Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

A solidão é tanto maior, quanto maior é o vazio de tudo o que nos rodeia. 
São vazios os risos, que se estampam no rosto e estalam em sonoras gargalhadas. Não são risos que vêm de dentro. Não são verdadeiros risos de prazer. São risos de troça, risos de deboche, risos sem risos dentro. 
São vazias as palavras. Vazias de amor, vazias de ternura e de compreensão. Soam cada vez mais alto e menos dizem. Tão vazias de conteúdo estão! São palavras ditas sempre à cautela, palavras que depressa vão do sussurro ao grito mais estridente. Porque são palavras de sentimentos vazios. Cada vez mais vazios, os sentimentos. Já ninguém chora, já ninguém implora, já ninguém pede perdão. O excesso, o pedestal e a arrogância, criam maus sentimentos. Sentimentos de prepotência e de falso poder e saber. Para trás ficam os sentimentos que são realmente gordos de sentimentos - a compreensão, a humildade, o amor, a amizade e o respeito. Tudo tão vazio e relativo! No vazio dos sentimentos estão a vingança, o enxovalho, a ironia, a soberba e o escárnio. Só recorre ao poder e se coloca num pedestal quem nunca caiu realmente, quem de tanto subir ao cume da montanha que é a vida, pensa que pode tudo dominar e maltratar. Mas, esse cume é ele próprio um vazio, uma ilusão. Cai-se mais depressa dele do que se sobe. E quando se cai, é preciso que não se caia sobre os outros mas sobre si mesmo, de forma a repensar a vida, a repensar os ideais, os objetivos...Por forma a preencher os vazios que foi alimentando ao longo de dias a fio, nessa subida em que não se olha em frente mas de cima para baixo.
São vazios os gestos, que, na maior parte das vezes, não estão em consonância com o que dizem as vazias palavras. É com pequenos gestos,  gestos realmente cheios, plenos de amor, de dádiva e de altruísmo que o mundo "pula e avança" (António Gedeão, in "Pedra Filosofal").
É preciso aprender a preencher os vazios com o que realmente importa, com o que realmente vale a pena. Só assim se preenche a solidão.
                                                                                                   Célia Gil


Sixsmith, Martin (2013). O Filho Perdido de Philomena Lee. Lisboa: Planeta Manuscrito.


O livro O Filho Perdido de Philomena Lee de Martin Sixsmith fala-nos da história de Philomena e do seu filho Michael. Uma história de vida, marcada pelo secretismo, sobre o amor e perda humanos. Uma história comovente, magistralmente contada por Sixsmith e que é a prova de que os laços entre mãe e filho não devem nem podem ser quebrados.
Philomena Lee era uma adolescente, na Irlanda de 1952, quando engravidou e foi enviada para um convento, onde tratou do filho durante três anos, até a Igreja lho tirar e o vender a uma família adotiva. Durante esse tempo, trabalhou como uma escrava e foi obrigada a utilizar um nome falso. Segundo a Igreja e passo a citar "Todas as crianças enviadas para a América significam mais um donativo para a Igreja e um problema a menos para o Estado."
Durante cinquenta anos tentou encontrar o filho, sem nada dele saber, quem o tinha adotado, para onde tinha ido…
Philomena conta com o auxílio de um jornalista que empreende com ela uma série de diligências para que esta encontre o seu filho.
 A história centra-se essencialmente na vida dessa criança, os seus sonhos e receios, o seu crescimento, a sua necessidade de aceitação por parte dos pais adotivos, as suas incertezas, a sua necessidade de autopunição, a descoberta da sua homossexualidade, o seu eterno descontentamento por não saber aceitá-la e como isso se refletiu em toda a sua vida privada e pública, já que ele foi um advogado de renome, jurista principal do Comité Nacional Republicano no tempo de Reagan e Bush. Trabalhava para um partido completamente homofóbico, que condenava os homossexuais, não apostando na investigação da cura para a SIDA, que surgia naquela altura. O que é certo, é que Michael era homossexual nunca tendo escondido as suas preferências.
Apesar do sucesso em termos profissionais, Michael sentia-se sempre como um rejeitado, cuja mãe rejeitara. Mas, também Michael tentou, por sua vez, encontrar a mãe. No entanto, toda e qualquer informação a que pudesse ter acesso lhe foi negada pela Igreja, que receava ser apanhada na sua rede de adoções ilegais e venda de crianças.
Philomena só viria a reencontrar o filho, já morto, enterrado no convento onde nascera, como foi a sua vontade.
                                                          Célia Gil

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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