Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Ganho, Tânia (2025). Lobos. Lisboa: Dom Quixote.

N.º de páginas: 352
Início da leitura: 10/06/2025
Fim da leitura: 14/06/2025

**SINOPSE**
"Fedra passou mais de vinte anos nalguns dos piores lugares da Terra. Depois de ter estado no Ruanda, Kosovo, Iraque, Mali, a antropóloga forense regressa por fim a casa. O seu novo trabalho no Instituto de Medicina Legal obriga-a a mergulhar diariamente nas profundezas sórdidas da dark net, uma experiência irreparavelmente solitária.

Stefan vive na cabana que construiu numa floresta. Após décadas de nomadismo, o antigo repórter de guerra alemão leva uma vida de eremita, procurando na sua relação com a natureza um contraponto à crueldade humana que testemunhou.

Leonor, uma adolescente de 14 anos, isola-se no apartamento familiar, num bairro privilegiado de Lisboa, após ser vítima de um crime sexual. Helena, a mãe, revela-se incapaz de lidar com o trauma e refugia-se numa obsessão que ameaça destruí-la a ela e à filha.

Nos bastidores destas vidas que se entrelaçam, Amélia, uma mulher no limite da memória e da sobrevivência, guarda a chave de um mistério que poderá nunca ser desvendado.

O regresso de Tânia Ganho à ficção apresenta-nos pessoas que enfrentam os seus demónios num momento de viragem das suas vidas e do mundo."

Lobos, da escritora Tânia Ganho, é uma obra densa e perturbadora, que mergulha em temáticas difíceis como o abuso sexual, o poder patriarcal e os meandros obscuros da dark web. Trata-se de um romance corajoso que procura denunciar realidades incómodas, dando voz às vítimas e expondo a crueldade muitas vezes silenciada pela sociedade.

Tânia Ganho consegue criar uma atmosfera de tensão constante, com uma escrita direta, crua e sem pudores, o que, por vezes, pode ser desconfortável, mas é justamente esse desconforto que reforça o impacto da narrativa. É um livro que não se lê com leveza — e não deve ser lido assim. A sua força está na capacidade de confrontar o leitor com realidades que preferiríamos ignorar.

Contudo, é importante referir que, em certos momentos, a obra torna-se algo repetitiva. Determinadas ideias e imagens são reiteradas de forma que, embora possam reforçar a gravidade das situações, por vezes enfraquecem o ritmo narrativo. Esta repetição poderá cansar alguns leitores e quebrar um pouco a fluidez da leitura. Ainda assim, esse recurso poderá ser interpretado como intencional — uma tentativa de sublinhar a persistência do trauma e a dificuldade de se libertar de um passado marcado pela violência.

No plano temático, o livro é profundamente atual e necessário. Em tempos em que o debate sobre o consentimento, o silêncio das vítimas e o poder das redes digitais está em destaque, Lobos surge como uma denúncia ficcionada, mas extremamente próxima da realidade. A autora não tem medo de incomodar, e isso é um dos grandes méritos do romance.

Gallagher, Charlie (2025). O Rapaz Perdido. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Adriana Falcão
N.º de páginas:352
Início da leitura: 08/06/2025
Fim da leitura: 09/06/2025

**SINOPSE**
"Domingo de manhã em Canterbury. O céu está cinzento, e uma chuva fina cai sobre as ruas desertas. Um rapaz de apenas dez anos atravessa a estrada a correr por entre o trânsito. Está descalço e coberto de sangue que não é dele.

A polícia é chamada ao local, e Maddie Ives é a detetive de serviço. Ao chegar, vê o terror estampado no rosto do rapaz. Está encostado à montra de uma loja, tremendo, imóvel. Não diz uma palavra. Não pode ou não quer. Cada músculo do seu corpo grita terror e medo. Parece estar pronto para fugir novamente. Mas fugir de quê?

Horas depois, um homem é encontrado morto - brutalmente assassinado. E tudo isto é apenas o início de um pesadelo que está prestes a intensificar-se.

