Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Ryan, Jennifer (2017). As Mulheres do Coro de Chilbury. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Maria João Freire de Andrade

Nº de páginas: 408

Início da leitura: 28/01/2023

Fim da leitura: 31/01/2023

**SINOPSE**

Kent, 1940. Chilbury, uma idílica povoação inglesa, vê os seus homens - maridos, filhos, irmãos - partirem para a guerra. Entregues a si próprias, as mulheres da aldeia confrontam-se com uma outra batalha: salvar o coro local que o pároco decidiu encerrar, para, através do canto, desafiarem o grande conflito que se trava na Europa. e com esse objetivo juntam-se à carismática Miss Primrose Trent, professora de música recém-chegada a Chilbury.

Entre elas, destacam-se Mrs. Tilling, uma viúva tímida; Venetia, a sedutora da aldeia; Silvie, a jovem refugiada judia; Edwina, uma parteira pouco escrupulosa que procura fugir de um passado sórdido. Bisbilhotices, ciúmes, medos, angústias, amores secretos marcam este romance inspirador e profundamente comovente que explora o modo como uma pequena comunidade consegue enfrentar as vicissitudes e os horrores de uma guerra violenta e destruidora.

Entre risos e lágrimas, e inspirando-se nas prodigiosas histórias que lhe contava a avó, que viveu no período da 2ª Guerra Mundial, numa pequena aldeia de Kent, Jennifer Ryan explora as almas deste coro que nenhum leitor jamais irá esquecer.

Um pequeno tesouro, inteligente e com um humor tipicamente britânico.
Esta é uma narrativa histórica, cuja ação decorre durante a II Guerra, em Chilbury. A partir do momento em que o pároco decide encerrar o coro, uma vez que os homens partiram para a guerra, as mulheres juntam-se para formarem um coro feminino e evitarem que o coro termine. Têm, no entanto, de ultrapassar a visão cética de uma época em que as mulheres não deviam cantar sozinhas.
Várias são as personagens que se destacam e que vão narrando a sua parte da história, quer através de diários (da Sra. Tilling e de Kitty), quer através de cartas (de Venetia e Edwina). Estas formas de narração permitem-nos conhecer melhor as personagens e saber o que motiva as suas ações. São personagens riquíssimas, que nos vão prendendo às suas histórias. Kitty, a jovem apaixonada e que, sem querer (por ciúmes), acaba por prejudicar a irmã; Venetia, a irmã de Kitty, irreverente e atrevida; Edwina, uma parteira interesseira que não hesita em trocar bebés por dinheiro; Prim, a professora de música, que impulsiona o coro são algumas dessas personagens, que se revelam verosímeis, dando força e credibilidade à narrativa. 
Aconselho a leitura!

Williams, John. Stoner. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2014.

Tradução: Tânia Ganho

Nº de páginas: 263

Início da leitura: 23/01/2023

Fim da leitura: 27/01/2023

**SINOPSE**

Romance publicado em 1965, caído no esquecimento. Tal como o seu autor, John Williams - também ele um obscuro professor americano, de uma obscura universidade.
Passados quase 50 anos, o mesmo amor à literatura que movia a personagem principal levou a que uma escritora, Anna Gavalda, traduzisse o livro perdido. Outras edições se seguiram, em vários países da Europa. E em 2013, quando os leitores da livraria britânica Waterstones foram chamados a eleger o melhor livro do ano, escolheram uma relíquia.
Julian Barnes, Ian McEwan, Bret Easton Ellis, entre muitos outros escritores, juntaram-se ao coro e resgataram a obra, repetindo por outras palavras a síntese do jornalista Bryan Appleyard: "É o melhor romance que ninguém leu". Porque é que um romance tão emocionalmente exigente renasce das cinzas e se torna num espontâneo sucesso comercial nas mais diferentes latitudes? A resposta está no livro. Na era da hiper comunicação, Stoner devolve-nos o sentido de intimidade, deixa-nos a sós com aquele homem tristonho, de vida apagada. Fechamos a porta, partilhamos com ele a devoção à literatura, revemo-nos nos seus fracassos; sabendo que todo o desapontamento e solidão são relativos - se tivermos um livro a que nos agarrar.

