Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Zimler, Richard (2020). Insubmissos. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 356

Início da leitura: 21/12/2020

Fim da leitura: 27/12/2020

Insubmissos é o romance mais recente de Richard Zimler e foi traduzido por Daniela Carvalhal Garcia.

A história gira em torno de um professor de guitarra clássica, a quem morreu um irmão com sida. Também ele homossexual, envolve-se com um aluno, António, um jovem talentoso e irreverente, carente no que se refere à relação familiar com o pai, um homem rígido e pouco dada a afetos. António acaba por se envolver com portadores do VIH, contraindo ele próprio a doença, aos 24 anos. Quando percebe que está infetado, António sente que a sua vida acaba ali, nada mais fazendo sentido.

Quando o professor fica a saber disto, decide mostrar a António que ainda tem uma vida pela frente e que não pode desistir pura e simplesmente de viver. Assim, organiza uma viagem de carro com destino a Paris, onde preparara uma surpresa a António, uma audição com um conceituado professor de música, que lhe poderia abrir horizontes e ampliar os seus estudos de música.

Quando Miguel, o pai de António, sabe da viagem, disposto a aproximar-se do filho de quem se distanciara ou nunca chegara mesmo a aproximar-se. Talvez quisesse redimir-se da sua ausência na vida do filho, do seu sentimento de culpa por as coisas terem chegado onde chegaram ou, pura e simplesmente, para se encontrar a si próprio, uma vez que caíra numa vida com que não se identificava, que não o fazia feliz.

Uma viagem a três, cada um carregando um rastilho de emoções prestes a fazer explodir uma bomba a qualquer momento. Uma viagem que representa uma procura de sentido para uma vida que se prevê breve, de encontros, de dúvidas, de conhecimento, de revelações, numa tentativa, por parte de cada personagem, de renascer das cinzas, aceitar a morte, aceitar a velhice, reconciliar-se com o passado e viver o que a vida pode ainda reservar de bom.

Este livro despertou-me emoções contraditórias. Por um lado, a história é muito bem pensada. A forma como Zimler escreve prende, de facto, o leitor do início ao fim, com um ritmo rápido e sem momentos mortos.

Porém, se esta história precisava que se falasse das relações físicas, precisava. O que considero excessivo é que, para se falar de sexo sem tabus, se recorra a uma linguagem que o vulgarize e lhe retire o encanto que tem, seja ele heterossexual ou homossexual. Nem sequer era necessário estar sempre a mencionar as relações físicas e de forma detalhada com uma carga erótica tão grande. Sendo algo natural, era evitável ser abordado com uma obsessão e compulsão tão grande como o faz Zimler.

Talvez esta seja a grande razão por que gosto mais dos outros livros do Zimler.

Summers, Coutney (2019). Sadie. Amadora: Topseller.

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 13/12/2020

Fim da leitura: 20/12/2020

 


Sadie é um livro escrito por Courtney Summers e traduzido por Dina Antunes, que ganhou o prémio Edgar Awards de 2019 na categoria de Melhor Livro Jovem Adulto.

O radialista West McCray recebe um telefonema a pedir ajuda para localizar uma rapariga desaparecida. Apesar de inicialmente desvalorizar a situação, começa a interessar-se pelo desaparecimento de Sadie Hunter, uma jovem de 19 anos, iniciando um podcast dedicado à investigação do seu desaparecimento. A par desta história, é narrado o desaparecimento de Sadie, depois de a mãe, dependente de drogas e álcool, a abandonar a ela e à irmã, Mattie. Tudo indica que Sadie tenha cuidado da irmã com todo o zelo, após este abandono. Quando a irmã é brutalmente assassinada, Sadie parte em busca do criminoso para fazer justiça, quiçá com as suas próprias mãos.

Em forma de podcast, este é um thriller young adult que nos prende pela história em si, uma história que envolve, que vai abalando as nossas emoções. É um livro que aborda temas duros como as dependências, as preferências por um determinado filho, o abandono, a pedofilia e o homicídio, mas de uma forma que não choca, talvez por ser destinado à leitura por jovens. De coração apertado, somos levados por Sadie nesta viagem conturbada, à procura de pistas, tentando desvendar tudo o que terá estado por detrás da morte da irmã. Uma história dramática, escrita de forma simples, direta e empolgante. À medida que vamos avançando na leitura, vemo-nos cada vez mais presos nas malhas deste enredo e a desejar saber mais.

Uma leitura que recomendo para quem gosta destas temáticas e de thrillers.

Santos, António Costa (2007). Proibido. Lisboa: Guerra e Paz Editores.

Nº de páginas: 216

Início da leitura: 08/12/2020

Fim da leitura: 12/12/2020

Proibido é um livro escrito por António Costa Santos e devo dizer que foi uma delícia ler este livro. Adorei a forma como está escrito, o humor e o saber de que este livro é feito.

Muito bem estruturado, com imagens exemplificativas da época do Estado Novo, este livro conta-nos histórias da História. É com sentido de humor que António Costa Santos nos conta histórias hilariantes de proibições de lei e tradição, agora inconcebíveis, naquela época do lápis azul, onde a justiça era levada a situações extremas e até ridículas, ao ponto de, neste momento, nos provocar o riso ou sorriso incrédulo.

E num tom hilariante, é possível abordar questões sérias, de aprendizagem e consciencialização de tudo quanto foi conquistado. Sentimos o quão difícil deve ter sido às gerações passadas ultrapassar estas proibições que eram um exemplo evidente da violação dos direitos humanos. E louvamos todos os que lutaram por um futuro livre do “colete de forças” em que se via encarcerado o ser humano.

