor que tinha lido, solicitando-lhe a continuação.

Muitos são os segredos, interessantes, bem escritos.

Recomendo!!!!!


Vallejo, Irene (2020).
O Infinito num Junco. Lisboa: Bertrand Editora.

Nº de páginas: 456

Início da leitura: 6 de abril de 2021

Fim da leitura: 31 de agosto de 2021

O Infinito num Junco é um livro de Irene Vallejo, traduzido por Rita Custódia e Àlex Tarradellas.

Sinopse:

“A Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.

Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.

É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.

Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.

Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir - contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monges, rebeldes, escravos e aventureiros.

É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.”

Opinião:

Se há, recentemente, um livro que considero absolutamente imprescindível, é o livro de Irene Vallejo: O Infinito num Junco, sobretudo para os amantes de livros.

Este é um livro que nos conta a história do livro, da palavra e da leitura, desde os livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz. Fala-nos da magia inerente à abertura e leitura de um livro, confidencia-nos o prazer sentido quando se escuta o escritor, dá-nos a conhecer pessoas, vidas, lugares, filosofias, estórias e tem tanto para nos contar! Desde histórias com História, ficções, ensaios, biografias, romances, distopias e tantos outros géneros. O certo é que nos abre o seu mundo e, quando nos consegue captar, tem-nos a acompanhá-los nesta viagem, neste ato de absoluta intimidade entre o escritor, o livro e o leitor.

Irene Vallejo conduz-nos numa viagem pelo espaço e pelo tempo, pela Grécia e Roma Antigas, pelos papiros da Biblioteca de Alexandria, pelos palácios de Cleópatra, pelas primeiras livrarias conhecidas, pelas celas dos escribas, pelas fogueiras onde arderam os livros proibidos e por muitos autores que se destacaram na arte da escrita.

O Infinito num Junco conta-nos como surgiu a escrita, como eram as histórias antes da escrita, como eram feitos os primeiros livros, como eram as bibliotecas, como nasceu o ofício de bibliotecário, entre tantos assuntos, onde o principal protagonista é o Livro! Este livro é, sem dúvida, e citando uma expressão do Plano Nacional de Leitura “uma apaixonada declaração de amor à palavra escrita, à literatura e à leitura, às bibliotecas e às escolas; uma declaração de amor aos livros”.

Há poucos livros assim tão completos e intensos. Este é um deles. Ainda bem que o descobri e tive o prazer de ler!

Muitas são as passagens que hei de voltar a ler. Muitas as sugestões de leitura que vou seguir. Muito foi o que aprendi!

Este é um livro para saborear, com o qual se aprende, sublinhando, anotando passagens que ficarão na nossa memória ou que não queremos esquecer.

Li-o a par de outros livros, nos momentos de maior solidão. Só assim, pude fruir verdadeiramente da sua mensagem.

Quanto a mim, é um livro com tantas propostas, com tal riqueza, que nunca estará completamente lido.

E quando se diz que já se escreveu tudo sobre o livro, surge este livro! Maravilhoso!

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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