Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Silva, Filipa Fonseca (2024). Admirável Mundo Verde. Lisboa: Suma das Letras.

Nº de páginas: 224
Início da leitura: 27/08/2024
Fim da leitura: 29/08/2024

**SINOPSE**
"Num futuro não muito distante, um grupo de activistas pelo clima radicaliza-se e decide derrubar o sistema. Dotado de uma eficaz máquina de propaganda, que lhe garante o apoio popular, consegue chegar ao poder e impor uma sociedade totalmente verde. Mas a que preço?

Depois do sucesso de E Se Eu Morrer Amanhã? e de O Elevador, nomeados para melhor livro do ano e em adaptação para filme, Filipa Fonseca Silva traz-nos um romance distópico electrizante, que levanta questões incontornáveis, como a emergência climática e a polarização de uma sociedade à deriva."
Este livro é uma distopia que parte do pressuposto de que uma localidade ficcional, num futuro não muito distante, estando numa situação climática insustentável, acaba por ser dominada por ativistas ambientais, os verdes, que decidem deitar abaixo o sistema, impor normas e regras para reduzir o consumo (por exemplo, da carne), a dependência das tecnologias e dos ecrãs e a tentativa de diminuição das temperaturas através da plantação de árvores. Mas, como em todas as situações radicais e extremistas, esta poderia sujeitar a sociedade a uma guerra atroz. O que seria preciso para impor estas novas ideias? Os fins justificarão mesmo os meios? Aconselho vivamente a leitura deste livro, envolvente, despojado de artificialismos e viciante. Um Admirável Mundo Verde, que, em jeito de louvor ao Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley (que ainda não li, mas que será dos próximos), nos traz um tema tão atual. Não sendo um livro técnico, serve o propósito de questionar, abrir as mentes, ponderar tudo muito bem e não agir de ânimo leve.

Searer, Eleanor (2024). A Canção do Rio. Lisboa: Singular Editora.
Tradução:Maria de Fátima Carmo
Nº de páginas: 312
Início da leitura: 25/08/2024
Fim da leitura: 27/08/2024

**SINOPSE**
«Altamente recomendado para quem gosta de romances históricos que giram em torno de uma protagonista forte e inesquecível.»
Library Journal

"«É isto a liberdade?», pergunta-se Rachel enquanto corre por uma floresta mergulhada na escuridão. Aterrorizada e exausta, foge da plantação onde passou toda a vida, do trabalho exaustivo e de um patrão brutal. O mesmo que, naquela manhã de 1834, anunciou o fim da escravatura para depois acrescentar que todos teriam de servir como aprendizes durante seis anos ao abrigo da Lei da Emancipação. Um escárnio cruel.
Foi então que algo em Rachel estalou. Porque dentro dela há cinco rostos que o tempo não pôde apagar: os das crianças que lhe foram arrancadas, empurradas para um destino que ignora. Estarão vivas? Serão escravas como ela? Se os encontrasse, reconhecê-la-iam? Encontrar os filhos torna-se a verdadeira liberdade. A viagem é difícil, o caminho longo e perigoso, as informações não são de fiar, tal como as pessoas que lhe oferecem ajuda. No entanto, ela continuará até que as histórias dos filhos – como as águas de um rio – se fundam com a sua, para criar uma história maior, a de uma família. Só então, e pela primeira vez, será livre.
Dos campos de Barbados ao movimentado mercado de Bridgetown, da Guiana Britânica às florestas de Trindade, nestas páginas desenrola-se uma viagem de esperança, um hino à força do sangue e ao amor infinito de uma mãe."
Este é um romance histórico, baseado em factos reais - fala-nos do momento da abolição da escravatura em Inglaterra. Porém, não seria dada a liberdade de mão beijada. No Caribe, os donos das terras de cultivo aranjaram um estratagema para os fazer trabalhar por mais seis anos como aprendizes e só depois teriam direito à liberdade. Porém, a protagonista, uma dessas escravas, decide não voltar. Quer ir à procura de todos os filhos que lhe foram feitos e lhe foram retirados, vendidos. É essa a sua grande libertação, a libertação de um presente onde o vazio lhe comprime os ossos e onde a sua única esperança reside em encontrar os seus filhos e saber se estão bem. Porém, terá de continuar a esconder-se, pois andam no seu encalço.
Terá Rachel encontrado os filhos? Que vidas tinham estes agora, passados tantos anos? Estariam dispostos a aceitar a mãe nas suas novas vidas? Conseguirá Rachel apaziguar o seu coração?
Uma história com História, com a qual também aprendemos e que, como é mais do que evidente, nos revolta. Revolta-nos como as mulheres eram vendidas para trabalhar nas fazendas, como prostitutas, para prazer dos brancos, para fazerem tudo o que os homens não conseguiam fazer sozinhos.
Aconselho!

Diniz, André (2017). O Idiota. Lisboa: Levoir.

Nº de páginas: 416
Início da leitura: 23/08/2024
Fim da leitura: 25/08/2024

**SINOPSE**
"A narrativa gira em torno do príncipe Míchkin, um homem criado longe da Rússia devido a graves crises de epilepsia. Após longo período internado na Suíça, o príncipe então com vinte e sete anos decide reinserir-se na sua sociedade natal, sem que tenha a menor ideia do que o aguarda. Sincero, bondoso e complacente, o príncipe é atirado com rapidez surpreendente para situações sobre as quais pouco entende e nas quais as suas elevadas qualidades mais causam tumulto do que solução.

