Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Mankel, Henning (2012). Sapatos Italianos. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Fátima Andrade

Nº de páginas: 288

Início da leitura: 30/08/2022

Fim da leitura: 31/08/2022

**SINOPSE**

Henning Mankell afasta-se do género policial a que já nos habituou para refletir neste romance sobre temas como o amor, a perda, a redenção e a autodescoberta.

Fredrik Welin passou os últimos doze anos da sua vida numa ilha do Báltico rodeada de gelo, tendo como única companhia o seu cão e a sua gata, e como única visita o carteiro. Um dia, vê uma figura aproximar-se e percebe que nada voltará a ser o mesmo. A pessoa que vem perturbar o seu exílio autoimposto é Harriet, a mulher que ele abandonou sem qualquer explicação há quase quarenta anos. Harriet diz vir obrigá-lo a honrar uma promessa que ele lhe fizera, mas Fredrik está prestes a descobrir que o seu reaparecimento esconde outra surpresa...

Gostei deste livro. Fugindo ao género habitual do autor – os policiais, este é um romance mais introspetivo, e gostei precisamente disso.

O protagonista, Fredrik Welin vive numa ilha do Báltico, numa profunda solidão, tendo por únicas companhias os seus animais e, de quando em vez a visita do carteiro que, sabendo que ele era médico e sendo o carteiro hipocondríaco, depressa o torna no seu médico pessoal. Diariamente, Fredrik faz um buraco no gelo para um banho matinal nas águas geladas. Porém, tirando estes hábitos pouco comuns e a questão que se nos coloca logo no início: «o que faz um médico numa ilha deserta?», pouco sabemos sobre esta personagem. Parece fugir de alguma coisa, mas o quê realmente?

Mas se não regressamos ao passado, por vezes é ele que vem ter connosco e foi o que sucedeu a Fredrik. Num dos seus banhos matinais, vislumbra a imagem de uma mulher, no seu andarilho, perto dele. Foge para casa e pega nos binóculos: afinal, não fora uma visão (partida que a solidão às vezes prega), mas sim Harriet, a mulher que ele abandonara há cerca de 40 anos. E, se é realmente ela, o que fará ali?

É a partir daqui que Fredrik inicia uma viagem de regresso ao passado, a todos os segredos que não chegou a conhecer, a uma luta com o consciente e com a noção de tudo o que ficou perdido nas malhas do tempo, a uma procura ontológica de autodescoberta e de procura de um novo sentido para a vida.

E qual a razão para ter fugido, inclusive da profissão que amava, a medicina cirúrgica?

Já agora, qual a razão para o título da obra, Sapatos Italianos?

Para obter as respostas a todas estas perguntas, nada melhor que ler e acompanhar o narrador, a quem o autor congratulou com um discurso fluído, sereno e enternecedor, como uma viagem física e interior.

Aconselho!

Nordberg, Jenny (2015). As Meninas Proibidas de Cabul. Alfragide: Edições ASA.

Tradução: Mário Dias Correia

Nº de páginas:400

Início da Leitura: 28/08/2022

Fim da leitura: 29/08/2022

**SINOPSE**

Nas cidades e aldeias afegãs, há raparigas que se movimentam livremente e sem medo de represálias. Num país onde a mulher não tem valor nem privilégios, há meninas que vão à escola e brincam na rua. Elas existem, mas ninguém sabe quem são. Porquê? Porque estão disfarçadas de rapazes. São as suas próprias famílias a fazê-lo ao abrigo de uma tradição secreta ancestral chamada bacha posh.

Para uma família afegã, não ter filhos varões é uma tragédia. De forma a contornar este estigma, muitos vestem e apresentam ao mundo as suas filhas como se fossem rapazes. Mas este estado de graça só dura até à puberdade, altura em que são obrigadas a assumir a sua identidade feminina. Para as meninas que tiveram um vislumbre de autonomia, o choque é dilacerante.

A jornalista premiada Jenny Nordberg deparou-se com este costume e ficou fascinada. Pouco a pouco, conseguiu reunir um grupo de mulheres corajosas. Os seus testemunhos são fascinantes e dão-nos uma perspetiva totalmente nova sobre o que significa ser mulher e os sacrifícios a que obriga ainda nos dias de hoje.

Este é um livro repleto de personagens reais, às quais seria impossível não ficar presa. E, como diz a autora na dedicatória inicial “Para todas as raparigas que perceberam que, de calças, conseguiam correr mais depressa e trepar mais alto”.

Foi um livro que levou à autora 6 anos a ser escrito, que exigiu muita investigação, muitas leituras e o contacto com estas mulheres, a quem entrevistou. E, como em muitas situações desta natureza, o relato não podia deixar de ser “subjetivo”. Os acontecimentos relatados sucederam essencialmente entre 2010 e 2011.

Ser mulher afegã não é nada fácil, nada justo, nada aceitável, e, apesar de já terem ocorrido alterações, a maior parte dos direitos das mulheres continua a ser violado e calado. É importante elevar a voz e contar ao mundo o que sucede e as injustiças de que são alvo, não apenas pelos homens, mas pelas normas e costumes sociais e religiosos, em que nascem e em que vivem toda a sua vida.

Nascer homem é uma bênção. Nascer mulher é uma tragédia.

Não vou recontar o livro, riquíssimo em testemunhos, na forma como nos são transmitidas as tradições, as maneiras de ser e de pensar condicionadas pelo próprio meio social em que estas mulheres nasceram, mas não posso deixar de falar de uma ou duas situações que, por mais que estejamos esclarecidos sobre o assunto, nos deixam indignados.

A um homem afegão é permitida a poligamia. À mulher, não. Se um homem tem muitas mulheres, é porque tem um excelente estatuto social que lhe permite “adquiri-las”.

Um homem afegão é livre de se vestir e agir como quer. A mulher não, é sempre vigiada e controlada até estar pronta para casar (algumas aos 13 anos ou mal tenha “as regras”).

Um homem afegão só é considerado verdadeiramente macho se tiver um filho varão. Se tiver apenas raparigas, a sua virilidade é questionada.

Um homem afegão exerce, na maior parte das vezes, atos de violência contra as mulheres e as filhas, o que, no seu entender, é considerado normal.