Um livro esquecido entre 1965, data da primeira publicação, e 2013, em que foi recuperado e reconhecido pela crítica. Foi lançado em Portugal em 2014. 
Este livro conta-nos a vida se Stoner, um jovem oriundo de famílias pobres que trabalhavam no campo, desde os tempos em que foi para a Universidade, e que, para estudar, tinha de trabalhar na quinta do casal que o acolheu. Foi durante os seus estudos na Escola Agrária, que descobriu a sua paixão pela literatura inglesa. Acaba por se tornar professor. Mas corresponderá a sua carreira à diferença que ele sonhou fazer? Conseguirá ele demonstrar e instigar nos seus alunos o amor que sente pela literatura? 
Todos sonhamos, seguimos os nossos ideais de vida, mas tornar-nos-ão esses ideais naturalmente felizes? 
Stoner apaixonou-se por uma rapariga reservada e casou-se com ela. Porém, casou-se não apenas com ela, mas com todos os seus medos e reservas. Poderá um amor platónico vingar? O que sente, afinal, Stoner por esta mulher tão complicada, tão fria, tão esquiva? Esta mulher que apenas alterou o seu comportamento relativamente à intimidade com Stoner para ter uma filha e repudiá-lo logo a seguir. E Stoner passa por tudo isto, a nível profissional e familiar como um espectador, cada vez mais solitário, cada vez mais fechado nas suas rotinas.
Quantas vidas não foram tecidas desta forma, sem questionar a verdadeira felicidade? Afinal, o que é a felicidade? Não terá Stoner, à sua maneira, sido feliz?
Um livro de escrita leve mas elegante e que vos fará refletir. Recomendo.

Ferrandez, Jacques (2019). O Primeiro Homem - Novela Gráfica. Porto: Porto Editora.

Tradução: Artur Lopes Cardoso

Nº de páginas: 184

Início da leitura: 19/01/2023

Fim da leitura: 22/01/2023

**SINOPSE**

"A adaptação gráfica do manuscrito inacabado de Camus conta a história de Jacques Cormery, um menino que teve uma vida semelhante à de Camus. Esta edição impressionante convoca o panorama, os sons e as texturas de uma infância circunscrita pela pobreza e pela morte de um pai, mas redimida pela beleza austera de Argel, pelo amor que Jacques tem à mãe e à avó, e por um professor que transformará a sua visão do mundo."


Novela gráfica adaptada da obra póstuma de Albert Camus, O Primeiro Homem, um manuscrito inacabado, a que Jacques Ferrandez deu uma nova vida. Esta obra de Camus foi encontrada entre os destroços do acidente de viação que o vitimou, em 1960. Só em 1994, a filha, Catherine, o publicou pela primeira vez. 
Uma obra autobiográfica, na qual Jacques Cormery, uma criança cuja vida se assemelha à de Camus, nos conta uma infância marcada pela perda do pai, por uma grande pobreza, mas também pelo amor familiar e pela importância de um professor que lhe terá ensinado uma nova forma de ver e interpretar o mundo. A obra vai alternando entre o passado dessa criança e a personagem na fase adulta, sobrepondo-se, muitas vezes, as duas imagens, o que nos permite compreender como foi a sua infância, o que mais o marcou e o que o levou a tornar-se no homem que é e que já consegue compreender os silêncios da mãe. E o livro que escreve ou tencionava escrever é precisamente sobre a relação mãe-filho...
Uma obra muito bem conseguida.
Deixo uma prancha de que gostei particularmente.

Kawabata, Yasunari (2000). Kyoto. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Tradução: Virgílio Martinho

Nº de páginas: 150

Início da leitura: 21/01

Fim da leitura: 22/01

**SINOPSE**

"Kyoto, é uma das mais belas obras de Yasunari Kawabata, autor galardoado com o Prémio Nobel de Literatura em 1968. Considerado a sua obra-prima, este romance mergulha profundamente no Universo da psicologia feminina. O tema do amor impossível, já tratado noutros romances de Kawabata, aflora novamente nesta obra de uma tão delicada e subtil narrativa."