O VERDADEIRO TERROR NÃO VEM DO QUE VEMOS
MAS DAQUILO QUE NÃO CONSEGUIMOS VER

À medida que o caso se desenrola, Maddie e o detetive Harry Blaker descobrem que estão a lidar com algo muito mais sombrio e perverso do que imaginaram. Um inimigo implacável está à espreita, e cada segundo conta. Conseguirá Maddie detê-lo antes que seja tarde demais? Ou será este o caso que vai destruir tudo aquilo em que acredita?"

Gostei. Não adorei.

De forma geral, o livro tem um enredo envolvente, especialmente pela premissa forte e o ritmo tenso típico dos thrillers policiais britânicos. Gallagher, como ex-polícia, sabe como montar uma história realista e cheia de suspense, o que prende o leitor logo nas primeiras páginas.

No entanto, considero que houve alguns momentos de monotonia. O foco excessivo nos procedimentos policiais ou em personagens secundárias, faz com que a narrativa perca alguma intensidade — especialmente quando o leitor cria expetativas em torno da história do rapaz desaparecido. A ligação emocional com o miúdo é prometida desde o título e sinopse, mas nem sempre é aprofundada como eu gostaria. 

Teria sido mais impactante se a narrativa se focasse mais constante na perspetiva do rapaz ou explorado melhor o seu passado e motivações. Isso traria uma carga emocional mais forte, tornando o mistério não só policial, mas também pessoal. Ainda assim, é um bom thriller. Recomendo a quem aprecia o género literário.

 D'Orey, Frederico (2024). Nascido de Ninguém. Lisboa: Guerra e Paz.

N.º de páginas: 144
Início e fim da leitura: 07 de junho de 2025

**SINOPSE**
"Na sombra dos horrores da Segunda Guerra Mundial, Hans, um menino austríaco, é adoptado por uma influente família portuguesa. Já adulto, a perturbante notícia de um massacre leva-o a iniciar uma jornada em busca das suas verdadeiras origens.

Será que o que irá encontrar poderá abalar a sua identidade para sempre? Conseguirá Hans reconciliar-se com as suas memórias e aceitar a sua herança?

Tocando numa das grandes feridas da Humanidade, Nascido de Ninguém narra a emocionante jornada de autodescoberta de um homem que, para se encontrar a si mesmo, terá de enfrentar um passado turbulento.

Nascido de Ninguém é um romance de estreia de Frederico d’Orey sobre como mesmo nas circunstâncias mais difíceis, o coração humano consegue sempre encontrar a luz."

Gostei muito deste livro. A escrita de Frederico d’Orey é contida, elegante e profundamente humana. Não precisa de grandes artifícios para comover — há uma honestidade crua na forma como nos apresenta Hans, esse rapaz com um passado manchado por culpas, que nem sempre lhe pertencem.

A relação entre o trauma individual e o peso da História foi muito bem explorada. Senti que o autor não estava interessado apenas em contar uma história “comovente”, mas sim em mostrar como as feridas do passado nos moldam — mesmo quando tentamos recomeçar, longe de tudo. Há uma dimensão humana, quase silenciosa, que nos obriga a olhar para dentro. 

Além disso, a construção da identidade do protagonista — entre a Áustria e Portugal, entre o passado e o presente — tem uma delicadeza rara. O livro não nos dá tudo de bandeja, e isso torna-o ainda mais poderoso. Há espaço para o leitor respirar, imaginar, sentir.

É daqueles romances que terminamos devagar, quase com pena, e que nos acompanha por muito tempo. Recomendo.

Sōseki , Natsume. Botchan. Lisboa: Presença, 2025.

Tradução do japonês para o francês: Le Serpent à Plumes
Tradução do francês: Helder Guégués
N.º de páginas: 168
Início da leitura: 05 de junho de 2025
Fim da leitura: 06 de junho de 2025

**SINOPSE**
"Um clássico literário japonês aclamado pela crítica e pelos leitores em todo o mundo.

Arrogante, imaturo e com uma visão rígida da vida, Botchan é um jovem professor de Matemática, residente em Tóquio. Depois da morte dos seus pais, aceita partir para uma pequena localidade rural no distante distrito de Matsuyama e vê-se confrontado com muitos e distintos desafios, por parte tanto dos seus alunos como dos seus colegas.