O Idiota usa uma linguagem quase exclusivamente contada por imagens, num registo em que o texto está praticamente ausente (das mais de 400 páginas, pouco menos de 30 contêm curtos diálogos).
Com prefácio do jornalista brasileiro Sidney Gusman, editor da Mauricio de Sousa Produções e editor-chefe do site Universo HQ."

O autor desta novela gráfica foi muito ambicioso. Seria previsível a complexidade de adaptação da obra de Dostoiëvski, de quase 1000 páginas a uma novela gráfica, especialmente quase exclusivamente através de imagens. Confesso que, para perceber determinados acontecimentos, tive de recorrer a resumos da obra original, uma vez que as falas presentes nesta novela gráfica me pareceram insuficientes para perceber bem "O Idiota". Quanto a mim, poderia ter sido mais bem conseguido se fossem introduzidas mais falas, pelo facto de poder haver quem não tenha lido o romance original.
Também não sou fã do tipo de ilustrações com formas geométricas e riscado baseados na xilogravura, se bem que reconheça que este facto confere mais dramaticidade à obra.
Gostei (porque me informei), mas não adorei!

Perrin, Valérie (2023). Três. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Maria de fátima Carmo

Nº de páginas: 464

Início da leitura: 22/08/2024

Fim da leitura: 25/08/2024


**SINOPSE**

"Uma história em que a adolescência, a passagem para a vida adulta e as dores de crescimento nos mostram de que matéria é feito um dos mais profundos sentimentos da vida: a amizade.

Adrien, Étienne e Nina têm dez anos quando se conhecem na escola, em 1986. Rapidamente, tornam-se muito próximos, criam um laço fortíssimo e fazem um pacto: vão partir, juntos, para Paris e jamais se separarão.

Muitos anos mais tarde, em 2017, é encontrado um carro no fundo de um lago, no lugar onde os três amigos cresceram. Virginie, uma jornalista com um passado nebuloso, faz a cobertura do caso. Pouco a pouco, ela vai descobrindo o que aproximou aqueles três amigos. Que pessoas são, hoje, Adrien, Étienne e Nina? Qual é a relação entre este estranho acontecimento e a história de amizade que une os três?

Valérie Perrin regressa com um romance tocante em que, uma vez mais, consegue não só imprimir beleza às pequenas coisas da vida, mas revelá-la perante os nossos olhos.

É um mergulho nas águas tumultuosas - e tantas vezes turvas - da adolescência e, sobretudo, no tempo que passa e nos separa das pessoas que fomos então."
Valérie Perrin tem, efetivamente, o dom da palavra escrita. É impossível não cair na sua teia de palavras e ficar rendida à história, às personagens, ao momento e ao espaço. Tudo se coaduna, tudo se relaciona, tudo tem um sentido. 
Este é um livro cuja ação decorre principalmente em Comelle, uma pequena cidade de Borgonha, no ano de 1986. Os protagonistas são três crianças de 10 anos: Nina Beau, Etienne Beaulieu e Adrian Bobin - inseparáveis e amigos para sempre. Nem sempre o rumo das suas vidas lhes permitiu estarem juntos, mas estrariam sempre presentes logo que fosse preciso.
É muito interessante a forma como a narração muda, apresentando-nos de forma alternada vários momentos (presente, passado - infância e adolescência), como o narrador muda, o que nos permite ir testemunhando várias formas de ver determinados acontecimentos sob óticas diferentes. E, apesar de, muitas vezes, se repetirem acontecimentos, não o são exatamente da mesma forma, uma vez que vivenciados de forma diferente por cada uma das personagens.
Apesar de ser um romance extenso, consegue captar-nos a atenção a cada momento, principalmente se estivermos atentos a cada perspetiva, às várias nuances e complexidade das personagens (no meu entender, tão verosímeis, uma vez que possuem as suas virtudes e defeitos sem que isso interfira na amizade que as une). A par do crescimento das personagens, dos acontecimentos mais comuns, das descobertas, das primeiras relações, das separações, das escolhas que se fazem na vida, temos toda a complexidade que envolve o amadurecimento humano. A criar suspense, temos o acontecimento presente: um carro é retirado de um lago onde estes jovens se banhavam na infância e adolescência, após mais de três décadas. Este acontecimento vem ensombrar as suas vidas, já de si tão complicadas. Terão eles conhecimento do sucedido?
Muito mais poderia dizer sobre este livro, mas quero deixar essa descoberta para futuros leitores. Apenas acrescento que é um romance que aconselho vivamente.

Silva, Filipa Fonseca; Magalhães, Helena; Bravo, Íris; Velho, Susana Amaro (2024). O Sono Delas. Lisboa: Cultura Editora.

Nº de páginas: 160
Início e fim da leitura: 21/08/2024

**SINOPSE**
"Longe das histórias de encantar, as mulheres podem ressonar, sofrer de insónia, apneia do sono, síndrome de pernas inquietas ou de outras perturbações do sono.

O Sono Delas reúne cinco vozes da literatura contemporânea que, inspiradas em casos clínicos reais, dão voz a uma antologia de contos inéditos.

