Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Tudor, C. J. (2021). Raparigas em Chamas. Lisboa: Planeta.

Tradutor: Mário Dias Correia

Nº de páginas: 384

Início da leitura: 29/12/2021

Fim de leitura: 30/12/2021

 

**SINOPSE**

Uma vigária pouco convencional tem de exorcizar o passado sombrio de uma aldeia remota, assombrada pela morte e por desaparecimentos misteriosos, no novo thriller explosivo e inquietante da autora best-sellerde O Homem de Giz.
Há quinhentos anos, mártires protestantes foram queimados. Há trinta anos, duas adolescentes desapareceram sem deixar rasto. Há algumas semanas, o responsável da paróquia local enforcou-se na nave da igreja.

A reverenda Jack Brooks, mãe solteira de uma filha de quinze anos e dona de uma consciência pesada, chega à pequena aldeia com esperança de um novo começo. Em vez disso, encontra Chapel Croft repleta de conspirações e segredos, e é recebida com um estranho presente de boas-vindas: um kitde exorcismo e um cartão que a avisa: «Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se.»
Quanto mais Jack e a sua filha, Flo, exploram a localidade e conhecem os seus estranhos habitantes, mais elas são atraídas para as antigas divisões, mistérios e suspeitas. E quando Flo começa a ver imagens de raparigas em chamas, torna-se evidente que há fantasmas que se recusam a ficar enterrados.

Descobrir a verdade pode ser mortal, num lugar com um passado sangrento, onde todos têm algo a esconder e ninguém confia num estranho.

 

**OPINIÃO**

Este é um thriller com laivos de terror e mistério. Logo no início, promete: a chegada de uma vigária, Jack Brooks, e da sua filha adolescente, Flo, fugidas não se sabe do quê, envoltas num passado misterioso, tem o dom de nos prender à história. De referir que é uma reverenda diferente das demais, bastante mais moderna e de mente aparentemente mais aberta. Depois, Capel Croft, a localidade para onde foram, também ela é estranha, cheia de misticismo, um passado marcado por um acontecimento terrífico: quando duas jovens foram queimadas de forma macabra. No presente, os habitantes da pequena cidade mostram-se estranhos, desconfiados e pouco recetivos à chegada da vigária. Aparecem bonecas feitas de gravetos que se creem ser um muito mau presságio para quem as encontra.Temos ainda os jovens, os que praticam bullying e o Wrigley, um jovem que se diz vítima de bullying e que sofre de distonia.

Mas nada é o que parece e muitas reviravoltas e descobertas se poderão fazer ao longo do livro. Apesar disso e de ser um livro de fácil leitura, poderia ter sido trabalhada mais a parte do misticismo, do exorcismo, de magia negra, uma vez, que, no início, temos indícios de que se vão abordar esses temas. Pena a autora não o ter feito. Penso que, ao querer manter o leitor preso à história e estupefacto com os acontecimentos, acabou por sugerir muitas premissas que não desenvolveu e que teriam dado mais consistência à história. É a única crítica que tenho a apontar. De resto, não desgostei.

Evaristo, Bernardine (2020). Rapariga, Mulher, Outra. Amadora: Elsinore.

Tradutor: Miguel Romeiro

Nº de páginas: 480

Início da leitura: 23/12/2021

Fim da leitura: 28/12/2021

**SINOPSE**

As doze personagens centrais deste romance a várias vozes levam vidas muito diferentes: desde Amma, uma dramaturga cujo trabalho artístico frequentemente explora a sua identidade lésbica negra, à sua amiga de infância, Shirley, professora, exausta de décadas de trabalho nas escolas subfinanciadas de Londres; a Carole, uma das ex-alunas de Shirley, agora uma bem-sucedida gestora de fundos de investimento, ou a mãe desta, Bummi, uma empregada doméstica que se preocupa com o renegar das raízes africanas por parte da filha.

Quase todas elas mulheres, negras e, de uma maneira ou de outra, resultado do legado do império colonial britânico. As suas histórias, a das suas famílias, amigos e amantes, compõem um retrato multifacetado e realista dos nossos dias, de uma sociedade multicultural que se confronta com a herança do seu passado e luta contra as contradições do presente.

Um romance atual, brilhantemente escrito, que repensa as questões de identidade, género e classe com o pano de fundo do colonialismo, da emigração e da diáspora.

