Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

 Mãe, Valter Hugo (2015). Contos de Cães e Maus Lobos. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas:160
Início da leitura: 30/03/2023
Fim da leitura: 31/03/2023

**SINOPSE**
"A escrita encantatória de Valter Hugo Mãe chega ao conto como uma delicadíssima forma de inclusão. Estes contos são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda. Entre a confiança e o receio, cães e lobos são apenas um símbolo para a ansiedade perante a vida e a fundamental aprendizagem de valores e da capacidade de amar. Entre a confiança e o receio estabelecemos as entregas e a prudência de que precisamos para construir a felicidade."

Que contos deliciosos! Considerados para a infância, são contos que merecem ser lidos por todas as faixas etárias, contos com "sensibilidade e valores". São 11 contos que, mesmo abordando questões difíceis, duras e, por vezes, dramáticas, o faz com uma poeticidade e delicadeza que nos emociona e nos transmite um carinho especial. É um livro ao qual voltarei, sem dúvida. Inclusive nos clubes de leitura da escola. É uma ficção tão pura que nos entra pela alma e a aconchega, como a uma criança, ao deitar. Desde "A menina que carregava bocadinhos" e que fez uma peça de vestuário magnífica de um lenço velho rasgado e que não pôde voltar a usar pois era uma ofensa para a patroa e para a própria comunidade. "O Rosto", no qual o narrador, uma pequena criança, aprende que "somos feitos daquilo que chega à alma e a alma tem um tamanho muito diferente do corpo." No conto "O rapaz que habitava os livros", em que o narrador acaba por perceber que "os livros acontecem dentro de nós. Claro que eles podem ser bonitos de ver, mas são sobretudo incríveis de pensar. Eu disse que ler é como caminhar dentro de mim mesmo". N'"As Mais Belas Coisas do Mundo", onde o pequeno narrador aprende a aceitar a morte, com a morte da avó, primeiro e, depois, a morte do avô, a quem puseram "debaixo de flores como se fosse solteiro e esperasse o amor." Acabou por entender que o avô "era como todas as mais belas coisas do mundo juntas numa só." E a acreditar que "fazer-lhe justiça era acreditar que, um dia, alguém poderia reconhecer a sua influência" nele. A obra termina com um conto sublime, "Bibliotecas" e, por mim, o excerto que selecionaria era o conto na íntegra, de tão bom que é. Mas, termino apenas com uma passagem, na certeza de que lerão todo o conto: "As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos ignorantes e dos incautos. Porque elas são festas ou batalhas contínuas e soam a canções ou trombetas a cada instante" e "Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra." Vamos, pois, esperar que abram este livro e o saboreiem, porque é uma verdadeira delícia!
E não falo das ilustrações, que ainda embelezam mais os contos!

 Cooper, Gwen (2023). O Gato que Sobreviveu. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Raquel Espada

Nº de páginas: 272

Início da leitura: 27/03/2023

Fim da leitura:29/03/2023

**SINOPSE**

"A última coisa que Gwen queria era ter mais preocupações. Já tinha dois gatos, um emprego miserável e o coração partido. Foi então que a veterinária dos seus gatos lhe telefonou a partilhar a história de um gatinho cego abandonado com apenas três semanas de vida. Gwen não conseguiu evitar comover-se com o relato e tomou a decisão imediata de acolher o novo gatinho.

Foi amor à primeira vista. Todos a alertaram que o seu gato Homero (assim batizado em homenagem ao poeta cego homónimo, autor de Odisseia) seria sempre medroso e desajeitado, mas o gatinho em que ninguém acreditava cresceu rapidamente até se tornar um dínamo de três quilogramas com um coração gigante que criava laços de amizade com cada pessoa que se cruzasse no seu caminho.

A lealdade inabalável de Homero, a sua capacidade ilimitada de amar e o seu entusiasmo por superar obstáculos transformaram a vida de Gwen e inspiraram-na a seguir os seus sonhos. Mais tarde, quando conheceu o amor da sua vida, percebeu que Homero lhe tinha ensinado a lição mais valiosa de todas: o verdadeiro amor é invisível aos olhos.