Com uma moral rígida e uma visão simplista da vida num mundo cheio de contradições e complexidades, Botchan terá de aprender que ser adulto pode ser bem menos tranquilo do que perspetivava e irá confrontar-se com as suas próprias limitações e as de quem o rodeia.

Por meio de uma crítica mordaz às atitudes de superioridade, preconceito e falta de autocrítica, Botchan é também uma história de crescimento, em que as falhas do protagonista revelam as fragilidades da sociedade japonesa do final do século XIX e início do século XX.

Com personagens marcantes, humor irreverente e uma reflexão sobre os valores humanos, este livro continua a ser uma das obras mais amadas e influentes da literatura japonesa."
Este livro é um clássico da literatura japonesa, que combina humor e crítica social. Apesar de aparentar simplicidade, é uma obra profunda, cheia de tensões entre tradição e modernidade, honestidade e cinismo. É especialmente recomendada para quem se interessa pela cultura japonesa, pela transição histórica do Japão.
O que me surpreendeu mais foi o tom directo e quase infantil do protagonista — mas não no mau sentido. Botchan é alguém que vê o mundo de forma muito binária: ou é certo ou é errado, ponto final. Esta forma de estar, embora algo ingénua, torna-se incrivelmente humana, e, grande parte das vezes, até comovente. Ao longo do livro, dei por mim a rir das suas reacções impulsivas, mas também a sentir simpatia pela sua luta contra a hipocrisia à sua volta.
Gostei, particularmente, da maneira como Sōseki satiriza o ambiente escolar, que funciona como um espelho da sociedade. Aquilo que, à partida parece uma comédia leve sobre um professor de matemática desajeitado, transforma-se numa crítica mordaz à falta de carácter, à bajulação e ao compadrio — temas que, sinceramente, continuam bem atuais.
Algo que também me tocou foi a relação de Botchan com Kiyo, a criada, que praticamente o criou. Há entre eles um carinho verdadeiro e uma lealdade que contrasta fortemente com as relações artificiais que ele encontra no novo emprego. É uma personagem simples, mas cheia de ternura.
Por outro lado, confesso que algumas partes me pareceram um pouco repetitivas — o Botchan é tão teimoso e tão convicto nas suas opiniões que, a certa altura, quase parece que estamos a ouvir o mesmo discurso em loop. Mas talvez seja isso também que lhe dá alguma graça: é transparente, é o que é, sem filtros.
Em suma, Botchan é um daqueles livros que, apesar de ter sido escrito há mais de um século, continua surpreendentemente atual. A sua crítica social continua relevante e a sua voz narrativa, tão peculiar, é capaz de cativar leitores mesmo nos dias de hoje. Não é uma leitura pesada, mas obriga a pensar — e talvez isso seja o seu maior trunfo.

Fosse, Jon. Manhã e Noite. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2020.

Tradução: Manuel Alberto Vieira
N.º de páginas: 112
Início da leitura: 04/06/2025
Fim da leitura: 06/06/2025

**SINOPSE**
"Um menino está prestes a nascer, chamar-se-á Johannes como o avô e será pescador como o pai. Uma vida boa, é esse o desejo de quem o traz ao mundo, embora este seja um mundo duro, ruim e cruel. Um homem, velho e sozinho, morre, chama-se Johannes e foi pescador.

É o seu melhor amigo que o vem buscar rumo a esse destino onde não há corpos nem palavras, apenas tudo aquilo que se ama. Antes do regresso definitivo ao nada, Johannes revisita o museu da sua vida, longa, simples e quotidiana, confrontando-se paulatinamente com a morte num constante entrelaçamento de real e alucinação, passado e presente.

