Tudor, C.J. (2018). O Homem de Giz. Lisboa: Planeta Manuscrito.
Tradução: Victor Antunes
Nº de páginas: 320
Início da leitura - 23/01/2024
Fim da leitura - 26/01/2024
** SINOPSE**
"Toda a gente tem segredos...
Tudo aconteceu há trinta anos, e Eddie convenceu-se de que o passado tinha ficado para trás. Até ao dia em que recebeu uma carta que continha apenas duas coisas: um pedaço de giz e o desenho de uma figura em traços rígidos. À medida que a história se vai repetindo, Eddie vai percebendo que o jogo nunca terminou.
Um mistério em torno de um jogo de infância que enveredou por um caminho perigoso.
Um livro diferente dentro do género thriller, uma vez que combina o psicológico com um toque de Stephen King e umas pinceladas de Irvine Welsh."
Este é um thriller bastante empolgante, que nos conta uma história, passada entre dois momentos (passado- 1986/presente- 2016), narrada pelo protagonista, Eddie, pelo qual sentimos alguma empatia, especialmente pela criança vítima de Bullying, mas também pelo homem estranho em que se torna e que, desde o início, percebemos que esconde algo por detrás da sua maneira de ser sombria, um professor antissocial que se refugia da bebida.
Não vou contar mais, uma vez que a sinopse dá conta dos aspetos fundamentais para perceberem se é o género de leitura por que optariam. Apenas refiro que o giz tem um papel crucial na vida desta personagem (e não apenas enquanto professor). Se apreciam o género, aconselho a leitura. Sem ser extraordinário, lê-se muito bem e entretém.
Thirault, Philippe (2021). Shanghai Dream - Edição Integral. Estoril: Arte de Autor.
Tradução: Sandra Alvarez
Nº de páginas:120
Início da leitura: 21/01/2024
Fim da leitura: 22/01/2024
**SINOPSE**
"Berlim, 1938. Bernhard e Illo, um jovem casal apaixonado um pelo outro e pelo cinema, sonham em conseguir filmar a comédia romântica que Illo escreveu... mas com o aproximar da Segunda Guerra Mundial, o tempo não está para comédias românticas, muito menos escritas por judeus. Perante o clima de perseguição anti-semita instalado, ao casal só lhe resta fugir do nazismo e abandonar a sua casa, partindo para o exílio. Conseguem embarcar num navio com destino a Xangai - uma cidade efervescente e enigmática onde imaginam poder recuperar a liberdade... mas a que custo?
Um drama profundamente humano, ambientado na II Guerra Mundial, que aborda o tema quase desconhecido da imigração forçada dos judeus para a China e assinala a estreia no nosso país do trabalho do desenhador português Jorge Miguel para o mercado franco-belga.
A edição de Shanghai Dream é a primeira colaboração entre duas das principais editoras de banda desenhada portuguesas, A Seita e a Arte de Autor, que pretendem desta feita trazer aos leitores portugueses a obra de um dos principais autores de BD nacionais, que os leitores portugueses ainda não conhecem. A edição portuguesa desta obra reúne os dois álbuns originais, num volume de 120 pgs. em formato franco-belga, que para além da história completa inclui também um conjunto adicional de extras inéditos."
Uma excelente novela gráfica! Bernhard é um conceituado realizador de cinema, em Berlim, na década de 30. Illo é uma guionista judia, proibida, há 4 anos de trabalhar. Os dois são um casal que poderia ser muito promissor, não fosse a II Guerra Mundial. O guião de Illo é rejeitado, Bernhard despedido. Veem-se obrigados a viver em casa do pai dela. Mas a guerra veio para destruir os seus sonhos. Uma luz ao fundo do túnel surge quando lhes contam sobre Xangai, a "Hollywood do Extremo Oriente". Porém, para além de ser muito longe, de ser uma viagem perigosa, o pai de Illo diz-lhes que só há dois bilhetes, não há dinheiro para mais. É a oportunidade da filha e do genro se salvarem. Embarcam, mas o coração de Illo fica destroçado, não se sente bem por abandonar o pai e volta atrás. Bernhard vê-se obrigado a seguir sozinho. Mas será ele capaz de concretizar o sonho deles sozinho? O que lhe reserva Xangai? Voltará a encontrar o grande amor da sua vida?
As ilustrações estão muito bem feitas, conseguimos sentir as emoções das personagens, a dor, os gritos, o medo, a ternura...
Recomendo vivamente a leitura!