O Gato Que Sobreviveu é uma história de superação, autoconhecimento e transformação capaz de nos emocionar e fazer compreender que, para conseguirmos o que queremos da vida, muitas vezes precisamos de dar um salto no escuro, confiar nos nossos instintos e acreditar que, tal como os gatos, cairemos sempre de pé."
Este livro é de uma doçura incrível. Os animais têm, de facto, o poder de mudar as nossas vidas, a nossa forma de pensar e atenuar as desigualdades. É um livro comovente, que nos faz sorrir, nos faz refletir sobre a capacidade de adaptação perante uma incapacidade física e a resiliência e, sobretudo, a capacidade de amar.
Gwen tem dois gatos e, quando decidiu adotar um gatinho cego, não sabia até que ponto a sua vida poderia mudar. O gato, que batizou de Homero, estava prestes a mostrar como viver uma verdadeira odisseia. Gwen vê-se obrigada a mudar tudo e todos os hábitos que poderiam, em sua casa, pôr em risco um gatinho cego. Mas Homero revela-se um gato mais aventureiro e ativo que qualquer gato com visão. Acaba, com o seu feitio, por despertar não apenas reações de pena, mas grande admiração e amizade por parte dos amigos de Gwen. 
Aconselho este livro, não só a quem gosta de gatos, porque dele tiramos várias lições. 

Ernaux, Annie (2022). Um Lugar ao Sol Seguido de Uma Mulher. Porto: Livros do Brasil.

Tradução: Eduardo Saló
Nº de páginas: 152
Início da leitura: 25/03
Fim da leitura:  27/03

**SINOPSE**
"Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, uma filha procura preencher um vazio que é seu, traçando em simultâneo um retrato coletivo sobre uma época, um meio social, uma ligação familiar. Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez cabe à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na história. Neste volume reúnem-se os dois textos de Annie Ernaux sobre estas perdas: Um Lugar ao Sol, sobre o pai, publicado em 1984 e vencedor do Prémio Renaudot, e Uma Mulher, sobre a mãe, lançado em 1988. Duas peças literárias fulgurantes, misto de biografia, sociologia e história, onde resplandece a ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto da quebra desse elo vital."
Este é um livro constituído por duas obras da autora. Este é um livro de memórias, que não pretendendo ser autobiográfico, não deixa de o ser efetivamente. Na primeira parte, "Um Lugar ao Sol", fala-nos da morte do pai. Em "Uma Mulher" fala-nos da perda da mãe, que passa também pela doença de Alzheimer. É, portanto um livro sobre estas perdas por que todos, mais tarde ou mais cedo, passam. Por isso, dependendo das nossas perdas pessoais, é natural que haja perceções diferentes do livro. Para mim, é um livro que me toca, que me remete para as minhas próprias perdas, para a dificuldade em lidar com os lutos da vida. A par desta visão intimista, sobressai também uma contextualização histórica, a pobreza em que os mais desfavorecidos viviam, em França. A coragem para se reerguerem dos escombros e montar um negócio que os transporia para uma pequena burguesia e que exigia comportamentos e formas de estar que se coadunassem com esta nova condição. Foram trabalhadores árduos, nem sempre sentiram a confiança que a inferioridade anteriormente incutida lhes deixou. Não é um livro para "devorar", mas para refletir e apreciar.
Vale a pena ler Annie Ernaux!

Garvin, Eileen (2022). A Música das Abelhas. Alfragide: Editora Leya.

Tradução: Ana Lourenço

Nº de páginas: 392

Início da leitura: 20/03

Fim da leitura: 24/03

**SINOPSE**

"Alice Holtzman, de 44 anos, vive numa cidade rural do Oregon e está presa a um emprego sem futuro, a recuperar emocionalmente da morte inesperada do marido. Começa a sofrer ataques de pânico pela reviravolta que a sua vida deu e nem mesmo as adoradas abelhas que cria na sua quinta, nos seus tempos livres, conseguem aliviá-la.

O encontro chocante com Jake, um problemático adolescente paraplégico, e o subsequente interesse sincero dele pelas suas abelhas levam-na a tentar resgatá-lo da vida tóxica que leva em casa. Na vida de Alice surge igualmente Harry, um jovem de 24 anos desesperado por trabalho, que responde ao anúncio publicado por ela quando procura alguém para ajudá-la na quinta.