Força narrativa e escrita cativante num empolgante mosaico de histórias de vida que farão o leitor repensar a sua maneira de ver o mundo.

**OPINIÃO**

Este é um romance de 12 mulheres, maioritariamente negras, filhas de imigrantes que partiram para o Reino Unido em busca de melhores condições de vida e que têm um objetivo comum – a necessidade de afirmação e de emancipação. O ritmo é rápido e a linguagem contagiante e oralizante. É um livro que nos leva a refletir sobre a identidade de género e classe e, ao mesmo tempo, dá a conhecer tradições da cultura africana, dialetos... Um livro duro, tão real que choca, pela forma direta de encarar a sociedade britânica atual, a agressividade, o preconceito e o racismo contra os imigrantes, mas também o machismo, a homofobia, a violência psicológica, o preconceito social, a violação, o género, os estereótipos e a sexualidade.

Cada capítulo é sobre uma personagem e, apesar de inicialmente não percebermos de imediato a ligação entre elas, aos poucos começamos a entender que todas se cruzam. Interessante também é o facto de as personagens perceberem o feminismo de formas diferentes. Este é um livro que nos abre perspetivas, nos permite refletir e contribuir para uma mudança de atitudes. Aconselho vivamente!

Wolfe, Leslie (2021). A Rapariga da Rosa. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Carla Ribeiro

Nº de páginas: 264

Início da leitura: 22/12/2021

Fim da leitura: 23/12/2021

**SINOPSE**

Três histórias. Duas vidas. Um assassino.

A agente Tess Winnett está de volta com três casos reunidos num único livro. Raparigas desaparecidas, evidências perturbadoras e crimes terríveis. Tess Winnett corre contra o tempo. Um corpo congelado, vidas suspensas nas mãos de assassinos em série, destinos cruzados e mensagens misteriosas em corpos ensanguentados. Quantas mais vítimas terão de morrer? Quanto tempo mais irão os assassinos continuar a escapar?

A Rapariga da Rosa

Um corpo congelado, incapaz de se mover. Os olhos vazios, fixos no sangue que emana do seu próprio corpo, enchendo uma taça de porcelana cuidadosamente trabalhada a ouro. Os lábios entreabertos de quem soltou um grito que não chegou a ninguém. E ele apenas sorri, enxugando-lhe as lágrimas com os dedos frios.

Marcada para a Morte

Um número, uma letra. Duas personagens, nove cortes, os seus destinos cruzados e nitidamente esculpidos na pele ensanguentada de Danielle. Tess já tinha visto isto antes. Nos corpos de outras vítimas… ela conhece aquela assinatura... O Assassino das Palavras está de volta, no entanto, a sua identidade permanece um mistério. Um assassino impulsivo, desorganizado e rápido como um relâmpago. E porque terá deixado Danielle com vida?

Morte nas Alturas

O mar alto não teve tempo suficiente de destruir o corpo. A sua beleza permanece intacta, os lábios pálidos em memória de um último suspiro, o rosto escondido por mechas de cabelo escuro e ondulado. Cada centímetro da sua pele testemunha um terrível destino entregue nas mãos de um assassino que nunca esperou que ela fosse encontrada.

**OPINIÃO**

Este é um thriller que se lê de um só fôlego! Como se pode ver pela sinopse, são três casos de assassinos psicopatas, investigados pela normalmente bem-sucedida agente Tess Winnett. São casos muito interessantes, mas que poderiam ter dado origem a três livros diferentes, o que permitiria explorar melhor cada uma das histórias, que, no meu entender, mereciam ser mais desenvolvidas. É, no entanto, um livro que se lê muito bem e que serve plenamente a função de distrair.

Strout, Elizabeth (2018). Tudo é Possível. Lisboa: Alfaguara Editora.

Tradutora: Rita Canas Mendes

Nº de páginas: 240

Início da leitura: 19/12/2021

Fim da leitura: 21/12/2021

 

**SINOPSE**

Depois do sucesso de O Meu Nome É Lucy Barton, Elizabeth Strout regressa com um mosaico delicado da vida de todos os dias, um retrato íntimo das pessoas comuns que tentam entender-se e entender os outros, esforçando-se por ultrapassar o sempre crescente abismo entre o desejar e o ter.

Lançando um olhar sobre as ambiguidades e ambivalências da alma humana, Tudo É Possível é um hino à sensibilidade e à compaixão.