Manhã e Noite é um romance sobre o maravilhoso sonho que é viver e a aceitação do ciclo natural das coisas. Numa linguagem poética e elíptica, inovadora e despojada, Jon Fosse condensa toda uma existência em dois momentos-chave, urdindo uma reflexão encantatória sobre o significado da vida, Deus e a morte."

Nunca tinha lido nada do autor e confesso que não é uma forma de escrita que me atraia muito, ainda que lhe reconheça grandes qualidades literárias. A forma como a linguagem flui, com frases longas e cadenciadas e uma pontuação que desafia as convenções tradicionais, é algo que me incomoda. Sinto a falta de pontuação, as repetições constantes, acabam, quanto a mim, por cansar um pouco e não me permitem sentir a história e dar corpo às personagens.

É uma obra breve mas profundamente evocativa, que condensa toda uma existência humana em dois momentos-chave: o nascimento e a morte de Johannes, um pescador norueguês. Destaca-se pela sua linguagem poética e elíptica, explorando temas como a efemeridade da vida, a espiritualidade e a aceitação do ciclo natural da existência.

Aconselho a quem gosta do género.

Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Lisboa: LEVOIR.

Tradução: Pedro Cleto.
N.º de páginas: 96
Início da leitura: 03/06/2025
Fim da leitura: 04/06/2025

**SINOPSE**
«Professor de Matemática na Universidade de Oxford, Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Carroll, escreveu Alice no país das maravilhas em 1865 após um passeio de barco coma jovem Alice Liddell, para quem imaginou a história. no início do livro, Alice penetra na toca de um coelho branco, entrando num mundo subterrâneo muito estranho, um autêntico país das maravilhas onde, pela completa subversão de todas as regras da lógica, reina o absurdo. É lá que encontra um areópago de personagens fabulosas, como aquele gato de Cheshire que lhe diz: "Aqui, somos todos loucos. Eu sou louco, tu és louca."»
Esta adaptação da obra de Lewis Carroll é uma versão muito interessante do clássico, oferecendo uma nova abordagem visual para esta história tão conhecida, respeitando bastante o conteúdo original. A adaptação, tanto em termos de narrativa como de ilustração, é cuidadosamente feita para capturar a essência do livro de Carroll, ao mesmo tempo que a revigora com uma linguagem gráfica moderna.

As ilustrações da adaptação gráfica são detalhadas e cheias de vida, transmitindo o tom surreal e excêntrico da história original. O estilo das ilustrações é claramente inspirado no universo fantástico e ilógico do livro original, mas, ao mesmo tempo, apresenta uma estética mais contemporânea que pode atrair uma nova geração de leitores. As expressões exageradas e os ambientes excêntricos das personagens, como o Coelho Branco, a Rainha de Copas e o Chapeleiro Maluco, estão muito bem trabalhados. 
Alice surge-nos como uma criança inocente, curiosa, persistente e com uma grande capacidade imaginativa. Um bom livro para os jovens mais renitentes à leitura dos clássicos.

Peixoto, José Luís (2017). O Caminho Imperfeito. Lisboa: Quetzal Editores.

N.º de páginas: 195
Início da leitura: 01/06/2025
Fim da leitura: 03/06/2025

**SINOPSE**

"Entre Banguecoque e Las Vegas, José Luís Peixoto regressa à não-ficção com um livro surpreendente, repleto de camadas, de relações imprevistas, transitando do relato mais íntimo às descrições mais remotas e exuberantes. O Caminho Imperfeito é, em si próprio, a longa viagem a uma Tailândia para lá dos lugares-comuns do turismo, explorando aspetos menos conhecidos da sua cultura, sociedade, história, religiosidade, entre muitos outros.

A sinistra descoberta de várias encomendas contendo partes de corpo humano numa estação de correios de Banguecoque fará que, com consequências imprevisíveis, a deambulação se transforme em demanda. Todos os episódios dessa excêntrica investigação formam O Caminho Imperfeito e, ao mesmo tempo, constituem uma busca pelo sentido das próprias viagens, da escrita e da vida."

