Histórias Soltas Presas Dentro de Mim


(imagem do google)

Não questiones o destino,
ele só acontece
porque tem de acontecer.
Não o invadas na privacidade
dos seus domínios sagrados.
Não queiras desvendar os segredos
que lhe moram na alma.
Deixa-o acontecer.
Mesmo que o mundo inverta a sua rotação,
os rios não fluam em direção ao mar,
as horas parem em noite de preguiça,
a manhã não chegue a espreitar o horizonte,
a tua vida seja vendaval de emoções,
os sonhos te abandonem em desalento,
o amor seja uma miragem no infinito,
o carinho, um gato arisco e irado…
Ainda que a fé pareça ilusão num pedestal,
as pessoas tenham esquecido o que é humanidade,
o chão pareça fugir-te dos pés…
Não questiones o destino.
Esse é o percurso que nos permite
amadurecer, aprender, viver.
É a trajetória natural da vida,
com que o destino nos prepara,
nos sacode a inércia,
nos grita que somos capazes,
nos permite continuar a sonhar,
continuar a viver e a acreditar.
                                          Célia Gil

(imagem do google)

Nuvens irregulares
dormem aninhadas
umas nas outras
perante a Lua vigilante.
São avantajadas,
branquinhas e suaves
qual algodão doce
em dias de festa.
Da minha janela
ouço-as ressonar,
recarregando forças
para, no dia seguinte,
revigorarem campos sequiosos
com a sua água abençoada.
Sinto dentro de mim
o cheiro da terra molhada
e invade-me a paz do momento.
Pudera eu repousar assim
de tudo o que me perturba,
aninhar-me numa nuvem
pensando que amanhã
cumpriria a minha missão.
Os meus sonhos seriam dominados
pelo branco da paz
pela suavidade de um futuro risonho.
Depois da minha missão,
desfazer-me-ia e perpetuar-me-ia
na Natureza, berço das nuvens.
O ciclo continuaria,
Novas missões, novos sonhos de paz.
E tu, Deus meu,
serias a minha Lua vigilante.

Mas a minha vida
é um vendaval de emoções,
uma torrente de recordações,
uma enxurrada de desilusões.
A minha missão cai por terra
sem abençoar ninguém
com o seu gesto,
destruindo os sonhos,
devastando ilusões.
A fé esmorece,
perde a força,
destruída pelo tufão da vida.
Fecho a janela
e acordo para a realidade.
                                        Célia Gil


(imagem do google)

O que há em mim hoje
é a solidão existencial
que me deixa à deriva.
Procuro-me no vazio
e encontro o nada.

Há momentos na vida
em que somos soldados da paz,
espalhamos amor,
vivemos amizades,
partilhamos respeito,
proclamamos fé,
seguros de nós,
auto-confiantes.

As dúvidas derrubam-nos
as certezas que se tornam questionáveis.
Demoramos anos a acreditar
em coisas que, num minuto,
perdem a credibilidade.

Vem a ansiedade
semear na alma o desespero.
Vem a angústia
questionar a fé
e pô-la à prova.
Vem a desilusão,
qual vendaval,
levar o amor
soprando-o até ao abandono.
Vem a falsidade
qual sismo
abrir fundas fendas
no sentido
da própria vida.
Vem a insegurança
roubar a autoconfiança,
deixar o ser na solidão.
O ser antes confiante
é hoje alguém que jaz,
só, triste e errante.

E o soldado da paz
deposita as armas no chão,
cansado de lutar sozinho
por uma causa que cria nobre,
mas que não passa de causa vã.

(Assim andamos, portugueses desanimados e fartos de lutar pelo país, sem que nada mude!)
                                                                        Célia Gil
(imagem do google)
Hoje vou voar
por campos verdejantes
atapetados de flores.
Vou pousar devagarinho,
absorver o néctar divino.
E nos meus olhos,
espelho do arco-íris,
brilhará o encanto
desses botões de rosa multicolores.
Qual beija-flor bebericando
as gotas do orvalho,
voando com asas de borboleta
ao som do cântico
que embala ilusões.
E as minhas asas coloridas
confundir-se-ão com as flores.
Pudesse eu para sempre
fundir-me com a natureza,
fazer parte dessa paisagem
que contemplas embevecido,
que cheiras e absorves,
levando-a no teu coração.

Numa altura muito trabalhosa de início de um novo ano letivo, fica aqui um poema que suaviza um pouco este dia a dia stressado.
                                                      Célia Gil


(imagem do google)

Conheço de olhos fechados
as margens dos teus olhos.
Sei quando correm rios
de desespero que te sulcam o rosto.
Conheço-te de olhos fechados,
para mim não tens segredos guardados.

Conheço de olhos fechados
as nuvens que turvam
o sol que te brilha nos olhos
quando uma preocupação
se forma em neblina cerrada
e contrai as formas do teu rosto.
Conheço-te de olhos fechados,
para mim não tens segredos guardados.

Conheço de olhos fechados
a suavidade de seda
das asas de borboleta
que moram na tua face
quando a felicidade cresce
em canteiros de alegria
semeados à porta da tua vida.
Conheço-te de olhos fechados,
para mim não tens segredos guardados.

Conheço de olhos fechados
a fruta madura e sumarenta
que te abre os lábios
quando me beijas
em dias que sabem a algodão doce.
Conheço-te de olhos fechados,
para mim não tens segredos guardados.
                                       Célia Gil



(imagem do google)

Atiras palavras ao vento
que caem em precipícios de emoções,
palavras de dor, de lamento
ou que apaziguam corações.
Sei de cor cada som,
reconheço cada tom
das palavras que me sussurras
ao ouvido, em noites escuras.
Reconheço as palavras passageiras,
esquecidas, adormecidas...
As palavras mensageiras
que vagueiam, assim, perdidas...
E quando o teu silêncio me abraça,
me aquece o desassossego,
esqueço tudo, tudo passa
e mergulho no aconchego
das palavras que me sussurras
ao ouvido, em noites escuras...
                                              Célia Gil

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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