Era proibido ler, editar e vender certos livros, o que terá levado à detenção de vários escritores sobejamente nossos conhecidos. A desigualdade de género era bem evidente na forma como a mulher era vista e integrada na sociedade, o que exemplifico com um dos exemplos que mais me chocou: a mulher casada não podia viajar sozinha sem uma autorização por escrito por parte do marido. Era proibido beber coca-cola, usar biquíni, pedir o divórcio, dar beijos em público, ouvir certas músicas, casar com uma professora, entre tantas outras de que não vou falar, para que possam ler o livro e ficar tão surpreendidos quanto eu.

Ler este livro é perceber melhor a ignorância, a pobreza e a injustiça em que o povo português vivia. Um livro muito importante também para que nunca esqueçamos e nunca mais se repitam as perversidades do regime de Salazar.

***** estrelas!

                                                       Célia Gil

Hirata, Andrea (2013). Os Guerreiros do Arco-Íris. Barcarena: Editorial Presença

Nº de páginas: 286

Início da leitura: 02/12/2020

Fim da leitura: 07/12/2020

Os Guerreiros do Arco-Íris é um romance escrito por Andrea Hirata, um escritor indonésio e traduzido por Maria João Freire de Andrade.

Antes de dizer o que quer que seja sobre os acontecimentos narrados neste livro, devo dizer que é fantástico! Não é qualquer livro que tem o poder de nos envolver de tal forma, que com ele choramos, rimos, sofremos, vibramos. Por vários momentos, senti o peito apertadinho a sofrer pelas personagens, ou melhor, com as personagens. Uma história de vida, de luta, de persistência, de desigualdades sociais, de exploração infantil, de desvalorização de escolas das aldeias, a par de uma grande persistência, de professores que fazem a diferença, de alunos que também fazem a diferença, de um grande espírito de sacrifício e resiliência, e, ainda, entremeando com momentos puramente mágicos, com a crença em fantasmas, com o amor (que, com efeito, comanda e muda a vida), momentos de vitória, nos quais me vi a torcer com ansiedade por um grupo de jovens e muitos momentos hilariantes nos quais era impossível não soltar uma boa gargalhada.

Esta é uma história que, segundo a Amazon, “se lê como um moderno conto de fadas”, mas um conto de fadas em que, nem sempre tudo corre às mil maravilhas. Narrada na primeira pessoa, é pela voz de Ikal, uma criança de seis anos, no início do romance, que nos chega esta história incrível. A ação decorre na ilha de Belitong, uma aldeia muito pobre e onde as crianças começam a trabalhar muito cedo a apanhar pimenta, a embrenharem-se pela perigosa selva para apanharem madeira de agara e sândalo amarelo, a trabalhar em lojas, a calafetar barcos, a ralar coco e como moços de recados dos barcos de pesca.

Porém, para este grupo de crianças, pelo menos até certa altura, a escola era o lugar onde eram felizes, mas manter a escola aberta é uma luta constante e muitas são as adversidades por que passam. Estes jovens estudantes são, com efeito, “guerreiros do arco-íris”, que tudo fazem para defender a sua escola, mesmo quando tencionam derrubá-la para explorar o estanho que estaria debaixo da sua estrutura.

Conseguirão os dois troféus ganhos em provas diferentes ser suficientes para manter a escola aberta? Que futuro estará reservado para estas crianças pobres?

Este é mesmo um livro que todos deviam ler, que alguns jovens que têm acesso à educação de mão beijada e não aproveitam, deviam ler. Que todos deviam ler!

Um romance 5 estrelas. É daqueles romances que nos deixa a ressacar. O próximo a ler tem de ser mesmo bom, ou vou ter sempre saudades deste!

                                                                                                                  Célia Gil

Pimenta, Samuel (2015). Os Números Que Venceram os Nomes. Barcarena: Marcador Editora

Nº de páginas: 176

Início da leitura: 29/11/2020

Fim da leitura: 01/12/2020

Os Números Que Venceram os Nomes é um romance de Samuel Pimenta, que ganhou o Prémio Jovens Criadores – Literatura. Não é de todo fácil classificar este livro, é uma distopia que, ao mesmo tempo, constitui também uma parábola. Um livro que perturba, mas que alerta, ao mesmo tempo, para a desumanização que está a dominar a nossa sociedade.

A ação decorre num futuro indeterminado, num momento em que, comprovada matematicamente a existência de Deus (e de uma única religião) por meio de uma fórmula matemática, os homens veem-se obrigados a trocar os seus nomes por números. É-lhes feita uma lavagem cerebral e, caso alguém se questione ou vivencie uma situação que ponha em risco esta nova sociedade, é internado em hospícios, onde continua a lavagem cerebral, com medicação que não lhes permite lembrarem-se que não são mais do que um número. Tudo passa a ser regido por números – pessoas, países, ruas, animais…. Como se de máquinas se tratasse e não de pessoas, já que estas deixam de ter identidade, passando a ser um número de um sistema de dados.

Um Nove Um Seis é um rapaz que vive sozinho e trabalha num call center. Certa noite, cruza-se com um gato na rua e começa a ter visões de acontecimentos passados, com esse gato. É internado num hospício. Partilha o quarto com um velho inconformado, que o alerta para a necessidade de não tomar os comprimidos que lhe dão, que é isso que o novo regime quer, anular todos os seres e formatá-los. É, ao seguir os conselhos do velho, que Um Nove Um Seis tenta descobrir quem é, o que é um nome e qual a sua função.

É um livro pequeno, mas não tinha de ser maior para cumprir o seu objetivo.

Gostei muito da forma como Samuel escreve, direta e atenta. Ler este livro é como respirar de um só fôlego!

Recomendo!

Flynn, Gillian (2015). Objetos Cortantes. Lisboa: Bertrand Editora

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 22/11/2020

Fim da leitura: 29/11/2020

Objetos Cortantes é um livro escrito por Gillian Flynn e traduzido por Fernanda Oliveira.

