Raízes Brancas, Bernardine Evaristo

Evaristo, Bernardine (2021). Raízes Brancas. Amadora: 20|20 Editora.

Tradutor: Miguel Romeira

Nº de páginas: 288

Início da Leitura: 01/12/2021

Fim da leitura: 04/12/2021

Sobre a autora: Bernardine Evaristo nasceu no sudeste de Londres, em 1959, filha de mãe britânica e pai nigeriano. Autora de uma obra que inclui romance, poesia, contos, teatro e crítica literária, a sua escrita é caracterizada pela experimentação, ousadia e subversão na forma e escolha de temas, onde desafia os mitos e preconceitos das várias diásporas africanas e das suas identidades.

**SINOPSE**

Um romance premiado, com um enredo provocador, imaginativo e satírico.

Branca, de cabelos loiros e olhos azuis, Doris é capturada ainda criança e enviada da Europa para o Novo Mundo - uma terra distante e desconhecida, situada do outro lado do mar e de onde ninguém regressa. Tal como tantos outros da sua raça que caem nas malhas titânicas do Comércio de Escravos, Doris despede-se do seu nome, da sua língua, da sua terra.

Após sobreviver muito a custo à terrível travessia da rota transatlântica, resta-lhe ser vendida a uma família negra, rica e poderosa, e adaptar-se a uma nova vida de servidão e a uma cultura que não é a sua. Porém, ao contrário de quem já nasce escravo, a rebatizada Omorenomwara sabe o que é ser livre e sonha todos os dias com a fuga.

Quando essa oportunidade finalmente se lhe apresenta, ela não hesita, mesmo sabendo que isso pode significar a morte.

Um romance provocador e irónico que, ao forjar um mundo às avessas onde os escravos são os europeus e os senhores, os africanos, desconstrói a História e a nossa noção de identidade, não poupando ninguém, nem opressores nem oprimidos.

**OPINIÃO**

Este é um livro arrebatador. Partindo de um momento da história mundial - a escravatura, Bernardine inverte engenhosamente os papéis, criando um novo país – Ambossa (uma ilha pertencente ao continente de Áphrika), um novo mundo, onde os africanos são senhores e donos de tudo, escravizando os brancos europeus, vistos como franzinos do Continente Cinza, o que fazia com que muitos não aguentassem nem sequer a viagem até África, ou o calor a que não estavam habituados; africanos, de pele boa, negra e brilhante, escravizavam os europeus, sem dó nem piedade, roubavam crianças para enviarem para os Japões Ocidentais, violavam-nas, colocavam açaimes nos escravos para não comerem, queimavam-nos com ferros em brasa até a pele chiar e o sangue escorrer pelo corpo, assavam-nos em espetos ou suspendiam-nos debaixo dos animais a assar de forma a serem queimados com a gordura libertada. Estes são apenas alguns exemplos que me chocaram, entre muitos outros de suspender a respiração.

Numa linguagem dura e crua, Bernardine consegue prender-nos nas suas descrições pormenorizadas, a tal ponto, que nos sentimos lá, a observar tudo, sem que sejamos vistos ou até mesmo com receio de sermos vistos.

É uma espécie de “e se fosse consigo?”, para abrir as mentes e levar o leitor a colocar-se no papel dos milhares de escravos que sofreram sob o jugo de “senhores” desumanos, cujo único objetivo se prendia com o poder e o bem-estar económico.

E mais não digo, mas aconselho mesmo muito a leitura desta grande obra!

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