Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Hamsun, Knut. Sob a Estrela do Outono. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2023.
Tradução: João Reis
Nº de páginas: 176
Início da leitura: 22/02/2025
Fim da leitura: 23/02/2025

**SINOPSE**
"Sob a Estrela do Outono, até hoje inédita em português, é unanimemente considerada uma das obras fundamentais de Knut Hamsun.

Fugido da «azáfama, dos jornais e das pessoas da cidade», o protagonista deste romance, ao qual Hamsun empresta o seu próprio nome, Knut Pedersen, refugia-se no campo em busca da verdadeira vida, determinado a conquistar aí a calma e a paz interior.

Senhor de si mesmo, vagueia de quinta em quinta, despoja-se da sua roupa elegante para desempenhar o ofício de pedreiro ou lenhador, dá asas à sua veia de inventor, enamora-se de uma mulher casada — um amor proibido que levará este vagabundo idealista de volta ao ponto de partida: um regresso à paixão, ao sofrimento e à cidade."
Nesta obra, como noutras de Hamsun, há uma reflexão intensa sobre a solidão e a luta interna do ser humano com suas próprias questões existenciais, abordando as tensões entre o indivíduo e a natureza, a solidão e a procura de um sentido para a vida. A narrativa gira em torno de um homem solitário, que reflete sobre sua existência enquanto se vê imerso nas paisagens rurais e invernais da Noruega. O autor utiliza um estilo introspetivo e poético, onde os pensamentos do protagonista ganham destaque e são frequentemente pontuados por um certo tom melancólico.

A solidão e o isolamento são temas recorrentes, que dominam a obra e permitem ao leitor uma experiência igualmente introspetiva.
Não é de leitura rápida, requer concentração e meditação. Quem aprecia uma narrativa mais dinâmica, não gostará certamente deste livro. Gostei.

Cruz, Afonso e Rio, Mariana (2023). Leva-me ao Teu Lider. Lisboa: Edições da Assembleia da República.

Nº de páginas:
Início e fim da leitura: 23/02/2024

**SINOPSE**

"Do encontro entre um menino e um extraterrestre nasce um extraordinário diálogo acerca da forma como cada um deles vive. O extraterrestre pretende falar com um líder, mas não percebe o que significa viver numa sociedade em que as decisões não são tomadas por uma única pessoa.

Torna-se então necessário mostrar-lhe o dispositivo da democracia, em vários momentos que a definem na sua própria essência: os eleitores no dia das eleições, uma multidão de manifestantes na rua, uma conversa entre representantes e representados.

Nesta história, conta-se não só uma pequena história do conceito, como, ao mesmo tempo, o conceito é mostrado ao leitor, tornando-se visível e real."
Este livro de Afonso Cruz, com ilustrações de Mariana Rio, é uma obra envolvente e rica em camadas, que mistura reflexão, crítica social e uma dose de humor, sem perder a profundidade. Afonso Cruz é conhecido pelo seu estilo único de escrita, que consegue, ao mesmo tempo, encantar e provocar o leitor, e este livro não é diferente. A obra, que conta com uma narrativa fluida e criativa, apresenta uma abordagem sobre o poder, a liderança e as relações humanas, tudo isto imerso numa boa dose de surrealismo e ironia.

O enredo segue um estilo que mistura o fantástico com o real, explorando a temática do poder e como ele molda e condiciona as ações e relações. As personagens são carismáticas e, muitas vezes, enigmáticas, e os diálogos, característicos do autor, são ágeis, inteligentes e, em certos momentos, provocadores. O autor consegue tornar um tema complexo, como o da autoridade e do controlo, acessível e interessante, mesmo para um público mais jovem, ao mesmo tempo que instiga a reflexão nos leitores mais adultos.

As ilustrações de Mariana Rio complementam perfeitamente a escrita, oferecendo um toque visual que é tanto lúdico quanto simbólico. As suas imagens intensificam a atmosfera do livro, reforçando o caráter surreal e, ao mesmo tempo, lúdico da história.
Recomendo!

Pessoa, Ana (2023). Mar Negro. Lisboa: Planeta Tangerina.