Basicamente, conta-nos a história de Camille Preaker, uma jornalista que acabou de sair de um internamento num hospital psiquiátrico quando, a pedido do seu patrão, se vê obrigada a regressar aos fantasmas da sua terra Natal para fazer a cobertura de um caso de homicídio de duas raparigas.

Há bastante tempo que Camille não fala com a mãe, que considera neurótica e hipocondríaca, pois andava sempre atrás dela e das irmãs com mezinhas, considerando que, para não adoecerem, deveriam tomar os medicamentos por ela concebidos. Mas Camille, uma rapariga esquiva e rebelde, na altura, não era a jovem que a mãe gostava de tratar. Aliás, era uma filha que desprezava.

Um dos fantasmas que mais a ensombram é a irmã, que morreu em circunstâncias estranhas, a quem Camille via constantemente doente.

Sou sincera, não sei como gostei deste livro. Não é um livro de que toda a gente, certamente, goste. É sórdido, é mórbido…Mas, o que é certo é que nos prende desde o início. E são esses contornos altamente fora de tudo o que pode ser considerado “normal”, que nos captam, que nos levam a querer saber mais, o que se passou, como foi, quem seria capaz de tais atos mórbidos?

Não consegui, o que também é raro em quase todos os livros, gostar de nenhuma personagem. Desde a mãe, simplesmente fria, irritante, prepotente, desequilibrada. O padrasto, completamente submisso à mãe; o meia-irmã, uma miúda de 13 anos completamente mimada, malcriada e irritante e a própria protagonista, Camille, desequilibrada, mórbida, perversa, viciada em massacrar o próprio corpo com cortes que até a ela envergonhavam. Cada uma, à sua maneira, tem traços odiáveis.

Quando parece que conseguimos deslindar os crimes que ocorreram às jovens, que foram mortas e a quem @ assassin@ retirava os dentes, ficamos petrificados e surpreendidos com o final, totalmente inesperado. Quem seria, com efeito, capaz de tamanhas atrocidades? E onde escondia, por exemplo, os dentes que arrancava às crianças?

É um livro que nos mantém presos até ao final, se bem que, a meio, pensando eu ter descoberto @ assassin@, tenha considerado o texto demasiado morno e a empatar um pouco. Mas tudo muda e é, em suspense total, que entramos na reta final da leitura!

Recomendo!

                               Célia Gil

Uma experiência fantástica. Adorei fazer a narração 😉

Hardinge, Frances (2017). A Árvore das Mentiras. Barcarena: Editorial Presença.

Nº de páginas: 368

Início da leitura: 16/11/2020

Fim da leitura: 21/11/2020

A escolha deste livro deveu-se não só à sinopse na contracapa, mas também à própria capa, que é belíssima e ao título. A Árvore das Mentiras foi escrito pela escritora inglesa Frances Hardinge e traduzido por Maria José Figueiredo.

O enredo deste livro decorre no século XIX, quando a família Sunderly vai viver para Vane, uma ilha pequena e descrita de forma um pouco sombria, o que contribui para o ambiente de mistério que desperta no leitor grande expetativa. Esta mudança já de si nos instiga a curiosidade, pois deve-se a uma fuga do patriarca, Erasmus Sunderly, devido a um escândalo que surgiu em virtude de novas descobertas científicas que fizera. Uma ficção histórica, que concilia as teses de Darwin com uma prodigiosa imaginação.

Faith, filha de Erasmus, é uma jovem de catorze anos, extremamente inteligente, o que era desvalorizado na sociedade da época, pois a inteligência numa mulher era vista como uma ameaça e era considerada desprovida de intelecto e a mulher era realmente impedida de sonhar.

Depois de uns dias, Erasmus aparece morto e Faith decide investigar. No meio dos pertences do pai, Faith encontra um diário onde se descreve uma árvore misteriosa, de folhas frias e pegajosas, que se alimenta de verdades escondidas e mentiras sussurradas e cujo fruto oferece os segredos e o seu conhecimento a quem o ingere. Confirmar-se-á a ideia de suicídio que surge no início ou de um homicídio motivado pela árvore das mentiras?

Faith resolve então guardar o segredo da árvore para si e partir à descoberta do que terá provocado a morte do pai.

Será que esta árvore dá a Faith o que ela procura? Ou poderá constituir um perigo para alguém como ela ao instigar-lhe a sensação de poder? Seduzida pela mentira, compreenderá Faith que a verdade pode estilhaçar?

Um livro magistralmente bem escrito, com personagens marcantes, um enredo bem concebido. A linguagem é irónica, com algum humor negro, mas bastante rica.

Não é um livro de leitura rápida, pois damos por nós a determo-nos em pormenores cruciais para a compreensão da metáfora desta árvore das mentiras. Além disso, é preciso perceber os pormenores históricos, para entender a mensagem que se transmite, prestando atenção a cada uma das personagens, todas elas únicas e densas.

Além disso, há momentos que careciam de um pouco mais de ação e menos repetição, correndo o risco de tornar a leitura um pouco monótona (isto para quem gosta de ação). Globalmente, é um livro muito bom.

                                                     Célia Gil

Clark, Julie (2020). O Último Voo. Lisboa: Marcador Editora.

 


Nº de páginas: 304

Início da leitura: 07/11/2020

Fim da leitura: 15/11/2020

 

O Último Voo é um livro escrito por Julie Clark, e traduzido por Francisco Silva Pereira.

Tal como previa, pela leitura da sinopse, este é um livro que nos prende à leitura logo nas primeiras páginas, tornando-a compulsiva.

