Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

 Pedrosa, Ana Bárbara (2023). Amor Estragado. Lisboa: Bertrand Editora.
Nº de páginas: 208

Início da leitura: 30/08/2023

Fim da leitura: 31/08/2023

**SINOPSE**

Dois irmãos contam a dissolução de uma família. Manel casou com Ema, e foi até que a morte os separasse como enfim os separou - pelas mãos dele. Habituado ao álcool e incapaz de lidar com as frustrações, não era a ele que mãe e irmãos deviam o amor sem reservas? Zé, casado, agora com três filhos, não vê no sangue uma desculpa para a vida do irmão. Pela mão da violência, que é pedra de toque, assistimos a uma família cujos laços se desfazem. E à vida transformada noutra coisa.

Com uma linguagem crua e destemida, que não raras vezes desarma o leitor, Amor Estragado é um romance sobre a família enquanto território a proteger, a traição da vida adulta face às certezas da infância, a inveja, o desgosto, a degradação que o vício impõe e o que custa perder um lugar de honra. E inevitavelmente sobre a culpa - do homem que mata e de quem não o impede.
Um livro fantástico. Primeiro, começa de forma a ficarmos irremediavelmente presos à história: "Matei a minha mulher." E queremos saber quem, o quê, porquê. Entramos nesta narrativa que vai sendo narrada por dois irmãos, nascidos no seio de uma família pobre, mas honrada, de Vizela. Estes dois irmãos são totalmente diferentes. Ambos casam. O Zé tem três filhos. O Manel apenas a mulher, que vai detestando cada vez mais, a Ema. E vai detestando cada vez mais a mulher, à medida que os seus olhos a começam a ver embargados pelo consumo excessivo de álcool. Invejava José e a mulher, bonita (como não considerava a dele), bem arranjada (como não seria a dele), delicada (como não seria a dele)... Dramas familiares, invejas, ciúmes, álcool, tudo é um pretexto para o desencadear da história. A linguagem é dura, recorrendo muito ao calão, que se encaixa bem nestes jovens e no meio em que cresceram. Um livro duro que traz a lume várias questões pertinentes, atuais e sobre as quais é necessário e importante refletir: o alcoolismo, a violência doméstica e o homicídio, pelo marido, de uma mulher.
Aconselho vivamente!

 Pessoa, Fernando. O Banqueiro Anarquista e Outros Contos Filosóficos. Luso Livros, 2014.

Nº de páginas: 89 (versão digital)

Início da leitura: 29/08/2023

Fim da leitura: 30/08/2023

**SINOPSE**

Coletânea de contos de teor filosóficos e humorístico encontrados no espólio de Fernando Pessoa.

Este livro de Fernando Pessoa, publicado postumamente, integra os contos: "O Banqueiro Anarquista", "Na Farmácia do Evaristo", "No Jardim de Epíteto", "Um Grande Português", "A Pintura do Automóvel", "Na Floresta do Alheamento" e "A Hora do Diabo".
O primeiro conto, a que é dado relevo logo no título, abrange cerca de metade da obra, dá que pensar. Como pode um banqueiro ser um anarquista? Sem dúvida, um banqueiro muito original, com ideias muito próprias sobre a sociedade, as suas desigualdades e "ficções sociais" e as "convenções sociais que tornam essa desigualdade possível." E, num diálogo com o narrador, vai tecendo considerações sobre o seu anarquismo. Deixo algumas passagens:
"Tão mau é o dinheiro como o Estado, a constituição de família como as religiões (...). Ora qualquer sistema que não seja o puro sistema anarquista, completamente, é uma ficção também."
A propósito do real conceito de anarquista, o nosso banqueiro refere que "A diferença é só esta: eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas místicos, e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou anarquista que combate e liberta... Numa palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista."

Destaco, também, o conto "Na Floresta do Alheamento", onde o narrador, a propósito de um homem que se encontra perdido numa floresta, vai refletindo sobre a razão de viver, a verdade, o amor, o sono e o sonho. Gostei imenso da poeticidade deste conto e passo a citar algumas passagens:
"Mais vale, filhos, a sombra de uma árvore do que o conhecimento da verdade, porque a sombra da árvore é verdadeira e dura, e o conhecimento da verdade é falso no próprio conhecimento."
"Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados, cheios do tédio inúmero de ser. ..Cheios, sim, do tédio de ser, de ter de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão - e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos lagos."
"Só os sonhos são sempre o que são. É o lado de nós em que nascemos e em que somos sempre naturais e nossos."

Por fim, falo ainda do último conto, "A Hora do Diabo", diabolicamente bem construído na própria desconstrução de ideias pré-concebidas. Neste conto, o narrador, o Diabo, vai mencionando várias obras e autores que dele falam sem nada saber sobre ele, que o "insultam" e "caluniam". De acordo com ele, é "o Deus da Imaginação, perdido", porque não cria. É "o espírito que cria sem criar, cuja voz é o fumo, e cuja alma é um erro."

Ainda que tenha gostado, continuo a preferir a poesia de Fernando Pessoa.

Recomendo a quem ainda não leu.
Esta é uma obra cuja versão digital é legal e gratuita. Poderá encontrá-la, tal como muitos outros clássicos em https://www.luso-livros.net/ .

 Pietrantonio, Donatella Di (2017). A Filha Devolvida. Alfragide: Edições ASA.


Tradução: Tânia Ganho

Nº de páginas: 200

Início da leitura: 27/08/2023

Fim da leitura: 28/08/2023

**SINOPSE**

"Aos treze anos, uma menina descobre brutalmente que o homem e a mulher que a criaram não são seus pais. Filha única, privilegiada, com uma casa à beira-mar e aulas de ballet, é obrigada a abandonar o lar onde cresceu para ser devolvida à família biológica. Não lhe é dada qualquer explicação. Leva consigo uma mala e um saco de sapatos. Começa agora uma nova e inesperada vida.