Lundberg, Sofia (2021). Um ponto de interrogação é um coração partido. Lisboa: Porto Editora.
Tradução: Inês Fraga
Nº de páginas: 312
Início da leitura: 20/01/2024
Fim da leitura: 21/01/2024
** SINOPSE**
Elin Boals parece ter a vida ideal: é uma bem-sucedida fotógrafa de moda em Nova Iorque e tem a família perfeita, composta por um marido maravilhoso, Sam, e a filha de dezasseis anos, Alice. Porém, quando Elin recebe um mapa celeste enviado por Fredrik, o seu único amigo de infância, esse simples gesto impede-a de se concentrar na resolução de problemas mais prementes: o seu casamento está à beira do fim e ela não consegue sequer arranjar disponibilidade para a terapia de casal.
Neste difícil contexto, Fredrik é a lembrança viva de um passado que Elin fez tudo para esquecer e ocultar, principalmente dos que lhe são mais próximos. As memórias da vida difícil em Gotland, na Suécia, e de todos quantos ela deixou para trás voltam à tona, juntamente com a revelação do terrível segredo que determinou a sua fuga, aprofundando ainda mais o fosso entre ela e a família. Todavia, ao fim de décadas mergulhada na mentira, Elin acaba por compreender que a única maneira de salvar a existência que construiu é reconciliando-se com o passado.
Criei grandes expetativas em relação à leitura deste livro, pelo facto de ser da autora de A Agenda Vermelha, que adorei, pela própria capa e, especialmente, pelo título, tão criativo.
Nesta narrativa, duas histórias vão intercalando: o presente, em Nova Iorque, onde a protagonista, Elin, tem uma vida de sonho, é uma fotógrafa conceituada e tem um marido que a ama e uma filha, Alice, uma jovem e promissora bailarina. E o passado, em Gotland, onde é narrada a infância da protagonista, não tão perfeita e sonhada quanto o presente. E é enorme a diferença entre a Elin do passado e a Elin do presente. O que poderá ter vivido esta personagem para a transformar desta maneira? Há um passado a enfrentar, que pode alterar o presente e que será determinante em relação ao futuro. É um livro muito bem escrito, que nos desperta emoções, nos leva até às vivências das personagens.
Apesar de ter gostado mais do livro anterior, gostei muito deste livro e recomendo a sua leitura.
Jónasson, Ragnar; Jakobsdottir, Katrin (2023). Reiquiavique. Lisboa: Topseller.
Tradução: Maria da Fé Peres
Nº de páginas: 304
Início da leitura: 18/01/2024
Fim da leitura: 20/01/2024
**SINOPSE**
"Uma ilha remota.
Uma rapariga desaparecida.
Uma cidade que esconde os seus segredos.
Islândia, 1956. Lára, de 15 anos, passa o verão a trabalhar para um casal na pequena ilha de Videy, perto da costa de Reiquiavique. No início de agosto, a rapariga desaparece sem deixar rasto. O mistério torna-se o maior caso não resolvido da Islândia. O que aconteceu com a jovem? Estará ainda viva? Terá saído da ilha ou aconteceu-lhe, porventura, alguma coisa?
Trinta anos depois, em agosto de 1986, aquando do 200.º aniversário de Reiquiavique, o jornalista Valur Robertsson inicia a sua própria investigação sobre o caso. Mas conforme se aproxima da verdade, e com os olhos da cidade postos nele, torna-se claro que existe alguém interessado em que o desaparecimento de Lára permaneça um mistério sem solução..."
Gostei muito de ler este livro, de leitura compulsiva, repleto de ação e de "suspense". Duas personagens que parecem nada ter a ver uma com a outra. Uma, Lára, é uma jovem que vai trabalhar para uma casa, numa pequena ilha perto de Reiquiavique. Entretanto, desaparece e nunca mais se sabe nada sobre o seu desaparecimento. Em 1986, um jornalista, Valur Robertsson, deicde começar a investigar o caso. Porém, "acidentalmente" cai em direção a um autocarro em andamento. Quem poderia estar por detrás deste acidente? A irmã e Valur começa, ela própria, uma investigação sobre a morte o irmão, tentando perceber se, de alguma forma, este crime estava ligado ao do passado. Para saberem, terão mesmo de ler. Surpreender-se-ão com toda a investigação e o rumo que os acontecimentos tomam. Muito bom!
Etcheves, Florencia (2023). A Cozinheira de Frida. Lisboa: Planeta dos Livros.