Claire e Eva, duas mulheres distintas, com vidas diferentes, têm algo em comum: ambas correm perigo de vida e precisam de fugir. Claire está desesperada por fugir de um casamento pautado pela violência doméstica. Tem, aparentemente, uma vida invejável, rica e luxuosa. O marido é um político conceituado e com um futuro ainda mais promissor. Porém, longe das câmaras, é, não só extremamente exigente com Claire, que quer perfeita, mas também agressivo e possessivo. É neste contexto que Claire traça um plano de fuga. E este plano de fuga é um ato de coragem, por parte de uma mulher que foi sendo afastada da sua vida social, que não tem família e que tem de tomar uma decisão tão difícil na sua vida.

Eva é uma empregada de mesa, que não chegou a terminar o seu curso, mas que possui um dom natural para manusear químicos. Acaba por se ver envolvida numa rede de venda de estupefacientes, com os quais ganha muito dinheiro. Como em todas estas situações, o jogo fecha-se e chega uma altura em que só lhe resta fugir. Com uma vida pautada pelo abandono e pela solidão, Eva revela-se também uma mulher corajosa, quando resolve mudar o ruma à sua vida.

Estas duas mulheres acabam por se encontrar no aeroporto e uma breve troca de palavras muda a trajetória das suas vidas para sempre.

Gostei deste livro, gostei da forma como está escrito, alternando capítulos sobre o passado das duas personagens femininas e gostei da intriga. Aconselho!                                                      

Célia Gil

  Setterfield, Diane (2012). O Décimo Terceiro Conto. Lisboa: Editorial Presença.


Nº de páginas: 366

Início da leitura: 25/10/2020

Fim da leitura: 06/11/2020

O Décimo Terceiro Conto é um romance escrito por Diane Setterfield, uma professora especialista em literatura francesa dos séculos XIX e XX, residente em Inglaterra e traduzido por Manuela Madureira.

Este foi um livro que comprei porque adorei a capa e o título. Duas gerações diferentes estão contempladas nesta capa belíssima. Os tons outonais também me captaram a atenção, simbolizando o envelhecimento, mas um envelhecimento de quem tem ainda várias histórias por contar. A escolha do décimo terceiro conto, contrariamente à crença popular de mau agoiro, penso que surge, neste caso, com o sentido de “o mais poderoso e sublime”.

O Décimo Terceiro Conto narra o encontro de uma jovem, Margaret, filha de um alfarrabista, biógrafa amadora e de uma escritora famosa, Vida Winter, que convida Margaret para escrever a sua biografia. A jovem biógrafa acede, desde que Winter conte a verdadeira história da sua vida, revelando um passado repleto de segredos. As duas vão partilhar e resgatar velhas memórias, enfrentar fantasmas há muito adormecidos.

A escrita une as pessoas, criando relações que pareciam improváveis.

Diane Setterfield vai tecendo uma história de solidão e de amizade, com uma linguagem bela, elegante e cativante, conduzindo-nos a um final nada previsível.                                                                     

Célia Gil

Buchanan,  Tracy (2019). O Mistério da Minha Irmã. Lisboa: Bertrand Editora.

Nº de páginas: 336

Início da leitura: 21/10/2020

Fim da leitura: 24/10/2020

O Mistério da Minha Irmã é um drama escrito por Tracy Buchanan, traduzido por Fernanda Oliveira.

Willow é uma jovem mergulhadora que ficou órfã aos sete anos, depois de os pais perderem a vida num cruzeiro. Foi acolhida pela tia Hope, com quem mantém uma ligação complicada e um pouco distante. A tia nunca demonstrou carinho pela sobrinha, evitando falar-lhe da mãe, mas lembrando-a sempre que era apenas sua sobrinha.

Willow cresceu e tornou-se numa mulher independente, mas também insegura e solitária. Decidiu dedicar-se ao mergulho, na esperança de, um dia, encontrar os seus pais, com os quais terá tido uma infância muito feliz, onde imperava o amor e a alegria.

Porém, quando se apercebe que a história da sua família materna está envolta em mistérios, decide enfrentar os seus fantasmas e descobrir a verdade que esconde a tia Hope. Resolve, então, explorar os locais que a mãe explorou outrora e viaja até às florestas submersas, onde a sua mãe terá mergulhado.

Quando mergulha onde se deu o naufrágio dos pais, encontra uma bolsa prateada que teria oferecido à mãe e encontra dentro dela um colar com a inicial da mãe e de outra pessoa que não o pai. Questiona-se e tudo faz para ir ao encontro da verdadeira história da sua mãe e do romance dos seus pais.

É neste clima intenso e marcado por descrições maravilhosas dos locais por onde viaja, que acompanhamos os dramas desta família, ansiando ver desvendados os segredos que a envolvem.

Quando é convidada para uma exposição de fotografia que tem o nome da sua mãe, Charity, questiona-se sobre quem é este fotógrafo e como teria conhecido a sua mãe e sabia da sua existência.

É fácil criar empatia com Willow, porque sentimos que, após a morte dos pais, teve uma grande falta de amor.

Quem gosta de romance também o vai encontrar neste livro! Encontros e desencontros por entre segredos familiares! 

Gostei deste livro, apesar de considerar que a autora poderia ter explorado melhor a questão do mistério que envolveu o passado dos pais e menos o romance, que, por vezes, tende a ser cliché.

                                                                                              

Célia Gil

Dag,  Niklas Natt Och (2019). 1793. Lisboa: Suma das Letras.

Nº de páginas: 352

Início da leitura: 12/10/2020

Fim da leitura: 19/10/2020

1793 é uma estreia do escritor sueco Niklas Natt Och Dag e traduzido por Rita Figueiredo, recebeu um prémio da Academia Sueca de Escritores de Crime.

