Budapeste é um romance escrito por Chico Buarque, que ganhou os prémios Jabuti 2004 e Passo Fundo Zaffari & Bourbon 2005. Um romance diferente, que nos surpreende, muitas vezes choca, outras tantas, indigna, mas que nos faz refletir sobre a quantidade de anónimos Costas haverá espalhados pelo mundo.
A intriga é basicamente
a seguinte: José Costa é um escritor anónimo e ganha a vida com textos que
escreve para quem lhos solicita: artigos, dissertações, monografias, cartas,
petições de advogados, na Agência Cultural Cunha & Costa, onde é sócio
junto com seu amigo de faculdade Álvaro Cunha.
Ao contrário de outros
escritores como ele, José Costa não almeja o reconhecimento, sentindo-se até
grato ao ver os seus textos assinados por outra pessoa.
Costa é casado com
Vanda, apresentadora de um telejornal, e que não entende exatamente o que o
marido escreve, não se interessando mesmo pelo seu trabalho.
Quando, numa viagem a
Istambul, para participar num congresso de autores anónimos, se vê obrigado a
aterrar em Budapeste, devido a uma avaria no avião em que seguia, fica bastante
curioso em relação ao húngaro, língua que, segundo as más línguas, é a única
língua que o diabo respeita, repleta de sonoridades e sensações. Fica obcecado
pelo húngaro, até pela própria dificuldade que sente em compreender as
palavras.
Ao voltar ao Rio de
Janeiro, José Costa tem a missão de escrever a biografia encomendada de um
alemão. Após terminar o livro, devido a alguns conflitos no trabalho, decide
tirar férias, as férias com que Vanda há muito sonhara. Porém, quando Vanda
abre a passagem que Costa lhe entrega, fica a saber que irão para Budapeste e
não para o destino por ela sonhado, e decide trocar o seu bilhete para Londres.
Viajam, então, para destinos diferentes, rumo a um afastamento que se tornará
cada vez mais acentuado. Costa está apenas interessado em aprender a falar
húngaro. Acaba por ter aulas de húngaro com Kriska, com quem se envolve.
Seguem-se várias
viagens entre o Rio de Janeiro e Budapeste. Se por um lado, os padrões
normativos da sociedade o fazem arrepender-se do tempo passado longe da mulher
e do filho; por outro lado, é em Budapeste que Costa se sente realizado. Mas
estes afastamentos, quer de Vanda, quer de Kriska, levam-nos a todos a longos
silêncios. Silêncios que não são fáceis e em que os conflitos interiores o
levam a pensamentos do género, que passo a citar:
"Houve um tempo em
que, se tivesse de optar entre duas cegueiras, escolheria ser cego ao esplendor
do mar, às montanhas, ao pôr-do-sol no Rio de Janeiro, para ter olhos de ler o
que há de belo, em letras negras sobre fundo branco."
Este é um romance que
deixa o leitor intrigado até ao fim. Qual dessas viagens entre Budapeste e o
Brasil será a última? Para desvendar este mistério e apreciar este romance
tão sui generis, convido-o a encetar esta fantástica viagem a Budapeste de
Chico Buarque.
Célia Gil
1 Comentarios
Deve ser muito lindo! Não conheço e fiquei curiosa pra saber ! bjs, chica
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