Kawabata é tão bom! Sempre que me sinto mais cansada e stressada, ler Kawabata é a melhor forma de descontrair. Tem o poder de nos levar a viajar, desta vez por Kyoto. Com belíssimas descrições que deslumbram e, ao mesmo tempo, algum sentido crítico em relação às mudanças negativas que o homem vai operando na sublime paisagem, somos transportados para lugares repletos de violetas, borboletas, santuários rodeados de cerejeiras em flor de cor avermelhada, as folhas verdes dos lírios, o verde do lago, as varas de bambu, as árvores que tombavam os ramos nas águas do lago, o pinhal, os cedros do monte Kitayama, os crisântemos, os carvalhos, a chuva, ao frio, o granizo a acinzentar a paisagem
Acompanhamos essas descrições de cortar a respiração ao longo da passagem das estações do ano, cada estação com a sua beleza muito própria, refletindo e refletindo-se nos estados de espírito, amadurecimento e personalidade das personagens. Estas tão bem construídas, tão inspiradoras e, ao mesmo tempo, tão reais, tão humanas... Até os tecidos, inspirados nas cores e padrões da natureza, são descritos de forma belíssima. As tradições, a forma de pensar, os costumes, tudo nos remete para Kyoto e nos faz sentir lá, a acompanhar as vidas das personagens.
A par destes espaços de contemplação, de elevação, de fascínio, temos a história da separação de duas gémeas à nascença (na altura em que nasceram, eram mal vistos os pais de gémeos), Chieko e Naeko: a primeira, criada com algumas mordomias, no seio de uma família remediada; a segunda, criada nas montanhas, no árduo trabalho do campo. Chieko só fica a saber da existência desta irmã, já são umas mulherzinhas, pois os pais tinham-lhe mentido sempre acerca das suas origens, dizendo-lhe que a tinham roubado e adotado, para que ela não fosse criada sob o estigma de uma filha enjeitada, abandonada pelos pais à porta dos pais adotivos.
Como correrá o encontro entre as irmãs? Que sentimentos se apoderarão de cada uma delas?
Temos ainda o despontar de uma história de amor. De Chieko ou Naeko ou de ambas? Nem sempre o amor é conquista, por vezes é renúncia...
Aconselho vivamente a leitura deste magnífico escritor. No fim de cada livro seu, fica uma doce nostalgia, mas um coração pleno de cor e esplendor e a noção de que viajamos em cada história e ficamos mais ricos.

Bei, Aline (2017). O Peso do Pássaro Morto. São Paulo: Editora Nós.

Nº de páginas: 168

Início da leitura: 19/01/2023

Fim da leitura: 20/01/2023

**SINOPSE**

"A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético.

É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita."
Escolhi este livro um pouco às cegas. Depois, antes de avançar para lá da primeira página, fui ler a biografia da autora, uma jovem de São Paulo, contando já com um prémio literário. Avancei. Confesso que, inicialmente, a configuração ótico-grafemática na folha de papel me deixou um pouco confusa: é texto poético? É narrativa? É prosa poética? é uma narrativa em verso? Penso que será mais narrativa em versos fluídos, ao sabor dos pensamentos e com alguma poeticidade. Certo é que acaba por nos envolver.
A história contada é a de uma mulher, desde criança até aos 52 anos. O seu percurso de vida é marcado pela dor, a dor da perda, a dor da violação, a dor de ser mãe sem se sentir mãe, a dor de reconhecer que desconhece o filho que criou, o afastamento entre mãe e filho. Quando andava na escola, um acontecimento marca-a para sempre: a violenta morte de uma colega de escola, estraçalhada por um cão feroz. A morte vai acompanhando a personagem, que "no tempo" da sua "memória" acreditava que eram "pra sempre", não existia "morrer dentro, é como uma canção".
Quando o filho vai para a faculdade, fica só, e é nessa solidão que se reencontra. Num certo dia, quando vai viajar para rever o filho que não vê há muito tempo, encontra um cão enorme, abandonado numa bomba de gasolina e, ao aperceber-se da sua docilidade e necessidade de afeto, toma uma decisão, que mudará o rumo dos seus dias.
Deixo esta passagem, com a qual me identifiquei: 
"...o trabalho é 
por tantas vezes 
a maior tristeza da vida de uma pessoa e é só nisso
que certos pais pensam, no filho
crescendo e sendo alguém sendo que esse alguém envolve 
tudo menos Ser."
Aconselho!

