Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Borgo, Karina Sainz (2021). O Terceiro País. Lisboa: Alfaguara.

Tradução: Vasco Gato

Nº de páginas: 263

Início da leitura: 28/10/2024

Fim da leitura: 31/10/2024

**SINOPSE**

"Angustias Romero e o marido fogem da peste, a caminho das montanhas e da ansiada segurança no país vizinho; levam, atados às costas, os dois filhos ainda bebés. À sua volta, apenas miséria, calor e poeira. Os gémeos não sobrevivem à viagem, e Angustias é abandonada pelo marido. Na fronteira, Angustias chega ao Terceiro País, um cemitério ilegal vigiado pela mítica Visitación Salazar. Contra a oposição dos barões da droga e da violência, a coveira garante aos sem-terra um último local de descanso.

É aqui que Angustias encontra finalmente lugar para os filhos. Determinada a ficar sempre perto deles, junta-se a Visitación na sua luta, num lugar onde a lei é ditada por quem empunha as armas, e o tempo é marcado pelas festas e os misteriosos brinquedos que alguém deixa na campa das duas crianças. O perigo e a violência ameaçam implodir a qualquer momento, esbatendo os limites entre a vida e a morte.

N’O terceiro país, história poderosa de fuga e esperança, Karina Sainz Borgo mistura com mestria o mistério e a realidade, a tragédia clássica e a narrativa contemporânea, confirmando a sua pertença à vibrante nova geração literária latino-americana."
Este livro conta-nos a história de Angustias Romero e do marido, quando, após o nascimento prematuro dos seus gémeos, opta por partir para o país vizinho, uma vez que o país onde vivem não oferece os cuidados de saúde de que elas precisavam. Mas esta foi uma viagem terrível, abrigando-se onde houvesse lugar para eles, em condições deploráveis. 
Os filhos não sobrevivem a estas condições e aqui começam as divergências entre o casal: Angustias quer encontrar um local para os enterrar e o marido quer ir-se embora e levá-las com ele. Porém, enquanto não encontram onde as enterrar, andam sempre com eles dentro de uma caixa. 
É neste ponto que Angustias conhece Visitación Salazar, responsável por um cemitério ilegal, onde enterra gratuitamente todos os que não têm onde ser enterrados.
E mais não conto. É uma história dura e triste. Recomendo.

Bagieu, Pénélope (2023). Destemidas 2 Mulheres que só fazem o que querem. Levoir.
Tradução: João Miguel Lameiras e José de Freitas
Nº de páginas: 168
Início da leitura: 22/10/2024
Fim da leitura: 27/10/2024

**SINOPSE**
"Rapper afegã ou astronauta, rainha dos bandidos ou vulcanóloga, inventora ou jornalista de investigação, as destemidas nunca se rendem. Temple Gradin, diagnosticada com autismo, promoveu uma reforma total da agricultura tradicional.

Frances Glessner Lee descobre acidentalmente a medicina forense e, de forma autodidata, estabelece o protocolo atual utilizado pela polícia em cenas de crime. Todas elas têm em comum o atrevimento, a força para desafiar a sociedade e o seu meio ambiente e a ousadia de defender os seus valores para se tornarem no que elas queriam ser."
Gostei muito de ler estas histórias de mulheres destemidas, que fizeram as suas próprias opções, contra tudo o que era previsível, contra todos os que se lhes opunham. São histórias com sentido de humor e que podem ser lidas por pessoas de todas as idades. Desde uma autista que se torna intérprete de animais; uma rapper, nascida no Afeganistão e que faz do rap uma forma de denunciar as injustiças de que as mulheres são alvo no seu país; a rainha dos bandidos, nascida na Índia; uma jovem alsaciana que quer ser vulcanóloga; uma atriz de Viena que se torna numa inventora; uma miniaturista do crime, que constrói em miniatura as cenas dos crimes, que acaba por convencer os polícias da eficácia dos seus métodos, entre muitas outras. Aconselho!

Couto, Mia (2024). A Cegueira do Rio. Alfragide: Editorial Caminho.
Nº de páginas: 328
Início da leitura: 22/10/2024
Fim da leitura: 26/10/2024

**SINOPSE**
"O primeiro incidente militar numa aldeia do Norte de Moçambique marca, em agosto de 1914, o início da Primeira Guerra Mundial no continente africano.