Nº de páginas: 320
Início da leitura: 19/02/2025
Fim da leitura: 23/02/2023

**SINOPSE**

"O verão está a chegar ao fim, mas o bar da praia continua quase sempre cheio. JP serve às mesas e Inês fica nos bastidores, a tirar cafés, a cortar fiambre, a fazer tostas. Não são propriamente amigos. Ele é leviano e alegre, ela parece levar-se demasiado a sério.
Numa manhã de nevoeiro, um acontecimento inesperado vai uni-los mais do que nunca. Mas quanto mais Inês mergulha num drama que não é o seu, mais se afasta da sua própria vida.

- Às vezes sinto que não sou eu própria.
- Como assim?
- Parece que sou outra pessoa ou que estou a tentar ser outra pessoa.

Depois de Desvio, Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho regressam ao tema da identidade com uma novela gráfica ímpar, de diálogos longos e desenho irrepreensível.

Recomendado para leitores maiores de 15 anos."
A história desta novela gráfica é uma narrativa de grande carga simbólica, que leva o leitor a explorar as profundezas da identidade e da pertença, assim como o confronto com os próprios medos e desafios. 
No que se refere à escrita, Ana Pessoa mantém uma narrativa simples, que consegue tocar nos sentimentos mais profundos do leitor. A sua linguagem é acessível, mas carrega uma forte carga emocional, o que permite ao público mais jovem, principalmente, identificar-se com a história.

A ilustração de Bernardo P. Carvalho é outro ponto alto da obra. O estilo visual complementa muito bem o clima da história, transmitindo, de forma eficaz, os estados de espírito das personagens e a atmosfera da narrativa, funcionando quase como um prolongamento da história escrita, permitindo que o leitor se sinta ainda mais imerso no universo proposto.
O livro é, em suma, uma história com múltiplos significados, que aborda questões como a busca por identidade, o confronto com o medo e a forma como lidamos com os próprios sentimentos e desafios da vida. É uma obra que, além de ser uma leitura envolvente, proporciona um espaço de reflexão sobre o processo de amadurecimento e os dilemas da juventude.
Gostei de todo o laranja que envolve o livro e da disposição das vinhetas nas pranchas.

Gaiman, Neil (2014). O Oceano no Fim do Caminho. Lisboa:Editorial Presença.

Tradução: Rita Graña

Nº de páginas: 184

Início da leitura: 18/02/2025

Fim da leitura: 21/02/2025

**SINOPSE**

"Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afeta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral, regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna."

Este é um livro que mistura fantasia e memória com a complexidade da infância. O protagonista, ao regressar à sua cidade natal para um funeral, começa a relembrar acontecimentos misteriosos da sua infância, como a amizade com uma criança chamada Lettie Hempstock e a descoberta de um "oceano" no fundo de um campo, que se revela um portal para um mundo cheio de mistério.

O livro é uma reflexão sobre a infância, a memória e os limites entre o real e o fantástico. A atmosfera mágica parece, ao mesmo tempo, familiar e inquietante. A maneira como escreve, como mistura o mundano com o extraordinário, faz-nos questionar até onde a imaginação infantil pode moldar as perceções da realidade.

O protagonista, agora adulto, volta ao passado e tenta compreender as experiências que viveu, que parecem mais surrealistas à medida que vai recordando, mas sempre com um toque de nostalgia e curiosidade. Essas lembranças falam-nos de medos primordiais e da perda da inocência, ao mesmo tempo em que apresentam uma história de amizade e coragem, onde o protagonista encontra forças para enfrentar os seus próprios demónios. Em relação ao estilo, a escrita é poética, fluida e cheia de imagens vívidas, o que envolve o leitor na sua narrativa, desde o início. O tom do livro é melancólico, mas também profundamente humano, ao explorar temas universais de crescimento, a perda e a identidade. 
Confesso que considerei que tinha um pouco de fantasia a mais para o meu gosto pessoal.

Pepetela (2020). A Montanha da Água Lilás - Fábula para Todas as Idades. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 160

Início da leitura: 16/02/2025

Fim da leitura: 19/02/2025


**SINOPSE**

"Numa montanha de África, habitam os lupis, uns estranhos seres cor de laranja que pensam, falam e trabalham, mas não são homens. Um dia, sem que nada o fizesse prever, o lupi-poeta descobre uma fonte de onde brota um líquido de cor lilás com um aroma muito doce, que se revela ter propriedades quase mágicas.