 

**OPINIÃO**

Já tinha gostado de O Meu Nome É Lucy Barton e Tudo é Possível retoma essa e outras personagens desse livro, detendo-se em cada personagem, nas suas próprias relações e famílias, como se de contos se tratasse. Não necessita, porém, de ser lido por uma ordem específica, se bem que nos permite já ter tido um contacto com algumas das personagens. E não são contos e há sempre uma ligação entre as personagens que nos vão sendo apresentadas.

O foco são as relações humanas, aparentemente comezinhas, mas de tudo quanto se pensa e nem sempre se diz. O que eu acho do outro? Será que o que digo corresponde ao que penso? O que nos pode desgostar no outro? Porque não aceitamos que nem toda a gente cumpra estritamente as regras que a sociedade nos impõe? Poderemos, aos 70 e muitos anos, deixar um casamento de outros tantos anos e optar por viver “la vida loca”? Como encaram os filhos a partida de uma mãe para um país distante, deixando um pai com cancro? Alguma vez o compreenderão? O sucesso e a riqueza apagarão todo um passado de pobreza e violência? Até que ponto a sexualidade reprimida e infeliz por receio das opiniões alheias pode levar à loucura? Quando não conseguimos demonstrar as nossas emoções, o que nos mantém vivos? Estes são apenas exemplos de muitas questões que vão sendo levantadas ao longo da leitura. Questões pessoais, familiares ou que marcaram a infância das personagens, refletindo-se em quem se tornaram na fase adulta, nos traumas, nas inseguranças...

Apesar de ter gostado muito deste livro, gostei mais do anterior. Mas, pela riqueza da linguagem, pela incursão ao universo das emoções mais recônditas e tão humanas, aconselho vivamente a sua leitura!

Carey, Ella (2018). Uma Cápsula do Tempo em Paris. Porto Salvo: Saída de Emergência.

Tradutora: Ester Cortegano

Número de páginas: 240

Início da leitura: 17/12/2021

Fim da leitura: 18/12/2021

**SINOPSE**

Baseada em factos verídicos, esta é a história de um luxuoso apartamento em Paris abandonado durante setenta anos. E dos segredos que a sua herdeira vai descobrir.

A fotógrafa nova iorquina Cat Jordan lutou muito para se libertar do passado. Quando finalmente se sente pronta para iniciar uma nova vida com o seu namorado, é informada de que é a única herdeira de Isabelle de Florian, uma mulher francesa que nunca conheceu.

Cat chega a Paris à procura de respostas e descobre que é a proprietária de um apartamento da Belle Époque perfeitamente preservado, e que a família de Isabelle nada sabia desta herança. Afinal quem foi essa mulher? E porque lhe deixou o apartamento a si e não à própria família?

À medida que segredos há muito enterrados começam a ser desvendados e a atração pelo neto de Isabelle se torna tão intensa que é impossível de ignorar, Cat terá de decidir qual das suas duas vidas quer deixar para trás.

**OPINIÃO**

Escolhi este livro por me parecer uma leitura mais leve e, de facto, poderá ser um livro a ler entre leituras mais duras e profundas. Outra das razões da minha escolha foi a sinopse, pois gosto de livros baseados em factos reais. “Marthe de Florian foi pintada por Giovanni Boldini. Viveu em Paris e foi atriz e demimondaine”.

O que mais me cativou neste livro é o facto de a sua escrita agradável e ação constantes nos prenderem à história que se lê num ápice, a procura de explicações para o enigma da herança de um apartamento, abandonado, durante setenta anos, e que Cat pretende esclarecer.

De resto, é um livro cujas personagens me irritam, Christian e a sua vida fútil e até desonesta, que aparenta ser o homem perfeito; Cat, que, sendo diferente de Christian, não tem uma personalidade determinada, que lhe permita ver o verdadeiro noivo e tomar decisões inteligentes.

Uma boa premissa, pouco explorada, de forma muito ligeira, e que poderia ser brilhante, não fosse o foco os amores e desamores de Cat. Até o facto de Cat ser fotógrafa e fazer registos constantes de Paris, poderia ter sido aproveitado para excelentes descrições, que nos permitissem, a nós leitores, viajar e seguir os passos da protagonista.

Ainda assim, dou 4 estrelas, porque cumpriu a função de me distrair e gostei da história que está por detrás do enigmático apartamento da Belle Époque.

Dicker, Joël (2014). Os Últimos Dias dos Nossos Pais. Lisboa: Alfaguara Portugal.