Esse inesperado episódio despoleta, para além disso, uma série de misteriosos eventos que culminam com o desaparecimento da escrita no mundo. Livros, relatórios, documentos, fotografias, mapas surgem deslavados e ninguém mais parece ser capaz de dominar a arte da escrita.

Os habitantes dessa aldeia são chamados a restabelecer a ordem no mundo, ensinando aos europeus o ofício da escrita e as artes da navegação."
Tudo começa um episódio verídico, sucedido em 1914, um incidente que, mais tarde, se esforçam por esquecer, numa aldeia entre a Tanzânia e Niassa, em que o exército alemão assassinou sem dó nem piedade imensas pessoas. E tanto os alemães como os nativos desejavam apagar essas memórias, o que não se percebia muito bem porquê. É com o objetivo de lutar contra "o esquecimento e o apagamento da memória coletiva", que Mia Couto escreve esta obra. Fá-lo dando-nos várias perspetivas dos acontecimentos e não como uma facto consolidado e passível de uma só explicação. As personagens cativam-nos, algo a que Mia Couto sempre nos habituou e trazem à tona o imaginário moçambicano, a crença e a sua sabedoria popular. A linguagem oralizante continua também como uma marca do autor, que aposta no vocabulário das personagens a par de uma poeticidade, que lhe é muito peculiar. Gostei muito, aconselho e deixo algumas passagens:
"Madziwa era um povoado mais deitado que um rio."
"Para o povo de Milepa, Deus é uma mulher".
"Deixei para o fim a doença que mais me intrigava: a cegueira dos rios. Assim designada, ninguém sabe se a enfermidade pertence à pessoa ou aos rios".

Golding, William; Jongh, Aimée de (2024). O Deus das Moscas - Romance Gráfico. Lisboa: Edições ASA.

Nº de páginas:352 
Início da leitura: 18/10/2024
Fim da leitura: 21/10/2024

**SINOPSE**
"Adaptação da obra O Deus das Moscas de William Golding.

Publicado originalmente em 1954, O Deus das Moscas é um dos mais perturbadores e aclamados romances da atualidade.

Um avião despenha-se numa ilha deserta, e os únicos sobreviventes são um grupo de rapazes. Inicialmente, desfrutando da liberdade total e festejando a ausência de adultos, unem forças, cooperando na procura de alimentos, na construção de abrigos e na manutenção de sinais de fogo. Porém, à medida que o frágil sentido de ordem dos jovens começa a fraquejar, também os seus medos começam a tomar sinistras e primitivas formas.

De repente, o mundo dos jogos, dos trabalhos de casa e dos livros de aventuras perde-se no tempo. Agora, os rapazes confrontam-se com uma realidade muito mais urgente - a sobrevivência - e com o aparecimento de um ser terrível que lhes assombra os sonhos."
Esta adaptação a romance gráfico da obra O Deus das Moscas de William Golding tem uma qualidade incrível, uma vez que a autora optou por utilizar frases da obra original, captando toda a essência do clássico da literatura. 
As ilustrações são belíssimas, muito intensas, em consonância com a mensagem da obra, permitindo-nos, enquanto leitores, acompanhar a história de forma impactante e apreendendo toda a sua violência visceral.
Desde a queda de um avião numa ilha deserta, onde seguiam alunos de colégios britânicos, até à luta pela sobrevivência, é-nos apresentado o crescimento destes jovens, que vão perdendo a inocência e tudo o que pudesse fazer deles humanos, vão-se bestializando, tornando-se de uma violência atroz, que nos faz tremer dos ossos à alma. O coração vai pulsando com mais força à medida que a ação avança, deixando-nos de respiração suspensa e dilacerados com a mensagem da obra e o terror que a perpassa. Cruelmente belo e bem conseguido.

Kang, Han (2017). Atos Humanos. Alfragide: Publicações Dom Quixote.


Tradução: Maria do Carmo Figueira

Nº de páginas: 232

Início da leitura:17/10/2024

Fim da leitura: 20/10/2021


**SINOPSE**

"Em 1980, por toda a Coreia do Sul, os estudantes revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de expressão. Porém, na região de Gwangju, a repressão foi tão violenta que a população acabou por se juntar ao protesto, dando origem a um dos piores massacres na história do país. Os mortos e desaparecidos ainda estão, de resto, por contabilizar.