Uma mulher não pode rir, cantar, dançar, vestir-se sem a burka em público, porque, dessa forma, é considerada leviana e nenhum homem a quererá tomar por esposa.

Uma mulher deve ter muitos filhos, e pelo menos um filho varão. Caso isso não aconteça, para que a virilidade do homem não seja posta em causa, uma das meninas é convertida em rapaz – bacha posh – sendo-lhe cortado o cabelo, sendo vestida e tendo direito a tudo o que os rapazes têm. Se, entretanto, nascer um irmão, voltam à sua condição de raparigas. Se não, são mantidas assim até à adolescência, altura em que já não conseguirão esconder as suas formas e em que têm de casar para terem a sua descendência, enquanto não forem demasiado velhas.

Uma mulher estéril, é menosprezada e considerada fraca.

A mulher deve ficar em casa a tomar conta dos filhos e marido.

As mulheres vivem de tal forma dentro deste espírito, que são extremamente cruéis umas com as outras.

As sogras batem, na maior parte dos casos, nas noras.

Não é fácil pensarem de outra forma, parecem formatadas pelo meio social com a ideia de que viver assim está certo e tudo o que não seja assim, é errado.

Este é um livro que transmite conhecimento muito bem fundamentado e, por isso mesmo, apreciei bastante e não deixarei de recomendar!

Coben, Harlan (2016). Sinto a Tua Falta. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Maria José Figueiredo

Número de páginas: 368

Início da leitura: 25/08/2022

Fim da Leitura: 27/08/2022

**SINOPSE**

Autor vencedor dos três prémios mais prestigiados da literatura policial americana.
Kat Donovan, uma detetive de Nova Iorque, observa os perfis de um site de encontros amorosos. Subitamente depara-se com uma fotografia que a perturba: ali está a cara do homem que, anos antes, a abandonou em pleno noivado. Nisto, ao enviar-lhe uma mensagem, Kat vê-se enredada numa inesperada e tenebrosa conspiração. À medida que investiga, apercebe-se de que a sua vida e a dos seus pais assenta numa mentira. O mistério estende-se ao próprio homicídio do pai que permanece inexplicado. Mas Kat está disposta a tudo para desmantelar esta rede criminosa que opera através da Internet, nem que isso a force a remexer num passado doloroso.

**OPINIÃO**
Gostei muito deste policial, excelente para descomprimir nas férias. Como noutros policiais deste autor, ficamos presos à narrativa do início ao fim. 
Tudo se desenrola em torno de um "site" de encontros, em que Kat Donovan, uma detetive nova iorquina, se terá registado, num momento em que se sente muito só. A partir daqui, cruzam-se várias histórias: o caso do homicídio do pai, que Kate não descansa enquanto não resolver; o aparecimento de uma foto do ex-noivo de Kate no sítio de encontros, a quem não via há muitos anos e o desaparecimento de uma mulher, que, supostamente, teria combinado um encontro no mesmo sítio.  
É impossível não ficarmos presos a todas estas histórias que queremos ver resolvidas.
Aconselho!

Couto, Mia (2020).  O Mapeador de Ausências.  Alfragide: Editorial Caminho.

Número de páginas: 416

Início da leitura: 22/08/2022

Fim da leitura: 24/08/2022

**SINOPSE**

Diogo Santiago é um prestigiado e respeitado intelectual moçambicano. Professor universitário em Maputo, poeta, desloca-se pela primeira vez em muitos anos à sua terra natal, a cidade da Beira, nas vésperas do ciclone que a arrasou em 2019, para receber uma homenagem que os seus concidadãos lhe querem prestar.
Mas o regresso à Beira é também, e talvez para ele seja sobretudo, o regresso a um passado longínquo, à sua infância e juventude, quando ainda Moçambique era uma colónia portuguesa. Menino branco, é filho de um pai jornalista e sobretudo poeta, e de uma mãe toda sentido prático e completamente terra-a-terra. Do pai recorda o que viveu com ele: duas viagens ao local de terríveis massacres cometidos pela tropa colonial, a sua perseguição e prisão pela PIDE, mas sobretudo, e em tudo isto, o seu amor pela poesia. Mas recorda também, entre os vivos, o criado Benedito (agora dirigente da FRELIMO) e o seu irmão Jerónimo Fungai, morto a tiro nos braços da sua amada, a bela e infeliz Mariana Sarmento, o farmacêutico Natalino Fernandes, o inspector da PIDE Óscar Campos, a tenaz e poderosa Maniara, e muitos outros; e de entre os mortos sobressaem o régulo Capitine, que vê uma mulher a voar.

**OPINIÃO**

Neste livro, o autor regressa à infância em Moçambique, através da personagem ficcional Diogo Santiago, um escritor, professor em Maputo, que regressa à Beira em 2019 para ser homenageado. As razões da viagem acabam por ser outras e tornam-se reveladoras do seu passado, infância e juventude. 

Nesta viagem, o autor inspira-se no pai português,  "um homem ingénuo a quem entregam provas de um massacre cometido pelas tropas portuguesas em Moçambique no ano de 1973." 

Na Beira, Diogo conhece Liana, com quem se envolve amorosamente,  possuidora de documentos da PIDE sobre as atividades "reprováveis" do pai de Diogo.

A narrativa, não sendo tão poética como a dos restantes livros do autor, é intensa, repleta de acontecimentos, marcada por diálogos e cartas que a tornam riquíssima.  As personagens cativam, surpreendem e tornam-se inesquecíveis. 

Recomendo.

Harris, Sarah J. (2019). As Cores do Assassino. Lisboa: Bertrand Editora.

Tradução: Fernanda Oliveira

Número de páginas: 408

Início da leitura: 21/08/2022

Fim da leitura: 22/08/2022

**SINOPSE**

Um romance fascinante, repleto de suspense, em que um rapaz com sinestesia - que associa cores a sons -, tenta descobrir o que se passou com Bee Larkham, a sua bonita vizinha. Onde está ela? Porque é que ainda não voltou para casa?
Jasper não é uma criança vulgar. Com treze anos, vive num deslumbrante mundo colorido que mais ninguém consegue ver, nem mesmo o seu pai. Palavras, números, dias da semana, vozes das pessoas: tudo tem uma cor própria. Mas recentemente é atormentado por uma cor de que não gosta e que não entende a cor do homicídio.
Jasper tem a certeza de que alguma coisa aconteceu a Bee Larkham, mas parece que ninguém o compreende. Jasper tem de descobrir toda a verdade sobre o que se passou naquela noite, incluindo o seu envolvimento no que ocorreu. Aparentemente, alguém quer impedir isso a todo o custo.

