A Árvore dos Toraja, Philippe Claudel

Claudel, Philippe (2017). A Árvore dos Toraja. Porto: Porto Editora.

Tradução: Artur Lopes Cardoso

Nº de páginas: 136

Início da leitura: 16/03/2023

Fim da leitura: 17/03/2023

**SINOPSE**

«O que são os vivos? À primeira vista tudo parece evidente. Estar com os vivos. Mas que significa isso, verdadeiramente, estar vivo? Quando respiro e caminho, quando como, quando sonho, estou inteiramente vivo? Quando sinto o calor doce de Elena estou mais vivo? Qual é o grau mais elevado de estar vivo?»

Um cineasta no meio da vida perde o seu melhor amigo e reflete sobre o papel que a morte ocupa na nossa existência. Entre duas mulheres maravilhosas, entre o presente e o passado, na memória dos rostos amados e na luz dos encontros inesperados, A árvore dos Toraja celebra as promessas da vida."
Há livros que divertem. Há livros que entretêm. Há livros que ensinam. Há livros que nos fazem refletir. Há livros que nos chocam. Há livros que evocam memórias... E, depois, há estes livros, difíceis de enquadrar numa simples definição.
Que pequeno grande livro! E que bem escreve o autor!
O protagonista desta história, um cineasta de "meia idade", e também narrador, fala-nos de cinema, livros, amores, amizades, daa forma como os outros nos veem, da forma como nos vemos, da vida e da morte.
Quando se vê confrontado com o facto de o seu grande amigo Eugène ter cancro, começa a questionar-se sobre a vida e a morte ("...quando é que ficamos gravemente doentes? Quando tudo está bem ou quando tudo está mal?"). Conclui que "Vivemos sempre com uma imagem parcial de nós mesmos. Nunca captamos a nossa imagem tal como os outros nos veem." Até que ponto a nossa idade, mentalmente, nos muda a perceção das coisas e nos impede de usufruir plenamente de todos os momentos, sem medos, sem hesitações, sem erros, sem feridas?
O título, parte de uma lenda que o narrador teve oportunidade de conhecer sobre os Toraja, habitantes da ilha de Sulawesi, na sua existência "obsessivamente ritmada pela morte": a de uma árvore especial, que constitui a sepultura de crianças de muito tenra idade, que são colocadas numa cavidade esculpida na árvore, que, depois, se fecha e cicatriza, "guardando o corpo da criança no seu próprio grande corpo". "Então, pouco a pouco, começa a viagem que a faz subir aos céus, ao ritmo paciente do crescimento da árvore." 
Quando o protagonista conta esta história ao seu amigo Eugène, este sussurra-lhe "- A morte faz de todos nós crianças."
E, por mais que o ser humano use de "estratagemas, máquinas, sentimentos, artifícios" para enganar o tempo, ele está sempre lá, quando, ao fim do dia, leem, no espelho, "a sua idade verdadeira bem no fundo dos seus olhos tristes".
Para além de toda esta riqueza, está a forma como Claudel escreve, límpida, poética mas, ao mesmo tempo, de um naturalismo descritivo que nos põe em confronto com a realidade e nos faz pensar... E, depois, há esta capa belíssima e que, se quiséssemos, teria tanto o que explorar!
Aconselho vivamente!

0 Comentarios