Como lidar com a morte de alguém quando o seu corpo não aparece? Esta é a história de Dong-ho, um rapaz que não resistiu a seguir o melhor amigo até à manifestação, mas, quando ouviu os tiros, largou-lhe a mão, procurando-o agora entre os cadáveres de uma morgue improvisada. E é também a história dos que cruzaram o caminho de Dong-ho antes e depois dessa noite infame - os que caíram por terra desarmados e os que foram levados para a prisão e torturados; os que sobreviveram ao terror mas nunca mais conseguiram falar do assunto e os que, tantos anos passados, sabem, tal como Han Kang, que a história pode repetir-se a qualquer momento e que é preciso lembrar os atos brutais de que os humanos são capazes.

Este é um romance universal e moderno sobre a batalha que os fracos travam contra os fortes na luta pela justiça."

Esta é uma obra com uma mensagem forte e dramática, uma vez que relata o terror da repressão política na Coreia do Sul, nas décadas de 1970-1980, mais particularmente durante o massacre de Gwangju, em maio de 1980.
A revolta popular, especialmente de estudantes universitários, contra a ditadura provocou uma série de mortes efetuadas pelo exército.
Cada um dos seis capítulos do livro apresenta um ponto de vista particular sobre o sucedido, o que torna o livro muito original. Principalmente quando um dos pontos de vista é narrado pela alma de um dos cadáveres.
É um livro duro pela realidade que encerra, motrando ao leitor até que ponto o ser humano se pode tornar cruel. A natureza humana é tantas vezes inexplicável e suscetível de mudanças, que nunca conseguiremos explicar determinados "Atos Humanos", que tornam o homem tão desumano. Aconselho vivamente.

Murat, Thierry (2018). O Velho e O Mar. Lisboa: Porto Editora.

Nº de páginas: 128
Início da leitura: 16/10/2024
Fim da leitura: 17/10/2024

**SINOPSE**
"Cuba, início dos anos 1950. Santiago, um velho pescador, sai para o mar após 84 dias sem pescar um único peixe. Todos os habitantes da ilha afirmam que Santiago está velho de mais e em maré de azar, mas Manolin, o pequeno rapaz, continua a acreditar nele apesar dos comentários depreciativos dos pais.

Ao 85.º dia, Santiago decide partir para o mais longe possível, ao largo do Golfo, em busca do peixe que lhe devolverá o respeito dos habitantes da ilha. É então que encontra um magnífico espadarte, enorme e forte. A luta homérica entre o velho e o peixe predador durará três dias e três noites: no regresso a terra firme, o velho, derrotado, recuperou a dignidade entre os seus pares após uma batalha corajosa.

Respeitando o estilo e o ritmo do texto original de Ernest Hemingway, Thierry Murat conseguiu transpor para imagens a mais fiável adaptação da poética aventura de O Velho e o Mar."
Já tinha lido O Velho e o Mar de Ernest Hemingway e duvidei que fosse realmente possível adaptá-lo para novela gráfica. Contudo, gostei muito desta adaptação, desta forma de nos apresentar este clássico da literatura, poético nas passagens escolhidas e belo nas ilustrações que dão vida ao texto.
Determinado a recuperar o respeito da comunidade, como o tinha nos tempos áureos de pescador, Santiago, decide fazer-se sozinho ao mar largo e ir o mais longe que consegue para pescar o peixe da sua vida. Durante os dias que passa em mar alto, Santiago fala de si para si e, nestas conversas, nas quais revela a técnica que os pescadores mais novos já não possuem, fala da forma como se preparou para pescar o maior peixe de que existirá memória, do cansaço, das dúvidas, da resiliência e da coragem.. Quando as forças parecem enfraquecer, força-se a pensar no seu objetivo "levar para a aldeia um peixe que valha a pena". Conseguirá Santiago concretizar o seu objetivo? Quem ainda não leu o clássico, seria uma excelente oportunidade lê-lo e, depois, ler esta novela gráfica. Aconselho!

Tordo, João (2018). O Luto de Elias Gro. Lisboa: Penguin Random House.
Nº de páginas: 328
Início da leitura: 10/10/2024
Fim da leitura: 17/10/2024

**SINOPSE**
"Numa pequena ilha perdida no Atlântico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais.
A ilha alberga criaturas singulares: um padre sonhador, de nome Elias Gro; uma menina de onze anos perita em anatomia; Alma, uma senhora com um coração maior do que a ilha; Norbert, um velho louco que tem por hábito vaguear na noite; e o fantasma de um escritor, cuja casa foi engolida pelo mar.
O narrador, lacerado pelo passado, luta com os seus demónios no local que escolheu para se isolar: um farol abandonado, à mercê dos caprichos da natureza - e dos outros habitantes da ilha. Com o vagar com que mudam as estações, o homem vai, passo a passo, emergindo do seu esconderijo, fazendo o seu luto, e descobrindo, numa travessia de alegria e dor, a medida certa do amor.
O luto de Elias Gro é o romance mais atmosférico e intimista de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso."