Não foi um livro que me tenha despertado interesse nas primeiras páginas. Porém, à medida que fui lendo, percebendo a relação entre as personagens, e me fui deparando com uma muito boa contextualização histórica, fiquei irremediavelmente presa ao livro.

1793 é um policial, com características de romance histórico e nuances de romance gótico, que relata uma autêntica história de terror, em Estocolmo de finais do século XVIII. Uma história macabra, dura, chocante, crua, hedionda e repugnante. Tudo começa com um corpo que é encontrado a boiar num rio, um cadáver mutilado, sem membros, sem língua, sem dentes e de órbitras vazias no lugar dos olhos.  Mikel Cardell é um ex-militar que perdeu um braço na Guerra Russo-Sueca de 1788–1790 e que vive ainda com traumas, que anda constantemente bêbado, em especial por ter perdido o seu melhor amigo numa das batalhas navais que ocorreram nesse conflito militar. A autoridade é chamada a intervir, e Cardell conhece Cecil Winge, um advogado conceituado, com uma postura moral irrepreensível, que presta serviços à polícia e que fica muito intrigado com este caso. Mas Cecil sofre de tísica e o estado avançado da doença ameaça o seu trabalho na investigação. Ainda assim, esta dupla improvável junta-se para trabalhar num caso que envolve altas esferas do poder e que vai levar o leitor a uma viagem imersiva à Estocolmo de finais do século XVIII.

Apesar de todo o clima de terror que envolve estas personagens, é fácil criar empatia por Cardell e Winge. Também, o interesse deles neste caso, arrasta-nos para todas as diligências, como se as fossemos presenciando e estivéssemos ao lado deles em cada nova descoberta. É uma história com História, pelo que acompanhamos os acontecimentos da vida cosmopolita da Suécia da época, com os costumes de um povo que conduzia a sua vida difícil por entre estalagens, praças, portos, aquecendo-se na bebida, em tabernas. Neste ambiente destacam-se mulheres desprezadas e usadas, a guarda que exercia o poder através da violência, uma sociedade feroz, bruta, insana e depravada que, aquecida pelo álcool, não só aplaudia a violência, como incentivava essa mesma violência sob as vestes da justiça.

Paralelamente a estas personagens, surgem outras não de menor relevo, das quais destaco Ana Stina, pela sua força e coragem tão invulgares para a época.

Sem dúvida que foi um livro de que gostei muito de ler, pela forma como a narrativa está construída, pela linguagem bem trabalhada, pela própria contextualização histórica exímia. Não é, no entanto, um livro que aconselhe a pessoas excessivamente sensíveis.

                                                                                                    Célia Gil

 


Dieudonné, Adeline (2019). A Verdadeira Vida. Lisboa: Gradiva Publicações.

Nº de páginas: 190

Início da leitura: 09/10/2020

Fim da leitura: 11/10/2020

A Verdadeira Vida é um livro escrito pela belga Adeline Dieudonné e traduzido por Tiago Marques. É daqueles livros que não se pode mesmo julgar pela capa, que, quanto a mim, é pouco apelativa para a história que encerra. Este livro foi, com todo o mérito, Prémio Romance FNAC 2018 e Prémio Renaudot dos Estudantes 2018.

Não é fácil falar deste livro, pois tudo nele é diferente. O que poderia ser uma história familiar comum, é tudo menos comum. É de uma crueza, de uma acidez, que nos abana, nos sacode, deitando por terra qualquer ideia pré-concebida ou teoria que pudéssemos tecer. E, no entanto, há um amor fraternal que subsiste a tudo e a todos, às próprias vicissitudes da vida.

A protagonista e narradora do livro tem apenas dez anos e um irmãozinho mais pequeno a quem protege. Vivem com os pais e com os milhares de cadáveres no quarto que designa “quarto dos cadáveres” e que são o troféu de anos e anos de caça por parte do pai.

Num dia, como tantos outros, em que passa a carrinha dos gelados, ela pede inocentemente duas bolas e chantilly, longe de esperar o que se sucederia ao seu pedido. O vendedor de gelados, ao premir o sifão, este explodiu-lhe nas mãos e penetrou-lhe pela cara, da qual ficou apenas metade. O irmãozinho Guilles também presenciou. E, a partir daquele dia, tudo piorou (se é possível) nas suas vidas. 

Segue-se uma narrativa de cortar a respiração, na qual esta criança tudo faz para livrar o irmão dos fantasmas que começam a povoar-lhe o cérebro. Esta criança tem a esperança de o conseguir, construindo uma máquina do tempo, com a qual possa voltar ao passado e evitar que tudo se passe como se passou. Desiludida com a magia em que inicialmente acreditava, vira-se para a ciência e torna-se uma brilhante aluna de Física. Tudo o que consegue, até mesmo os seus estudos e conhecimentos, deve-os a si, ao seu esforço, à sua capacidade de improvisar e trabalhar. Ela sabe que “a verdadeira vida” dependerá única e exclusivamente dela.

Tudo nesta história se precipita para um ponto alto brutal e sanguinolento, que não apenas choca, também comove e nos deixa de coração apertadinho.

Mas mais não conto. Aconselho vivamente a leitura deste pequeno grande livro!

                                                                                                          Célia Gil


Zink, Rui (2020). O Avô Tem uma Borracha na Cabeça. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 48

Início da leitura: 08/10/2020

Fim da leitura: 08/10/2020


Este livro chamou-me desde logo a atenção pelo título e ilustração da capa, que achei engraçadíssima!

O Avô Tem uma Borracha na Cabeça é um livro escrito por Rui Zink e ilustrado por Paula Delecave.

Quando comecei a lê-lo, verifiquei que é um livro que cumpre uma função educativa e não apenas um livro infantil que se pretendia divertido, como pensei inicialmente.