Entre a insegurança de um primeiro amor e a dor do luto, o peso do envelhecimento e as dúvidas da adolescência, a insatisfação no casamento e o desgaste provocado pelas exigências da maternidade, este é um livro que aborda com sensibilidade e beleza a importância do sono da mulher sob o peso das expectativas sociais que continuam a tornar as doenças do sono num tabu feminino."
A par do interesse despertado pelo facto de ser um livro de contos, alguns de escritoras que muito admiro, chamou-me logo a atenção o título do livro. Sem ser um livro de autoajuda, pode, de alguma forma, através de personagens ficcionais que representam casos reais, servir para nos fazer pensar sobre este problema que cada vez atinge mais pessoas: a falta de uma boa higiene do sono. 
A privação do sono e as suas mais vastas consequências são o mote para estes contos, em que personagens femininas se debatem com este problema. Um livro idealizado por profissionais de saúde especialistas na área que, com o intuito de alargarem aos leitores a "literacia sobre o sono das mulheres", convidaram outras mulheres (escritoras) para dar voz a contos que abordam a temática. É importante que se tenha cada vez mais a consciência de que a privação do sono pode trazer inúmeros malefícios e eu também sei o que isso significa porque já vivenciei algumas dessas consequências, pelo que me pude rever em algumas das personagens destes contos. Aconselho!

Audrain, Ashley (2024). Rumores. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Gonçalo Neves
Nº de páginas: 368
Início da leitura: 19/08/2024
Fim da leitura: 21/08/2024

**SINOPSE**
"Xavier, de dez anos, está em coma no hospital depois de ter caído da janela do seu quarto a meio da noite. A mãe, Whitney Loverly, só consegue ficar sentada junto à cama do filho no hospital, recusando-se a falar.

Os amigos e vizinhos estão em choque, e os rumores sobre o que poderá ter acontecido naquela terrível noite vão-se multiplicando: Terá sido acidente? Poderá Whitney, cujo acesso explosivo de raiva com Xavier todos testemunharam meses antes, ter sido de alguma forma responsável? Teria Xavier saltado propositadamente?

Os acontecimentos dos últimos meses são-nos contados pelas vozes das mulheres de quatro famílias do bairro dos Loverlys, à medida que são forçadas a enfrentar os segredos dentro das paredes das suas próprias casas e as verdades incómodas que as ligam umas às outras. E os rumores, que começaram por ser quase inaudíveis, tornam-se cada vez mais sonoros, revelando uma verdade devastadora que mudará a vida destas quatro mulheres para sempre."

Este não é, quanto a mim, um thriller, é mais um drama que envolve, essencialmente, quatro mulheres e as suas experiências e vivências da maternidade. As histórias delas vai sendo contada de forma alternada e acabam por se cruzar entre si.
A maternidade é, sem dúvida, o tema central - desde a mãe que tem um filho e o rejeita, afastando-se dele, procurando no prazer mundano e pervertido satisfazer o seu ego e dedicando-se inteiramente à sua profissão de sucesso; uma mulher que sente o apelo da maternidade, mas que não consegue ter filhos, não desistindo ainda assim, numa espécie de obsessão, mesmo sabendo como terminam sempre as suas gravidezes; uma mulher (portuguesa), cujo filho apenas consegue interagir com a mãe e que acaba por se sentir culpada, quando o perde, numa viagem de avião que fez questão de fazer com ele e uma mãe que se dedica a ser mãe a tempo inteiro, mas que sente que não é valorizada e que deixou de ser desejada. 
A forma como está escrito angustia, prende-nos, revolta-nos, faz-nos sentir compaixão e, por isso mesmo, considero que é um livro envolvente e com suspense q.b.
O final poderia ter sido menos apressado e mais interessante. Ainda assim, gostei bastante e aconselho.

Bo-Reum, Hwang (2024). Bem-Vindos à Livraria Hyunam-Dong. Queluz de Baixo: Editorial Presença.

Tradução do inglês: Helena Sobral e Isabel Nunes
Nº de páginas: 280
Início da leitura: 16/08/2024
Fim da leitura: 19/08/2024

**SINOPSE**
"Esta é uma história sobre aceitação e como os livros podem mesmo salvar as nossas vidas. Perfeita para quem procura um romance acolhedor e comovente.

Há muitas livrarias, mas a Hyunam-dong é muito especial. É a casa de Yeongju, o sonho da sua vida. Desmotivada, ela sentia que os seus dias eram um autêntico vazio e decidiu largar tudo para concretizar um grande e antigo desejo: abrir uma livraria. Pode não ser fácil, porém… à medida que Yeongju põe tudo de si naquele espaço e na forma como acolhe os clientes, descobre verdadeiramente quem é.

E, conforme as pessoas falam com ela e procuram mais e mais a Livraria Hyunam-dong como um lugar para perceber o que realmente conta na vida, a partilha de sentimentos prova que todos podem, afinal, encontrar o seu lugar. Romance que nos faz mergulhar numa sensação profunda de reconhecimento e bem-estar, esta é a história que já mostrou a milhões de pessoas em todo o mundo que os livros podem mesmo tirar-nos de sítios escuros, mudar-nos e curar as nossas feridas - na alma e no coração."
Este livro é um convite para abrandarmos as nossas vidas, uma apologia da introspeção, um convite à reflexão sobre a dicotomia expetativas - luta por elas - o que esperam de nós  e o que queremos da vida - o que nos faz realmente felizes. Um livro que pode ser terapeutico, mas que, sinceramente não correspondeu às minhas expetativas. Demasiado lento, demasiado repetitivo, demasiado parado. Talvez por não gostar de autoajuda e este livro ter um pouco desse género, não foi um livro que me tenha cativado plenamente.