Esta água perfumada cura diversas maleitas e influencia até o humor de quem entra em contacto com ela, e todos a querem. Começam então as disputas, desenvolve-se uma economia de mercado e, com ela, uma estratificação social e uma desigual distribuição da riqueza. Mas, a exploração da água lilás não vai apenas transformar a vida de todos os habitantes da montanha, vai também degradar o seu meio ambiente.

A Montanha da Água Lilás é uma deliciosa alegoria política e social, uma crítica mordaz ao consumismo e à exploração não sustentável dos recursos naturais. Uma fábula para todas as idades que retrata como o que é, inicialmente, benéfico se pode tornar nocivo quando não se tem em vista o bem comum."

Um livro delicioso! O que mais me cativou nesta fábula foi a forma como transmite uma mensagem profunda, de maneira simples e acessível. Através das personagens apresentadas e dos seus comportamentos - os Cambitas (os mais emotivos, até mesmo distraídos), os Lupões (muito ligados ao dinheiro) e os Jacalupis (os mais preguiçosos e egocêntricos), sempre com sentido de humor, tece-se uma crítica à evolução da sociedade, à perda da essência e ao que advém dessa evolução. Uma crítica pertinente e que continua muito atual, transmitindo uma valiosa lição sobre os comportamentos humanos, como a importância da honestidade, da colaboração ou da reflexão sobre as escolhas que fazemos. Além disso, o uso de animais como protagonistas cria uma metáfora das nossas próprias atitudes e desafios, tornando o enredo envolvente e instigante. Também me cativou a moral da história, que, apesar de ser transmitida de maneira subtil, é clara e relevante, incentivando-nos a refletir sobre o que podemos aprender com as situações apresentadas.
Recomendo!

Roca, Paco; Terrasa, Rodrigo (2024). O Abismo do Esquecimento. Benavente: Ala dos Livros.

Tradução: Ricardo Magalhães Pereira
Nº de páginas: 304
Início da leitura: 09/02/2025
Fim da leitura: 16/02/2025

**SINOPSE**
"A 14 de setembro de 1940, 532 dias depois de a Guerra Civil Espanhola ter terminado, José Celda e outros onze homens foram fuzilados pelo regime franquista em Paterna, Valência e, com eles, enterrado numa vala comum. Após mais de sete décadas, e depois de um percurso longo e conturbado pelos meandros burocráticos e políticos de um país que convive mal com a memória do seu passado, Pepica, filha de José, agora com oitenta anos (tinha 8 quando o pai foi morto), conseguiu finalmente localizar e recuperar os seus restos mortais para assim restaurar a sua dignidade.

Na batalha pessoal que Pepica Celda travou contra o esquecimento, o papel de Leôncio Badía foi decisivo. Naquela época, Leôncio era um jovem republicano que, depois de sair da prisão, se viu condenado a trabalhar como coveiro no cemitério da cidade. Obcecado pelo sentido da vida e pela ordem do universo, e pondo em risco a sua própria sobrevivência, colaborou secretamente durante anos com as viúvas dos fuzilados para permitir a posterior identificação dos seus corpos e enterrando-os da forma mais digna possível.

Em O Abismo do Esquecimento, Paco Roca viaja ao passado para recuperar, juntamente com o jornalista Rodrigo Terrasa (que desempenha um papel importante na documentação e contribuição de ideias), a história real de Leôncio e José, exemplo das dezenas de milhares de espanhóis que foram violentamente fuzilados após o fim do conflito em Espanha. Acompanham também a luta de Pepica Celda num intrincado e comovente labirinto que tenta desvendar as contradições de um país que parece desprezar a sua memória."