**OPINIÃO**

Gostei muito deste livro.

Não é um thriller comum, em que seguimos os investigadores na resolução de um crime,  a partir de determinadas pistas.

O início,  mais lento, permite-nos entrar gradualmente na história, o que é positivo, uma vez que esta nos é narrada por uma criança de 13 anos, Jasper, um jovem autista que sofre de cegueira facial e que é através das cores queconhece as pessoas, o que sentem, dizem, fazem (sinestesia)...

Não poderíamos esperar uma narrativa linear, mas, a própria alternância entre momentos da ação,  permite-nos compreender o que poderá ter despoletado todos os trágicos acontecimentos.

A vítima é  Beatrice (ou Bee) Larkham que, apesar de Jasper ver nela uma tonalidade semelhante à da falecida mãe,  tinha comportamentos um tanto desequilibrados.

Penso que a autora foi muito inteligenteao escrever um thriller a partir de temáticas tão pertinentes como o autismo, a pedofilia, as relações interpessoais nem semore cordiais ou fáceis, as mágoas do passado e tudo isto em doses de suspense e de jogos psicológicos que nos captam a atenção. 

É um livro que, sem ser uma obra prima ou um bestseller, acaba por se tornar muma boa opção para as férias. 

Agualusa, José Eduardo (2014). A Rainha Ginga. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 256

Início da leitura: 19/08/2022

Fim da leitura: 20/08/2022

**SINOPSE**

O novo romance de José Eduardo Agualusa, A Rainha Ginga, conta a vida fantástica de Dona Ana de Sousa, a Rainha Ginga (1583-1663), cujo título real em quimbundo, "Ngola", deu origem ao nome português para aquela região de África.

É a história de uma relação de amor e de combate permanente entre Angola e Portugal, narrada por um padre pernambucano que atravessou o mar e recorda personagens maravilhosos e esquecidos da nossa história - tendo como elemento central a Rainha Ginga e o seu significado cultural, religioso, étnico e sexual para o mundo de hoje. 

Neste seu romance histórico, Agualusa relembra a época em que os holandeses cobiçavam Luanda, no momento em que se aperceberam das fraquezas de Portugal tomado pelos Filipes de Castela. Ficamos a conhecer a história de uma personagem real – Ana de Sousa N’Ninga M’Bandi, a célebre rainha Ginga (1583-1663) do Dongo e da Matabam (norte de Angola), uma importante chefe africana, cujo título real em quimbundo, “Ngola”, deu origem ao nome do país – Angola.

A narração é conduzida pelo padre Francisco José de Santa Cruz, que terá sido designado como secretário de Ginga, viajando de Pernambuco para Angola. É através dele que vamos tendo acesso à história tão sui generis e polémica.

Destaco como questões que me prenderam a atenção: a linguagem das tribos, a escravidão (encarada de forma controversa), a religião e os mitos que conduziam a vida destes povos.

Gostei do livro, aliás gosto muito da escrita de Agualusa e este livro não constituiu uma exceção. Recomendo!

Tabucchi, Antonio (1991). Requiem – Uma Alucinação. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 127

Início da leitura: 18/08/2022

Fim da leitura: 18/08/2022

**SINOPSE**

Como que suspenso entre a consciência e a inconsciência, entre a realidade Antonio Tabucchi e o sonho, um homem encontra-se ao meio-dia em ponto, sem perceber porquê, numa Lisboa deserta e tórrida de um domingo de julho. Sabe vagamente que tem umas tarefas a cumprir - uma última, sobretudo: encontrar-se com um ilustre poeta desaparecido que, como todos os fantasmas, talvez apareça só à meia-noite.

Entrega-se ao fluxo do acaso, segundo a lógica das livres associações do inconsciente, e dá consigo a cumprir um percurso que o leva a reviver aquilo que foi, a tentar desatar os nós cegos da sua vida passada que nunca conseguiu compreender. A alucinação, a errância, o sonho, duram doze horas, nas quais o tempo de uma vida se comprime e se dilata: passado e presente confundem-se e os vivos encontram-se com os mortos no mesmo plano.

Com este Requiem, Antonio Tabucchi, ao contar a experiência de uma viagem misteriosa e sapiencial, escreveu um livro que é um acto de amor a um país que lhe pertence profundamente e à língua na qual este livro está escrito.

Ao ler a sinopse pensei: tenho de ler este livro. Ainda não tinha lido nenhum livro do autor e fiquei surpreendidíssima. Este autor italiano optou por escrever este livro em português e a ação decorre em Lisboa. Por incrível que pareça, dei por mim a deambular pelas ruas que o protagonista percorreu por Lisboa, a encontrar-me com as personagens com as quais se foi cruzando, talvez pela forma como escreveu, pelos diálogos corridos ao estilo saramaguiano, pelo sentido de humor sempre presente e que me arrancou vários sorrisos e fiquei de tal forma presa à história que me foi quase impossível largar o livro por um instante que fosse. Posso até dizer que este escritor revelou um portuguesismo mais português do que muitos escritores portugueses. As personagens com que se cruza, o drogado que lhe pede dinheiro; o cauteleiro coxo; a cigana que vende t-shirts Lacoste verdadeiras e sem serem verdadeiras (umas com autocolante e outras não, que cola no momento da escolha do freguês) e que lhe lê a sina; o guarda do cemitério; o chauffeur de táxi que, ao vê-lo a transpirar em bica, se oferece para lhe dar a sua camisa e que, estando há pouco tempo em Lisboa, pouco conhece as ruas, valendo-se, assim, dos conhecimentos do protagonista; a Isadora da pensão, que se oferece para lhe fazer companhia enquanto dorme; o Barman frustrado, porque em Portugal só bebem laranjada (e vinho) e ele que era especialista em cocktails; o vendedor de histórias, que, não vendo os seus livros aceites para publicação, vende histórias; o convidado, de que não é mencionado o nome, mas que reconheci como sendo Fernando Pessoa; o tocador de acordeão, que acompanha o protagonista e o convidado, tocando baixinho, enquanto eles conversam e tantas outras personagens que reconhecemos do nosso país! É realmente um “requiem” por tantas pessoas que foram marcando o nosso passado e que ficam para sempre na nossa memória.