Bustos, Natacha; Sánchez, Francisco (2016). Chernobyl - A Zona. Lisvoa: Levoir.

Tradução: José de Freitas
Nº de páginas: 186
Início da leitura:15/08/2024
Fim da leitura: 18/08/2024

**SINOPSE**

"Por trás de cada catástrofe, esconde-se uma história humana.Como reagem as pessoas quando são forçadas, de um momento para o outro, a abandonar as suas casas, a terra que sempre conheceram? Este é o relato de uma das muitas famílias que deixaram os seus lares, depois do terrível acidente nuclear de Chernobil, convencidas de que iriam regressar uns dias depois. Mas um inimigo invisível tinha-se apoderado da sua cidade, das suas terras, das suas casas, e estava disposto a permanecer por muito tempo.Longe do sensacionalismo e da controvérsia, Francisco Sánchez e Natacha Bustos mostram-nos todo o drama, através de um conjunto de personagens fictícias que poderiam perfeitamente ter existido, convidando o leitor a reflectir sobre o que ainda hoje significa o acidente de Chernobil.Passaram-se 30 anos desde aquele 26 de Abril de 1986, poucos, comparados com as dezenas de milhares de anos que os resíduos nucleares da central vão permanecer activos. Este livro é uma homenagem a todas essas gentes que sofreram as consequências da energia nuclear fora de controlo.Para que nunca nos esqueçamos do que passou."
Nesta novela gráfica, é-nos apresentada uma família que vive em Pripyat, uma cidade, antes da catástrofe de Chernobyl, próspera e com 47000 habitantes. O pai trabalha na Central, como grande parte dos homens da cidade. Quando se dá a explosão do Reactor IV do Complexo Nuclear de Chernobyl, ninguém tem a noção das consequências que provocaria, das toneladas de material radioativo que ficaria a contaminar em mais de cerca de 25000 mil anos. Esta família (mãe grávida e filho), como tantas outras, vê-se obrigada a abandonar o lar, com a promessa de ser por três dias e que regressariam.
É um tema duro, real, aqui exposto de forma cronológica, com poucas falas, pois as imagens falam por si. A ilustração, a preto e branco, simples, básica, captou bem a essencia da mensagem transmitida. Só considero que se poderia ter-se contado mais, ter-se dito mais (ainda que entenda que as próprias pessoas que vivenciaram este pesadelo também pouco sabiam do que estava a acontecer e do que se seguiria).
Recomendo a leitura desta novela gráfica e, para quem quiser compreender melhor a dimensão deste desastre, o livro Vozes de Chernobyl de Svetlana Alexievich.

Zaddorian, Michael (2018). Uma Viagem Inesquecível. Lisboa: HarperCollins.

Tradução: Ana Filipa Soares
Nº de páginas: 256
Início da leitura: 14/08/2'24
Fim da leitura: 16/08/2024

**SINOPSE**

"Uma viagem inesquecível!
Um Bestseller no qual se baseia o filme do mesmo nome protagonizado por Helen Mirren e Donald Shutherland .
Um ponto de vista carinhoso e sincero sobre um casal que se descreve como dois velhos em apuros, que não está disposto a ir facilmente desta para melhor…
Tomara conseguirmos lidar tão bem com os nossos últimos dias como Ella e John Robina.

Os Robina partilharam uma vida maravilhosa por mais de sessenta anos. Agora, já com oitenta e tal, Ella tem cancro e John sofre de Alzheimer. Na ânsia de viver um grande aventura, estes "velhotes em apuros" fogem da supervisão dos filhos e dos médicos, que parecem querer controlar-lhes as vidas, deixando para trás a sua casa nos arredores de Detroit, decididos a viver uma férias proibidas e a redescobrir toda uma vida.

Com Ella a fazer de atenta copiloto, John conduz a caravana Leisure Seeker de 78 pelas vias esquecidas da Rota 66 até à Disneyland, em busca de um passado muito doloroso de recordar. Mas apesar disso, Ella está decidida a demonstrar que tudo se pode repetir na vida...mesmo que todos digam o contrário."
Um livro que que aborda assuntos sérios de forma desdramatizada, que nos faz sorrir a cada passagem. O protagonista masculino tem Alzheimer, a protagonista feminina, cancro. Ainda assim, decidem, desvalorizando as opiniões dos médicos, empreender uma viagem de caravana, seguindo o percurso que faziam quando os filhos eram crianças. Agora, os filhos ficam nas suas vidas e nos seus trabalhos, enquanto os pais partem nesta viagem que é, de facto, inesquecível. É uma viagem pelo passado, pelas memórias, na qual têm de enfrentar várias adversidades. O autor aborda esta aventura com humor e com doçura. Aconselho!

Zidrou & Monin (2024). A Adopção - Wadjia & Arrependimentos. Lisboa: Ala dos Livros.

Tradução: Helena Romão
Nº de páginas: 144
Início da leitura: 13/08/2024
Fim da leitura: 14/08/2024

**SINOPSE**
"Após longos meses de espera, Gaëlle e Romain adoptaram Wajdi, de10 anos. Originário do Iémen, Wajdi cresceu no horror da guerra. Uma infância abalada por lutas, privações, sofrimentos. Desconfiada, endurecida pela força das circunstâncias e sem falar uma palavra em francês, a criança de 10 anos assusta-se com os mais pequenos ruídos do quotidiano e interpreta mal os gestos mais simples.

