A Sibila, de Agustina Bessa Luís

Luís, Agustina Bessa (1987). A Sibila. 10ºed. Viseu: Guimarães Editores.

Nº de páginas: 252

Início da leitura: 01/04/2023

Fim da leitura: 03/04/2023

**SINOPSE**

"No norte de Portugal, em finais do século XIX, na propriedade da Vessada, há já muito tempo que são as mulheres que, perante a indolência e os sonhos de evasão que os homens alimentam, asseguram como podem a gestão da propriedade. Quina era uma adolescente franzina e inculta, que desde cedo participava nos trabalhos do campo ao lado dos trabalhadores. Com a morte do pai, com a propriedade quase em abandono, Quina passa a ter que ter uma ainda maior responsabilidade na administração da mesma. Graças ao seu esforço a todos os níveis, começa a acumular de novo a riqueza que seu pai desperdiçara, o que lhe vale a admiração da sociedade. Quina era uma pessoa lúcida, astuta e sempre em demandas, o que faz com que esta se torne conhecida por Sibila…

O romance A Sibila foi concluído no dia 16 de Janeiro de 1953 e logo depois apresentado ao Prémio de romance Delfim Guimarães, instituído pela Guimarães Editores, que lhe foi atribuído. Foi publicado pela primeira vez, logo depois, em 1954, há 55 anos. Esta edição fixa o texto definitivo da obra. É o livro mais famoso da autora, traduzido em várias línguas."
Passados 36 anos, revisitei A Sibila, de Agustina Bessa Luís. Em 1987, li-a pela primeira vez, no meu 12º ano. Foi, na altura, uma obra difícil de ler e de entender. As muitas personagens e situações narradas, tornaram-na confusa à minha faixa etária. Continuo a considerar que não é um livro para ser lido aos 17 anos e, acredito até, que nessas idades, não havendo uma perceção plena do que se lê, é um livro que pode arredar da leitura, quem se está a estrear em romances mais complexos.
Porém, passados tantos anos, não o li com os mesmos olhos e gostei. Foi uma forma de tentar perceber o que não compreendi antes, me passou despercebido, não me cativou.
A linguagem é cuidada e ornamentada, as personagens trabalhadas de forma complexa, as reflexões vastas e a realidade outra, que, em tenra idade, é difícil entender.
Nesta obra acompanhamos a história de uma família, na qual se destaca Quina. Esta é a Sibila, que dá título à obra e que terá sido escolhido tendo como ponto de referência a vida da Sibila de Delfos (sé. VIII a.C.), que vivia sé e em castidade. Guardava a casa do seu Deus. Ouvia as preocupações, os problemas, as angústias, os segredos da vida e entendia o mistério da existência.
Ficamos a conhecer os proprietários da emblemática Casa da Vessada, as suas histórias de vida, os diferentes estratos sociais, as diferenças de poder entre homens e mulheres, num ambiente rural de uma dureza incontornável, num contexto entre o Douro e o Minho.
As personagens adquirem uma grande densidade, e, por mais que se tentem apresentar ou as tentemos compreender, ficamos sempre com a noção de serem impenetráveis, o que, de certa forma, é o espelho da complexidade humana.
Apesar de nos depararmos com várias personagens extremamente ricas, destaca-se Quina, de quem acompanhamos a infância, a juventude, a pitonisa ligada aos poderes ancestrais - sibila, a herança de sangue, a velhice e a morte.
Não é uma obra feminista, ainda que tenham sido as mulheres a manter a casa, encontramos sim estas mulheres que mais não são do que vítimas de um machismo e que tentam manter o patriarcado que lhes foi legado.
E esse legado fica para Germa, a quem compete dar continuidade à obra de Quina. Eis Germa, eis a sua vez agora e o tempo de traduzir a voz da sua sibila. Talvez, porém, o seu tempo seja improdutivo e nefasto, e ela fique de facto silenciosa, porque - quem é ela para ser um pouco mais do que Quina e esperar que os tempos novos sejam mais aptos a esclarecer o homem e a trazer-lhe a solução de si próprio? Talvez a sua história fique hermeticamente fechada no círculo de aspirações que não conseguiu detalhar e cumprir, porque aconteceu ser cedo ou ser tarde, porque não se compreende ou não se crê o bastante, porque se deseja demasiado, e isto é todo o destino, porque... porque..."
Se é um livro fácil? Não. Se é um livro para qualquer leitor? Não.
Se é um bom livro? Sim, é um livro muito bom!

0 Comentarios