Fala-nos sobre a amizade muito especial entre um avô e um neto. Quando o avô começa a ficar um pouco esquecido (assim é o Alzheimer), o neto procura inventar uma solução para o seu problema. E é a ingenuidade e sensibilidade desta criança que nos cativam, o acreditar que pode ajudar o avô a não se esquecer de tudo quanto sabia (e que não era pouco e que o neto admirava muito). E um dos remédios para ajudar o avô, poderão ser…agarrar num lápis!

Vale mesmo a pena ler!

Cinco estrelas!

                                                                                      Célia Gil

Sveistrup, Soren (2019). O Homem das Castanhas. Lisboa: Suma das Letras.

Nº de páginas: 450

Início da leitura: 01/10/2020

Fim da leitura: 07/10/2020



Escolhi este livro, porque estou num desafio de leituras, onde um dos livros deveria ter tonalidades ou algo que o relacionasse com o outono. Logo, nada como as castanhas num tom castanho! Também constituiu a minha escolha pelas excelentes críticas que já tinha lido sobre ele.

O Homem das Castanhas é um livro da autoria de Soren Sveistrup, um thriller muito bem construído, que ainda tem o poder (que alguns thrillers estão a deixar de ter) de nos deixar boquiabertos e possui um visualismo através da escolha de palavras que nos faz sentir lá, escondidos a um canto, observando as cenas deveras atrozes.

Ainda assim, há, em alguns momentos, o enrolar da situação, que era escusado, pois, quando tem momentos que se leem de um só fôlego, tem outros em que se torna um pouco repetitivo.

Ainda assim, é um livro que vale a pena ser lido!

Basicamente, a história é a seguinte: numa manhã de outubro tempestuosa, em Copenhaga, no recreio de um colégio, uma jovem é encontrada brutalmente assassinada, faltando-lhe uma das mãos. Pendurado por cima dela, um pequeno boneco feito com castanhas.

Para desvendar este caso, é designada a ambiciosa detetive Naia Thulin. Ela e Mark Hess, um investigador que acabou de ser expulso da Europol, descobrem evidências que ligam este crime a um outro que envolveu o desaparecimento de uma menina, um ano antes, e foi dada como morta: a filha da ministra Rosa Hartung.

Entretanto, está preso um homem que confessa ter sido o autor do crime dessa menina. Os investigadores cedo descobrem que não pode ter sido ele, pois, as situações que continuam a suceder-se envolvendo “o homem das castanhas”, só podem estar relacionados. Aquele homem que está preso é apenas um jovem que sofre de distúrbios mentais e que terá assumido a culpa porque admirava o verdadeiro criminoso.

Acontece que, à medida que as investigações decorrem, eles sentem que estão sempre um passo atrás do criminoso e que este os observa e goza com eles.

Conseguirão eles descobrir o verdadeiro criminoso? Fica o convite para lerem este livro e descobrirem toda a trama que o livro reserva!

                                                                                                                 Célia Gil


 Letria, José Jorge (2020). Um Mundo Aflito. Lisboa: Guerra & Paz, Editores, S.A.



Nº de páginas: 144

Início da leitura: 24/09/2020

Fim da leitura: 26/09/2020

Um Mundo Aflito é um retrato objetivo, frio e amargo, escrito por José Jorge Letria, em tempos de Covid-19, conciliando o texto de Letria com fotografias de Inácio Ludgero, no qual se dialoga com o confinamento, se questiona como terá surgido o vírus e onde é notória a comoção perante as consequências que trouxe: ruas, jardins, transportes públicos e outros espaços vazios, a refletir um mundo de ausência e de abandono, como nunca tínhamos  vivenciado. O medo, a instabilidade e as consequências que advirão desta pandemia, a salientar a área cultural e artística.

Penso que é um livro que ficará, o registo de um momento de ficará na memória de todos quantos o vivenciaram.

Na minha ótica, poderia apenas ter sido mais desenvolvido.

**** estrelas


                                                                                           Célia Gil

 Owens, Delia (2019). Lá, Onde o Vento Chora. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 392

Início da leitura: 21/ex/2020

Fim da leitura: 23/09/2020

Lá, Onde o Vento Chora é um livro escrito por Delia Owens e traduzido por Leonor Bizarro Marques. Confesso que este é daqueles livros que supera as expetativas. Não fossem as gralhas que maculam e beliscam aqui e ali a sua beleza, seria um livro perfeito. Mas, pondo de parte essa questão de considerar que as editoras deveriam fazer um trabalho mais minucioso de revisão, posso afiançar que é daqueles livros que nos enchem a alma.

Confesso que sou uma pessoa sensível e que chorei ao ler algumas passagens. As descrições são belíssimas, poéticas e tão bem construídas que nos fazem sentir lá, a vivenciar a história, com todas as sensações a entrar por nós adentro. É uma história que comove, que nos faz sentir a solidão a dar-nos o braço, o vento a contar-nos histórias de abandono, de superação, de sobrevivência, de rejeição, de amizade, de amor, de mesquinhez humana, de esperança, de aprendizagem, numa celebração e comunhão com a Natureza, com as suas espécies, com as suas melodias, onde “ainda há criaturas selvagens”, “Lá, Onde o Vento Chora”.

É daqueles livros que, penso, não esquecerei.

A história começa com uma família, que vive numa velha cabana, num pantanal da Carolina do Norte. Certo dia, Kya, a mais nova de cinco irmãos, vê a mãe partir. Depois partem os irmãos e, por fim, o próprio pai, ficando sozinha no pantanal e tornando-se, assim, conhecida como “a miúda do pantanal”. E é ao pantanal que vai buscar forças para superar todas as dificuldades com que se depara, no qual poisa a mão “sobre a terra viva e morna”, e que considera que “passou a ser a sua mãe”.