Esta é uma obra de grande profundidade emocional, abordando temas como o envelhecimento, a perda de memória e o impacto da doença de Alzheimer na vida das pessoas. A história é tocante e retrata, com sensibilidade, o sofrimento e as dificuldades enfrentadas pelos pacientes, as suas famílias e as pessoas que cuidam deles.
A ilustração de Paco Roca complementa magistralmente o tom introspetivo e melancólico da narrativa. O estilo gráfico é sombrio, mas com uma certa suavidade, evocando empatia, através de traços delicados e cores suaves, que acompanham as emoções das personagens e transmitem a sensação de desorientação e esquecimento.
O enredo desenrola-se com uma cadência tranquila, refletindo a fragmentação da memória do protagonista. A narrativa é não linear, algo que reforça a desconexão e a dificuldade de a personagem principal se lembrar do passado. 
As personagens são genuínas e sensíveis, sendo as suas motivações e dilemas explorados de maneira a cativar o leitor. O protagonista, com a sua luta interna contra o esquecimento, é uma figura com a qual muitos podem se identificar, especialmente aqueles que convivem com a doença ou com a perda gradual das faculdades mentais.
A ação de O Abismo do Esquecimento decorre durante a ditadura franquista em Espanha, mais precisamente no período pós-Guerra Civil Espanhola, que se estende por várias décadas, destacando-se as décadas de 1940 e 1950.
Este período foi marcado por uma forte repressão política, social e cultural, e a obra toca, de forma subtil, nas consequências de um regime autoritário que moldou a vida de muitas pessoas, afetando a sua memória histórica, política e pessoal. A história desenrola-se num contexto em que os ecos da guerra e da ditadura ainda reverberam nas vidas dos personagens. Aconselho veementemente este livro!

Colgan, Jenny (2023). Longe dos Olhos, Perto do Coração. Porto Salvo: Edições Chá das Cinco.

Tradução: Neuza da Silva Faustino
Nº de páginas: 368
Início da leitura: 08/02/2025
Fim da leitura: 11/02/2025

**SINOPSE**
"Eles vivem a quilómetros de distância, mas as suas vidas estão prestes a colidir…
Lissa vive em Londres e adora o seu trabalho como enfermeira. Mas, depois de um incidente traumático a deixar devastada, decide mudar de ares, abrandar o ritmo de trabalho e passar alguns meses numa tranquila vila da Escócia. Cormac vive em Kirrinfief e está sempre disponível para ajudar os outros. Enfermeiro da vila e veterano do exército, ele necessita desesperadamente de uma mudança. Talvez três meses em Londres seja exatamente que precisa.

Enquanto Lissa e Cormac se adaptam às suas novas vidas, trocando mensagens infindáveis sobre tudo e todos, as coisas parecem finalmente começar a fazer sentido. Contudo, ambos sentem que falta qualquer coisa nas suas vidas. O quê - ou quem - poderá ser? E se estiver longe dos olhos, mas perto do coração?"
A seguir a livros mais reflexivos, pensei em suavizar as leituras com esta mais "fofinha", um romance que não dá muito que pensar, mas que se lê bem e nos deixa bem dispostos. Aliás, era tudo isso que a capa maravilhosa fazia antever. Não me enganei muito: é uma história sensível e leve, onde os temas preponderantes são o amor, a amizade e a descoberta pessoal, sempre com algum sentido de humor. Gostei de rever algumas das personagens, que já tinha conhecido em A Pequena Livraria dos Recomeços. É, também, previsível e com passagens um pouco repetitivas. Posso sintetizar, referindo que não passa de um romance ameno. Lê-se bem, dispõe, entretém, mas não passa disso.

Tordo, João (2023). Uma Valsa Com a Morte. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 224
Início da leitura: 06/02/2025
Fim da leitura: 07/02/2025

**SINOPSE**
Partindo da música e da literatura, João Tordo regressa ao ensaio, com um conjunto de textos onde explora a relação humana com a espiritualidade e a religião, assim como o medo que nos limita, o optimismo que nos impele, a melancolia que nos afunda e a possibilidade da alegria e da comunhão.

«Não é o medo da Morte uma expressão de vida?» que fazer da vida, e que sentido tem ela, quando a Morte é um facto consumado para todos nós? Após o falecimento da sua avó, o escritor João Tordo encontrou o fio de luz que une as reflexões contidas neste livro: a sombria, intangível, inevitável, e por vezes até cómica, presença da Morte na vida. Partindo da música e da literatura - e da relação destas com o Sublime -, João Tordo regressa ao ensaio com um conjunto de textos nos quais explora a relação humana com a espiritualidade e a religião, assim como o medo que nos limita, o optimismo que nos impele, a melancolia que nos afunda e a possibilidade da alegria e da comunhão.