A família biológica é pobre, caótica e pouco acolhedora. Naquela que é agora a sua casa, na aldeia, tem de partilhar um colchão com a irmã e o quarto com os três irmãos mais velhos. A violência, a fome, os costumes… tudo lhe é incompreensível. Mas há a pequena Adriana, que a recebe com a candura típica das crianças; e há Vincenzo, o irmão mais velho, que a protege mas também a olha como se fosse já uma mulher…

É na sua relação com eles que a jovem irá encontrar forças para começar de novo e - quem sabe? - construir a sua própria identidade."
Um livro pequeno, de fácil mas intensa leitura. Duro, mas subtil na forma como aborda uma questão tão relevante e verosímil, os filhos que são dados a criar a outros familiares. O próprio título já nos dá imediatamente pistas sobre a história.
De acordo com o que percebi, a narradora, já adulta, recorda a sua infância, sobretudo o momento marcante em que, aos 13 anos, lhe é dito que será devolvida à sua família biológica, sem que lhe sejam dadas explicações. A família que a criou, deu-lhe todo o conforto e condições para vir a ter um bom futuro, realizar os seus estudos e sonhos. Porém, a família biológica, que tem mais uma série de filhos, é muito pobre, dormindo todos amontoados em beliches, tendo de se habituar à urina dos irmãos que se descuidam... Tudo nesta sua nova vida é diferente, além de ser recebida, especialmente pelos adultos, como uma intrusa, mais um encargo, como se não tivessem já suficientes... Como decorrerá a vida da protagonista junto dos pais e irmãos? Por que razão a família que a criou a mandou embora? Estas são questões que, ao longo da história vão sendo respondidas, aumentando o "suspense" no leitor até ao final, um final também ele, muito "sui generis".
Convido à leitura desta pequena pérola!

 Hucke, Petra (2023). A Mulher Que Ergueu Nova Iorque. Lisboa: Alma dos Livros.


Tradução: Nazaré Matias

Nº de páginas: 368

Início da leitura: 24/08/2023

Fim da leitura: 27/08/2023


**SINOPSE**

"Nova Iorque, 1865. A recém-casada Emily Warren Roebling entra em pânico quando juntamente com o marido fica presa dentro de um ferry a meio da travessia do gelado East River. Não seria o primeiro acidente de ferry com consequências graves. Mas, felizmente, os passageiros saem ilesos.

Mais tarde, as cidades de Nova Iorque e Brooklyn decidem, por fim, avançar com a construção de uma ponte suspensa que una as duas margens do rio. Nessa altura, Emily está longe de imaginar que será ela a derradeira obreira dessa colossal tarefa.

A construção inicia-se, e John A. Roebling é escolhido para liderar o projeto, que prossegue, depois da sua morte, sob a supervisão do seu filho Washington Roebling, o marido de Emily. Devido aos trabalhos e às submersões aquáticas em condições adversas, Washington adoece gravemente.

É então que Emily assume a responsabilidade do enorme e perigoso estaleiro de construção, enquanto teme pela vida do seu amado marido, o engenheiro-chefe da Ponte de Brooklyn. Nesta gloriosa caminhada, vai ter de provar que acredita no sonho que partilham e ainda mostrar ao mundo que uma mulher pode unir duas cidades e erguer uma maravilha do mundo."

É sempre interessante ler sobre o poder e as façanhas de grandes mulheres, que ficaram na História. Esta é mais uma biografia romanceada, que resgata uma época histórica, para lhe conferir força e esplendor. Já tinha lido o de Anna Freud e falta-me apenas o de Maria Montessori.
Não vou contar a história, uma vez que a sinopse já o faz sobejamente para quem quiser ler e saber de antemão sobre o que versa este livro.
Destaco a protagonista, Emily, que se interessava por assuntos "de homens" e que refere constantemente que gostaria de ter tido uma "profissão de homem". Corajosa, irreverente, persistente, quando surge a oportunidade de tomar as rédeas (quando o marido adoece), não há nada que a detenha e a esmoreça, tornando-se responsável pela construção da ponte de Brooklyn. 
Aponto como aspeto negativo a morosidade da narrativa e a repetição de ideias, que eram desnecessárias. De resto, aconselho a leitura.

Ribeiro, Anabela Mota (2023). O Quarto do Bebé. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 280
Início da leitura: 22/08/2023
Fim da leitura: 24/08/2023

**SINOPSE**
Escrito em grande parte durante o confinamento e a doença, e concluído após uma longa gestação, O Quarto do Bebé é um romance autoficcional em forma de diário íntimo.

Depois da morte de um conhecido psicanalista, a filha, sua única herdeira, encontra entre os papéis que ele deixou o diário de uma paciente. Tem título - Fala Orgânica - e está assinado: Ester do Rio Arco. O que começou por ser uma curiosidade transformou-se numa obsessão e objeto de leitura compulsiva. Neste manuscrito, a filha do psicanalista vai encontrar não apenas uma forma de conviver com o pai, como também inúmeros pontos de identificação com a paciente dele.

Os temas são os do dia a dia do isolamento e da doença, a escrita, o corpo, a mutilação, a relação com a mãe e com as origens, a ligação profunda a uma amiga (figura tutelar e espécie de mãe de Ester) e a morte dela. Em suma, a perda, a infertilidade, maternidade e filiação, nascimento e morte. O arco narrativo desenha-se a partir do que poderia vir a ser um quarto de bebé, mas que nunca albergará uma criança, até à transformação desse quarto num lugar físico e mental de criação, nomeadamente da escrita.