Este não é um livro de leitura voraz, pois requer atenção, reflexão, um ficar a sós com a narrativa para desfrutar dela plenamente. A própria história parte dessa necessidade de solidão, de estar a sós com o silêncio que preenche essa solidão e tudo o que a rodeia. É impossível não nos rendermos à beleza da história, dos espaços e à força das personagens, tão bem desenvolvidas. A ilha onde decorre a ação acaba por ser uma forma de conhecimento pessoal, de pôr à prova a resiliência, a capacidade de superação ou de abandono do "eu" do passado e uma procura do que pode ainda existir de bom dentro de si. A linguagem é belíssima, poética e profunda.

"Sei agora o que nunca soube - que o amor encontra o seu estado mais puro quando julgamos que o fim chegou; finalmente entendo que o amor pode ser precisamente essa ausência, o deixar de estar, ser capaz de apreciar cada minuto da nossa memória como se segurássemos, entre as mãos, um punhado de brasas num deserto de gelo."

Torres, El; Iglesias, Jesús Alonso (2018). O Fantasma de Gaudí. Lisboa: Levoir.

Tradução: Carlos Xavier

Nº de páginas: 120

Início da leitura: 13/10/2024

Fim da leitura: 15/10/2024

**SINOPSE**

"A cidade de Barcelona serve de pano de fundo para o Fantasma de Gaudí. Antonia, uma empregada de supermercado, salva um idoso de ser atropelado e a partir desse momento desencadeia-se uma série de terríveis acontecimentos.

Nos monumentos do célebre arquitecto catalão Antonio gaudí aparecem cadáveres mutilados de forma estranha e violenta.

A polícia fica perplexa, e Antonia continua a afirmar que viu o fantasma de gaudí. Uma obra com a dose certa de intriga, terror, paixão e loucura num thriller policial."
Uma boa novela gráfica para os apreciadores de thrillers policiais, que nos deixa intrigados nas primeiras páginas e nos leva a acompanhar o inspetor da polícia, Jaime Calvo, para tentar descobrir o assassino. 
Nos edifícos projetados pelo grande arquiteto Gaudí, começam a aparecer corpos mutilados de pessoas assassinadas de uma forma violenta e macabra. O modo como se apresenta esse corpo parece estudado pelo criminoso em série, responsável pelos crimes, uma vez que a forma como se apresentam se assemelha ao edifício onde aparece. 
A par desta história, é retratada a de uma jovem caixa que salva um homem de ser atropelado. Sem que nada o fizesse prever, vê-se envolvida nas malhas destes crimes horrendos. 
E mais não digo. É uma obra simples, linear e as ilustrações fazem jus à história.

Tamaki, Mariko;Tamaki, Jillian (2015). Finalmente o Verão. Carcavelos: Planeta Tangerina.

Tradução: Isabel Minhós Martins
Nº de páginas: 332
Início da leitura: 09/10/2024
Fim da leitura: 12/10/2024

**SINOPSE**
"Rose e Windy passam o verão juntas "desde sempre", e partilham todas aquelas dúvidas que marcam a entrada na adolescência. Mas este ano, pela primeira vez, apercebem-se de que a pequena diferença de idade que as separa pode ser suficiente para que os seus interesses não coincidam. Enquanto Windy continua a mesma de sempre, Rose começa a interessar-se pelos movimentos de um grupo de miúdos um pouco mais velhos que vivem momentos dramáticos... Este será um verão que nem uma nem outra irão esquecer."
Esta é uma novela gráfica YA, mas que pode ser lida e apreciada em qualquer idade. Ganhou, entre outros, o prémio Eisner para Melhor Álbum Gráfico. 
Conta-nos a história de duas amigas, Rose e Windy, que costumam passar o verão juntas, em Awago Beach. Quando se juntam, no verão aqui retratado, Rose está em pleno início de adolescência, com alguma irreverência que também advém do facto de os pais estarem a afastar-se e em constantes discussões. Começa, assim, a estar mais atenta à comunidade local, aos rapazes, às conversas e relações entre os adultos e convence a amiga a deixarem de ver os filmes infantis que viam, para passarem a ver filmes de violência e terror para, assim, Rose passar a ser vista como uma rapariga mais experiente e interessante. As conversas entre as duas amigas, aparentemente banais, trazem à tona várias preocupações e problemas comuns à grande maioria dos adoslescentes (e não só). As ilustrações são muito bem conseguidas e prendem-nos à história do início ao fim. Recomendo!