Destes encontros nasce uma amizade inesperada que, com uma ameaça que paira sobre a comunidade em que vivem e sobre a população local de abelhas, leva o improvável trio a unir-se em defesa das abelhas e, no processo, Alice, Jake e Harry acabam por descobrir uma oportunidade para ultrapassar os seus problemas e talvez até conseguir, quando menos esperam, uma segunda oportunidade na vida.

Comovente, caloroso e animador, A Música das Abelhas fala do poder da amizade, da compaixão face à perda, e de encontrar a coragem de recomeçar, em qualquer idade, quando as coisas não correm como se espera."
Não vou contar nada em relação à história, uma vez que a sinopse já o faz muito bem. Apenas digo que é um livro muito bom, bem escrito e que vale a pena ler. As personagens, diferentes do que é hábito, são-nos apresentadas como o anti-herói. Alice não é uma personagem simpática ou atenciosa. É apenas ela própria, com defeitos e virtudes, mas com fortes convicções em relação àquilo em que acredita. Nem sempre tem a força necessária, porque carrega em si fantasmas do passado que a fragilizam e a enclausuram na sua "ilha". Jake é um adolescente paraplégico, que foi sempre muito problemático. E Harry procura emprego, após sair da prisão. Todos diferentes, acabam por se cruzar... Não é um livro de leitura compulsiva, mas reflexiva. Aqui, a depressão tem vários rostos e é um tema que nos angustia, mas que é uma realidade cada vez mais presente.

Burton, Jessie (2015). O Miniaturista. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Catarina F. Almeida

Nº de páginas: 404

Início da leitura: 18/03/2023

Fim da leitura: 19/03/2023

**SINOPSE**

"Num dia de outono de 1686, a jovem Nella Oortman, recém-casada com um próspero mercador de Amesterdão, Johannes Brandt, chega à cidade na expetativa da vida esplendorosa que este casamento auspicioso lhe promete. Mas, entre a amabilidade distante do marido e a presença repressiva da cunhada, Nella sente-se sufocar na sua nova existência.
Até que um dia, Johannes lhe oferece uma réplica perfeita, em miniatura, da casa onde vivem. Nella encomenda então a um miniaturista algumas peças para ornamentar a casa. Mas algo de surpreendente acontece: novas encomendas de miniaturas continuam a chegar sem terem sido solicitadas, como presságios silenciosos de futuras tragédias.
Um romance de estreia magnífico, sobre amor e traição, que evoca com grande sensualidade a atmosfera da Amesterdão do século XVII."
Uma história intrincada e muito bem construída. Penso quer nunca me esquecerei desta história, tão intensa, tão dramática, uma história que se apodera de nós desde o início e que, ao longo das 404 páginas, não tem momentos mortos e nos faz continuar a ler, numa grande ansiedade, sempre com novas revelações espantosas, criando um constante suspense e um ritmo cinematográfico que nos prende e nos impede de pousar o livro. 
Para além de nos prender pelo próprio enredo, desde as miniaturas elaboradas detalhadamente pelo "miniaturista" para uma casa de bonecas, através das quais se prenuncia acontecimentos futuros, todos os pormenores são bem trabalhados: a época, a sociedade, as crenças, os costumes, a fome, a pobreza que levava a casamentos por interesse, a indefinibilidade do amor, os segredos irreveláveis, o racismo, a força das mulheres tão reprimidas aos seus espaços caseiros, a sodomia, a pena de morte... Soube que foi feita uma série a partir deste livro e fiquei bastante curiosa.
Um livro que vale a pena ler!

Claudel, Philippe (2017). A Árvore dos Toraja. Porto: Porto Editora.

Tradução: Artur Lopes Cardoso

Nº de páginas: 136

Início da leitura: 16/03/2023

Fim da leitura: 17/03/2023

**SINOPSE**

«O que são os vivos? À primeira vista tudo parece evidente. Estar com os vivos. Mas que significa isso, verdadeiramente, estar vivo? Quando respiro e caminho, quando como, quando sonho, estou inteiramente vivo? Quando sinto o calor doce de Elena estou mais vivo? Qual é o grau mais elevado de estar vivo?»