Daqui emerge ainda um retrato antropológico do país em que os pais estiveram na guerra e as mães escreveram aerogramas, e é exposta a violência que a sociedade patriarcal exerce sobre as mulheres. Com ecos do universo literário da recentemente nobelizada Annie Ernaux, uma das grandes referências da autora, O Quarto do Bebé é um relato cru e corajoso que revela uma nova e envolvente faceta de Anabela Mota Ribeiro.
Que livro! Intenso, alternando entre passagens poéticas e coloquiais, num constante diálogo com o leitor, um diálogo cru e nu, em que, como diz o narrador, "Escrever é fazer um pão. É dar forma ao medo, torná-lo comestível, ser capaz de o cuspir." ou "Escrever é conseguir estar nua, desorbitada, fora do tempo cronológico. É avançar nua e intrépida, E sem vergonha, que é o mais difícil." Difícil ou não, a autora conseguiu-o, atingiu-me, abanou-me, fez-me pensar e colocar-me na pele da protagonista (afinal, quem já teve familiares a passar pelo cancro, consegue mais facilmente entender que, muitas das questões que a personagem foi levantando, ao longo da progressão da doença, são credivelmente fáceis de compreender como real, como um processo normal). Quando se tem uma doença oncológica que vai invadindo uma pessoa até a tornar num ser vegetativo, é normal que se sinta "perseguida pelo luto."
Esta protagonista feminina, que teve um passado de pobreza, que conseguiu sonhar, inverter por pouco que fosse, o percurso da vida, diz-nos, enquanto narradora, que "a maior parte das mulheres sofre na sua vida alguma espécie de violência sexual, psicológica, moral. E não conta. Carrega os seus túmulos em vida, como se não fosse nada." Ora, já era tempo de ser feliz do que ver a sua vida, durante a pandemia por COVID, invadida por uma doença que a persegue "como uma sombra".
Com poucas possibilidades de ter um bebé, sente-se, muitas vezes regredir à posição fetal, ao momento em que foi ela própria um bebé. Na impossibilidade de gerar um bebé, acredita que o seu filho é o diário que está a escrever. "A escrita de um diário é a célula primordial, dá som ao silêncio, ao inexprimível, alumia a escuridão. Escrever é ser capaz de gerar".
A presença da metaliteratura, também nos aguça a curiosidade, que fiquei com interesse em ler alguns dos livros mencionados (outros, como já li, melhor compreendi as associações feitas) e até analisados em comparação com os acontecimentos que marcam a vida da protagonista.
Gostei muito e aconselho vivamente.

Allende, Isabel (2023). O Vento Conhece o Teu Nome. Porto: Porto Editora.
Tradução: Carla Ribeiro
Nº de páginas:272
Início da leitura: 20/08/2023
Fim da leitura: 22/08/2023 

**SINOPSE**
"Viena, 1938. Samuel Adler tem apenas 5 anos quando o pai desaparece, na infame Noite de Cristal – a noite em que a sua família perde tudo. Procurando garantir a segurança do filho, a mãe consegue lhe o lugar num comboio que transporta crianças judias para fora do país, agora ocupadas pelo regime nazi. Samuel embarcou sozinho, deixando a família para trás, tendo o seu violino como única companhia.
Arizona, 2019. Anita Díaz e a mãe tentam entrar nos EUA, fugindo à violência que reina no seu país, El Salvador. No entanto, são separados na fronteira, ao abrigo de uma nova lei que regulamenta a imigração, forçando à separação das famílias. A mãe desaparece sem deixar rasto, e Anita é colocada em instituições de acolhimento abandonadas. O caso chamou a atenção de Selena Durán, uma californiana de ascendência latina, e de Frank Angileri, um advogado promissor, que tudo preparou para reunir de nova mãe e filha. Juntos, vão conhecer de perto a violência que muitas mulheres sofrem em silêncio, sem que dela consigam escapar.
Entrelaçando passado e presente, O vento conhece o meu nomeconta-nos a história desses dois personagens inesquecíveis, ambos em busca da família e de um lar. É uma sentida homenagem aos sofrimentos que fazemos em nome dos filhos e uma carta de amor às crianças que sobrevivem a perigos inimagináveis ​​– sem nunca deixarem de sonhar.

«Pensava que Azabahar era o refúgio da Anita, o sítio para onde ia quando precisava de fugir deste mundo, mas agora sei que é mais do que isso. É o reino misterioso da imaginação e só se consegue ver bem com o coração.»"

A história entrelaça dois momentos históricos: a infame Noite de Cristal na Alemanha nazi e 2019, nos EUA, por altura da controversa política de imigração implementada por Donald Trump. É nestes contextos que nos são contadas as histórias de duas crianças, vítimas da guerra e da inevitável migração. Ambas à procura de um lar e de uma família.
Samuel Adler tem apenas 5 anos quando o pai desaparece, na infame Noite de Cristal, em 1938, em Viena.
Anita Díaz e a mãe tentam entrar nos EUA, com o intuito de fugir à violência que se apodera do seu país, El Salvador. No entanto, são separadas na fronteira, ao abrigo de uma nova lei que regulamenta a imigração, forçando à separação das famílias, em 2019, no Arizona.
São sempre histórias que nos tocam, quando as vítimas são crianças inocentes, que não devem nem podem deixar de sonhar. Este livro é uma bela homenagem a estas crianças. A escrita é a cuidada e elegante a que já nos habituou a autora. Recomendo!

 Wolfe, Leslie (2023). A Cirurgiã. Lisboa: Alma dos livros.

Tradução: Carmo Vasconcelos Romão e Carla Ribeiro

Nº de páginas: 280

Início da leitura: 17/08/2023

Fim da leitura: 18/08/2023

**SINOPSE**

"Antes do meu mundo desabar, eu tinha tudo. A carreira de sucesso com que sempre sonhara. A bela casa onde podia sentar-me e relaxar confortavelmente depois de um longo dia de trabalho. O marido mais bonito e dedicado que poderia desejar, cujo sorriso encantador sempre me fizera sentir segura.

Até hoje nunca tinha perdido um doente.

Até hoje nunca tinha operado ninguém que odiava.

Quando declarei o óbito, a minha voz estava firme: «Hora da morte 13:47». Todo o pessoal, médicos e enfermeiros na sala de operações ficaram em silêncio à minha volta, a olhar para mim, confusos e preocupados. As minhas mãos tremiam dentro das luvas. O meu olhar deslizou pelas frias paredes de azulejo, com o coração a bater aceleradamente dentro do meu peito.

Se tivesse sabido antes de quem se tratava teria pedido a um colega que me substituísse. Ninguém estranharia; é um procedimento habitual não operar amigos, familiares ou... qualquer outra pessoa que possa comprometer a capacidade do cirurgião agir na sala de operações. Teria sido fácil. Mas que outra escolha podia ter feito depois de o reconhecer na sala de operações? E o que vou fazer para me proteger, se alguém descobrir?"
Este é um livro que entretém, ideal para uma época de férias, em que se pretende descomprimir e deixar assuntos mais sérios para outra altura. 
A premissa é boa, as personagens bem concebidas e a história vai sendo desenvolvida com o adequado "suspense", apesar de o ritmo, contrariamente a outros policiais, não ser rápido. A  narradora vai-nos entretendo com acontecimentos que vão tentando ser desvendados a ritmo lento, para, no fim, nos deixar boquiabertos com os acontecimentos que fecham a narrativa.
No meu entender, em determinado momento, a história fica num impasse e um pouco repetitivo.