A gastronomia portuguesa, mencionada em vários momentos da narrativa, culminando no restaurante pós-moderno, em Alcântara, da Mariazinha, que tirara um curso de literatura em Évora, com uma “nouvelle cuisine”, onde servem “sopinha Amor de Perdição”, “salada Fernão Mendes Pinto”, “cherne trágico-marítimo”, “linguado interseccionista”, “bacalhau de escárnio e maldizer”... 

Tudo começou com uma alucinação, quando o protagonista estava a ler O Livro do Desassossego de Bernardo Soares. E ler este livro foi um total desassossego. Gostei mesmo muito e só tenho pena de ter terminado tão rápido, pois queria deambular um pouco mais à conversa com Pessoa.

Garmus, Bonnie (2022). Lições de Química. Alfragide: Edições ASA.

Tradução: Elsa T. S. Vieira

Nº de páginas: 464

Início da leitura: 15/08/2022

Fim da leitura: 17/08/2022

SINOPSE

Elizabeth Zott não é uma mulher comum. Aliás, Elizabeth Zott seria a primeira a dizer que a mulher comum não existe. Mas estamos no início dos anos sessenta e a sua equipa de trabalho no Instituto de Pesquisa Hastings é exclusivamente masculina. Elizabeth pode ter sido uma das melhores alunas do curso de Química (foi), mas todos os colegas esperam que seja ela a ir buscar cafés ou fazer fotocópias (não será). Há, porém, uma exceção: Calvin Evans, um jovem brilhante que se apaixona por ela. Entre eles, a química é a sério.

Mas tal como na ciência, a vida nem sempre segue uma linha reta. Anos mais tarde, Elizabeth é mãe solteira e a estrela relutante do programa de culinária mais amado da América, o Jantar às Seis. A sua abordagem à cozinha é extravagante ("combine uma colher de sopa de ácido acético com uma pitada de cloreto de sódio") e revolucionária (mais do que apresentar receitas, ela está a incentivar um número crescente de mulheres a desafiar o mundo). A sua popularidade irrita muita gente.

Longe dos holofotes, Elizabeth também usa a ciência para alimentar o corpo irrequieto e a mente subversiva da filha de quatro anos, Madeline, bem como o espírito crítico de Seis e Meia, o cão. Mas o seu destino parece eternamente adiado. Conseguirá ela cumprir o que em tempos um grande amor profetizou num sussurro?

Elizabeth Zott, ainda vais mudar o mundo.

Que livro fantástico! Gostei do livro no seu todo: na forma como está escrito – linguagem fluída e com uns apontamentos de humor muito bem tirados, a história em si, que nos fala de assuntos realmente sérios, que, apesar de ainda não estarem totalmente extintos no século XXI, nos anos 60 eram mais acentuados: a desigualdade de género em relação à forma como a mulher deveria agir, vestir, falar, até à profissão exercida. Na altura, era impensável uma mulher dedicar-se à química, a ponto de a protagonista, na empresa para a qual trabalhava, nunca ser retratada como mulher perante os investidores, pois supunha-se que os investimentos cessariam logo. Outra questão prende-se com a forma como a mulher era abordada no emprego pelos seus superiores homens, que se impunham pelo sexo e pelo assédio. Outra temática, a religião, era impensável uma pessoa assumir-se como ateia (que é o caso da protagonista), sem ser imediatamente enxovalhada e julgada. As raízes familiares e o casamento eram instituições que se impunham como fundamentais, e, havendo filhos, estes eram logo relegados a meros filhos ilegítimos. Mostra ainda como as pessoas eram cruéis nos seus julgamentos.

Porém, este livro é genial também pelo facto de mostrar, através de Elizabeth Zott, a protagonista, que a mulher não tem de ceder, precisa impor-se nesta sociedade desinformada, acabando por chegar às pessoas através do seu amor pela química, do incentivo à luta pelos sonhos por parte das mulheres, mesmo que os maridos se oponham. Se querem ser médicas, cientistas e desenvolver as profissões designadas como de homens, só precisam de acreditar em si e lutar por isso, sem se deixarem prender pelos preconceitos.

As personagens são admiráveis: Elizabeth Zoot, a cientista; a filha Madeline, uma criança que lê desde muito nova, dotada de uma inteligência muito acima da média; o pai Calvin Evans, um cientista de renome, muito pouco atraente fisicamente, mas que partilha a verdadeira química do amor com Elizabeth; Harriet, uma vizinha que se torna numa preciosa amiga de Elizabeth, marcada por um matrimónio do qual não se consegue libertar devido à crença religiosa em relação ao matrimónio, ainda que o marido alcoólico lhe infernize a vida; o padre Wilson, que vai adquirir um papel importante na narrativa e o cão Seis e Meia, um cão muito esperto, que reconhece imensas palavras.

Sobre a história não falo, esperando que se deliciem como eu me deliciei. Aconselho sem reservas!

Gonzaga, Manuela (2014). Moçambique. Lisboa: Bertrand Editora.


Nº de páginas: 360

Início da leitura: 12/08/2022

Fim da leitura: 14/08/2022

 

**SINOPSE**

O que é que se tinha passado, e porquê? E porque é que tudo aconteceu como aconteceu?

Esse trabalho começou agora a ficar concluído, pois, à medida que ajudei a levantar as névoas que ocultam o passado aos olhos da minha mãe, pude afastar algumas névoas da minha ignorância. Mas, e acima de tudo, este relato é uma grande história de amor. A nossa, da mãe e minha, e a de todos, ou quase todos, os que por ali tiveram o privilégio de passar.

Uma inolvidável história de amor por Moçambique de que não queremos abrir mão, porque ninguém dispensa uma luz que, de tão forte, ainda continua a cobrir-nos de bênçãos.

Adoro a escrita de Manuela Gonzaga, flui de forma elegante, abordando temáticas historicamente bem fundamentadas, o que resulta de um árduo trabalho de pesquisa.