Tradução: Alex Tarradellas e Rita CustódioNº de páginas: 504
Início da leitura: 12/01/2024
Fim da leitura: 17/01/2024
**SINOPSE**
Nayeli, uma jovem tehuana, fugiu de casa e chega à Cidade do México sem rumo. Graças aos seus maravilhosos dotes culinários, encontra um lugar na Casa Azul, onde Frida Kahlo vive praticamente isolada desde o acidente fatal que a deixou paralisada.
Entre sabores, aromas e cores, a pintora e a sua nova cozinheira iniciam uma amizade que marca profundamente o destino de ambas.
Muitos anos depois, em Buenos Aires, onde Nayeli se instalou e constituiu família após a morte de Frida, a neta descobre um segredo que pode mudar a sua vida: a existência de um misterioso quadro em que a avó é a protagonista, mas cujo autor é desconhecido.
A autora Florencia Etcheves conseguiu recriar o lado mais humano de Frida Kahlo, ao mesmo tempo que criou um romance poderoso, onde intrigas, amores e invejas tecem uma história cativante de amizade e lealdade entre duas mulheres unidas pelo destino.
Adoro ler sobre Frida Kahlo. A autora deste livro, apesar de ter criado uma personagem ficcional - a crozinheira Nayeli, envolveu-a num contexto histórico muito bem fundamentado sobre Frida. É uma história bem escrita, que nos prende e nos leva a querer continuar a ler "só mais uma página" até concluirmos o romance. Acompanhamos o percurso de vida da pintora, amor, traição, dor e, ao mesmo tempo, vemos uma Frida que, fragilizada no momento em que sofre o terrível acidente que a deixou muito mal, cria uma relação de amizade com Nayeli, uma jovem recém chegada ao México.
A par desta narrativa que decorre na época da Casa Azul, temos uma época mais avançada, onde conhecemos neta de Nayeli, que descobrira um quadro antigo onde aparecia, um retrato da sua avó, onde esta aparecia nua. Determinada a obter respostas sobre o passado da avó, viaja até à cidade do México no encalce de pistas que permitam entender quem era a avó, que relação efetiva tivera com Frida, quem a tinha pintado...
Depois, saliento todos os elementos tradicionais tehuanos que vão surgindo e que enriquecem a história. Recomendo!
Munuera, José-Luis (2023). Bartleby, o Escriturário Uma história de Wall Street. Arte de Autor.
Tradução: Jorge Colaço
Nº de páginas: 72
Início da leitura: 08/01/2024
Fim da leitura: 11/01/2024
**SINOPSE**
"Nova Iorque, distrito de Wall Street.
Um jovem é contratado para um escritório de notário. o seu nome é Bartleby e o seu trabalho consiste em copiar documentos legais.
No início, Bartleby revela-se irrepreensível. Consciente, eficiente, incansável, faz um trabalho colossal, dia e noite, sem nunca se queixar. a sua energia é contagiante. Leva os seus colegas, muitas vezes rebeldes, a darem o seu melhor.
Um dia, tudo se altera. Quando o patrão lhe dá um trabalho, Bartleby recusa-se a fazê-lo. Educadamente, mas com firmeza: "Prefiro não o fazer", responde.
A partir de então, Bartleby deixará de obedecer a ordens, cingindo-se nestas poucas palavras que pronuncia como um mantra. Prefiro não. Não só deixa de trabalhar, como se recusa a abandonar o local...
José Luis Munuera pega no conto de Herman Melville e adapta-o de forma magistral, lançando um olhar original sobre este texto, uma reflexão estimulante sobre a obediência e a resistência passiva."
Esta novela gráfica é recuperada por Munuera de um conto de Herman Melville, autor de Moby Dick e posso já adiantar que adorei!
Em Wall Street, um advogado de meia idade, também narrador da história, mantém um escritório (“o notariado, a cobrança de títulos e transcrições e cópia de documentos de toda a espécie” ), que, ao precisar de contratar um copista, acaba contratando Bartleby, o escriturário, protagonista desta história. Este revela-se muito eficiente, não largando o trabalho por nada (dorme num cadeirão no escritório sem que o patrão saiba), correndo tudo muito bem até ao momento em que o patrão lhe pede para rever e examinar a sua cópia e ele responde "Preferia não o fazer." A partir desta recusa, queremos conhecer melhor esta personagem que desobedece ao patrão e tentar perceber o que o leva a agir desta forma tão estranha e pela qual não esperávamos, absolutamente. E a expetativa acompanha-nos, ao longo de várias páginas, numa banda desenhada muito bem ilustrada e escrita, cujos tons escuros e sombrios representam na perfeição Wall Street, condicentes com a própria metáfora da alienação, da descrença e da apatia representadas através do sombrio protagonista.