Os felizes pais adotivos serão rapidamente confrontados com os primeiros nãos, os primeiros problemas da adolescência e as primeiras rebeliões. Wajdi passou pelo pior, levará algum tempo para aceitar o melhor. O casal hesita em confirmar o pedido de adopção. A família que tanto queria esse filho ainda o quer? E o que restará então a Wajdi?

Depois de o segundo tomo de A Adopção ter obtido, em 2017 e 2018 respectivamente os Prémio Saint-Michel para o Melhor álbum Francófono e o Prémio da BD Fnac da Bélgica, esta série tornou-se uma referência incontornável da BD europeia dos últimos anos.

Depois da edição integral do 1º ciclo (Ala dos Livros, 2022), a edição portuguesa, também pela Ala dos Livros, inclui num único volume os dois tomos do 2º ciclo da edição francesa original dedicados à história de Wadji."
Mais uma BD fabulosa sobre adopção. Não é fácil adoptar uma criança, é preciso estar-se preparado para tudo, especialmente quando a criança já tem 10 anos e vem fugida de uma guerra. Não é fácil lidar com os decatos de Wajdi quando ele luta para se defender do Bullying a que é sujeito pelos seus pares. Afinal, já passou por uma guerra e há dentro dele uma revolta tão grande, que não passa de um dia para o outro. Estará alguém preparado para adoptar uma criança nestas circusnstâncias? Será a criança adoptada, por mais difícil que seja, passível de ser descartável como um objeto? Vale a pena ler e refletir!
Aconselho vivamente! Adorei!!!!

Zidrou; Monin, Arno (2022). A Adopção - Qinaya & A Garua. Lisboa: Ala dos Livros.


Tradução: Helena Romão
Nº de páginas: 144
Início da leitura: 11/08/2024
Fim da leitura: 13/08/2024

**SINOPSE**
"Com a adopção de Qinaya, uma órfã peruana de 4 anos, por parte de uma família francesa, a vida de todos os envolvidos sofre uma reviravolta. Mas, para Gabriel, a adopção torna-se ainda mais complicada: ele, que nunca tivera tempo para ser pai, terá de aprender a ser avô.

Dos primeiros contactos frios e distantes aos momentos partilhados, Gabriel e Qinaya irão, pouco a pouco, criar laços que o velho casmurro estava longe de imaginar. Até que…

Depois de o segundo tomo de A Adopção ter obtido, em 2017 e 2018 respectivamente os Prémio Saint-Michel para o Melhor álbum Francófono e o Prémio da BD Fnac da Bélgica, esta obra tornou-se uma referência incontornável da BD europeia dos últimos anos.

A edição portuguesa, com a chancela da Ala dos Livros, integra num único volume os dois tomos da edição francesa dedicados à história de Qinaya e, para além de apresentar uma nova capa, contem ainda um caderno suplementar de pesquisas gráficas das personagens destes álbuns."
Esta é uma história fantástica sobre a adopção de uma menina órfã peruana de 4 anos. A par da menina, Qinaya de seu nome, temos como protagonista o avô que, pouco habituado a tomar conta de crianças e renitente no que concerne a esta adopção, reage, inicialmente de forma distante e até um pouco rude. Mas o coração de um avô não terá espaço para uma miúda especial? Conseguirá Qinaya chegar ao coração empedernido deste avô? Uma história sobre a qual mais não posso revelar, mas que refiro que é simplesmente fantástica, comovente e inspiradora. Aconselho mesmo muito a leitura desta pérola da BD. As ilustrações são igualmente fabulosas.

Tokarczuk, Olga (2022). Empúsio. Lisboa: Cavalo de Ferro.

Tradução:  Teresa Fernandes Swiatkiewicz

Nº de páginas: 344

Início da leitura: 12/08/2024

Fim da leitura: 14/08/2024


**SINOPSE**

"Setembro de 1913. Mieczyslaw Wojnicz, estudante de Engenharia de Lviv, chega à cidade termal de Görbersdorf, na Baixa Silésia, sede de um dos mais famosos sanatórios da Europa e do mundo. É aqui, no sopé das montanhas, beneficiando de métodos inovadores, que espera travar a progressão da sua tuberculose. Na Hospedaria para Cavalheiros onde reside, doentes oriundos de Viena, Königsberg, Breslau e Berlim juntam-se ao serão para tomar um cálice do retemperante licor Schwärmerei e filosofar sobre a natureza do mundo e de Deus, a política, ou o papel das mulheres. Contudo, não são só as grandes polémicas intelectuais da época que ocupam a mente destes homens. Há notícias de corpos sem vida encontrados mutilados na floresta circundante, dando a ideia de que forças obscuras estão à espreita escolhendo o seu próximo alvo.

Livro que marca o regresso de Olga Tokarczuk ao romance após a atribuição do Prémio Nobel de Literatura em 2019, Empúsio - amálgamalinguística de Empusa, figura mitológica grega, e Simpósio - pode ser lido como um diálogo com a grande tradição literária europeia e os seus dogmas, em particular com A Montanha Mágica, de Thomas Mann, apresentando um protagonista que se revela símbolo de resistência e de anseio por um mundo radicalmente diferente."

