Contos de Cães e Maus Lobos, Valter Hugo Mãe

 Mãe, Valter Hugo (2015). Contos de Cães e Maus Lobos. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas:160
Início da leitura: 30/03/2023
Fim da leitura: 31/03/2023

**SINOPSE**
"A escrita encantatória de Valter Hugo Mãe chega ao conto como uma delicadíssima forma de inclusão. Estes contos são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda. Entre a confiança e o receio, cães e lobos são apenas um símbolo para a ansiedade perante a vida e a fundamental aprendizagem de valores e da capacidade de amar. Entre a confiança e o receio estabelecemos as entregas e a prudência de que precisamos para construir a felicidade."

Que contos deliciosos! Considerados para a infância, são contos que merecem ser lidos por todas as faixas etárias, contos com "sensibilidade e valores". São 11 contos que, mesmo abordando questões difíceis, duras e, por vezes, dramáticas, o faz com uma poeticidade e delicadeza que nos emociona e nos transmite um carinho especial. É um livro ao qual voltarei, sem dúvida. Inclusive nos clubes de leitura da escola. É uma ficção tão pura que nos entra pela alma e a aconchega, como a uma criança, ao deitar. Desde "A menina que carregava bocadinhos" e que fez uma peça de vestuário magnífica de um lenço velho rasgado e que não pôde voltar a usar pois era uma ofensa para a patroa e para a própria comunidade. "O Rosto", no qual o narrador, uma pequena criança, aprende que "somos feitos daquilo que chega à alma e a alma tem um tamanho muito diferente do corpo." No conto "O rapaz que habitava os livros", em que o narrador acaba por perceber que "os livros acontecem dentro de nós. Claro que eles podem ser bonitos de ver, mas são sobretudo incríveis de pensar. Eu disse que ler é como caminhar dentro de mim mesmo". N'"As Mais Belas Coisas do Mundo", onde o pequeno narrador aprende a aceitar a morte, com a morte da avó, primeiro e, depois, a morte do avô, a quem puseram "debaixo de flores como se fosse solteiro e esperasse o amor." Acabou por entender que o avô "era como todas as mais belas coisas do mundo juntas numa só." E a acreditar que "fazer-lhe justiça era acreditar que, um dia, alguém poderia reconhecer a sua influência" nele. A obra termina com um conto sublime, "Bibliotecas" e, por mim, o excerto que selecionaria era o conto na íntegra, de tão bom que é. Mas, termino apenas com uma passagem, na certeza de que lerão todo o conto: "As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos ignorantes e dos incautos. Porque elas são festas ou batalhas contínuas e soam a canções ou trombetas a cada instante" e "Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra." Vamos, pois, esperar que abram este livro e o saboreiem, porque é uma verdadeira delícia!
E não falo das ilustrações, que ainda embelezam mais os contos!

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