Tradutor: Paulo Ramos

Nº de páginas: 432

Início da leitura: 13/12/2021

Fim da leitura: 17/12/2021

**SINOPSE**

E se os ingleses tivessem sido os verdadeiros artesãos da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial? Após a pesada e preocupante derrota do exército britânico em Dunquerque, Churchill tem uma ideia que viria a mudar o curso da história: criar um Executivo de Operações Especiais dentro dos Serviços Secretos. Paul-Émile, um jovem e patriótico parisiense, chega a Londres uns meses mais tarde para integrar o movimento da Resistência e é imediatamente recrutado pelo Executivo de Operações Especiais.
Apesar do patriotismo, ninguém nasce resistente, pelo que aí, junto com outros jovens franceses, irá ser sujeito a uma formação e treinos intensos, de forma a poder voltar a França e assim contribuir para a construção de uma rede de Resistência. Serão estes jovens aprendizes de guerreiros os verdadeiros protagonistas deste romance que nos revela, finalmente, a verdadeira natureza da relação entre o movimento da Resistência e a Inglaterra de Churchill.

**OPINIÃO**

Mas que livro fantástico! Não é sempre que um livro nos comove do início ao fim. Uma história contextualizada em termos históricos e que se torna verosímil pela força com que é contada. A forma como Dicker escreve, convence-me. É de uma dureza sensível. E, ainda que seja retratado um momento e episódios muito tristes, o autor fá-lo de forma quase poética. A força dos adjetivos, das interjeições, dos discursos diretos e dos recursos que utiliza têm o poder de nos transportar para o contexto dos acontecimentos, de nos fazer estremecer, comover, sorrir, sentir e criar empatia com as personagens.

Aliás, basta referir o início do livro, para terem uma pequena ideia:                                  

                                                                  “Que todos os pais do mundo, prestes a deixarem-nos, saibam quanto seria grande o nosso perigo sem eles.

                                                                                          Ensinaram-nos a andar, não andaremos mais.

                                                                                     Ensinaram-nos a falar, não falaremos mais.

                                                                                    Ensinaram-nos a viver, não viveremos mais.

                                                      Ensinaram-nos a tornamo-nos Homens, nem mesmo

seremos homens. Não seremos nada.”

É impossível não acompanharmos com ansiedade estes jovens que são recrutados pelo Executivo de Operações Especiais, sentir uma mágoa enorme com o treino tão violento a que eram submetidos, a dura guerra para que estavam a ser preparados. A par desta força/coragem físicas e psicológicas, saliento a resiliência e a força da amizade criada entre os companheiros de guerra. Uma amizade muitas vezes posta à prova, ou até mesmo questionada. Um amor que está para além da guerra. Os princípios morais que possuem, ainda que às vezes pareçam esquecidos pela vida dura que enfrentam. São personagens que ficam na nossa memória: o convicto e corajoso Pal (Paul-Émile), a doce Laura e o grande Gros, não apenas por fora, de uma alma obesa de bondade! Magnífico! Não deixem de ler!

Deixo mais algumas das muitas passagens que me marcaram:

“…a indiferença. A pior das doenças, pior do que a peste e pior do que os Alemães. A peste erradica-se, e os Alemães, como nasceram mortais, também acabarão por morrer. Mas a indiferença não se combate…”

“Mas o pior de tudo, o que é mais insuportável, é que estamos sozinhos. E estaremos sempre sozinhos.”

“…o mais duro não são os Alemães, não é a Abwehr, é a Humanidade”.

Mo, Johanna (2021). O Pássaro Noturno. Porto: Porto Editora.

Tradução: João Reis

Nº de páginas: 408

Início da leitura: 06/12/2021

Fim da leitura: 12/12/2021

*SINOPSE*

A detetive Hanna Duncker está de regresso à terra natal. Dezasseis anos depois de trocar Öland por Estocolmo, a morte do pai obriga-a a revisitar a ilha onde passou a infância. Apesar de tudo o que aconteceu lá, apesar dos mexericos e de sentir todos os olhares postos em si, é naquele lugar remoto junto ao mar que se sente em casa.

Quando Joel, um adolescente de 15 anos, é encontrado morto e com sinais de violência no parque de merendas de Möckelmossen, Hanna é arrastada para uma investigação que envolve a sua antiga melhor amiga – aquela que abandonara sem qualquer explicação.