Autissier, Isabelle (2021). Subitamente Sós. Alfragide: Casa das Letras (Leya).
Tradução: do francês, por Luísa Benvinda Álvares
Nº de páginas: 160
Início da leitura: 16/08/2023
Fim da leitura: 17/08/2023

**SINOPSE**
"Louise é uma alpinista experiente, Ludovic um jovem bem constituído. Destemidos e desejosos de um ano de liberdade, deixam o apartamento em Paris e uma vida bastante convencional para se lançarem numa aventura: darem a volta ao mundo num veleiro.

A ilha onde aportam, no polo sul, atrai-os pela beleza selvagem: picos nevados, crateras geladas, um lago seco. Mas de repente surge uma nuvenzinha escura ao longe… Quando a tempestade levanta, destrói tudo à sua volta e o barco desaparece. Os dois ficam subitamente sós; os pinguins, as otárias, os elefantes-marinhos e as ratazanas passam a ser a sua única companhia numa velha estação baleeira, abandonada há décadas.

A aventura romântica torna-se um pesadelo e a relação do casal deteriora-se a cada dia. Será possível sobreviver numa natureza tão estranha e hostil? Durante quanto tempo? Como poderão lutar contra a fome e a exaustão num lugar tão isolado? E, se sobreviverem, como será regressar para junto dos seres humanos? Como contar-lhes o inenarrável?

Subitamente, Sós é uma obra notável sobre o engenho e as estratégias de sobrevivência e, ao mesmo tempo, um aviso sério relativo ao poder da natureza sobre o homem."

Isabelle Autissier foi a primeira mulher velejadora a dar a volta ao mundo em solitário.
Escreveu romances, contos e ensaios, entre os quais Kerguelen (2006), Seule la mer s’en souviendra (2009), L’amant de Patagonie (2012) e, com o escritor Erik Orsenna, Salut au Grand Sud (2006) e Passer par le Nord (2014). Atualmente, é presidente honorária do World Wildlife Fund France (WWF).
Inicialmente, tive a sensação de estar perante dois jovens que retratam a atual sociedade, um pouco vazios e pensei que estava perante uma história de amor cliché. Mas, à medida que a ação avança, a história vai ganhando força, prendendo-nos completamente, envolvendo-nos. A degradação gradual do ser humano que não está, de todo, preparado para lutar pela sobrevivência, numa ilha sem o que comer, a não ser as lapas, algas e os pinguins. Lutar pela sobrevivência é pôr de parte qualquer sentimento, é, até mesmo, uma luta desumana, animalesca, onde a degradação física é acompanhada pela degradação psicológica. Há um amadurecimento e um envelhecimento inevitáveis. Para trás, ficam, para sempre, os jovens levianos que tudo tinham. Torna-se fácil matar, torna-se fácil ser-se egoísta, quando o que veem pela frente é a solidão total, a passagem dos dias sem ninguém que os salve, a morte...Ter-se-ão Ludovic e Louise salvado? Aconselho muito a leitura deste livro.


 Peixoto, José Luís (2012). Nenhum Olhar. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 224
Início da leitura: 14/08/2023
Fim da leitura: 16/08/2023

**SINOPSE**
"Numa aldeia do Alentejo, com um pano de fundo de uma severa pobreza, o autor vai tecendo histórias de homens e mulheres, endurecidos pela fome e pelo trabalho, de amor, ciúme e violência: o pastor taciturno que vê o seu mundo desmoronar-se quando o diabo lhe conta que a mulher o engana; o velho e sábio Gabriel, confidente e conselheiro; os gémeos siameses Elias e Moisés, cuja terna comunhão se degrada no momento em que um deles se apaixona; ou o próprio Diabo. As suas personagens são universais, assim como a sua esperança face à dificuldade. «... a partir da segunda ou terceira sequência ficamos seguros de que a inclinação é fatal: vamos embater num limite, num muro, num enigma, na origem do mundo e no desastre final...»"
Nenhum olhar é um romance complexo, nostalgicamente belo, que ganhou o Prémio Literário José Saramago em 2001.
Numa prosa poética que chega até nós pelas palavras de vários narradores, situamo-nos num espaço real, o Alentejo. O meio onde ocorrem as várias sequências narrativas é extremamente pobre e, quanto maior a pobreza, maior a crença no sobrenatural, no demónio, no gigante, numa cadela de "passos solenes", na voz presa dentro de uma arca, no homem com mais de 150 anos... Real e fantástico conjugam-se numa história que nos fala de amor, de sofrimento, de morte, num ambiente onde domina a noite e o silêncio, envolvendo as personagens e o próprio leitor numa grande nostalgia. Afinal, "... o lugar dos homens é uma linha traçada entre o desespero e o silêncio.”
A personagens são, também elas, fruto de meio em que vivem. De entre elas, destaco os gémeos siameses, Moisés e Elias, cujo único elemento distintivo era o facto de Elias não falar se não ao ouvido de Moisés, que reproduzia oralmente as palavras do irmão. De realçar a morte da mãe dos gémeos no parto (algo que, antigamente, acontecia com alguma frequência). E todos, tudo converge para um fim, em que nada somos, a solidão apodera-se das pessoas e só ela avança. Pelo caminho, tudo morre: morrem as crianças, morrem as mães, morrem as promessas, morre o engano, esse "engano de uma manhã que nasceu nos teus olhos", esse sonho cego, dominado pela morte, em que todos se tornam terra.
Recomendo!

Santos, Inês Fonseca (2016). José Saramago Homem-Rio. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Nº de páginas: 48

Início da leitura: 12/08/2023

Fim da leitura: 14/08/2023

**SINOPSE**

José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, nasceu no Ribatejo a 16 de novembro de 1922 e morreu em Lanzarote a 18 de junho de 2010. Foi serralheiro mecânico, funcionário da saúde e da prevenção social, desenhador, escritor, editor, crítico, tradutor e jornalista. Foi Saramago-menino, Saramago-adolescente, Saramago-adulto e Homem-Rio. Foi múltiplo como só um escritor o sabe ser.