Görbesdorf é, em 1913, uma estância termal, na Baixa Silésia, conhecida pelos poderes curativos da tuberculose. É também um local prazeroso, pela beleza e imponência das montanhas envolventes e místico, pelas crenças e acontecimentos inexplicáveis. Neste local, na hospedaria para cavalheiros, conhecemos o protagonista, Mieczyslaw Wojnic que, com os outros pacientes, participa de longos diálogos filosofais sobre a natureza do mundo, de Deus, da mulher, da política, da arte (pintura e música). São doentes oriundos de vários países e a intensidade dos seus diálogos remeteu-me para a obra As Velas Ardem Até ao Fim, deSándor Márai. É, afinal, um diálogo entre a figura mitológica grega - Empúsio e os dogmas - Simpósio.
A epígrafe é do Livro do Desassossego, do nosso Fernando Pessoa.
De destacar que a essência do homem se mostra, de uma maneira geral, violenta e animalesca, que mancha a aparente calma da estância termal. Poderá alguém diferente e sensível ser aceite neste meio?
Adoro a forma como a autora escreve, as longas descrições que me permitem visualizar todos os locais descritos e conhecer as personagens, que se tornam reais, convivendo com o leitor e as reflexões que me lembram o existencialismo. Imperdível para quem gosta do género.
Deixo uma passagem:
"De qualquer forma, é em nós que reside o sentimento de desvalorização, a convicção de que a nós nos falta algo que todos os outros têm. Ao longo das nossas vidas, temos de lidar com este sentimento de inferioridade, superá-lo ou atrelá-lo à carruagem das nossas ambições..." (cap. XV).

 Tordo, João (2022). Naufrágio. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 320
Início da leitura: 12/08/2024
Fim da leitura: 13/08/2024

**SINOPSE**
"O novo romance de João Tordo conta-nos a história de um homem à deriva, enredado nos seus fantasmas e obrigado a enfrentar a mais terrível das acusações.

Aos sessenta anos, o romancista Jaime Toledo enfrenta vários problemas. Não escreve há uma década, foi diagnosticado com cancro e, de repente, dá por si no epicentro de um escândalo. Escritor de renome em Portugal, a polémica lança-o para o abismo - sem carreira, sem dinheiro e sem casa, com os livros a ganhar pó nos armazéns, depois de banidos pela sua editora, toma uma decisão radical: deixar tudo para trás e mudar-se para um barco decrépito, fundeado nas docas de Lisboa. É no Narcisse - um minúsculo barco mágico -, na companhia de uma velha guitarra e de um cão chamado Sozinho, que Jaime procurará devolver o sentido à sua vida, reconciliando-se com o passado: as relações conturbadas com as mulheres, o abandono da escrita, a culpa que o corrói.

Até que, um dia, a aparição de uma figura do passado mudará tudo, desviando a narrativa para um lugar inesperado. Estará nas mãos de Jaime decidir se este naufrágio é o fim ou um caminho para algo novo.

Naufrágio é um corajoso romance sobre o amor e as relações entre os sexos, uma reflexão sobre a memória e a culpa, e as linhas difusas que definem as fronteiras pessoais, sociais e morais. Através de Jaime Toledo, João Tordo traça o perfil de um homem em busca da redenção possível, num mundo mais rápido a julgar do que a refletir, e onde é mais fácil condenar do que estender a mão."
Este romance de personagem é realmente bom. 
Um escritor, Jaime Toledo, vê a sua vida virada do avesso quando é acusado, por várias das mulheres com quem se envolvera, de assédio. Este facto torna-o uma "persona non grata", como escritor e como homem. Vê-se, assim, sujeito a ir definhando e anulando o seu eu, num barco onde passa a viver. Aí se alheia e esconde do mundo, dos olhares acusatórios, da própria vida, vivendo o dia-a-dia com o mínimo possível e passando os dias a refletir sobre toda a sua vida - da fama à destruição. O barco, decrépito, como ele, seria o local mais natural para o naufrágio do protagonista. Esta é uma visão do outro lado do movimento #MeToo, que teve uma grande projeção nos meios de comunicação. Não colocando em causa o valor do movimento contra o assédio sexual, Tordo aborda o "outro lado", o do acusado e da destruição a que este movimento pode sujeitar, com um julgamento em praça pública, sem ouvir o outro lado. Uma questão que não deixa de ser polémica. Aconselho!

Schlink, Bernhard (2023). A Neta. Alfragide: Edições ASA II.

Tradução: João Bouza da Costa
Nº de páginas:
Início da leitura: 07/08/2024
Fim da leitura: 11/08/2024

**SINOPSE**
"Maio de 1964. Num encontro de jovens das duas Alemanhas, Kaspar e Birgit apaixonam-se. Vivem-se dias radiosos de primavera e naquele momento tudo parece possível. As barreiras que dividem Berlim, porém, são inultrapassáveis e Birgit tem de abandonar tudo e fugir para o Ocidente para viver a sua história de amor. O preço que paga pela fuga só será conhecido décadas depois, após a sua morte, quando Kaspar encontra os seus escritos autobiográficos.

Kaspar decide então procurar respostas para o enigma em que se transformou a mulher que pensava conhecer melhor do que ninguém. Essa busca vai levá-lo a uma comunidade rural de neonazis. Numa casa que ostenta o retrato de Rudolf Hess na parede, Kaspar depara-se com Svenja, a filha que Birgit deixou para trás. Ao lado dela está uma rapariga ruiva com cerca de quinze anos. A neta?

