O Últimos Dias dos Nossos Pais, Joël Dicker

Dicker, Joël (2014). Os Últimos Dias dos Nossos Pais. Lisboa: Alfaguara Portugal.

Tradutor: Paulo Ramos

Nº de páginas: 432

Início da leitura: 13/12/2021

Fim da leitura: 17/12/2021

**SINOPSE**

E se os ingleses tivessem sido os verdadeiros artesãos da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial? Após a pesada e preocupante derrota do exército britânico em Dunquerque, Churchill tem uma ideia que viria a mudar o curso da história: criar um Executivo de Operações Especiais dentro dos Serviços Secretos. Paul-Émile, um jovem e patriótico parisiense, chega a Londres uns meses mais tarde para integrar o movimento da Resistência e é imediatamente recrutado pelo Executivo de Operações Especiais.
Apesar do patriotismo, ninguém nasce resistente, pelo que aí, junto com outros jovens franceses, irá ser sujeito a uma formação e treinos intensos, de forma a poder voltar a França e assim contribuir para a construção de uma rede de Resistência. Serão estes jovens aprendizes de guerreiros os verdadeiros protagonistas deste romance que nos revela, finalmente, a verdadeira natureza da relação entre o movimento da Resistência e a Inglaterra de Churchill.

**OPINIÃO**

Mas que livro fantástico! Não é sempre que um livro nos comove do início ao fim. Uma história contextualizada em termos históricos e que se torna verosímil pela força com que é contada. A forma como Dicker escreve, convence-me. É de uma dureza sensível. E, ainda que seja retratado um momento e episódios muito tristes, o autor fá-lo de forma quase poética. A força dos adjetivos, das interjeições, dos discursos diretos e dos recursos que utiliza têm o poder de nos transportar para o contexto dos acontecimentos, de nos fazer estremecer, comover, sorrir, sentir e criar empatia com as personagens.

Aliás, basta referir o início do livro, para terem uma pequena ideia:                                  

                                                                  “Que todos os pais do mundo, prestes a deixarem-nos, saibam quanto seria grande o nosso perigo sem eles.

                                                                                          Ensinaram-nos a andar, não andaremos mais.

                                                                                     Ensinaram-nos a falar, não falaremos mais.

                                                                                    Ensinaram-nos a viver, não viveremos mais.

                                                      Ensinaram-nos a tornamo-nos Homens, nem mesmo

seremos homens. Não seremos nada.”

É impossível não acompanharmos com ansiedade estes jovens que são recrutados pelo Executivo de Operações Especiais, sentir uma mágoa enorme com o treino tão violento a que eram submetidos, a dura guerra para que estavam a ser preparados. A par desta força/coragem físicas e psicológicas, saliento a resiliência e a força da amizade criada entre os companheiros de guerra. Uma amizade muitas vezes posta à prova, ou até mesmo questionada. Um amor que está para além da guerra. Os princípios morais que possuem, ainda que às vezes pareçam esquecidos pela vida dura que enfrentam. São personagens que ficam na nossa memória: o convicto e corajoso Pal (Paul-Émile), a doce Laura e o grande Gros, não apenas por fora, de uma alma obesa de bondade! Magnífico! Não deixem de ler!

Deixo mais algumas das muitas passagens que me marcaram:

“…a indiferença. A pior das doenças, pior do que a peste e pior do que os Alemães. A peste erradica-se, e os Alemães, como nasceram mortais, também acabarão por morrer. Mas a indiferença não se combate…”

“Mas o pior de tudo, o que é mais insuportável, é que estamos sozinhos. E estaremos sempre sozinhos.”

“…o mais duro não são os Alemães, não é a Abwehr, é a Humanidade”.

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