«Ao contrário de um rio, um escritor tem muitas margens. de um rio, sabemos onde nasce e onde desagua; a um rio, conhecemos a margem direita e a margem esquerda. Já um escritor tem tantas margens quantas as palavras que existem — as que ele mesmo escreve e as que, antes dele, outros escreveram.»
Um livro que não pretende ser uma biografia de José Saramago, mas sim um estímulo à leitura da sua obra. Muito metafórico, mas com uma linguagem acessível, poderá servir de motivação para dar a conhecer este "Homem-Rio" aos mais jovens (e não só). Fala-nos também sobre a preocupação de Saramago com os direitos e deveres, a igualdade, o respeito, entre todos os homens e mulheres, a casa que se abre ao mundo, as duas bibliotecas de sua casa: "uma composta pelos livros que Saramago lia, outra pelos livros que Saramago escrevia" e que dialogavam uns com os outros. Para além desta, havia "uma biblioteca invisível e infinita que existia dentro do homem que existia dentro da casa - dentro de Saramago."
"Um escritor tem muitas margens"
"Já um escritor tem tantas margens quantas as palavras que existem".
Não deixem de ler!

Faulkner, Katherine (2023). As Outras Mães. Lisboa: TopSeller.

Tradução: Pedro Póvoa
Nº de páginas: 384
Início da leitura: 12/18/2023
Fim da leitura: 14/08/2023

**SINOPSE**

"Um thriller original e habilidoso sobre assassínio, classes sociais e maternidade, ambientado numa das zonas mais elegantes de Londres.

Depois de ter deixado o seu emprego como jornalista por não o conseguir conjugar com a maternidade, Tash está agora determinada a regressar ao jornalismo como freelancer. Quando Sophie, uma jovem ama, é encontrada morta, em circunstâncias suspeitas, Tash percebe que esta pode ser a história de que precisa para relançar a carreira. Gerir a investigação e cuidar do filho, todavia, está a deixá-la esgotada, pelo que precisa de encontrar alguém em quem se apoiar.

Depois de conhecer uma das outras mães junto à creche onde deixa o filho, dá subitamente por si no sedutor mundo dos bairros abastados de Londres, repletos de casas deslumbrantes, brunches caros e festas infantis luxuosas. É então que outra jovem é encontrada morta. E quanto mais Tash investiga, mais lhe parece que as respostas a levam sempre para aquele grupo de mães.

Serão elas realmente suas amigas? Ou haverá outra razão pela qual Tash foi tão bem recebida naquele mundo exclusivo? É ela quem as tem observado? Ou será o contrário?"

Sem ser um livro excecional, é um bom livro para férias, que apresenta uma boa premissa e uma dose de "suspense" capaz de nos prender à história e de servir de boa companhia numa ida à praia, ao rio ou à piscina..
Tash é jornalista e deixa o emprego para cuidar do filho, ainda bebé. Porém, deseja continuar a fazer o que gosta - jornalismo e, ao saber de uma ama, Sophie, em que os factos apontam para um homicídio, que ficou por resolver, decide investigar. Também ela se torna ama em casa dos mesmos patrões de Sophie.
Aqui a narrativa vai intercalando entre a época em que Sophie começou a trabalhar em casa de uma família abastada de Londres, e a época em que temos Tash a exercer o mesmo cargo, na mesma casa. Esta técnica permite-nos perceber alguns padrões dos patrões das duas amas: as depressões, o excesso de zelo do "pai" das crianças, mesmo em relação às amas; as amizades com outras recém mães, as relações, as depressões, as festas, os segredos, os silêncios que muito escondem. 
Porém, descobrir quem assassinou Sophie torna-se numa obsessão para Tash. Até que ponto as descobertas dela são manipuladas? Até que ponto, enquanto julga observar, não está ela a ser observada?
No final, creio que há uma série de reviravoltas um pouco rocambolescas demais para o meu gosto, e não me surpreendeu, pois eu já tinha percebido, muito antes, quem era o/a verdadeiro/a assassino/a.

Saramago, José (2011). Viagem a Portugal. Alfragide: Editorial Caminho.

Nº de páginas: 640
Início da leitura: 09/08/2023
Fim da leitura: 12/08/2023

**SINOPSE**

"O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já."

Acompanhar o viajante nesta "Viagem a Portugal" é simplesmente maravilhoso! Para além das referências a locais que já conheço e gostei de revisitar, descobri que ainda não conheço todas as coisas maravilhosas que o nosso pequeno país nos oferece. O viajante, narrador desta obra, fá-lo de forma fenomenal, como quem viaja. Para além de pensamentos "banais", que passam pela cabeça de qualquer viajante, este é alguém que o faz com deleite, sentido crítico e que, ainda por cima, revela uma cultura geral invejável e é maravilhoso o que aprendi com este livro. De norte a sul de Portugal, por estradas, por cidades, vilas e aldeias, por igrejas, capelas, monumentos, casas de escritores, rios, costumes, pessoas, vamos contactando com histórias, histórias de histórias, lendas, mitos, sonhos, curiosidades por detrás de cada sítio, vamos assistindo ao deslumbre e à desilusão, ao elogio e à crítica. Tive a sensação de fazer esta viagem com o viajante, a pé, não haveria com certeza um guia melhor para acompanhar o leitor. Depois, há o que se vê sem estar à vista.
Imperdível!
Deixo algumas (poucas) das muitas frases que sublinhei:
"Viajar deveria ser outro concerto, estar mais e andar menos, talvez até se devesse instituir a profissão de viajante, só para gente de muita vocação,"
"...cá fora, sentado nos degraus que dão acesso ao adro, o viajante ouve contar uma história da história da construção do templo."
"O viajante transporta-se dentro de um borrão de tinta, nem as estrelas ajudam, que o céu é todo uma pegada nuvem."
"Este caminho é uma festa que o céu acompanha enviando tudo quanto tem para mostrar."
"O viajante entristece. Estas histórias de milagres, de mudos que passam a falar, de círios do tamanho de um homem, cobriram por instantes a memória da tarde."
"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa."

Ferrante, Elena (2020). A Vida Mentirosa dos Adultos. Lisboa: Relógio D'Água.

Tradução: Margarida Periquito

Nº de páginas: 304

Início da leitura:08/08/2023

Fim da leitura: 09/08/2023


**SINOPSE**

"«Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia» é a frase inicial deste romance. A revelação é feita por Giovanna, que ao olhar paterno se transformara de criança encantadora em adolescente imprevisível, que parecia tornar-se cada dia mais parecida com a desprezada tia Vittoria.