Neste seu novo romance, Bernhard Schlink, escritor-filósofo e nome maior da literatura alemã contemporânea, regressa aos temas fundamentais da sua obra: amor, obsessão, traição, ética e dilemas morais. A Neta explora os paradoxos do amor e o enigma do tempo, e oferece-nos mais um grande romance sobre a Alemanha."
Tendo já lido O Leitor, do mesmo escritor, não poderia deixar de ler este livro, uma vez que gosto da densidade da escrita, da força narrativa, das reflexões que nos envolvem e nos fazem também pensar.
Neste livro cruzam-se duas épocas distintas: 1964 - o momento em que os protagonistas se conhecem, se apaixonam e resolvem ficar juntos. Sendo cada um de uma zona diferente de Berlim, dividida pelo muro, era necessário que a personagem feminina, Birgit, fugisse para a parte Ocidental. Durante grande parte da história, conhecemos o casal Kaspar e Birgit. Logo no início da obra, somos confrontados com a morte de Birgit e o sofrimento em que fica Kaspar, que tudo fará para entender o que a levou à degradação (com o álcool e comprimidos) ao longo da sua existência. Porque a Birgit que foi para Ocidente, levava com ela grandes segredos, com os quais terá lidado sozinha e nem sempre com as decisões mais acertadas.
É quando Kaspar começa a ler os escritos de Birgit (supostamente, Birgit terá mencionado que estava a escrever um romance. Mas este nunca terminou e ficaram vários registos escritos de que Kaspar não tinha ideia). Que segredos serão esses, que vão mudar a vida de Kaspar, bem como a vida de outra personagem que surgirá no livro? Aconselho vivamente.

Passagens:
"...o que interessa não é que a música, ou a arte, ou os livros, sejam alemães ou estrangeiros. O importante é se são bons ou maus."
"Eu amo o meu país, adoro falar a minha língua, fico contente por perceber as pessoas, por sentir uma certa intimidade com tudo isto. Não preciso de sentir orgulho em ser alemão, basta-me a alegria que me dá a intimidade." "Em todo o lado há pessoas fantásticas e outras detestáveis,..."
"-Só há uma verdade. Ela não me pertence a mim, nem a ti, existe simplesmente. Como o Sol, ou a Lua. E, como a Lua, por vezes só se vê uma parte dela, e, no entanto, é redonda e bonita."

 Bomann, Corina (2023). A Ilha Das Borboletas. Lisboa: Planeta.

Tradução: Ana Sequeira Gomes
Nº de páginas: 400
Início da leitura: 02/08/2024
Fim da leitura: 06/08/2023

**SINOPSE**
Uma história arrebatadora de uma mulher que, entre dois continentes e cem anos de história, procura desenterrar o segredo da sua família há muito escondido.

No dia em que Diana descobre que o seu marido lhe é infiel, a jovem advogada recebe a notícia de que a sua querida e adorada tia-avó está muito doente. Sem pensar duas vezes, apanha o primeiro avião para Inglaterra para se despedir.

Emmely tem uma última vontade: Diana tem de descobrir um antigo segredo de família há muito escondido. Para isso a sua tia-avó deixa-lhe uma série de pistas espalhadas pela grandiosa mansão, que deverá encontrar e interpretar com a ajuda do mordomo, o senhor Green.

Aos poucos, Diana vai descobrindo uma complexa história familiar, que remonta ao século XIX e a conduz até às irmãs Grace e Victoria Tremayne, proprietárias de uma plantação de chá em Ceilão. Pistas que a levam para longe de Berlim, do seu marido, até à exótica ilha no Sri Lanka, onde conhece Jonathan Singh, um historiador e escritor local.

À medida que o trágico passado de Grace e os pecados da família são revelados, Diana vive novas experiências e sensações, encontrando inspiração na coragem da sua antepassada, para compreender o seu próprio destino e repensar o valor da felicidade e do amor.
Peguei neste livro que me atraiu pela capa e pelo título. Ao ler a sinopse, bastante explícita, também senti despertar o interesse pelo conteúdo: uma saga familiar, passada em épocas distintas, continentes distantes, com mulheres que se destacam pela sua personalidade, coragem e determinação e com muitos segredos pelo meio a desvendar. 
Sem ser propriamente um romance histórico, há um contexto histórico que perpassa toda a obra e que nos permite compreender as várias épocas da ação. Gostei particularmante da história passada, de Grace e Vitória, passada no Sri Lanka, das descrições das plantações de chá, da revolta de Grace pela exploração dos trabalhadores, sujeitos a castigos físicos cruéis. A história de amor vivida pela protagonista mais nova, Diana, era algo dispensável. Gostei mais da descoberta dos segredos da tia-avó de Diana.
Não é um romance para ler de corrida, precisa de tempo para nos determos nas descrições, para nos imaginarmos lá, nas plantações de chá do Sri Lanka. Aconselho a quem gosta do estilo.

Gonçalves, Ana (2023). O Colecionador de Ruas. Lisboa: Astrolábio Edições.

Nº de páginas: 208
Início da leitura: 01/07/2024
Fim da leitura: 02/07/2024

**SINOPSE**
"Pedro, um menino de rua que de seu nada tem, a não ser o nome, e Douro, um cão abandonado, estão destinados, desde o dia em que decidiram ser família, a cruzar-se com o conceituado chef Henrique e o enigmático Velho do Marquês, pelas ruas da cidade do Porto. São elas, em jeito de premonição, as testemunhas dos encontros e desencontros das suas histórias de vida, tão belas quanto trágicas.