«Essa contradição interna do ser humano - não encontrar lógica na existência, porque a Morte derrota-a, e ao mesmo tempo continuar ligado à vida - é mais propriamente aquilo a que Aristóteles chamava espanto ou assombro. Se, no início, o Homem se maravilhava diante dos fenómenos mais simples - imaginemos o hominídeo do Paleolítico Superior, com cara de Homer Simpson, a vislumbrar um eclipse, de boca aberta e olhos esbugalhados -, mais tarde, esse espanto transforma-se em pergunta, e a pergunta em dúvida. Entramos no território do pathos, que nos faz questionar o que somos, a razão pela qual aqui estamos e, sobretudo, pela qual permanecemos.»

Este é um livro profundamente reflexivo e melancólico, no qual o autor explora temas como a perda, a dor, o luto e a fragilidade da vida. Faz-nos pensar e questionar a perceção da vida e das relações humanas.É uma leitura com grande carga emocional e filosófica, recomendada para quem procura uma reflexão sobre o significado da vida, da morte e da memória. A forma como João Tordo consegue equilibrar a melancolia com a beleza da escrita faz deste livro uma experiência literária única. É preciso, por isso mesmo, alguma pré-disposição  para a reflexão para ler este livro, mas acreditem que vale bem a pena. Está muito bem escrito e permite-nos conhecer melhor o próprio escritor. 
Deixo algumas passagens:
"Ensaiar a morte é dizer a alguém que ensaie a sua liberdade."
"Conheço inúmeras pessoas simples que são razoavelmente felizes, mas todas as pessoas muito inteligentes que conheço, são, invariavelmente, perturbadas."
"A genialidade talvez não seja muito mais do que a obsessão por um determinado tema levada ao extremo, e o desequilíbrio, a consequência dessa obsessão."
"A consciência da Morte é também a consciência aguda do presente: há este momento, e despois ele desaparece; e o momento seguinte, e o seguinte, e o seguinte. Não regressam, nunca mais os teremos."

Tan, Mr. (2024). Jizo. Lisboa: Levoir. 

Tradução:Sandra Alvarez
Nº de páginas: 240
Início da leitura: 01/02/2025
Fim da leitura: 03/02/2024

**SINOPSE**
"Aki não consegue encontrar o caminho para casa. Toda a gente parece indiferente a esta criança perdida. Todos... exceto Jizo, um rapaz estranho que aparece do nada. Será ele uma criança de rua? Será que ele vai mesmo levá-lo para casa? Terá razão em segui-lo até ao templo para onde ele o leva?

Apesar do seu grande sorriso, Aki tem dificuldade em confiar no seu novo amigo. Especialmente quando uma temível bruxa caça crianças ao cair da noite..."

As ilustrações de Mato em Jizo são simplesmente encantadoras. O seu estilo é delicado e expressivo, transmitindo uma sensação de suavidade e tranquilidade que complementa muito bem o tema da obra. As cores suaves, com predominância de tons quentes e terrosos, criam uma atmosfera acolhedora, enquanto os traços detalhados das figuras e os cenários contribuem para uma sensação de calma e serenidade. Mato tem um talento impressionante para capturar emoções através das expressões faciais e gestos dos personagens, o que torna a leitura muito mais envolvente, especialmente para um público mais jovem.

A narrativa gira em torno da figura de Jizo, uma entidade tradicionalmente associada à proteção e ajuda em momentos de dificuldade, especialmente para aqueles que enfrentam a perda ou sofrimento. A história segue um pequeno jovem, que procura consolo e ajuda através dessa figura protetora. O enredo é envolvente, mas, ao mesmo tempo, simples e acessível, o que o torna ideal para leitores mais jovens, mas também para adultos que desejam refletir sobre temas de dor, da superação e da importância de encontrar apoio em momentos difíceis.