A frase ouvida sem que os pais o soubessem vai levar Giovanna a procurar conhecer a tia, cujas fotografias foram apagadas dos álbuns de família e é evitada em todas as conversas.

Para saber se estará realmente a tornar-se semelhante à tia, vai visitar a zona empobrecida de Nápoles, a conhecer uma versão diferente dos seus pais, provocando sem o saber a desagregação da sua família intelectual, compreensiva e perfeita na aparência.

Confirmando a sua mestria narrativa e o profundo conhecimento do que se passa na cabeça das adolescentes, Ferrante constrói um enredo surpreendente, ligando uma história de iniciação aos episódios de uma pulseira que passa de mão em mão. Giovanna move-se entre duas famílias e duas zonas da cidade em busca dela própria, na passagem da adolescência para a idade adulta."
Elena Ferrante escreve muito bem. Gosto da fluência da linguagem e do emaranhado de histórias. Apesar de os dois primeiros livros da tetralogia de "A Amiga Genial", me ter surpreendido mais, gostei também bastante deste.  Neste livro, a protagonista e narradora, uma jovem de 15 anos, Giovanna, muito amada pelos pais, ouve, certo dia, o pai dizer à mãe que a filha estava cada vez mais parecida com a irmã do pai, Vittoria, com quem o pai nunca se dera e que dizia, com frequência, ser feia e má.
A partir desse momento, nasce em Giovanna, a par de uma frustração (já que o pai lhe abrira os olhos para o facto de ser como a tia odiada), um desejo de saber como era a tia, se era mesmo parecida com ela. Em casa, encontra apenas fotos antigas, onde apenas se vê o pai e as outras figuras surgem pintadas num retângulo negro. Decide, então, dizer aos pais que deseja conhecer a tia, que vive num bairro pobre de Nápoles. Apesar de alguma relutância inicial, os pais deixam-na ver a tia, pensando que lhe bastaria um encontro para se mentalizar das suas diferenças. Mas nada corre como o suposto.
A par desta descoberta da família do pai que nunca conhecera, Giovanna começa a ver os pais de uma forma mais distante: seriam eles os pais perfeitos que ela sempre acreditara serem? Teria a tia razão e o pai não prestava?
A partir daqui, assistimos ao amadurecimento de Giovanna que, entretanto, faz 16 anos - a crise da adolescência, o afastamento dos estudos, as primeiras experiências sexuais, o primeiro amor, a desilusão, a procura de conhecimento...
Recomendo a leitura!

 Coe, Jonathan (2020). O Sr. Wilder & Eu. Lisboa: Porto Editora.

Tradução: Rui Pires Cabral

Nº de páginas: 232

Início da leitura: 06/08/2023

Fim da leitura: 08/08/2023

**SINOPSE**

Aos 57 anos, a vida de Calista Frangopoulos parece ter chegado a um impasse pessoal e profissional. À partida de uma das filhas para um país longínquo e ao complexo dilema com que a outra se debate, soma-se o pouco trabalho que tem tido enquanto compositora de bandas sonoras. É no meio deste caos que recorda a sua própria juventude e os tempos passados com o grande realizador de cinema Billy Wilder.
Em 1976, por mero acaso, Calista dá por si em Los Angeles, num requintado jantar com grandes figuras do cinema, entre elas Wilder, que acaba por contratá-la como intérprete durante a rodagem do filme O Segredo de Fedora, numa belíssima ilha grega.
E assim, ao lado de um dos maiores nomes da sétima arte, numa ímpar jornada de aprendizagem e crescimento, Calista conhece os últimos momentos de uma forma de fazer cinema que então chegava ao fim. Ao mesmo tempo, começa a traçar o seu próprio caminho, descobrindo não apenas o amor, mas também os traumas privados e coletivos que o Holocausto deixou.

Num romance que evoca a passagem da juventude à idade adulta e faz o retrato íntimo de uma das mais intrigantes figuras do cinema, Jonathan Coe lança o olhar sobre a natureza do tempo e da fama, da família e da atração traiçoeira que a nostalgia consegue exercer sobre cada um de nós.

Gostei muito de ler este livro, que, em grande parte das passagens, me transmitiu a melancolia da passagem do tempo, da efemeridade de tudo, da decadência dos tempos áureos do cinema de Billy Wilder (1906-2002).
Na narrativa, alternam dois tempos: o passado, os tempos áureos do cinema, o sonho e a descoberta e o presente, em que os filmes se tornaram um negócio, em que se passa mais tempo a negociar os custos do filme do que o próprio argumento. Esta é a fase da deceção, da nostalgia, em que se sente a necessidade de reinvenção, de adaptação aos novos tempos.
A história é narrada por uma das protagonistas, secretária, em tempos, do sr. Wilder, a Calista Frangopoulos, anglo-grega, que recorda os tempos em que conheceu o Sr. Wilder, numa noite desastrosa, em Los Angeles, que, mais tarde, a contrata como intérprete, aquando das gravações de O Segredo de Fedora.
É um livro bem escrito, com uma linguagem despojada mas elegante. Em alguns momentos, torna-se um pouco descritivo e penso que a história de Calista remete-se um pouco à função de narradora...
A parte inicial deste romance foi escrita em Cascais, numa residência literária, durante cerca de dois meses, como o autor refere no final.
Recomendo a leitura!

Mãe, Valter Hugo (2020). Serei Sempre o Teu Abrigo. Porto: Porto Editora.


 Nº de páginas: 48

Início da leitura: 06/08/2023

Fim da leitura: 06/08/2023

**SINOPSE**

"«O avô, resumido nos sentimentos, sem talento nas aflições, mais maniento e cheio de medo, só dizia: sossega, menina, sossega. Mesmo velhinhos, ele tratava-a como da primeira vez. Era uma menina.»