Ela faz realmente parte do pantanal, como um só coração a pulsar, aprendendo a interpretar os seus sons, a observar atentamente tudo o que a rodeia, a tornar-se desconfiada, um autêntico “bichinho do mato”, longe do contacto com os cruéis humanos.

Acaba por aceitar a amizade de um ex amigo de um dos seus irmãos, Tate, que também ama a Natureza e com quem aprende a ler, com quem pode partilhar este amor pelo pantanal.

Porém, Tate vai para a universidade e o mundo de Kya não vai para além do pantanal. Tate compreende isso e acaba por partir sem se despedir. Entretanto, alguém que sempre a espiou, o charmoso Chase, aproxima-se de Kya. Serão as suas intenções as mais sinceras? Kya sente que o seu coração se fechou à medida que foi sendo abandonada por todos os que amava. Mas nem tudo acontece como se possa supor, e é isso que torna este livro ainda mais interessante. Não é apenas um romance, tem vida, mistério, crime e muito, muito mais.

Deixo o convite para uma leitura prazerosa.

5 estrelas.

                                                                           Célia Gil

 Atwood, Margaret (2013). A História de Uma Serva. Lisboa: Bertrand Editora.

Nº de páginas: 352

Início da leitura: 11/09/2020

Fim da leitura: 14/09/2020

A História de Uma Serva é uma distopia escrita por Margaret Atwood e traduzida por Rosa Amorim. Muito bem escrito, duro, chocante serão poucos adjetivos para descrever este livro que mexe com o leitor, colocando-o perante uma hipotética realidade futura. Neste caso, perante Gileade, um estado policial fundamentalista, depois de os extremistas cristãos terem derrubado o governo norte-americano e queimado a Constituição. Nesta nova situação, deparamo-nos com um estado político fundamentalista, onde as servas, mulheres férteis, perdem os seus direitos e são “usadas” para conceber filhos para a elite estéril. O objetivo é engravidarem do seu Comandante, com o qual a esposa compactua.

As servas só podem ir ao mercado uma vez por dia e sempre acompanhadas. Assim, cada uma se torna espia da outra. As tabuletas do mercado são imagens, uma vez que as mulheres estão proibidas de ler.

Defred é a protagonista deste livro, uma das servas, que reza para engravidar do seu Comandante, pois, caso contrário, poderá ser enviada para as Colónias, perigosamente poluídas.

Porém, como em todas as civilizações extremistas, há sempre quem não cumpra as regras estabelecidas e Defred, envolvendo-se com o Comandante, acaba por ser arrastada para essa realidade.

Este Comandante aproxima-se de Defred, gosta de a exibir e, no fim, revela-se totalmente cobarde.

É uma história cujo final fica em aberto e que continua num outro livro Os Testamentos, que tenho, agora, muita curiosidade em ler.

Muitos seriam os excertos a realçar. Porém, limito-me a partilhar um que considero refletir muitas das nossas preocupações nos tempos atuais: "É estranho relembrar a maneira como pensávamos, como se tudo nos estivesse disponível, como se não houvesse contingências, nem limites; como se fossemos livres de traçar e retraçar eternamente os perímetros, em constante expansão, das nossas vidas. Eu também era assim, também fazia isso." (pág. 257)


Gostei bastante deste livro e aconselho a sua leitura.                                                                                                                                                                                                  Célia Gil


 Forman, Gayle (2017). Deixa-me ir. Lisboa: Editorial Presença.


Nº de páginas: 304

Início da leitura: 07/09/2020

Fim da leitura: 10/09/2020

Deixa-me ir é um livro escrito por Gayle Forman e traduzido por Ana Saldanha e aborda uma temática pertinente e atual. A mulher, infelizmente, ainda, obriga-se a conciliar a vida profissional com as tarefas de casa, deixando de ter tempo para si. E quem está à volta apenas exige e não se apercebe que sem ela tudo desmorona. Nestas situações, a mulher torna-se no pilar da família, sem que ninguém se preocupe com ela e a auxilie. A culpa? A culpa é de todos. Do marido, que, egoisticamente, acha que está tudo bem dessa forma, se aproveita, acabando por achar que é uma obrigação dela. Dela própria, que se deixa envolver numa situação deste género e, seja por dedicação, comodismo ou burrice, não reivindica os seus direitos e estabelece limites para as suas obrigações.

A narração da história é feita de forma muito simples, numa linguagem acessível e leve, capítulos breves e a um bom ritmo.

Maribeth Klein é mãe de gémeos, editora de uma revista de moda e dona de casa. Assoberbada de trabalho, sente-se muito cansada e acaba por ter, aos 44 anos, um ataque cardíaco. Quando regressa a casa, depois de uma operação de risco e com limitações que o médico lhe recomenda, perante a desordem que encontra vai, aos poucos, retomando as suas lides diárias. Todos lhas sabem exigir e não compreendem que representam para ela, nesse momento, um esforço sobre-humano.

Acaba por pensar e perceber que algo está mal e tem de mudar e decide fazer a mala, deixar um bilhete ao marido e filhos e partir. Partir para respirar, para se encontrar, mas também para reencontrar um passado perdido, de forma a perceber se o problema de saúde tem origem genética.

Recomeça uma vida nova, com novos amigos, sem obrigações, reaprendendo a aproveitar as pequenas coisas simples da vida.

Ao mesmo tempo, sente-se mal por ter abandonado os filhos e vai-lhes escrevendo cartas que não chega a enviar. Gostaria que o marido se apercebesse, durante a sua falta, de tudo o que dependia dela e que ela já não podia continuar, voltar ao que era.

Na minha ótica, não entendo totalmente esta partida. Não poderia ela ter resolvido todos os seus problemas, sem propriamente abandonar os filhos?