A narrativa é fluida, sem excessos, e consegue manter o foco nas emoções centrais das personagens e nos valores universais que transmite, como compaixão, solidariedade e cuidado. 
Solla, Gianni (2025). O Ladrão de Cadernos. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Tradução: Ana Maria Pereirinha
Nº de páginas: 288
Início da leitura: 31/01/2025
Fim da leitura: 02/02/2025

**SINOPSE**
«Ainda não sabíamos para que coisa nos dirigíamos, não sabíamos do que estávamos a fugir, tínhamos apenas a certeza dos nossos corpos jovens… A minha vida começou com aquele salto.»

Em Tora e Piccilli foi tudo sempre igual, o mundo começa e acaba ali. Davide é guardador de porcos, entende melhor os animais do que os homens, mas rouba cadernos no mercado da aldeia. Teresa, pelo contrário, anda na escola, tem o desejo de fugir e a audácia de quem sabe o que quer. Mas um dia chegam de Nápoles trinta e seis judeus, enviados pelo regime fascista para ali ficarem confinados. O Duce disse que deviam ser postos à parte, mas Davide vai à procura deles. Especialmente de Nicolas, que observa a lua através do telescópio e a nomeia «profundo peito do oceano». É a guerra que os faz encontrarem-se, depois separa-os. Até que os seus destinos são trocados.

Tora e Piccilli (a norte de Caserta), setembro de 1942. Davide passa os dias, por vezes até a noite, com os porcos que guarda: conhece-os tão bem que os chama pelo nome. Nasceu coxo e, por isso, é gozado pelos outros rapazes e maltratado pelo pai. Só Teresa, que passa as tardes a trabalhar na cordoaria da família e aproveita todo o tempo livre para ler, tem a coragem de o defender. Davide não consegue imaginar outra vida que não seja a de Tora. Teresa, pelo contrário, repete constantemente que um dia irá para longe, e Davide sabe que ela está a falar a sério. A chegada de trinta e seis judeus de Nápoles, enviados para a aldeia pelas autoridades fascistas, vai mudar as suas vidas para sempre. Nicolas, um rapaz judeu de uma beleza irrequieta, traz consigo um mundo desconhecido e perturba os seus dias. Davide começa a frequentar secretamente as aulas do pai de Nicolas, que criou uma escola clandestina.

E, assim, o filho analfabeto de um fascista aprende a ler e a escrever graças a um judeu. Juntos, Davide, Teresa e Nicolas exploram a paisagem em redor da aldeia, até às Ciampate del Diavolo (onde, segundo a crença popular, as pegadas do diabo estão impressas na encosta do vulcão extinto), mas também o mundo não expresso dos seus sentimentos. O fantasma de Nicolas acompanhará Davide nos anos seguintes, em Nápoles, depois da guerra. Quando trabalhar arduamente numa fábrica, quando começar acidentalmente a frequentar uma companhia de teatro, quando - já um homem, outro homem - pisar o palco como um ator aclamado.

Será o próprio Nicolas, vivo e, no entanto, tão parecido com um fantasma, que o levará de volta a Tora, onde tudo começou."

O Ladrão de Cadernos é uma obra que mistura mistério, reflexão e questões sociais de maneira simples e envolvente. Conta-nos a história de um menino guardador de porcos e que, quando vai ao mercado, rouba cadernos. Afinal que importância teriam estes cadernos na vida de uma criança que nem sequer sabia ler e que passava os seus dias isolado entre os porcos? O que leva este jovem humilde a querer aprender a ler e a escrever? E onde vai ele buscar toda a determinação quando o faz com um judeu (dos recém-chegados à aldeia),  mal visto pelo pai (adepto dos valores da ditadura alemã, que levava para casa os folhetos fascistas) e desobedecendo à sua proibição de frequentar a casa dos judeus?
A escrita de Gianni Solla é acessível, clara e fluida, mas que instiga à reflexão. Através das experiências do protagonista, o autor consegue abordar questões universais, como o valor das coisas e o que nos define enquanto pessoas, de maneira cativante. O protagonista é, com efeito, cativante, com as suas dúvidas, inseguranças e o forte desejo de entender o mundo em seu redor. É isso que o torna uma personagem realista e tão humana.