Neste livro, que Manuela quis dedicar à mãe, para esta “se lembrar como foi”, aborda, de forma autobiográfica a viagem com a família para Moçambique, a estadia em vários pontos de Moçambique e mesmo, no fim, em Angola, os momentos de estudo, o convívio com as amigas, a emancipação, os lugares – sobretudo as cidades, já tão desenvolvidas para a época, como Lourenço Marques, explicando o motivo da atribuição desta toponímia à cidade, de uma forma que nos dá vontade de ir para lá, mas naqueles tempos, porque nenhum deste locais será o que já foi. Eu, que vim de Angola, compreendo o que a narradora nos conta, reconheço formas de vida, dificuldades e, sobretudo, os excelentes momentos de convívio. Mas, claro, nem tudo foram rosas e a guerra é também um tema que não poderia deixar de estar presente, se bem que não se lhe dê o destaque que tornaria a obra mais dura e dramática.

Não foi um livro que li num ápice, pois, ao aflorarem-me memórias decorrentes da leitura, vi-me, muitas vezes, perdida nos meus próprios pensamentos, nas minhas memórias, a calcorrear a fazenda dos meus avós, com os meus amigos negros, a ir à praia com o meu pai, onde fazia uma pausa para beber uma Seven Up, os jantares em Luanda, com montes de família e amigos onde, no fim, fazíamos uma caminhada até à geladaria perto de uma rotunda, de que já não sei precisar o nome, que tinha todos os sabores de gelado inimagináveis. O cinema na praia, onde, por detrás do ecrã, o mar continuava a espreitar-nos, os banhos de mangueira no jardim, os fartos almoços de domingo em casa dos avós, a minha mãe a costurar calças para o meu pai poder prosseguir os estudos… Que momentos bons!

Só pelo facto de me ter transportado a esses momentos que guardo no coração, já valeu a pena ter lido este livro, que recomendo. Muito bem escrito!

Natário, Anabela (2017). Mulheres Fora de Lei. Porto Salvo: Editora Desassossego.

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 10/08/2022

Fim da leitura: 11/08/2022

**SINOPSE**

Cuidado com elas! São 23 mulheres, desde assassinas a vigaristas e gatunas. Uma desfez-se do marido, servindo-lhe um prato de arroz temperado com arsénio ao jantar. Outra, seguindo um plano mais elaborado, temperou um clister com a mesma intenção. Uma terceira ia buscar crianças para adotar e desfazia-se delas, asfixiando-as com uma tira de pano.

Menos violentas, mas não menos criminosas, são as larápias de mão leve, algumas verdadeiras figuras públicas, cujas aventuras nos dão a conhecer o Portugal de outros tempos. Mulheres Fora da Lei convida-nos a viajar pela vida das maiores criminosas dos últimos três séculos. E só o facto de já estarem todas enterradas no passado nos deixa alguma tranquilidade.

Este livro resulta da compilação pela editora Desassossego de 23 histórias, que foram inicialmente publicadas no jornal Expresso. São histórias reais, biográficas, de mulheres portuguesas criminosas, dos séculos XVIII, XIX e início do século XX.

Quantas vezes ouvimos dizer “esta nova geração está perdida”, “antigamente não havia crimes tão hediondos”. Quem ler este livro, aperceber-se-á precisamente do contrário.  Criminosos e criminosas sempre existiram e devo dizer que com laivos de grande loucura e muita violência. Também é interessante perceber que o nosso sistema judicial se revelou sempre bastante eficiente, se bem que na altura não houvesse a facilidade que hoje existe em descobrir certos crimes, por exemplos as análises forenses de casos por envenenamentos, o que dificultava o desvendamento de determinados crimes.

Gostei bastante deste livro, que revela uma exaustiva pesquisa nos arquivos criminais e nos apresenta 23 mulheres rebeldes, com condutas reprováveis, presas por homicídio, furto, prostituição…

A escrita é cuidada e adequada às histórias narradas.

Recomendo a leitura.

Colgan, Jenny (2022). A Pequena Livraria dos Recomeços. Porto Salvo: Edições Chá das Cinco.

Tradução: Neuza da Silva Faustino

Nº de páginas: 416

Início da leitura: 08/08/2022

Fim da leitura: 10/08/2022

**SINOPSE**

Nas Terras Altas, há uma pequena livraria à sua espera…

Zoe e o seu filho necessitam desesperadamente de uma mudança. Ela quer deixar Londres e construir uma nova vida. Entre o minúsculo estúdio que mal pode pagar e as buzinas que os mantêm acordados, Zoe sente que está prestes a enlouquecer.

Num impulso, ela aceita um emprego nas Terras Altas. A função exige alguém capaz de cuidar de três «crianças dotadas», duas das quais se comportam como pequenos animais selvagens. O pai está de rastos, e os filhos correm livremente pelo enorme castelo em ruínas nas margens de um lago repleto de urzes.

Com a ajuda de Nina, a simpática livreira local, Zoe começa a criar raízes na comunidade. Serão os livros, o ar fresco e a bondade suficientes para curar uma família destruída?


Já tinha lido A Livraria dos Finais Felizes da mesma autora, por isso, ao ver este livro, pensei que não poderia mesmo deixar de o ler.

E temos Nina de regresso, na sua biblioteca itinerante, uma carrinha antiga que foi adaptada como biblioteca. Porém, este é um livro que pode ser lido mesmo por quem não leu o anterior, uma vez que Nina deixa de ser a protagonista e, desta vez, é Zoe e o filho que ganham um papel relevante. Zoe é mãe solteira de Hari e passa por momentos de graves dificuldades financeiras, para além de o filho de quatro anos sofrer de mutismo seletivo. O pai era um jovem que tivera tudo e que não sabe lidar com as responsabilidades, muito menos em relação ao filho.

Zoe acaba por viajar com o filho para a Escócia, para, como ama, tomar conta de três crianças problemáticas, que vivem apenas com o pai. E, ao mesmo tempo, auxiliar Nina com a livraria, enquanto esta fica internada com uma gravidez de risco.

A partir daqui começa a aventura de Zoe em casa de Ramsay e das suas crianças, numa tentativa hercúlea para os educar minimamente.