Roca, Paco (2022). Regresso ao Éden. Lisboa: Levoir.

Tradução: Carlos Xavier
Nº de páginas: 174
Início da leitura: 05/10/2024
Fim da leitura: 08/10/2024

**SINOPSE**
"É com base numa foto de família datada de 1946 na antiga praia de Nazaret situada na capital valenciana, que o autor desenvolve Regresso ao Éden dando-nos a conhecer os que nela estão presentes e também os que estão ausentes. A foto, a única que a sua mãe conservava da avó do autor, que este não conheceu, serve de narrador que vai contando a vida da sua família, centrada sobretudo nas mulheres. Uma família humilde, como a maioria, que tenta viver de modo digno no meio da miséria gerada pelo Golpe de Estado fascista. São elas que têm de lidar com a falta de alimentos no dia a dia, que ficam horas e horas em filas, recorrendo por vezes a um mercado negro que serve para enriquecer as elites franquistas.
Nesta obra Paco Roca homenageia, não só a sua mãe, mas também todas as mulheres que no período franquista do pós-guerra levaram uma vida difícil, sofreram a repressão e a miséria, lutaram contra a fome e uma sociedade machista que as converteu em cidadãs de segunda."
Não consigo compreender como é que uma editora conceituada publica um livro de um excelente autor de Banda Desenhada, que ainda por cima recebeu os Prémios Associação de Críticos e Divulgadores de Comic de Espanha 2020, Comic Aragonês 2021 e Grande Prémio do Festival de Comic de Roma 2022, com erros gravíssimos. Penso que terão de rever a edição portuguesa, que bem merece ser apresentada sem os erros arrepiantes que apresenta (a título de exemplo: "...só acontecia de vez enquanto" - pág. 42; "Mas o que é que Procuaramos exatamente?" - pág. 31; "Se já terminaste isso, trás-mo" - pág. 71 e "E você vi-o?" - pág. 95). De facto, não só é inadmissível, como quebra o prazer da leitura.
Gostei da história e das ilustrações, mas, com estes erros, sinto-me desagradada com o livro.

Patchett, Ann (2022). A Casa Holandesa. Lisboa: Cultura Editora.

Nº de páginas: 312
Início da leitura: 04/10/2024
Fim da leitura: 08/10/2024

**SINOPSE**
"Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, Cyril Conroy, um homem pobre, enriquece repentinamente com um investimento fortuito. A primeira compra que faz é uma opulenta propriedade nos subúrbios de Filadélfia, nos EUA, antes pertencente a uma família neerlandesa, entretanto arruinada. Conroy muda-se, com a mulher, Elna, e a filha, a confiante e protetora Maeve, para a nova casa, na qual já nascerá Danny, o narrador desta história.

O que seria uma agradável mudança de vida, torna-se no desmoronamento de toda a família, numa espécie de paraíso perdido. Elna, incapaz de lidar com as mordomias da propriedade e respetivos empregados, termina o casamento e foge, deixando também os filhos.

Mais tarde, chega à propriedade uma madrasta, Andrea, uma jovem viúva com duas filhas, e os dois irmãos, Maeve e Danny, vão sendo afastados aos poucos, até que acabam expulsos da própria casa, devolvidos à pobreza, podendo contar apenas um com o outro para lidar com a perda, com a humilhação, com a raiva, até que um dia possam, enfim, confrontar quem os abandonou.

A Casa Holandesa, uma narrativa que percorre cinco décadas, é uma saga familiar, uma viagem lenta, sofrida, com personagens que ficarão para sempre connosco, como num conto de fadas virado do avesso."
Neste livro é-nos contada a história de uma família, tendo por base a Casa Holandesa (nos subúrbios de Philadelphia), que o pai de Danny e Maeve comprara a uns holandeses, caídos na pobreza do pós- II Guerra Mundial. É um livro que requer uma leitura atenta, uma vez que vai intercalando a narrativa presente dos irmãos, já adultos e o passado, quando eram crianças. A infância não lhes sorriu, uma vez que, depois de a mãe os ter abandonado e fugido para a Índia, acabaram por ser expulsos pela madrasta, que os odiava.
Os irmãos mantiveram sempre uma relação muito próxima, apoiando-se um ao outro.
Gostei da forma como as personagens foram elaboradamente construídas, reais, com os seus defeitos e virtudes, o que nos prende à narrativa. O ritmo não é rápido e requer atenção às descrições. Um livro para saborear.

