Chorei, quando te vi partir,
por mim, por ti, por nós.
Chorei a vida por partilhar,
a história por contar,
o sorriso por sorrir.
Chorei, quando senti o vazio
que deixaste por aqui.
Chorei ao sentir o chão frio
nas pisadas que te segui.
Chorei, quando a porta se fechou
para sempre, eternamente.
Chorei porque tudo ficou diferente
e não me reconheço no que ficou.
Chorei a tua, a minha tristeza,
por ti, por mim, por nós,
pela história interrompida.
Chorei porque ficámos sós,
com uma única certeza,
a de que a porta se fechou
irremediavelmente se encerrou
para sempre,
eternamente.
Célia Gil
(27/07/2017)
O poder da leitura é inigualável.
A leitura despoleta no leitor o desejo de mais leituras, ficando este ansioso por empreender a leitura de um novo livro mal tenha terminado outro, isto caso não esteja a ler vários livros ao mesmo tempo. Este leitor assíduo é aquele que sente um vazio entre uma leitura e outra. Um bom leitor, ainda que difícil de definir, será, talvez, aquele que consegue, através da leitura, manter-se informado, instruir-se gradualmente, obter uma crescente capacidade argumentativa, ganhar um poder ativo e interventivo enquanto cidadão, mas, ao mesmo tempo, nunca perdendo a capacidade de sonhar, de se reinventar e de se encontrar e reencontrar no prazer da leitura.
É preciso empreender, acreditando, um trajeto para os mais jovens que os leve à perceção da importância da leitura, mas também da magia que tem ao permitir ao leitor continuar sempre a sonhar. Nesse sentido, torna-se necessário facultar-lhes a capacidade interpretativa. A leitura pressupõe a compreensão de signos e a produção de sentidos, que faculta uma interação entre o leitor e o texto.
O sonho, o devaneio, a criatividade, a sensibilidade e o imaginário, vêm, quanto a mim, complementar o conhecimento, a criação e a transformação. É ao perspetivar a realidade de forma individual, que o leitor cria novas realidades através da imaginação, ideais que vêm dar novo sentido e cor a realidades insatisfatoriamente gastas.
E a motivação para a leitura nos mais novos, tem necessariamente de passar por aí, correndo o risco de os desmotivar logo, à partida, para a descoberta da leitura, que deve ser vista precisamente como um universo mágico, irreal, que permite sucessivas recriações do mundo, onde tudo é possível, onde tudo pode acontecer. É essa magia criada na motivação para a leitura que vai prender a criança a esse mundo imaginário, ficcional, que lhe permite viajar por onde nunca viajou, conhecer novos espaços, confrontar-se com uma nova noção do tempo.
in Gil, Célia (2016). Dissertação de Mestrado.
Há dias de inverno,
em que a chuva e o vento,
invadem as nossas vidas.
E com profundo lamento,
deixam as almas perdidas,
as forças entorpecidas.
Um frio por fora e por dentro,
uma incapacidade de movimento...
Há dias simplesmente cinzentos,
vazios de movimentos,
de um nada querer por fora
de um nada crer por dentro.
São dias em que me ausento
de mim, em mim, por mim.
Em que nada faz sentido,
e cada gesto que faça
é mais um gesto perdido,
que não larga nem enlaça.
Há dias de um sol intenso,
que brilham por fora
e preenchem por dentro.
São dias de movimento,
de um querer imenso,
de um crer em pensamento.
Dias de amor,
dias de paz,
dias de ficar,
em que tudo se faz,
num torpor
de acreditar!
Célia Gil
em que a chuva e o vento,
invadem as nossas vidas.
E com profundo lamento,
deixam as almas perdidas,
as forças entorpecidas.
Um frio por fora e por dentro,
uma incapacidade de movimento...
Há dias simplesmente cinzentos,
vazios de movimentos,
de um nada querer por fora
de um nada crer por dentro.
São dias em que me ausento
de mim, em mim, por mim.
Em que nada faz sentido,
e cada gesto que faça
é mais um gesto perdido,
que não larga nem enlaça.
Há dias de um sol intenso,
que brilham por fora
e preenchem por dentro.
São dias de movimento,
de um querer imenso,
de um crer em pensamento.
Dias de amor,
dias de paz,
dias de ficar,
em que tudo se faz,
num torpor
de acreditar!
Célia Gil
(imagem daqui)
Não podia deixar de manifestar o meu pesar pelas políticas hoteleiras que promovem o abandono de animais ao não permitirem que estes possam ficar hospedados com os seus donos.
O Dragão é um cão que está connosco vai fazer a 14 de agosto 13 anos. Está velhinho, tem um problema cardíaco e não pode ser deixado com ninguém, pois fica nervoso na nossa ausência.
Este fim de semana fomos à Figueira da Foz e foi neste momento que me apercebi que o único hotel a aceitar animais (com uma taxa acrescida de 15 euros) foi o hotel Ibis. É incrível, um único hotel. Na Figueira e arredores (Quiaios, etc) não aceitaram o meu cãozinho, que precisa que lhe demos medicação, atenção e carinho e que está habituado a estar sempre connosco. Fomos para o Ibis. Pagámos mais. Mas não abandonámos o Dragão. E reforço que os hotéis promovem o abandono de animais, ao não permitirem a sua presença!!!!!