E mais não conto, para não entrar em pormenores.

Jenny Colgan escreve de forma simples e revela um grande sentido de humor na condução da narrativa.

Confesso que gostei mais do livro anterior, se bem que este, mais para o final, me tenha surpreendido pela positiva, com a introdução de algum suspense e da temática da saúde mental, que veio dar mais dinâmica à narrativa.

Gostaria que a narrativa não tivesse fugido tanto à questão da livraria e dos livros.

Burdick, Serena (2020). Meninas Sem Nome. Alfragide: Edições ASA II.

Tradução: Joana Koehler

Nº de páginas: 384

Início da leitura: 06/08/2022

Fim da leitura: 07/08/2022

SINOPSE

Effie e Luella Tildon são duas irmãs privilegiadas e pouco habituadas à dureza das ruas de Nova Iorque. Mas perto da mansão da família, ergue-se a sombria House of Mercy, o lar austero onde as raparigas rebeldes da cidade são internadas. As irmãs crescem sem nunca se esquecerem de que nada - nem mesmo uma fortuna como a delas - lhes dará a liberdade de quebrarem as regras.

Effie nasceu no dia 1 de janeiro de 1900 com um coração imperfeito, um problema que deveria ter-lhe custado a vida na infância. No entanto, aos 13 anos, é uma menina cheia de imaginação e força de vontade, surpreendendo todos com o seu coração que teima em bater. A irmã mais velha, Luella, é bailarina como a mãe e sonha com uma vida diferente e menos convencional.

Quando as irmãs descobrem um segredo chocante sobre o pai, a ânsia de liberdade de Luella intensifica-se e a jovem torna-se cada vez mais ousada. Mas a sua rebeldia tem consequências e um dia ela desaparece misteriosamente. Destroçada, Effie traça um plano para resgatar a irmã, que acredita ter sido enviada para a House of Mercy por ordem do pai. Uma vez lá dentro, o que descobre deixa-a desesperada. Agora, fugir é impossível, e Effie necessitará de toda a sua força e coragem para sobreviver, pondo o coração e a esperança à prova.

Meninas Sem Nome dá vida a uma Nova Iorque no início do século XX, uma cidade prodigiosa em que as sufragistas marchavam nas ruas, os trabalhadores lutavam por melhores condições - mas a rebeldia das mais jovens era punida com a prisão na House of Mercy.

Gostei muito deste romance que é um drama familiar.

Tudo começa com uma família, com duas filhas, Luella – uma jovem corajosa e decidida e Effie, uma menina de 13 anos, doente e que vai contrariando os prognósticos iniciais, relativamente ao tempo que haviam previsto para a sua morte. Filhas de uma família abastada, mas infeliz, procuram, em todos os momentos em que conseguem escapar, um pouco de felicidade, num acampamento cigano. Temem ser apanhadas pelos pais e serem, como era hábito a raparigas que mostravam comportamentos reprovadores, enviadas para uma casa para mulheres desamparadas e “perdidas”, em Manhattan, a House os Merci. Curiosamente, esta casa existiu e encarcerava as mulheres, que eram submetidas a trabalhos forçados e isoladas numa cave à mínima infração.

Quando Luella e Effie surpreendem o pai a beijar uma mulher, traindo assim a mãe, Luella reage mal e acaba por fugir com um rapaz do acampamento que frequentavam. Os pais dizem a Effie que ela fora para um campo de férias. Porém, Effie sabe que a sua irmã nunca iria de livre vontade para um campo de férias e, como os pais já a tinham ameaçado, que a colocavam no reformatório para jovens, resolve ir atrás dela e acaba por entrar na instituição com um nome falso. Mas não será fácil sair de lá, quando se apercebe que a irmã não se encontra onde supunha. Afinal, mesmo que os pais a procurem, o nome que deu não é o dela...

A partir daqui a vida de Effie muda completamente.

Entretanto, cruzam-se outras histórias, da infância da mãe, de Edna e Mable, que conhece na House os Merci. É interessante o facto de a narrativa ser conduzida alternadamente por Effie, a mãe e a amiga Mable, o que nos permite recolher mais informações e formas de ver/compreender os acontecimentos.

Gostei muito de toda a história, da força narrativa e do ritmo que me prendeu do início ao fim. Aconselho!

Halfon, Eduardo (2021). Luto. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Tradução: José Teixeira de Aguilar

Nº de páginas: 112

Início da leitura: 05/08/2022

Fim da leitura: 05/08/2022

**SINOPSE**

Prémio do Melhor Livro Estrangeiro (França)

Prémio Edward Lewis Wallant (EUA)

Prémio Internacional do Livro Latino (EUA)

Prémio das Livrarias de Navarra (Espanha)

Halfon viaja até à velha casa dos avós, nas margens do lago de Amatitlán, onde em criança costumava passar os fins de semana antes de a família se transferir para a Florida, devido à violenta situação política vivida na Guatemala em princípios da década de 1980. A partir do momento em que pisa o Amatitlán, tudo aquilo que o cerca desencadeia um turbilhão de memórias de infância — algumas ligadas à sua infância na Guatemala, outras dos primeiros anos passados nos Estados Unidos.

Em subtis, mas magistrais pinceladas, as recordações de Halfon vão-se conjugando aos poucos para desvendar segredos familiares profundos: a história de Salomón ou, talvez mais rigorosamente, a ausência dessa história, uma vez que ninguém na família falava abertamente dele. E aos poucos começamos a ver as informações dispersas que Halfon conseguiu reunir em criança.

Com Luto, traduzido por José Teixeira de Aguilar, Eduardo Halfon regressa ao universo que tem vindo a construir há anos em torno da personagem chamada Eduardo Halfon — que pode ou não ser o autor — e da história da sua família. Desta feita, centra-se no lado paterno da família: emigrantes judeus libaneses que se radicaram nos Estados Unidos e na Guatemala.

Este é um livro pequeno, mas bastante intenso, se bem que, no meu entender, a história pudesse ter sido mais desenvolvida pelo autor.