Um cineasta no meio da vida perde o seu melhor amigo e reflete sobre o papel que a morte ocupa na nossa existência. Entre duas mulheres maravilhosas, entre o presente e o passado, na memória dos rostos amados e na luz dos encontros inesperados, A árvore dos Toraja celebra as promessas da vida."
Há livros que divertem. Há livros que entretêm. Há livros que ensinam. Há livros que nos fazem refletir. Há livros que nos chocam. Há livros que evocam memórias... E, depois, há estes livros, difíceis de enquadrar numa simples definição.
Que pequeno grande livro! E que bem escreve o autor!
O protagonista desta história, um cineasta de "meia idade", e também narrador, fala-nos de cinema, livros, amores, amizades, daa forma como os outros nos veem, da forma como nos vemos, da vida e da morte.
Quando se vê confrontado com o facto de o seu grande amigo Eugène ter cancro, começa a questionar-se sobre a vida e a morte ("...quando é que ficamos gravemente doentes? Quando tudo está bem ou quando tudo está mal?"). Conclui que "Vivemos sempre com uma imagem parcial de nós mesmos. Nunca captamos a nossa imagem tal como os outros nos veem." Até que ponto a nossa idade, mentalmente, nos muda a perceção das coisas e nos impede de usufruir plenamente de todos os momentos, sem medos, sem hesitações, sem erros, sem feridas?
O título, parte de uma lenda que o narrador teve oportunidade de conhecer sobre os Toraja, habitantes da ilha de Sulawesi, na sua existência "obsessivamente ritmada pela morte": a de uma árvore especial, que constitui a sepultura de crianças de muito tenra idade, que são colocadas numa cavidade esculpida na árvore, que, depois, se fecha e cicatriza, "guardando o corpo da criança no seu próprio grande corpo". "Então, pouco a pouco, começa a viagem que a faz subir aos céus, ao ritmo paciente do crescimento da árvore." 
Quando o protagonista conta esta história ao seu amigo Eugène, este sussurra-lhe "- A morte faz de todos nós crianças."
E, por mais que o ser humano use de "estratagemas, máquinas, sentimentos, artifícios" para enganar o tempo, ele está sempre lá, quando, ao fim do dia, leem, no espelho, "a sua idade verdadeira bem no fundo dos seus olhos tristes".
Para além de toda esta riqueza, está a forma como Claudel escreve, límpida, poética mas, ao mesmo tempo, de um naturalismo descritivo que nos põe em confronto com a realidade e nos faz pensar... E, depois, há esta capa belíssima e que, se quiséssemos, teria tanto o que explorar!
Aconselho vivamente!

Gallagher, Charlie (2023). Presa em Casa. Lisboa: Alma dos Livros.


Tradução: Francisco Silva Pereira

Nº de páginas: 352

Início da Leitura: 12/03

Fim da leitura: 15/03

**SINOPSE**

"O tempo de Grace está a esgotar-se. Estendida no chão da casa de banho, luta por recuperar o fôlego depois de ser pontapeada pelo companheiro. Encolhe-se, com dores nas costas e no tronco, nas zonas onde ele lhe atirou com a porta. Não pode ignorar mais os sinais: se não conseguir escapar dali vai acabar por morrer.

Entretanto, Maddie Ives, detetive numa equipa especializada em proteger mulheres vítimas de maus-tratos, visita Grace depois de uma denúncia anónima. Quando a conhece, recomenda-lhe que mantenha um diário e detalhe tudo o que possa servir como prova em caso de agressão.

Grace procura dizer-lhe o que está a acontecer para que Maddie a ajude. No entanto, não consegue ser totalmente honesta. O companheiro vigia-a constantemente e obriga-a a fingir estar bem quando alguém os visita. Por isso, ninguém entende realmente o seu drama, o terror da situação. Enquanto mantém as aparências, a sua vida está em contagem decrescente.

Ao mesmo tempo, Maddie Ives tem outros assuntos urgentes para resolver: um rapaz morto numa casa de banho, um bombista dentro de um carro à procura de justiça e até o regresso de um antigo colega com cicatrizes profundas do passado. Será ela capaz de lidar com tudo e ainda ajudar Grace a salvar-se?"