Cachapa, Possidónio (2019). Materna Doçura. Lisboa: Companhia das Letras.

Número de páginas: 320

Início da leitura: 15/01/2023

Fim da leitura: 17/01/2023

**SINOPSE**

"Ao perder tragicamente a mãe, Sacha entra numa busca desequilibrada para reencontrar a sua imagem no corpo e rosto de todas as mulheres. Viajando das ruas luminosas de Lisboa aos corredores escuros do metro parisiense, o protagonista perseguirá a figura maternal de forma obsessiva. Tem um buraco no peito que precisa desesperadamente preencher.

Um pai inesperado, prostitutas de coração grande e produtores de cinema capazes de verem para lá do imediato, são algumas das personagens inusitadas que se cruzarão no caminho de Sacha, num universo em que as mulheres podem abraçar um lado masculino e os homens deixar bater um coração de mulher. Materna Doçura é um romance sobre o amor materno, mas, ao mesmo tempo, um manifesto sobre a importância de olhar todas as pessoas com compaixão e respeito. Escrito com irreverência e imaginação, leva o leitor da primeira à última página com uma voracidade feita de humor, emoção e drama."

Não é muito fácil falar deste livro. Apesar de muito bem escrito, de abordar o tema da perda da mãe e da dificuldade em viver com a falta do afeto maternal, chocou-me com a forma irreverente e inusitada de abordar esta "materna doçura". A ausência materna é, de certa forma, atenuada pela presença do Professor na vida de Sacha. Partilham a ausência da mãe e tornam-se essenciais um para o outro. Mais não revelo. Cachapa é um autor a ler. 

Chabouté (2020). Acender uma Fogueira. Lisboa: Levoir.

A partir do conto de Jack London.

Tradução: João Miguel Lameiras

Nº de páginas: 96

Início da leitura: 16/01/2023

Fim da leitura: 16/01/2023

**SINOPSE**

Um homem em busca de fortuna ou aventura, perdido no meio do Grande Norte, tenta juntar-se aos companheiros. Neste deserto de neve e gelo, apenas ele e um cão... Confrontado com as forças da natureza e com o frio cortante, a sua vida depende dos poucos fósforos com os quais espera acender uma fogueira.

Uma história simples e poderosa, servida por um desenho que nos faz sentir o frio como nunca experimentámos na BD.

Esta novela gráfica é simplesmente fabulosa. Tudo se conjuga, texto e sobretudo imagem, para nos contar uma história de cortar a respiração.
Tudo se passa em 1896, no norte do Canadá, Klondike, onde terão sido descobertas várias jazidas de ouro. 
O protagonista é um desses "prospectores improvisados", levados pela "febre do ouro". Para viajar até Klodike, teria de enfrentar muitas dificuldades. Sem quaisquer meios de comunicação, teria de seguir os trilhos difíceis da montanha a partir da Costa do Alasca. Mas, segundo o protagonista, estariam cerca de - 45 graus; segundo o cão que o acompanha nesta viagem, estarão - 60 graus.
É incrível como a ilustração nos conduz a este espaço, gerando-se em nós um ansiedade, um medo, uma angústia que vão crescendo até quase nos faltar o ar.
Fabuloso!
Aconselho vivamente.

 Innocenti, Roberto (2018). Clementine. Matosinhos: Edições Kalandraka.