O narrador regressa a casa dos avós e às margens do rio Amatitlán, onde terá passado longos tempos nas suas férias, durante a infância. Este rio esconde segredos de família e a forma como é recordado pelo narrador prende-se com as memórias que foi guardando e explicações que foi formando para a estranha morte de um tio seu, Salomón, com apenas 5 anos. Ninguém falara mais do assunto, a família nunca mais relembrara Salomón, mas na memória do narrador ficou bem vincada uma trágica morte por afogamento no rio. Mas como a memória da infância é traída pela imensa criatividade que marca essa época, o narrador resolve procurar informações mais precisas e completas sobre o que de facto sucedeu. E enquanto investiga sobre o irmão do pai, vai-se construindo um jogo de memórias soltas, que se espelham entre a realidade e a imaginação que estiveram na base da criação de memórias. E o que é, de facto real? O que é fruto da imaginação? Para responder a estas questões e perceber o que sucedeu realmente ao tio do narrador, aconselho a leitura.

Uma vez que a narrativa não se constrói por capítulos e vão-se alternando várias épocas temporais, aconselho ume leitura atenta.

Craven, M. W. (2022). O Curador. Lisboa: Topseller.

Tradução: Pedro Póvoa

Nº de páginas: 400

Início da leitura: 03/08/2022

Fim da leitura: 04/08/2022

SINOPSE

É Natal. Um assassino em série expõe partes das suas vítimas por todo o condado de Cúmbria, deixando no local do crime sempre a mesma estranha inscrição: #BSC6.

Chamados para investigar, o inspetor Washington Poe e a analista de dados Tilly Bradshaw enfrentam um caso que não faz sentido. Por que razão algumas vítimas foram anestesiadas, enquanto outras morreram em terrível agonia? Porque é que, apesar das provas irrefutáveis, o único suspeito nega tudo, mas, ao mesmo tempo, admite coisas das quais nem os investigadores tinham conhecimento? E como explicar que todas as vítimas tenham tirado as mesmas duas semanas de férias três anos antes?

A investigação ganha contornos mais sombrios quando Melody Lee, uma agente do FBI caída em desgraça, entra em contacto com Poe. Ela não acredita que estejam a lidar com um assassino em série; ela crê que estão a perseguir alguém muito, muito pior: um homem que se autodenomina Curador.

Gosto muito dos livros de Craven, da forma como conduz a narrativa, dos inspetores Tilly e Poe, do fator surpresa e capítulos breves que nos mantêm irremediavelmente presos até ao fim.

Ainda assim, gostei mais dos dois livros anteriores. Depois de uma parte inicial arrebatadora, a ação fica um pouco presa à descrição e investigação de um papagaio que terá sido utilizado para um dos crimes. Por fim, retoma a força narrativa, o suspense e o ritmo a que o autor já nos habituou.

Depois, é sempre agradável ler os agradecimentos do autor, que comprovam o seu peculiar sentido de humor, que vai transparecendo na narrativa.

Aconselho aos amantes de um bom thriller.

Silva, Ana Cristina (2011). Cartas Vermelhas. Alfragide: Oficina do Livro.

Nº de páginas: 272

Início da leitura: 01/08/2022

Fim da leitura: 02/08/2022

**SINOPSE**

Plano Nacional de Leitura

Livro recomendado para a Formação de Adultos, como sugestão de leitura.

Nascida em Cabo Verde de família branca e abastada, Carol nunca se resignou à miséria das ilhas. E, movida pelo sonho de construir uma sociedade mais justa, ingressou ainda jovem no Partido Comunista. Não se importando de usar a beleza como arma ideológica, abraçou a luta revolucionária, apaixonou-se por um camarada e ficou grávida pouco antes de ser presa. Foi a sua mãe quem tratou de Helena nos primeiros tempos, mas, depois de libertada, Carol levou-a para Moscovo, onde trabalhou nas mais altas esferas do Comintern. Aí, o contacto com as purgas estalinistas não chegou para abalar as suas convicções, mas o clima de denúncia e traição catapultou-a para o cenário da Guerra Civil espanhola, obrigando-a a deixar Helena para trás; e, apesar de ter escapado aos fuzilamentos franquistas, a eclosão da Segunda Guerra Mundial impediu Carol de voltar à União Soviética para ir buscar a criança. Será apenas vinte anos mais tarde que mãe e filha se reencontrarão em Berlim; mas a frieza e o ressentimento de Helena farão com que, na viagem de regresso a Lisboa, Carol decida escrever um romance autobiográfico com o qual a filha possa, se não lhe perdoar, pelo menos compreender as circunstâncias do abandono, a clandestinidade, a prisão, a guerra, a espionagem e o inconcebível casamento com um inspetor da polícia política. Inspirado na vida de Carolina Loff da Fonseca, este romance extremamente empolgante vai muito além dos factos, confirmando Ana Cristina Silva como uma das mais dotadas autoras de romance psicológico em Portugal.

Esta é uma história ficcionada a partir de factos reais da vida de Carolina Loft, protagonista deste romance. Resultou de pesquisas da autora, que serviram de ponto de partida para este livro de ficção.

Numa escrita elegante e cuidada, Ana Cristina Silva conta-nos a vida de Carol, que, desde muito cedo, ainda em Cabo Verde, onde passou a sua infância, se apercebe de que os seus sonhos são mais altos e não quer viver reduzida à miséria das ilhas, onde o povo “não era formado por gente, mas por silhuetas famintas que se moviam lentamente.”

Carol vê-se obrigada a crescer com a morte da irmã, pois foi graças a ela e à sua força de vontade e apoio, que a mãe conseguiu sobreviver, “como se estivesse na sua mão reparar o luto da mãe”. Com 12 anos “via-se a viver num tempo de mudanças, em que invariavelmente assumia o papel de heroína”. Nunca cruzou os braços. Começou por procurar apoio na Igreja, que acaba por dececioná-la. Passa a interessar-se pela literatura, contactando com Zola, Vítor Hugo e Balzac, “que exaltavam a necessidade de terminar com servidões injustas e evitar misérias desnecessárias…”

Viaja para Lisboa, para prosseguir os seus estudos. Aí abraça a causa comunista, lendo Marx e Lenine, o que lhe permite subir hierarquicamente na hierarquia. Envolve-se amorosamente com um camarada. Engravida e dessa relação nasce Helena, uma filha que acaba por abandonar com apenas 4 anos, em Moscovo, quando se vê envolvida na Guerra Civil Espanhola. Quando pensa regressar para ir buscar a filha, vê-se impedida de o fazer devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Ainda que bem escrito, reconheço que não entendi nem concordo com algumas das decisões da protagonista.