Que dizer deste livro que não tenha sido mencionado na sinopse? Que, apesar de ser uma livro de ficção, chama a atenção para o que continua a ser um grande problema muito preocupante na sociedade: a violência doméstica. E todos os atos brutais aqui narrados, ainda que ficcionais, é bom que agitem as mentes, que abram as mentes para tudo o que as vítimas realmente passam, os traumas que ficam, o medo... Gostei do facto de Grace, a nossa vítima, ter procurado formas de comunicação através da escrita de um diário, no qual se dirige a Maddie, detetive especializada nestes casos de violência doméstica.
Há momentos de perder o fôlego, em que nos apetece entrar na história e mudar o rumo aos acontecimentos. Aliás, não há momentos mortos. E isso é um fator muito positivo, pois significa que a história nos envolveu e não nos deixou indiferentes. É de leitura compulsiva e pena tenha de não ter podido lê-lo de uma penada, pois o tempo não estica. Mas é um verdadeiro "page turner"!
A não perder pelos verdadeiros apreciadores de romances policiais.

Chan, Jessamine (2023). Escola Para Boas Mães. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Maria do Carmo Figueira

Nº de páginas: 368

Início da leitura: 06/03/2023

Fim da leitura: 11/03/2023

**SINOPSE**

"Frida Liu está exausta. Depois de ser abandonada pelo marido com uma filha pequena, vê-se obrigada a conciliar o trabalho a tempo parcial com a educação de Harriet. Mas, por mais que ame a filha e por muito que se esforce, nada parece ser suficiente. E tudo piora quando Frida tem um dia muito mau e se vê obrigada a deixar a menina sozinha em casa por algumas horas.

O Estado tem vigiado mães como Frida: mulheres que deixam os filhos sem supervisão, que se distraem com outros afazeres enquanto as crianças brincam, que cometem erros. Frida perde a guarda de Harriet e é inserida num programa de reabilitação que visa formar mulheres para se tornarem boas mães.

Perante o risco de perder Harriet para sempre, Frida tem de provar que consegue corresponder aos padrões de exigência da Escola para boas mães - que consegue aprender a ser boa, mesmo quando o julgamento parece injusto e o sucesso parece impossível."

Este é um livro que nos prende e angustia. Transmite raiva, apetece largá-lo e, ao mesmo, tempo, é impossível deixar de o ler. A sinopse já nos diz tudo. Apenas acrescento algumas perguntas:
Haverá mães perfeitas? É possível transformar-se numa mãe perfeita? O que é uma mãe perfeita? E se, por uma falha como mãe, se visse obrigada a afastar-se do/a seu/sua filho/a, preso numa escola onde supostamente aprenderia a ser mãe com um bebé resultante de IA? E se também se afeiçoasse a essa criança? E se ficasse para sempre proibida de estar, viver com o/a filho/a, até onde o instinto maternal a poderia conduzir?
Muitas as questões, muitas as angústias, muitas as raivas, numa sociedade cada vez mais fria, mais distante dos sentimentos e em que apenas se julgam os comportamentos sem se tentar perceber o que está por detrás deles. Uma sociedade implacável. Uma sociedade cruel. Uma obra a ler!

Slimani, Leïla (2022). Vejam Como Dançamos. Lisboa: Alfaguara.

Tradução: Tânia Ganho

Nº de páginas: 344

Início da leitura: 04/03/2023

Fim da leitura: 05/03/2023

**SINOPSE**

"1968, Marrocos: Mathilde, alsaciana, e Amine, oficial do Exército marroquino, são um casal com uma longa história atrás de si e um incerto futuro pela frente, à imagem do país onde vivem. Esta é a história de uma família hesitante entre a tradição e a modernidade, protagonizada por uma mulher enredada entre duas culturas, sufocada pelo conservadorismo do país onde escolheu viver e dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade. É também a história de um país que acabou de conquistar a independência e que procura o seu lugar, entre o espartilho religioso e o fascínio pelo Ocidente, entre a repressão e o hedonismo.