Abril, um mês, cujas manhãs se cobrem por uma luz excessivamente branca que fere os olhos e o coração de quem já tem os olhos em choro. É nele que a dor que todos conhecem se torna mais intensa e inesperada, retirando-lhes o conforto de quem há muito tempo já é só e já é triste.

O novo livro de Ana Gonçalves é, assim, o primeiro de uma trilogia intitulada o Colecionador de Ruas que apresenta como mote principal a manifestação da dor como o único elemento capaz de unir o Homem para além dos seus propósitos individuais."
Só não dou 5 estrelas a este livro, pelo facto de a autora ter escrito mal o nome da nome querida poetisa, Sophia de Mello Breyner Andresen (não Andersen).
Tirando este erro, o livro é muito bom e, apesar do tema duro da vida de um menino na rua (Pedro), o tema é retratado com poeticidade e com uma candura que nos revela uma criança dócil e ingénua, apesar da máscara dura que teve necessáriamente de criar para sobreviver num mundo tão cruel como este. Aqui se retrata a perda, a luta pela sobrevivência, a amizade inabalável entre uma criança e o seu cão, o conceito de conforto de uma casa de uma pessoa que vive na rua (tão discrepante do natural conceito de casa), a violência, a dor, as lágrimas, a ideia de que é ele o culpado por qualquer dor infligida aos que lhe são mais próximos, o espírito de entrejuda e humanismo do chef Henrique, que decide ajudar Pedro, juntamente com os seus filhos, a sensibilidade...
Um livro comovente e que muita gente que se diz humana (sem o ser verdedeiramente) devia ler. Recomendo!

Max (2017). Vapor. Lisboa: Levoir.

Tradução: Carlos Xavier
Nº de páginas: 120
Início e fim da leitura: 01/08/2024

**SINOPSE**
"Vapor, um eremita exilado num estranho deserto bastante frequentado, enfrenta a tentação sobre as mais diversas formas, numa história surrealista, entre o minimalismo e o género fantástico, marcada por um humor delirante.

Criador de Peter Punk, editor da revista Nosotros Somos los Mortos, um dos nomes maiores da revista El Vibora e colaborador frequente da revista New Yorker, o catalão Max, na sua fúria contra o mundo e no seu carinho pela arte dos comics, criou um heroísmo perfeito; tão absurdo que dói no nervo exacto onde a arte se deve sentir."

São 120 páginas a preto e branco, com um humor metafísico, cujo protagonista é tão "seco e intratável" quanto o traço do desenho. Este, "farto de tudo! Do mundo e das pessoas, das coisas e das ideias, das palavras e das imagens", decide afastar-se do mundo e prostar-se num lugar deserto, de modo a encontrar um sentido para a existência, um absoluto "transparente", uma vez que não acredita em Deus. Porém, conseguirá ele atingir o seu propósito, não lhe pregará a sua existência corporal e mental algumas partidas? Será possível deixar-se evaporar completamente? Uma conjugação de fantástico e surreal para os apreciadores do género.

Prado, Migelanxo (1997). Pedro e o Lobo - Uma adaptação do Conto de Sergei Prokofiev. Lisboa: Meribérica/Liber Editores.

Tradução: Meribérica/Liber Editores
Nº de páginas: 34
Início e fim da leitura: 01/08/2024

**SINOPSE**
"O artista europeu de quadrinhos Miguelanxo Prado descreve suas duas paixões de vida como "ouvir e inventar histórias, assim como pintar". Nesta adaptação do conto popular clássico de Sergei Prokofiev, Prado combina essas paixões em uma gloriosa obra de arte. As cores suaves e sombrias dão a esta reedição de Pedro e o Lobo a aparência de algo de outro tempo e lugar. O livro começa com duas pinturas de página inteira. A primeira é Pedro, o pato, o gato e o pássaro olhando para a floresta escura; o ponto de vista é de trás deles, com o leitor olhando para a floresta com eles. Vire a página e você verá a mesma cena do ponto de vista oposto, de dentro da floresta, olhando para eles. A representação é poderosamente emocionante, e como o próprio Prado diz em sua introdução: "Embora os contos populares sejam geralmente destinados a crianças, eles ainda possuem um poder fascinante e evocativo para adultos". Seja Pedro e o Lobo para você ou seu filho, a versão de Prado é uma ótima adição à sua estante."

Este é um conto infantil (que também deve ser lido por adultos), sobejamente conhecido, desta feita adaptado por Miguelanxo Prado, sendo interessante determo-nos um pouco nas pranchas. Escuras, a acentuar a imponência e medo de um lobo que vive e que naquele bosque e tem fama de "gigante", "faminto", "tenebroso como uma tempestade", "de uma fome insaciável", devendo todos manter a distância do bosque. O avô de Pedro, preocupado, recomenda-lhe que nunca se atreva a "pôr os pés na vereda". Mas o Pedro é uma criança, curiosa como todas as crianças, sendo que esta ordem do avô o deixa ainda mais curioso, irresistivelmente curioso. Atrever-se-á Pedro a aventurar-se pelo bosque? Cruzar-se-á com o lobo?
Mas Pedro estava determinado a apanhar o lobo, caso existisse. 
Quando o orgulho do homem se eleva ao mesmo patamar da fome de um lobo, pode ser catastrófico.
As ilustrações são lindas, porém sombrias, o que acaba por ir ao encontro da história. Recomendo.

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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