E mais não conto, se bem que a sinopse nos diga tudo. Recomendo a leitura!

Mãe, Valter Hugo (2020). A Desumanização. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 248

Início da Leitura: 29/07/2022

Fim da Leitura: 31/07/2022

 

**SINOPSE**

“Mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para o secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.”

Desumanização

Passado nos recônditos fiordes islandeses, este romance é a voz de uma menina diferente que nos conta o que sobra depois de perder a irmã gémea. Um livro de profunda delicadeza em que a disciplina da tristeza não impede uma certa redenção e o permanente assombro da beleza.

Não sendo um livro fácil, é um livro completo. Um livro de um lirismo pungente, dolorosamente belo, escrito de forma fenomenal, tão ao jeito de Valter Hugo Mãe, que nos fala da dor da perda, que conduz à morte, à inveja, à dor, à atrocidade...

A narradora, Halldora, é uma criança de 12 anos, que vive nos fiordes da Islândia e que é constantemente confrontada com a perda umbilical da sua irmã gémea, Sigridur. Esta morte vem dominar toda a família, despedaçá-la.

Do pai, que foi sempre o seu maior companheiro, um poeta que vai mediando a relação desta com a mãe, pouco resta.

Da mãe, ficou um ser insano, agressivo e que vai massacrando a filha de forma totalmente desumana. Afinal, até onde pode ir uma mãe que perde um filho? “Quem sepulta um filho não tem idade”.

De Halldora, restou um coração que deseja arrancar do peito para “secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas”. Halldora sente uma profunda relação com a terra, a mesma em que está enterrada a irmã, porque ela é “a metade menos morta da criança plantada” e “A terra estava infestada de seres matadores, invejosos, gulosos da felicidade dos outros”. “A morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.”

Deixo algumas passagens verdadeiramente surpreendentes, para além das que já fui referindo:

“Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia…”

“Pensava que os livros eram animais de barriga imensa para onde caíam os leitores, puxados por textos inquinados, maquiavélicos, feitos de malícias, maldades, mentiras, deturpações, transformações do que era certo em condutas erradas. Os livros tinham presas e dentes afiados e comiam gulosamente as pessoas. Não ler, era como fechar os olhos, fechar os ouvidos, perder sentidos. As pessoas que não liam não tinham sentidos. Andavam como sem ver, sem ouvir, sem falar. Não sabiam sequer o sabor das batatas. Só os livros explicavam tudo. As pessoas que não leem apagam-se do mapa de deus.”

E um excerto da nota do autor: "Quando nasci já o meu irmão Casimiro havia falecido. Durante a infância imaginava-o à minha imagem, um menino crescendo como eu, capaz de conversar comigo partilhando os mesmos interesses. Sabia embora, que estava deitado sob a terra, e pensava que a palavra coração era da família da palavra caroço, uma semente. Achava que os meninos mortos faziam nascer pessegueiros porque os pêssegos tinham pele. O primeiro pêssego que comi foi em idade adulta."

Aconselho vivamente!

Martin, Madeline (2022). A Última Livraria de Londres. Lisboa: Topseller.

Tradução: José João Leiria

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 27/07/2022

Fim da leitura: 29/07/2022

 

**SINOPSE**

Uma cidade reprimida pelo medo, dilacerada pela guerra e reunida pelo poder dos livros.
agosto de 1939: à medida que as forças de Hitler se espalham pela Europa, Londres prepara-se para a guerra.

Grace Bennett sempre sonhara em mudar-se para a cidade, mas os abrigos e os blackouts obrigatórios que encontra à chegada nada têm que ver com o charme cosmopolita que idealizara. Além de que Grace sempre se imaginara a trabalhar num dos chiques armazéns de moda de Londres e não numa pequena e estranha livraria no coração da cidade.

A guerra, por fim, abate-se sobre Londres, provocando uma das suas maiores tragédias: noite após noite, as esquadrilhas de aviões da «guerra-relâmpago» alemã bombardeiam a cidade, arrasando-a impiedosamente. Sobrevivendo ao caos e à destruição, Grace resiste na livraria, descobrindo no poder das palavras uma força capaz de triunfar sobre as noites mais negras.

Uma homenagem ao poder da literatura, inspirada nas poucas livrarias londrinas que sobreviveram ao Blitz.

Quando a ficção se alia a acontecimentos históricos e quando, no meio de tudo isto, se fala de livros, ficamos imediatamente rendidos.

Grace, a protagonista, vai para Londres com a melhor amiga, Viv, à espera de arranjar emprego em chiques armazéns de moda, mas não traz carta de recomendação, o que, principalmente na época em que decorre a ação, 1939, era imprescindível.

Acaba por pedir emprego numa livraria antiga e caótica, onde procura provar ao dono, o Sr. Evans, um homem de idade e com cara de poucos amigos, que merece a oportunidade que lhe é dada. Desconhecendo os meandros das livrarias e dos próprios livros, que não lia, Grace começa por tentar organizar minimamente os livros espalhados pelo chão, ainda que com parcos conhecimentos. Resolve investigar outras livrarias para perceber como se organizavam, mas faltava-lhe a leitura para que pudesse recomendar livros aos clientes. Ainda assim é persistente e está decidida a superar as suas falhas.

Acaba por conhecer George Anderson, que marca um encontro com ela. Porém, no dia do encontro, George não comparece, porque, tendo-se oferecido como voluntário para a Força Aérea, acabara por ser convocado. Deixa um presente a Grace: o Conde de Monte Cristo. Uma profunda tristeza toma conta do seu coração. Conseguirá Grace ultrapassar esta contrariedade da vida? Seguirá o conselho de ler o livro que ele lhe deixou? Conseguirá George sobreviver à guerra? E quando a guerra se abate sobre Londres, com bombardeamentos que destroem a cidade, o que sucederá à livraria e a Grace?

Gostei, porém, esperava uma maior força narrativa, pelo menos nas descrições mais históricas. É um romance leve, apesar da temática.

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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