Leïla Slimani, uma das vozes mais importantes da literatura francesa, regressa à história da própria família para construir um romance cheio de personagens inesquecíveis e imagens fortes. Retratando um tempo e um lugar em que ressoam os ecos do Maio de 68 e as mulheres encetam o pedregoso caminho da emancipação, a escritora reafirma a sua impressionante destreza narrativa e o olhar clínico sobre a intimidade."
Este é o segundo volume da saga "O País dos Outros", sobre a família de Mathilde e Amine, ela francesa da Álsácia e ele marroquino. Neste livro, são vinte anos mais velhos e são donos de uma quinta próspera, retratando dois mundos em transformação: Marrocos e a questão da independência, os hippies americanos dos anos 60; e França, a lidar com o Maio de 1968. Agora são os seus filhos que seguem o seu rumo e nos levam entre danças e contradanças, em que a desigualdade de género é ainda muito evidente. Aïcha, a criança do primeiro livro, cresce, torna-se médica, optando pela obstetrícia (o que ainda era visto como uma atividade menor, feita até à altura por mulheres que não precisavam de curso). Aïcha apaixona-se... O irmão deixa-se envolver por este hedonismo hippie... E mais não posso revelar.
Tal como o primeiro, é surpreendente e bom. O ritmo é alucinante e não apetece largar o livro antes de terminar. 

 Yagisawa, Satoshi (2023). Os Meus Dias na Livraria Morisaki. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Marta Pinho

Nº de páginas: 144

Início da Leitura: 01/03/2023

Fim da Leitura: 03/03/2023

**SINOPSE**

Esta é uma história em que a magia dos livros, a paixão pelas coisas simples e belas e a elegância japonesa se unem para nos tocar a alma e o coração.

"Estamos em Jimbocho, o bairro das livrarias de Tóquio, um paraíso para leitores. Aqui, o tempo não se mede da mesma maneira e a tranquilidade contrasta com o bulício do metro, ali ao lado, e com os desmesurados prédios modernos que traçam linhas retas no céu.

Mas há quem não conheça este bairro. Takako, uma rapariga de 25 anos, com uma existência um pouco cinzenta, sabe onde fica, mas raramente vem aqui. Porém, é em Jimbocho que fica a livraria Morisaki, que está na família há três gerações: um espaço pequenino, num antigo prédio de madeira. Estamos assim apresentados ao reino de Satoru, o excêntrico tio de Takako. Satoru é o oposto de Takako, que, desde que o rapaz por quem estava apaixonada lhe disse que iria casar com outra pessoa, não sai de casa.

É então que o tio lhe oferece o primeiro andar da Morisaki para morar. Takako, que lê tão pouco, vê-se de repente a viver entre periclitantes pilhas de livros, a ter de falar com clientes que lhe fazem perguntas insólitas.

Entre conversas cada vez mais apaixonadas sobre literatura, um encontro num café com um rapaz tão estranho quanto tímido e inesperadas revelações sobre a história de amor de Satoru, aos poucos, Takako descobre uma forma de falar e de estar com os outros que começa nos livros para chegar ao coração. Uma forma de viver mais pura, autêntica e profundamente íntima, que deixa para trás os medos do confronto e da desilusão."

Este seria um livro para ler numa tarde, não fosse ele, no meu entender, algo entediante. Confesso que comprei este livro, pela capa maravilhosa, pelo título cheio de promessas e pela sinopse que aponta para uma premissa que, bem desenvolvida, ter-me-ia, com certeza, cativado. Digamos que é um livro fofinho, mas não passa disso. A linguagem é muito básica. A história acaba por ganhar outros contornos que remetem a livraria e o amor pelos livros (prometidos na sinopse) para segundo plano.
Gostei da parte inicial, da chegada de Takako ao bairro de referência em Tóquio, pelas imensas livrarias que possui; a forma como o tio, aos poucos, a vai orientando para sair do estado de apatia em que estava a sua vida, o nascimento de uma paixão pelos livros. A partir daí, há uma reviravolta que, quanto a mim, deixa muito a desejar.
A linguagem é demasiado simples, faltando-lhe a intensidade necessária para a história que é. Serve, porém, de entretenimento.

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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