Didierlaurent,
Jean-Paul (2017). O Leitor do Comboio. Lisboa: Clube do Autor.
O Leitor do Comboio,
escrito por Jean-Paul Didierlaurent, um romancista francês e traduzido por Inês
Castro, recebeu, de entre vários, o Prémio Michel Tournier e está traduzido em
30 países.
Nesta parábola, que
constitui uma homenagem à literatura e à leitura, as personagens são invulgares
e únicas.
Guylain
Vignolles é o leitor do comboio e narrador. Um homem frustrado, com uma profissão
que odeia: segundo ele, exerce e passo a
citar o “sujo cargo de carrasco” ao reduzir diariamente uma série de livros a
pasta numa máquina Zerstor 500 a que chama de “a Coisa”. Um cargo que
desempenha com relutância, numa espécie de “piloto automático”, que lhe suga a
vida e que, frequentemente, lhe traz pesadelos à noite. E quantas pessoas não
se reveem nesta personagem? Em profissões que não gostam, que as desgastam e em
vidas vazias e infelizes?
Guylain vive
sozinho, numa vida de rotinas, partilhada com o seu peixinho encarnado, Rouget
de Lisle. Como amigo, conta apenas com um amputado, que só sabe falar em
versos alexandrinos e que passa o tempo à procura das suas pernas numa edição
de um livro feita com a pasta a que “a Coisa” lhe tinha reduzido as pernas.
O que lhe vai dando algum alento é a leitura de
páginas que vai salvando d’ “a Coisa” e que lê no comboio, à ida para o
trabalho. Páginas únicas, sem continuidade, mas que lhe tornam a vida mais
suportável, uma espécie de redenção em relação aos atos de selvajaria para
com os livros, no dia a dia da sua profissão.
E porque é importante que haja um "mas" em todas as
vidas sensaboronas, numa das suas viagens de comboio, Guylain encontra esse "mas", uma pen perdida. Em casa, ao abrir o conteúdo da pen, depara-se com
escritos de uma mulher chamada Julie que imediatamente o prendem, lendo até
meio da madrugada os 72 textos que contém. Passa, então, a ler no comboio, em
vez das habituais páginas soltas, os textos de Julie, em gestos menos
mecânicos, em tom mais estudado, que provoca nos passageiros da carruagem em
que lê e passo a citar “um arzinho satisfeito de bebés fartos e saciados”, que
contrasta com a “máscara de impassibilidade” dos passageiros das restantes
carruagens. São estes escritos que passam a dar mais cor aos seus dias e a
tornar mais suportáveis as suas angústias. Quando conta ao seu amigo sobre
estes escritos, também ele os devora e lhe traça um plano para tentar encontrar
essa Julie que poderia permitir-lhe o início de uma bela história. Terá Guylain
encontrado Julie? Seria real ou uma criação literária?
Para encontrar as respostas a estas e outras perguntas, deixo o convite
para uma viagem com O Leitor do Comboio de Jean-Paul Didierlaurent.Célia Gil
0 Comentarios