O meu cão é limpinho, não larga pelo, porta-se melhor do que muitas pessoas e não deixa nada sujo, não faz barulho, não destrói, não bebe, não fica na conversa até altas horas, não leva toalhas nem lençóis na mala.
Não estará na hora de os hotéis se modernizarem e abrirem as mentes?
Onde estão os princípios, a ética, a moral?
NÃO ao maltrato e ao abandono dos animais!
Célia Gil
Não pode ser,
não posso aceitar
que a vida passe assim,
sem pestanejar,
sem que se chegue a hora,
pois nunca é a hora
para um virar de página,
numa história que nunca chega ao fim.
Não quero voltar a sentir
a dor da despedida;
a solidão a espreitar pela porta,
que deixarás entreaberta,
a dominar as nossas vidas;
o silêncio a preencher as paredes
de encontro à nossa alma;
o vazio dos dias
a esvaziar-nos as mentes
e a roubar-nos as forças.
Não quero,
não posso querer,
ainda que saiba que é assim,
ainda que saiba que os pássaros voam,
ainda que saiba...
No meu peito há um ninho
tão vosso,
tão nosso,
que não posso...
(07/07/2017)
(07/07/2017)
Célia Gil
Cruz, Afonso (2010). Os Livros que Devoraram o Meu Pai. Alfragide: Caminho.
Integrado no Plano Nacional de Leitura, na categoria
de Leitura Autónoma (3.º Ciclo), Os
Livros que Devoraram o Meu Pai é um livro imperdível e que pode ser lido
por várias gerações.
Com um sentido de
humor notório e uma criatividade linguística que prendem o leitor nas primeiras
linhas, é impossível não se envolver pelo jovem Elias Bonfim, que nos conduz em
aventuras imperdíveis. Quando fez doze anos, Bonfim foi presenteado com a chave
do sótão, onde estavam os livros do seu pai, que desaparecera por um livro
adentro, A Ilha do Dr. Moreau. O pai
deixara instruções precisas, uma verdade revelada pela avó, cujas palavras
“vinham cheias de cabelos brancos”, na sua voz um pouco “amarrotada”. O pai não
fora apenas um colecionador, mas um leitor voraz, que acaba por incutir no
filho o interesse pela leitura.
Como seria este
sótão? Que livro começou Bonfim por ler? Afinal, até que ponto a personagem do
livro A Ilha do Dr. Moreau, Edward
Prendick, é real? E quem seria o Dr. Zirkov, “que usava uns olhos pequeninos
escondidos atrás duns óculos” e que também era mencionado no enigmático livro?
Como terá decorrido o encontro de Bonfim com o Dr. Zirkov? Muitas são as
questões que se vão colocando ao leitor à medida que avança na leitura, cada
vez mais absorvido, cada vez mais devorado pelo livro.
E quando, a par
destas aventuras emocionantes, há uma Beatriz na escola, cujos cabelos negros
“deslizavam pelos ombros, como o cheiro do café desliza pela chávena”, a quem
Bonfim não resiste, tal como o Bombo, o jovem das histórias chinesas.
Não posso terminar
sem apresentar um excerto cativante:
«Uma biblioteca é
um labirinto (…) Porque nós somos feitos de histórias, não é de a-dê-enes e
códigos genéticos, nem de carne e músculos e pele e cérebros. É de histórias
(…) Há inúmeros lugares onde um ser humano se pode perder, mas não há nenhum
tão complexo como uma biblioteca.»
Usa-se muito a
expressão “devorar um livro” para marcar aquelas obras que queremos ler até ao
fim sem parar. Foi muito divertido pensar na hipótese inversa, porque também o
livro pode devorar o leitor, prendendo-o e impedindo-o de deixar com facilidade
a história por que foi envolvido.
Além de escritor,
Afonso Cruz é também ilustrador, cineasta e músico da banda The Soaked Lamb. Nasceu em 1971, na
Figueira da Foz, e viria a frequentar mais tarde a Escola António Arroio, em
Lisboa, e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, assim como o Instituto
Superior de Artes Plásticas da Madeira e mais de cinquenta países de todo o
mundo. Já conquistou vários prémios: Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2010, Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2009, Prémio da União Europeia para a Literatura 2012, Prémio Autores 2011 SPA/RTP; Menção
Especial do Prémio Nacional de Ilustração
2011, Lista de Honra do IBBY – Internacional
Board on Books for Young People, Prémio
Ler/Booktailors – Melhor Ilustração Original, Melhor Livro do Ano da Time Out 2012 e foi finalista dos
prémios Fernando Namora e Grande Prémio de Romance e Novela APE e
conquistou o Prémio Autores para Melhor
Ficção Narrativa, atribuído pela SPA em 2014.
Sobre mim
Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.
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