A obra também revela um exímio equilíbrio entre momentos de ação e introspeção, criando um ritmo envolvente. A escrita aparentemente leve, esconde uma carga emocional subtil, o que é capaz de tocar as emoções do leitor, sem ser de forma excessivamente dramática. É um livro que, sem dúvida, pode motivar o público a interessar-se por temas profundos e a considerar o impacto de seus próprios valores e escolhas no mundo. Recomendo muito!

Camões, Luís de; Moura, Pedro (2024). Os Lusíadas I, novela gráfica. Lisboa: Levoir.

Nº de páginas: 57
Início da leitura: 29/01/2025
Fim da leitura: 02/02/2025

**SINOPSE**
"Os Lusíadas é uma das obras mais importantes da literatura de língua portuguesa. Foi escrita pelo poeta português Luís Vaz de Camões e publicada em 1572. Trata-se de um poema épico, que glorifica o povo português. Narra a descoberta do caminho marítimo para a Índia pelo navegador Vasco da Gama.

A obra foi inspirada nas obras clássicas, Odisseia, de Homero, e Eneida, de Virgílio. Ambas são epopeias que narram as conquistas do povo grego."

Destaco, desde logo, nesta novela gráfica, a qualidade das ilustrações um dos maiores pontos fortes da adaptação. Têm a capacidade de trazer a obra épica à vida de uma maneira visualmente envolvente, com um estilo que mistura a grandiosidade dos feitos dos navegadores com elementos que tornam a narrativa acessível aos mais jovens. As ilustrações podem transmitir a vastidão do mar, a força das batalhas e a magnitude das viagens de forma mais imediata do que o texto original sozinho, criando uma conexão visual e emocional com o leitor. Além disso, o uso de cores e detalhes nas cenas de ação, como tempestades e encontros mitológicos, torna o conteúdo mais dinâmico e atrativo.
A representação de figuras mitológicas, como Neptuno, e de cenas heroicas, como as viagens de Vasco da Gama, é feita com riqueza de detalhes, mas de uma forma que não sobrecarrega o público mais jovem, o que é importante para mantê-los presos à história.

Em termos de fidelidade ao texto original de Os Lusíadas, esta adaptação tenta manter a essência da obra, mas adapta a narrativa a um formato mais visual e de fácil compreensão. Claro que, dada a natureza da obra original (um poema épico com passagens longas e algumas mais complexas), é impossível reter todos os detalhes e subtramas sem perder o ritmo ou tornar a história excessivamente longa para o público jovem. No entanto, o núcleo central da obra — a jornada de Vasco da Gama e os seus encontros mitológicos, desafios e vitórias — é mantido. A adaptação faz com que o leitor consiga acompanhar a história sem se perder nas complexidades da linguagem poética, sem deixar de lado a grandiosidade da epopeia.
A obra gráfica faz um excelente trabalho ao simplificar passagens mais complicadas, sem perder o conteúdo essencial, o que torna a leitura acessível a quem pode não se sentir à vontade com o estilo literário do século XVI. A forma como as legendas e falas são distribuídas na página, facilita o entendimento da história, enquanto que as imagens complementam e explicam os acontecimentos de uma maneira visual.

A adaptação gráfica de Os Lusíadas é uma excelente ferramenta para introduzir os jovens a literatura clássica portuguesa de forma mais atrativa e envolvente. Muitos jovens podem  sentir-se intimidados pela ideia de ler um épico como Os Lusíadas, com sua linguagem antiga e densidade de conteúdo. No entanto, a novela gráfica consegue desmistificar esse receio, tornando a obra mais acessível e interessante. As ilustrações ajudam a criar um vínculo emocional com a história, tornando-a mais tangível e divertida, além de despertar o interesse por outras obras clássicas.
Ao transformar uma obra literária tão complexa e rica num formato visual, a novela gráfica também estimula o prazer da leitura e pode despertar a curiosidade sobre a história de Portugal, os seus heróis e as suas aventuras. Para os jovens leitores, que ainda não se familiarizaram com a literatura clássica, esta adaptação pode ser o ponto de partida para uma maior apreciação do que há de grandioso na literatura nacional. Recomendo!
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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