Conseguirá o marido perdoar-lhe o facto de ter deixado os filhos?  Conseguirá ele perceber que tudo estava mal e que ela precisava de espaço para si na sua vida? Estaria ele disposto a, juntamente com ela, mudar esta situação? Descobrirá Maribeth quem eram os seus pais?

Para responder a estas e a outras perguntas, terá de ler Deixa-me ir, de Gayle Forman.

Slater, K. L. (2018). Profunda Obsessão. Rio Tinto: Topseller.


Nº de páginas: 320

Início da leitura: 01/09/2020

Fim da leitura: 06/09/2020

Profunda Obsessão foi o primeiro livro que li da autora, K. L. Slater e surpreendeu-me pela positiva. O enredo está bem conseguido, os capítulos pequenos e o suspense vai-se adensando à medida que a história vai sendo narrada.

Ben é pai de duas crianças, viúvo há dois anos, e aceita de bom grado o excelente apoio que a dedicada mãe, Judi, lhe dá no que toca a tomar conta dos netos e na casa, onde vai regularmente fazer a limpeza e passar a ferro.

Tudo corria bem, até ao momento em que o filho, Ben, se apaixona por Amber, uma jovem enigmática que se aproxima dele. A relação entre eles evolui de forma rápida, do namoro ao momento em que ela vai viver lá para casa e em que decidem que ela é a madrasta perfeita para as crianças vai um ténue passo, que Judi não compreende e não aceita de ânimo leve. Entre elas é evidente a falta de empatia, de comunicação e de aceitação. Judi considera que Amber esconde alguma coisa e decide começar a investigar.

Aos poucos, Amber vai ganhando terreno em casa de Ben, altera a decoração, as regras e a forma como as crianças se devem ou não comportar. Prescinde da ajuda de Judi, não querendo que ela vá lá a casa passar a ferro ou fazer a limpeza e, inclusive, propõe que ela deixe de ir buscar as crianças à escola, assim Ben não terá de ir a casa da mãe buscar as crianças. Até aqui, tudo normal, quantas não são as situações idênticas? Em que uma mulher ou um homem conseguem afastar @ namorad@/companheir@ dos pais e em que a cegueira da paixão não deixa ver com clareza os seus reais intentos?

Porém, Judi continua a estranhar estes comportamentos e vai a casa do filho ver se descobre o que esconde Amber. Fica chocada com determinados objetos de índole sexual que descobre na gaveta do filho, pois não o estava a ver a ter uma relação desse género. Descobre mais alguma coisa escondida num casaco de Amber…

À medida que as mentiras de Amber vão sendo descobertas, vamos ficando mais apreensivos em relação a esta personagem, que nos vai parecendo cada vez mais odiosa.

Mas o final é de cortar a respiração, porque totalmente inesperado e arrebatador.

Recomendo a leitura.

⭐⭐⭐⭐⭐ Estrelas.

                                                                                                    Célia Gil

 Schmitt, Eric-Emmanuel (2013). O Senhor Ibrahim e as Flores do Alcorão. Lisboa: Marcador Editora.


Início da leitura: 31/08/2020

Fim da leitura: 31/08/2020

Este foi, seguramente, o melhor livro que li deste autor, não desprestigiando os outros, igualmente bons.

O Senhor Ibrahim e as Flores do Alcorão é um pequeno livro escrito por Eric-Emmanuel Schmitt e traduzido por Luzia Almeida.

Basicamente, conta-nos a história de Moisés ou Momo, um rapazinho que vive com o pai, um advogado judeu. Logo em criança, é rejeitado pela mãe, que, segundo o pai, terá fugido com o irmão, Popol. O pai faz questão de o inferiorizar em relação ao suposto irmão e Moisés sente-se rejeitado, pois nunca atingiria a perfeição do “irmão”.

Aos 11 anos, decide partir o mealheiro para ir às putas. Foi por essa altura que conheceu O Senhor Ibrahim, um merceeiro árabe do bairro, com o qual trava conhecimento. É com ele que Moisés aprende a arte de amealhar, de, através do sorriso, conseguir o que quer das pessoas, de tirar partido das coisas, mas também aprende a apreciar tudo o que a vida lhe oferece.

Quando o pai de Moisés, se vai embora e, mais tarde, é encontrado morto numa linha de comboio, quando a mãe regressa e diz que não teve mais nenhum filho, Moisés pede ao Senhor Ibrahim para o adotar. Assim acontece. Ibrahim vende a mercearia e compra um carro, no qual partem para o país natal do velho homem.

Esta acaba por constituir uma viagem de aprendizagens de Moisés para a vida.

Aprende o quão interessante é o universo com o Senhor Ibrahin e a sua tagarelice; a distinção entre os países pobres e os países ricos a partir da forma como têm ou não o seu lixo (um momento tão interessante!); que é através de pequenos caminhos que mostram “tudo o que há para ver” que se deve viajar; que a felicidade está na lentidão pois só assim o tempo ganha qualidade; que se consegue adivinhar as religiões através dos cheiros (que máximo!); ensinou-o a dançar, rodopiando com os dervixes (religiosos muçulmanos da Ordem Dervish Mevlevi), e foi rodopiando que libertou todo o ódio que tinha dentro dele e encontrou a felicidade; que, para conquistar uma rapariga, não deve olhar para ela pensando o quão bonito se deve achar, mas achando-a a ela a rapariga mais bela que já viu.

Como terminará esta viagem de Moisés e Ibrahim? Como será este regresso à terra natal? O que esconderia o livro de Alcorão?

Um livro imperdível, doce, terno, sábio e tão bem escrito. Recomendo vivamente!

⭐⭐⭐⭐⭐ Estrelas.

                                            Célia Gil

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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