Uma novela gráfica imperdível e que dificilmente esquecemos!
Olafsdóttir, Audur Ava (2019). Hotel Silêncio. Lisboa: Quetzal Editores.
Tradução: José Vieira Lima
Nº de páginas: 200
Início da leitura: 06/01/2024
Fim da leitura: 07/01/2024
**SINOPSE**
"Jónas Ebeneser está no limiar dos quarenta e nove anos. É um homem divorciado, heterossexual, sem relevância social ou vida sexual. E tem a compulsão de consertar tudo o que lhe aparece à frente. Tomou recentemente conhecimento de que não é o pai biológico da sua filha. Isso despedaça-o e fá-lo mergulhar numa crise profunda.
Com grande mestria, num estilo poético e finamente irónico, Ólafsdóttir mostra neste romance a capacidade de autorregeneração de um homem que redescobre um sentido para a vida através da bondade, mesmo que o faça a partir das profundezas do desespero.
Ör («cicatriz», no original) foi galardoado em 2016 com o Prémio de Literatura Islandesa, o Prémio de Melhor Romance Islandês e o Prémio dos Livreiros Islandeses."
Após um casamento fracassado, a confissão por parte da mãe da sua filha de que não é ele o pai biológico, de ter a mãe num lar, em que poucos são os momentos em que está plenamente consciente, Jónas Ebeneser decide pôr termo à vida. O plano dele é fazer um furo no teto para se poder enforcar. Porém, onde vive, tem o vizinho atento, a filha que aparece sem avisar e acaba por mudar de planos. Precisa viajar para longe para, não conhecendo ninguém, não impor aos que lhe são mais próximos, lidar com o seu cenário de morte. E é isso que faz. Mas o hotel onde se instala, o Hotel Silêncio, vai operar nele algumas transformações, de que não vou falar, pois não quero que percam o interesse pela leitura. Se querem saber se Jónas se suicida e como o faz, terão mesmo de ler.
Gostei muito deste livro. A escrita é simples, sem deixar de ser cuidada. É, em alguns momentos em que descreve o pós-guerra, crua, direta e incisiva. A narrativa prende-nos e surpreende-nos a cada passagem. Recomendo!
Tolstoi, Lev e Brénaudr, Frédéric (2023). Guerra e Paz I e Guerra e Paz II. Lisboa: Editora Levoir.
Tradução: Sandra Alvarez
Nº de páginas: volume I - 64
volume II - 64
**SINOPSE**
Vol. I
Moscovo, início do século XIX. a oeste da Europa grassam as guerras napoleónicas, mas aqui organizam-se jantares onde toda a burguesia russa é convidada. Seguimos os destinos cruzados do conde Rostov que se prepara para casar a filha Natasha; do príncipe André Bolkonski e de Lisa, sua mulher, grávida; de Pierre, filho ilegítimo do conde Bezoukhov; e de Nicolas Rostov e sua prima Sonia, loucamente apaixonados...
A sua vida despreocupada não tardará a mudar com a notícia da entrada da Rússia na guerra ao lado da Áustria.
Vol. II
A guerra assola a Europa. Os russos sofrem perdas consideráveis e Napoleão chega às portas de Moscovo. o príncipe André, ferido, é capturado pelos franceses. Como todos os habitantes da capital, Natasha decide fugir de Moscovo para se refugiar no campo; Pierre, um pacifista, mas traumatizado pelas atrocidades desta guerra, decide por fim tomar armas para defender a cidade. a paz ainda terá de ser ganha à custa de enormes sacrifícios...
Este clássico da literatura tem aqui, em Banda Desenhada, uma abordagem muito interessante. Pode constituir uma forma mais simples de os mais jovens (na era da "voracidade", da "falta de tempo") conhecerem os clássicos da literatura mundial. A história, ainda que bem simplificada, foca-se nos momentos fulcrais, destacando, através da imagem, a caracterização das personagens. No fim de cada volume, há um momento onde, também de forma muito compreensível e simples, fornece informações sobre o autor Lev Tolstoi, a Guerra Franco-Russa, a forma como o autor da obra se documentou, as personagens, as várias famílias que surgem na obra, o que permite melhor compreender a própria BD.
Gostei bastante e fiquei curiosa em relação a estas adaptações de clássicos.