Tradução: Carla Maia de Almeida

Nº de páginas: 40

Início da leitura: 15/01/2023

Fim da leitura: 15/01/2023

**SINOPSE**

"Um grande temporal e um naufrágio marcam o início de "Clementine", a história fictícia de um leal capitão e do seu amado navio de carga que durante quase meio século - desde a sua construção no início da década de 1930 até ao seu final no fundo do mar - percorreu os portos do mundo inteiro: do Pacífico aos confins do continente africano, passando pelas costas árticas e asiáticas, tanto em tempos de paz como durante a II Guerra Mundial, altura em que foi utilizado pela Marinha dos Estados Unidos na contenda bélica.

Através de um texto simples e pelo recurso a flashbacks, Roberto Innocenti transporta-nos do presente ao passado, fazendo uma viagem pelo solo geográfico e cronológico, ao mesmo tempo que percorre a biografia do protagonista."
O narrador começa a sua história com o naufrágio do seu navio Clementine. Só depois nos conta como tudo começou, desde que "era rapaz" e como chegou ao naufrágio, através de uma analepse. Dá-nos conta da construção do navio, do momento do embarque e dos vários países do mundo que conheceram...Mas, não fala apenas dos momentos agradáveis, conta-nos também sobre o momento em que "Clementine foi chamado a combater". Dá-nos ainda conta da efemeridade do tempo pois, quando regressa a casa, tanto o capitão do navio quanto a sua esposa Alice, são já velhos.
É curiosa a personificação constante de Clementine, que, quanto a mim, era o primeiro grande amor do capitão.
Depois, de realçar, em termos de aprendizagem para os mais novos, que são explicados todos os elementos que constituem um navio, bem como é apresentado um mapa do mundo com uma legenda onde constam os produtos que o capitão comercializava em cada paragem.
Recomendo!

Harari, Yuval Noah (2020). Sapiens: A Origem da Humanidade. Lisboa: Penguin Random House.

Tradução: Joana Jacinto

Nº de páginas: 248

Início da leitura: 04/01/2023

Fim da leitura:15/01/2023

**SINOPSE**

"Há cem mil anos, caminhavam pela Terra pelo menos seis espécies diferentes de humanos. Nos dias de hoje, existe apenas uma: o Homo sapiens. O que aconteceu aos outros? E o que nos acontecerá a nós?

Neste primeiro volume da adaptação do brilhante Sapiens: História Breve da Humanidade para novela gráfica, feita em parceria com o escritor David Vandermeulen e o ilustrador Daniel Casanave, Yuval Noah Harari conta -nos a história de um simples símio que acabaria por se tornar o rei do planeta Terra, capaz de dividir o átomo, voar até à Lua e manipular o código genético da vida.

Carregado de humor e originalidade, Sapiens: A Origem da Humanidade permite-nos assistir, em tempo real, ao primeiro encontro entre sapiens e neandertais, à extinção dos mamutes e dos tigres dentes-de-sabre, e às descobertas que acabaram por definir-nos enquanto caso único na Natureza.

Com 248 páginas ilustradas a cores, este é o livro perfeito para alargar o diálogo iniciado em Sapiens:História Breve da Humanidade,e para apresentar o universo e as ideias de Yuval Noah Harari a novos leitores, curiosos pelo que tem sido a longa e agitada história do ser humano."

Gosto realmente de Banda Desenhada, quando é bem escrita e esta não é exceção. É com agrado que vejo a transmissão de conhecimento (de que os estudantes poderão usufruir) desta forma mais atrativa e que nos prende pelo texto mas, sobretudo pela imagem que complementa o texto e lhe dá força e corpo.
Uma história brilhante sobre as nossas origens: o homo sapiens africano, a única espécie humana ao longo dos últimos 30 mil anos, as suas tradições, a ideia de ser o "ápex da criação separados do restante reino animal por diferenças colossais", a sua expansão por todos os cantos do mundo, a sua responsabilidade pela extinção de milhares de espécies, a colonização dos sapiens que terá sido "dos maiores e mais bruscos desastres ecológicos que atingiram o reino animal". Através desta novela gráfica, percebemos ainda que "somos todos culpados" a partir do momento em que, conscientes das consequências dos nossos atos, contrariamente aos Sapiens, continuamos a ignorar que "somos a espécie mais mortífera da História da Biologia".
Um livro para quem quer aprender (e não me refiro apenas aos estudantes), que relembra a nossa origem e alerta para as consequências dos nossos atos impensados. Fico desejosa de ler o volume II.