Ao mesmo tempo que procura descobrir o assassino de Joel, Hanna continua a viver as consequências de um crime horrendo cometido pelo pai, muitos anos antes. Conseguirá, algum dia, quebrar a ligação ao passado?

*OPINIÃO*

Sem ser um livro excecional, é um livro que nos proporciona uma leitura agradável nestes dias frios, com um bom de um chazinho a acompanhar!

Os inspetores me convenceram. A inspetora Hanna surge muito comprometida, revela-se humana, também ela possuindo as suas fraquezas, as suas questões mal resolvidas. Ao regressar à terra Natal, Oland, na Suécia, confronta-se com a forma fria como é recebida, uma vez que foi sempre associada a um terrível crime do pai, que estivera preso. Será bem assim? É o que saberemos, creio eu pelo que se dá a entender, num próximo livro da série.

Érik é o outro inspetor, pouco se dá a conhecer, compreendemos que põe a profissão acima de tudo. Não compreendi qual o papel família dele na história. Eram personagens escusadas.

Porém, a história de Joel, um adolescente de 15 anos, é uma boa história, onde muitos assuntos atuais se abordam, como o bullying, as dúvidas e questões relativas à sua sexualidade, nem sempre compreendida ou até deduzida pelos pais. Gostei dos capítulos narrados pelo jovem, que nos permitem conhecê-lo um pouco melhor e acompanhar tudo o que lhe aconteceu.

A mãe de Joel, Rebeca, considero-a uma personagem um tanto ou quanto fútil. Sempre descontente. E, apesar de ter um marido que a apoia e que a ajuda com os filhos, ela acaba por arranjar um amante e comportar-se como uma adolescente.

O final é imprevisível, mas não emocionante.

Adorei o facto de ter sido uma leitura conjunta e de termos opiniões divergentes, o que é sempre muito enriquecedor.

Era um livro com boas premissas, ao qual se poderia ter conferido maior suspense e ritmo. Para quem gosta de um thriller mais morno, aconselho a leitura. Claro que agora quero ler o próximo e compreender a verdadeira história do crime cometido pelo pai de Hanna.

Evaristo, Bernardine (2021). Raízes Brancas. Amadora: 20|20 Editora.

Tradutor: Miguel Romeira

Nº de páginas: 288

Início da Leitura: 01/12/2021

Fim da leitura: 04/12/2021

Sobre a autora: Bernardine Evaristo nasceu no sudeste de Londres, em 1959, filha de mãe britânica e pai nigeriano. Autora de uma obra que inclui romance, poesia, contos, teatro e crítica literária, a sua escrita é caracterizada pela experimentação, ousadia e subversão na forma e escolha de temas, onde desafia os mitos e preconceitos das várias diásporas africanas e das suas identidades.

**SINOPSE**

Um romance premiado, com um enredo provocador, imaginativo e satírico.

Branca, de cabelos loiros e olhos azuis, Doris é capturada ainda criança e enviada da Europa para o Novo Mundo - uma terra distante e desconhecida, situada do outro lado do mar e de onde ninguém regressa. Tal como tantos outros da sua raça que caem nas malhas titânicas do Comércio de Escravos, Doris despede-se do seu nome, da sua língua, da sua terra.

Após sobreviver muito a custo à terrível travessia da rota transatlântica, resta-lhe ser vendida a uma família negra, rica e poderosa, e adaptar-se a uma nova vida de servidão e a uma cultura que não é a sua. Porém, ao contrário de quem já nasce escravo, a rebatizada Omorenomwara sabe o que é ser livre e sonha todos os dias com a fuga.

Quando essa oportunidade finalmente se lhe apresenta, ela não hesita, mesmo sabendo que isso pode significar a morte.

Um romance provocador e irónico que, ao forjar um mundo às avessas onde os escravos são os europeus e os senhores, os africanos, desconstrói a História e a nossa noção de identidade, não poupando ninguém, nem opressores nem oprimidos.