Um conto delicado sobre a fragilidade dos avós vista pelos olhos atentos do neto.
Na sensibilidade que só as palavras de Valter Hugo Mãe conseguem atingir, acompanhamos a força do amor dos avós um pelo outro e dos dois pelo neto. O poder dos laços da família e do afeto."
Sem dúvida, estes livros de Valter Hugo Mãe são simplesmente maravilhosos. Este, ilustrado pelo próprio autor, não é exceção. mais um livro de afetos no seio familiar. Desta vez, conhecemos a relação entre os avós através dos olhos de um narrador quando era ainda uma criança. Tudo se passa quando a avó é operada e lhe trocam "o coração por um eletrodoméstico". O narrador tem a oportunidade de concluir que, ainda que em vez de coração, a avó tem agora uma "maquineta esperta" não deixou de ter afetos e de continuar a amar. A avó demonstrava afetos de uma forma diferente do avô. Este ocupava, sobretudo, a cozinha e "de tanto matutar, inventara receitas inigualáveis. A avó julgava que a comida era a poesia do avô, aquilo que encontrara para traduzir delicadeza e carinho por todos nós". Já a avó "era puro amor".
Se tiverem oportunidade, não deixem de ler este livro maravilhoso!

Mãe, Valter Hugo (2019). As Mais Belas Coisas do Mundo. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas:48
Início da leitura: 06/08/2023
Fim da leitura: 06/08/2023

**SINOPSE**
"O meu avô perguntou quais seriam as mais belas coisas do mundo... Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa.

A história de um menino que, dentro do abraço do avô, procura encontrar respostas para os mistérios da vida. O avô, que tem ar de caçador de tesouros, revela-lhe o maior de todos para curar a tristeza e a despedida: o encanto. Um conto profundamente comovente sobre a força dos afetos e da memória dos avós."

Mais uma doçura de livro! Um livro de afetos, de memórias e de aprendizagem, numa fase da infância, em que é tão importante desenvolver não apenas o conhecimento do mundo, mas o conhecimento das emoções, dos sentimentos por si e pelos outros, de ideias e de coisas imaginárias. O narrador aprendeu-o com o avô, cujo abraço "se tornava uma casa inteira e acolhia"; o avô, que lhe pedia que nunca se desiludisse, porque "Quem se desilude morre por dentro" e "é urgente viver encantado. O encanto é a única cura possível para a inevitável tristeza."; com o avô aprendeu que "A força do pensamento haverá de criar coisas incríveis, científicas, intuitivas, maravilhosas, deslumbrantes ou amigas. Pensar é como fazer. Quem só faz e não pensa só faz uma parte."
Um livro delicioso que aconselho vivamente!

Mãe, Valter Hugo (2022). A Minha Mãe É a Minha Filha. Porto: Porto Editora.



Nº de Páginas: 48
Início da Leitura: 05/08/2023
Fim da leitura: 05/08/2023

**SINOPSE**
Um conto de uma ternura ímpar dedicado a todos aqueles que cuidam.
«A minha mãe é a minha filha. Preciso de lhe dizer que chega de bolo de chocolate, chega de café ou de andar à pressa. Vai engordar e piorar do fígado, vai ficar eléctrica e sem conseguir dormir, vai começar a doer-lhe a perna esquerda, os joelhos, os ossos todos. E depois dirá: ui, filho, dói-me aqui e dói-me ali.»
Esta obra, como o autor refere nas notas finais, resultou de uma crónica que publicou num jornal e que decidiu levantá-la a um livro. E que bela ideia teve! Com ilustrações belíssimas de Evelina Oliveira, este é um livro que pode ser lido por qualquer faixa etária. É um livro de afetos. A forma doce e tão humana como cuida da sua mãe, é enternecedora. Mas, em vez de ser eu a falar dela, deixo algumas frases do livro que o fazem bem melhor do que eu:
"Cuido dos seus mimos."
"...presto muita atenção aos lenços bonitos que ela deita ao pescoço e lhe dão um ar floral, vivo, uma espécie de coisa de água que lhe refresca a idade."
"Rabujo igual aos que amam. Quando amamos, temos urgência em proteger, por isso somos mais sinaleiros..."
"Tenho de estar sempre a inventar festa. Ponho-a a dançar e a cantar para haver sempre alegria."
"Quem não casa deixa de ter irmãos. Só tem patrões."
"Eu não consigo esquecer que alguém sempre lutou para me salvar. Por isso, quero salvações para retribuir."
"A minha mãe, que é a minha única filha, é muitíssimo bem-comportada."
Recomendo muito a leitura deste livro!

Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial

Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

POSTS POPULARES

  • Lobos, Tânia Ganho
  • Filha da Louca, Maria Francisca Gama
  • Apesar do Sangue, Rita Da Nova
  • O Perfume das Peras Selvagens, Ewald Arenz
  • Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (Adaptação a novela gráfica)