Belfoure, Charles (2015). O Arquiteto de Paris. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Vasco Gato
Nº de páginas: 352
Início da leitura: 03/10/2024
Fim da leitura: 06/10/2024

**SINOPSE**
"1942, Paris está ocupada pelas tropas alemãs. Lucien Bernard é um talentoso arquiteto, sem trabalho devido à guerra. Acaba de receber uma proposta que lhe pode proporcionar uma avultada quantia em dinheiro ou talvez levá-lo à morte. Tudo o que tem a fazer é projetar um esconderijo secreto para um judeu abastado. Um espaço tão invisível que nem o mais astuto oficial alemão seja capaz de descobrir. Lucien necessita urgentemente de dinheiro, e tentar enganar os Nazis que ocupam a sua cidade é um desafio a que ele se sente incapaz de resistir. Mas apercebe-se do perigo que isso representa. Valerá a pena arriscar a vida em troca de dinheiro para salvar alguém que ele afinal nem conhece? Uma narrativa cheia de ironia, intriga e emoção."
Gostei bastante da história que nos é habilmente narrada. Lucien Bernard, um arquiteto que se debate com as dificuldades financeiras tão comuns a tanta gente durante a II Guerra Mundial, recebe uma proposta de trabalho que pode mudar a sua vida: a construção de um esconderijo capaz de abrigar e fazer com que um judeu passasse despercebido e não fosse apanhado pela Gestapo. Aceitará esta missão humanamente louvável? O que cada um de nós faria se confrontado com esta missão de alto risco?
"Lucien rodou a cabeça para contemplar o casal morto. De repente, tombou sobre os joelhos ao lado da velhota. Sem pensar, esticou o braço e acariciou-lhe os cabelos brancos e macios. Apesar da idade avançada, ainda era invulgarmente bonita. Luciane tirou-lhe o lenço da boca e começou a fazer-lhe festas na face (...)
Lucien desatou a soluçar, com o corpo a tremer-lhe. - Caramba, o que é que eu fiz?" (pág. 162).
Recomendo!

Brosgol, Vera (2023). O Fantasma de Anya. Lisboa: Penguin.

Tradução: Salomé Castro
Nº de páginas: 232
Início da leitura: 01/10/2024
Fim da leitura: 04/10/2024

**SINOPSE**
"Um livro premiado que conta uma história repleta de segredos, reviravoltas e emoção. Anya é uma adolescente como tantas outras: sente dificuldade em integrar-se no colégio por ter uma família imigrante, está descontente com alguns aspetos do seu corpo e tem um fraquinho por um rapaz que já tem namorada.

A queda num poço antigo e fundo vai trazer-lhe uma nova amizade bastante peculiar: o fantasma de Emily, uma rapariga que morreu há um século, que depressa se torna uma ajuda preciosa (e invisível) para o dia a dia de Anya. Até que começam a surgir problemas…

Novela gráfica premiada que conta uma história repleta de segredos, reviravoltas e emoção.

Apesar do seu mau-humor, inseguranças, fraquezas e sarcasmo, Anya conquistará leitores de todas as idades."


Esta é uma novela gráfica sobre a adolescência e os "fantasmas" que a assombram. Mas não são apenas esses fantasmas que a protagonista, uma adolescente russa imigrante nos Estados Unidos, defronta: há o fantasma de uma mulher que Anya encontra morta dentro de um poço seco, para onde cai, e que passa a acompanhá-la. Tornar-se-á este fantasma na melhor amiga de Anya? A amiga que ela não tem? Anya é uma jovem que não se sente integrada no colégio que frequenta, gosta de um rapaz que já tem namorada e não gosta da sua aparência. Ainda assim, não é apenas um romance adolescente, há momentos de sarcasmo, de terror e de "suspense". A leitura é muito simples, para o que contribui a forma clássica como as vinhetas se dispõem. Os tons cinza azulados e arroxeados contribuem para o tem mais "fantasmagórico" da história.
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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