 Zimler, Richard (2018). Os Dez Espelhos de Benjamin Zarco. Porto: Porto Editora.




Tradução: Daniela Carvalhal Garcia

Nº de páginas: 450

Início da leitura: 09/01/2023

Fim da leitura: 14/01/2023

**SINOPSE**

Benjamin Zarco e o seu primo Shelly foram os únicos membros da família a escapar ao Holocausto. Cada um à sua maneira, ambos carregam o fardo de ter sobrevivido a todos os outros. Benjamin recusa-se a falar do passado, procurando as respostas na cabala, que estuda com avidez, em busca daquilo a que chama os fios invisíveis que tudo ligam. E Shelly refugia-se numa hiper sexualidade, seu único subterfúgio para calar os fantasmas que o atormentam.

Construído como um mosaico e dividido em seis peças, Os dez espelhos de Benjamin Zarco entretecem-se entre 1944, com a história de Ewa Armbruster, professora de piano cristã que arrisca a vida para esconder Benni em sua casa, e 2018, com o testemunho do filho de Benjamin acerca do manuscrito de Berequias Zarco, herança do pai, talvez a chave para compreender a razão por que Benjamin e Shelly se salvaram e o vínculo único que os une.

Um romance profundamente comovente e redentor, com personagens inesquecíveis. Uma ode à solidariedade, ao heroísmo e ao tipo de amor capaz de ultrapassar todas as barreiras, temporais e geográficas.

Já tinha lido O Último Cabalista de Lisboa e A Sétima Porta e gostado muito. Este também não me desiludiu. Gosto realmente desta família Zarco que protagoniza o ciclo Sefardita da ficção de Zimler, de que este é o quinto livro. 
Aqui se aborda o pós-guerra e os fantasmas que carregam todos os que viveram os terrores do Holocausto. Benjamin Zarco, ainda muito jovem, assiste à libertação dos prisioneiros de um campo de concentração, o que o marca para sempre. Ficamos a conhecer Benjamin através da perspetiva de vários narradores, ao longo dos tempos e de acordo com as relações estabelecidas entre as personagens. Estas são muito bem ficcionadas, prendendo-nos às suas histórias, à sua complexidade, às suas fragilidades e inseguranças, aos seus medos, às suas "taras e manias", às suas dúvidas, à sua humanidade, sempre com a força narrativa que nos conquista, conjugando os dramas pessoais de cada um com algum sentido de humor e ironia. Com a linguagem cinematográfica a que já nos habituou, Zimler prende-nos à narrativa, sem tempos mortos, e desperta-nos constantemente a curiosidade. 
Já tinha este livro desde 2019, assinado pelo autor aquando de uma visita ao Fundão, mas, entre tantas leituras, só agora consegui ler. Mas vale bem a pena! Aconselho vivamente a leitura!

Fagerholm, Monika (2022). Quem Matou Bambi. Alfragide: Casa das Letras.

Tradução: Agneta Öhrström

nº de páginas: 288

Início da leitura: 08/01/2023

Fim da leitura: 09/01/2023

**SINOPSE**

"Emmy e Saga-Lill conhecem-se desde a infância mas as suas vidas seguiram rumos muito diferentes. Emmy é uma jovem mãe, casada com Mats, um consultor de investimentos mais velho. Saga-Lill é uma antiga estudante de teologia que se sente sem rumo. Gusten Grippe, amigo das duas, cresceu num subúrbio rico onde decorre grande parte da história e onde, há anos, aconteceu um terrível crime.