**OPINIÃO**

Este é um livro arrebatador. Partindo de um momento da história mundial - a escravatura, Bernardine inverte engenhosamente os papéis, criando um novo país – Ambossa (uma ilha pertencente ao continente de Áphrika), um novo mundo, onde os africanos são senhores e donos de tudo, escravizando os brancos europeus, vistos como franzinos do Continente Cinza, o que fazia com que muitos não aguentassem nem sequer a viagem até África, ou o calor a que não estavam habituados; africanos, de pele boa, negra e brilhante, escravizavam os europeus, sem dó nem piedade, roubavam crianças para enviarem para os Japões Ocidentais, violavam-nas, colocavam açaimes nos escravos para não comerem, queimavam-nos com ferros em brasa até a pele chiar e o sangue escorrer pelo corpo, assavam-nos em espetos ou suspendiam-nos debaixo dos animais a assar de forma a serem queimados com a gordura libertada. Estes são apenas alguns exemplos que me chocaram, entre muitos outros de suspender a respiração.

Numa linguagem dura e crua, Bernardine consegue prender-nos nas suas descrições pormenorizadas, a tal ponto, que nos sentimos lá, a observar tudo, sem que sejamos vistos ou até mesmo com receio de sermos vistos.

É uma espécie de “e se fosse consigo?”, para abrir as mentes e levar o leitor a colocar-se no papel dos milhares de escravos que sofreram sob o jugo de “senhores” desumanos, cujo único objetivo se prendia com o poder e o bem-estar económico.

E mais não digo, mas aconselho mesmo muito a leitura desta grande obra!

Barbery, Muriel (2013). A Elegância do Ouriço. Lisboa: Editorial Presença.

Nº de páginas: 280

Tradutora: Maria Jorge Vilar de Figueiredo

Início da leitura: 27/11/2021

Fim da leitura: 01/12/2021


SINOPSE

É num edifício situado num bairro rico de Paris e habitado por uma burguesia rica e snobe, que decorre este emocionante romance contado a duas vozes. Alternadamente, as duas protagonistas vão dando a conhecer o seu bairro e as pessoas que as rodeiam. Renée é uma porteira de 54 anos, cultíssima autodidacta e apaixonada pela pintura naturalista holandesa, por filosofia, pelo cinema japonês e uma devoradora de livros. Paloma, a segunda protagonista, é uma adolescente de 12 anos, astuta, que percebe mais do mundo à sua volta do que aquilo que aparenta, e que deseja suicidar-se no dia do seu décimo terceiro aniversário. Entre a aparente humildade e ignorância de Renée e de Paloma, aparece um novo morador no prédio: o senhor Ozu, um japonês que inicia uma relação de amizade com ambas, formando-se um pequeno trio que terá para todos um papel redentor. Um livro terno, divertido e com personagens que irão cativar os leitores desde a primeira página.

OPINIÃO

Iniciei a leitura com alguma expetativa, dadas as críticas favoráveis que tinha lido. Confesso que, inicialmente, não me senti propriamente atraída por esta leitura. Duas narradoras algo confusas, muitas divagações e uma linguagem que me pareceu um pouco exagerada. Aos poucos, compreendi a intenção da linguagem, bem como o propósito das personagens, entrei na narrativa e fiquei deslumbrada. Voltei atrás para reler as reflexões e, então, fizeram todo o sentido.

Tudo se passa num prédio rico em Paris, no qual Renée, de 54 anos, é porteira há 27 anos. Mas não é uma porteira qualquer e esse facto salta à vista de um novo morador do prédio, o senhor Ozu, que, prestando atenção aos pormenores, percebe que ela é uma leitora de literatura russa e apreciadora de filosofia. Porém, ninguém, exceto Ozu e Paloma, se apercebe da verdadeira Renée, uma vez que, apesar de todo o seu conhecimento, apresenta-se despojada de pretensiosismos, “viúva, baixinha, feia, gordinha”, com “calos nos pés e, em certas manhãs auto incómodas, um hálito a mamute”, não estudou, sempre foi “pobre, discreta e insignificante”.

Paloma é uma jovem de 12 anos, muito inteligente, que gosta de analisar o sentido profundo das coisas, registando os seus pensamentos mais profundos, às vezes a partir de situações aparentemente banais. No primeiro desses pensamentos, regista que “Aparentemente, de vez em quando, os adultos têm tempo de se sentar e contemplar o desastre que é a sua vida.” Este é apenas um de muitos “pensamentos profundos”.

São personagens que se cruzam e tornam este prédio tão especial, que apreciam filosofia, se destacam das demais e acabam por criar uma amizade muito improvável. Depois, destaco a forma como está escrito, o sentido de humor que acompanha os momentos reflexivos, que me fizeram soltar umas boas gargalhadas. A finalizar, fui também surpreendida pelo final tão imprevisível.

Um livro excecional de que recomendo a leitura!

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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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