Arquivo

  • ►  2025 (81)
    • ►  junho (7)
    • ►  maio (15)
    • ►  abril (12)
    • ►  março (19)
    • ►  fevereiro (11)
    • ►  janeiro (17)
  • ►  2024 (160)
    • ►  dezembro (7)
    • ►  novembro (17)
    • ►  outubro (13)
    • ►  setembro (12)
    • ►  agosto (18)
    • ►  julho (22)
    • ►  junho (20)
    • ►  maio (17)
    • ►  abril (7)
    • ►  março (9)
    • ►  fevereiro (10)
    • ►  janeiro (8)
  • ▼  2023 (153)
    • ►  dezembro (18)
    • ►  novembro (13)
    • ►  outubro (12)
    • ►  setembro (7)
    • ▼  agosto (20)
      • Amor Estragado, Ana Bárbara Pedrosa
      • O Banqueiro Anarquista e Outros Contos Filosóficos...
      • A Filha Devolvida, Donatella Di Pietrantonio
      • A Mulher Que Ergueu Nova Iorque, Petra Hucke
      • O Quarto do Bebé, Anabela Mota Ribeiro
      • O Vento Conhece o Teu Nome, Isabel Allende
      • A Cirurgiã, Leslie Wolfe
      • Subitamente Sós, Isabelle Autissier
      • Nenhum Olhar, José Luís Peixoto
      • José Saramago Homem-Rio, Inês Fonseca Santos
      • As Outras Mães, Katherine Faulkner
      • Viagem a Portugal, José Saramago
      • A Vida Mentirosa dos Adultos, Elena Ferrante
      • O Sr. Wilder & Eu, Jonathan Coe
      • Serei Sempre o Teu Abrigo, Valter Hugo Mãe
      • As Mais Belas Coisas do Mundo, Valter Hugo Mãe
      • A Minha Mãe É a Minha Filha, Valer Hugo Mãe
      • Corações de Papel, Fábio Ventura
      • O Grande Gatsby - O Romance Gráfico, F. Scott Fit...
      • O Colégio Feminino de St. Ambrose, Jessica Ward
    • ►  julho (16)
    • ►  junho (12)
    • ►  maio (13)
    • ►  abril (9)
    • ►  março (10)
    • ►  fevereiro (11)
    • ►  janeiro (12)
  • ►  2022 (150)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (9)
    • ►  outubro (15)
    • ►  setembro (13)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (13)
    • ►  junho (13)
    • ►  maio (16)
    • ►  abril (14)
    • ►  março (9)
    • ►  fevereiro (7)
    • ►  janeiro (11)
  • ►  2021 (125)
    • ►  dezembro (9)
    • ►  novembro (4)
    • ►  outubro (8)
    • ►  setembro (15)
    • ►  agosto (20)
    • ►  julho (19)
    • ►  junho (13)
    • ►  maio (10)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (6)
    • ►  fevereiro (6)
    • ►  janeiro (9)
  • ►  2020 (67)
    • ►  dezembro (5)
    • ►  novembro (5)
    • ►  outubro (5)
    • ►  setembro (5)
    • ►  agosto (11)
    • ►  julho (6)
    • ►  junho (6)
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (3)
    • ►  março (4)
    • ►  fevereiro (5)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2019 (36)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (2)
    • ►  outubro (4)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (5)
    • ►  julho (3)
    • ►  maio (2)
    • ►  abril (7)
    • ►  março (3)
    • ►  fevereiro (5)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2018 (37)
    • ►  dezembro (4)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (4)
    • ►  setembro (2)
    • ►  agosto (2)
    • ►  julho (5)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (4)
    • ►  março (3)
    • ►  fevereiro (3)
    • ►  janeiro (4)
  • ►  2017 (55)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  novembro (4)
    • ►  outubro (9)
    • ►  setembro (10)
    • ►  agosto (8)
    • ►  julho (7)
    • ►  junho (5)
    • ►  maio (10)
  • ►  2015 (1)
    • ►  julho (1)
  • ►  2014 (9)
    • ►  junho (3)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (2)
    • ►  março (1)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2013 (34)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  novembro (2)
    • ►  outubro (4)
    • ►  setembro (4)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (2)
    • ►  junho (3)
    • ►  maio (3)
    • ►  abril (6)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (3)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2012 (102)
    • ►  dezembro (4)
    • ►  novembro (3)
    • ►  outubro (7)
    • ►  setembro (6)
    • ►  agosto (7)
    • ►  julho (12)
    • ►  junho (9)
    • ►  maio (10)
    • ►  abril (9)
    • ►  março (9)
    • ►  fevereiro (10)
    • ►  janeiro (16)
  • ►  2011 (279)
    • ►  dezembro (19)
    • ►  novembro (21)
    • ►  outubro (23)
    • ►  setembro (25)
    • ►  agosto (17)
    • ►  julho (36)
    • ►  junho (25)
    • ►  maio (29)
    • ►  abril (24)
    • ►  março (22)
    • ►  fevereiro (22)
    • ►  janeiro (16)
  • ►  2010 (25)
    • ►  dezembro (9)
    • ►  novembro (4)
    • ►  setembro (1)
    • ►  agosto (1)
    • ►  julho (3)
    • ►  junho (1)
    • ►  abril (2)
    • ►  março (4)

Citar textos deste blog

Para citar textos deste blog utilize o seguinte modelo:

Gil, Célia , (*ano*), *título do artigo*, in Histórias Soltas Presas dentro de Mim, *data dia, mês e ano*, *Endereço URL*

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/ - Esta licença permite que os reutilizadores copiem e distribuam o material em qualquer meio ou formato apenas de forma não adaptada, apenas para fins não comerciais e apenas enquanto a atribuição for dada ao criador.

O nosso Hulk (saudades)

O nosso Hulk (saudades)

O nosso cãozinho, o Dragão (saudades)

O nosso cãozinho, o Dragão (saudades)

O meu mais que tudo e eu

O meu mais que tudo e eu

O meu filho mais novo

O meu filho mais novo

O meu filho mais velho

O meu filho mais velho

Categorias

25 de Abril de 1974 2 acróstico 1 Agradecimento 1 banda desenhada 22 biografia 6 biologia 1 bullying 1 chaves da memória 4 cidadania 4 clássico 2 Conto 20 conto infantil 5 contos 3 Crónica 2 Crónicas 8 Daqui 1 Dedicatória 2 dissertação de mestrado 1 distopia 4 Divulgação 6 divulgação - leituras 740 divulgação de livros 713 escrita 1 fábula 2 fantasia 3 gótico 1 halooween 1 higiene do sono 1 Hiroxima 1 histórias com vida 1 1 histórias com vida 3 1 Histórias com vida 7 1 Holocausto 13 homenagem 2 ilustração 4 literatura brasileira 1 literatura de viagens 2 livro 48 livro ilustrado 10 livro infantil 14 livro infanto-juvenil 13 manga 1 mangá 2 memórias 7 motivação para a leitura 331 Nobel 13 novela gráfica 67 O Enigma mora cá dentro 2 opinião 693 opiniãooutono da vida 2 outono da vida 3 Outros 271 Paleta poética 5 pnl 6 poema declamado 9 poemas 402 Poesia 17 policial 2 prémio Leya 1 quadras ao gosto popular 1 receitas 10 reedição 17 Reflexão 7 reflexões 26 relações humanas 8 releitura 1 resenha 324 romance 1 romance gráfico 13 romance histórico 3 soneto 28 sugestões de leitur 1 sugestões de leitura 659 thriller 73 thriller de espionagem 1 thriller psicológico 5 viagens 3

TOP POSTS (SEMPRE)

  • Histórias do vento
  • Um bolo comido, um poema lido!
  • O eu que fui
  • Férias! Até breve!

Pesquisa neste blog

Seguidores

Visualizações

TOP POSTS (30 DIAS)

  • Lobos, Tânia Ganho
  • Filha da Louca, Maria Francisca Gama
  • Apesar do Sangue, Rita Da Nova
  • O Perfume das Peras Selvagens, Ewald Arenz

Designed by OddThemes | Distributed By Gooyaabi