Mas, sob a superfície deste bairro elegante, esconde-se uma ferida antiga: uma brutal violação em grupo que teve lugar numa casa à beira do lago Kallsjön. Outrora o lar da abastada família Häggert, agora abriga apenas o único herdeiro, Nathan. Os quatro agressores eram filhos da comunidade, e o subúrbio pensa ter deixado o violento ataque para trás.
Mas agora, Cosmo Brant, um dos quatro, voltou e quer fazer um filme sobre o crime: Quem matou Bambi?."
Este não foi um livro em que entrei facilmente. Ontem peguei nele, li umas quantas páginas e pousei-o. Continuei a ler uma novela gráfica que estou a ler ao mesmo tempo. Entretanto, li uma opinião que me levou a voltar, hoje, a pegar nele. e, como não sou de desistir, dei-lhe uma segunda oportunidade.
O certo é que, apesar de não ser dos melhores livros que li, começou a envolver-me e, a certa altura, queria saber como toda esta história terminava, o que aconteceria com o grupo de jovens, num determinado dia, numa cave da casa de Annelise Häggert, abusara violentamente de uma jovem. Nem sempre o fim da inocência sucede da melhor forma e há memórias de acontecimentos que, de tão terríficos, não se apagam da memória, porque houve algo em cada um deles que, por motivos diferentes, ficou ali naquela cave e este passado, ao mesmo tempo que influenciou as suas vidas, o que leva Cosmo a dizer "...às vezes parece que o passado nos INUNDA", transformou-os, mexendo com as suas identidades, confianças, ações e escolhas. Porque, no fundo, todos sabiam quem tinha matado "a virgem perfeita", o "Bambi".
Recomendo, mas não desistindo às primeiras páginas.

NG, Celeste (2017). Pequenos Fogos em Todo o Lado. Lisboa: Relógio D'Água Editores.

Tradução: Inês Dias

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 02/01/2023

Fim da leitura: 06/01/2023

**SINOPSE**

«Em Shaker Heights, um pacato subúrbio de Cleveland, está tudo previsto — desde o traçado das ruas sinuosas até à cor das casas, passando pelas vidas bem-sucedidas que os seus residentes levam. E ninguém encarna melhor esse espírito do que Elena Richardson, cujo princípio orientador é obedecer às regras do jogo. A esta idílica redoma chega Mia Warren — uma artista enigmática e mãe solteira — com a filha adolescente, Pearl. Mia arrenda uma casa aos Richardsons. Rapidamente Mia e Pearl se tornam mais do que inquilinas: os quatro filhos dos Richardsons sentem-se cativados pelas duas figuras femininas. Mas Mia traz consigo um passado misterioso e um desprezo pelo status quo que ameaçam perturbar esta comunidade cuidadosamente ordenada.»
Que livro tão bom! Quando a ação se inicia com o acontecimento chave, tudo poderia acontecer: perder o interesse ou suscitar a curiosidade. Venceu esta última. Ao longo de toda a narrativa, vamos descobrindo as personagens, as suas relações familiares, os seus problemas, as suas convicções, os seus erros, tudo o que as torna tão humanas. 
É um livro que prende, que dificilmente se consegue parar de ler (só não o fiz compulsivamente, por falta de tempo), não só pela forma intensa como está escrito, mas pela densidade psicológica das personagens, pelas suas vivências, pela forma enigmática como nos vão sendo apresentadas, pela capacidade de surpreenderem e de criarem expetativas que não se defraudam. Vários são os temas abordados, polémicos, sempre atuais: a maternidade, as barrigas de aluguer, o abandono de filhos, o conflito geracional, a perda/morte, o racismo, o "despentear" de uma comunidade dita perfeita, o amor materno, os segredos de família, a arte, entre outros... Tudo magistralmente conduzido para um final de tirar o fôlego.
Se já tinha gostado de Tudo o que Ficou por Dizer da mesma autora, este surpreendeu-me verdadeiramente, pelo que só posso aconselhá-lo!

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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