Este é um daqueles livros que não se lê apenas com os olhos — lê-se com o corpo inteiro. Desde a primeira página, sente-se que não se trata de uma viagem tradicional, mas de uma procura interior, quase espiritual, que se desenrola em paralelo com os quilómetros percorridos na Tailândia.

José Luís Peixoto tem uma escrita profundamente sensorial. Ele não se limita a descrever o que vê; transmite cheiros, texturas, estados de espírito. A viagem física torna-se apenas pano de fundo para uma viagem muito mais relevante: a viagem ao interior de si mesmo. E é isso que torna o livro tão poderoso — a honestidade com que ele se expõe, sem filtros, com fragilidades e dúvidas.

Um dos aspetos que mais me marcou foi essa fusão entre o mundo externo (exótico, caótico, fascinante) e o universo íntimo do autor (repleto de memórias, perdas, saudades e inquietações). Há momentos em que parece que estamos a ler um diário emocional, e não um livro de crónicas — e é aí que reside a sua beleza imperfeita.

A certa altura, deixei de ler para "viajar" e comecei a viajar para "sentir". Este livro não oferece respostas, nem um itinerário claro. Mas convida à pausa, à contemplação e à aceitação do imperfeito — como o próprio título sugere. No fundo, é um livro para quem já percebeu que o mais importante da viagem não é o destino, mas o que se transforma em nós pelo caminho.

Recomendo para os apreciadores deste género.

Gama, Maria Francisca (2025). Filha da Louca. Lisboa: TopSeller.

N.º de páginas: 224
Início da leitura: 29/05/2025
fim da leitura: 31/05/2025

**SINOPSE**
Esta é a história de uma família: de um pai e marido que não sabia ser melhor, de uma filha que se esforçava por cumprir todos os papéis e de uma mãe e mulher que, aos olhos de todos, era louca.
Matilde viveu com os pais, Clara e António, até aos 18 anos, altura em que a mãe morreu. Sete anos depois, vê-se órfã, agora, também sem pai. E é então, dois dias depois da mudança abrupta - a solidão, a perda de referências, o silêncio e o vazio da casa -, que Matilde descobre algo que muda, irremediavelmente, a sua vida.

Uma narrativa comovente sobre como a infância e a adolescência se entranham em nós, sobre o peso do passado e da família, e como a morte de quem nos antecede cria um misto de vazio e liberdade. Filha da Louca é, acima de tudo, um romance sobre como julgamos os outros e os diminuímos a rótulos, sem sabermos quem são ou do que precisam.

Maria Francisca Gama, autora d’ A Cicatriz, tece novamente, uma história poderosa e melancólica, que nos arrebata da primeira à última página.

«Era nesta máxima que eu me concentrava para a amar: a minha mãe não é manipuladora, nem sádica, nem perversa. Se ela pudesse, não seria assim.»
Gosto da forma como Maria Francisca Gama escreve, direta, sem floreados. Porém, de uma intensidade e correção desconcertantes. Desde o início das histórias, que nos transportamos para os espaços das personagens e as acompanhamos nos seus dramas pessoais. E, como oxigénio de que precisamos para respirar, assim ficamos dependentes da página seguinte. Chegamos ao fim, com o amargor de ter de largar aquelas personagens que nos fizeram sentir, pensar e acompanhar o seu percurso de vida. Não queremos terminar...
Sem dizer muito mais, apenas acrescento que é uma excelente história e que, apesar de o fim, nos deixar boquiabertos, é muito compreensível e vai ao encontro do que a história e as personagens vivenciaram. Não levanto qualquer véu, deixo que partam como eu, sem saber para o que vão e que fiquem tão surpreendidos quanto eu! Muito obrigada, Maria Francisca Gama, por nos permitires entrar neste teu mundo da escrita. Continuamos a aguardar sempre o que publiques!

Arenz, Ewald (2025). O Perfume das Peras Selvagens. Lisboa: Presença.

Tradução: Mónia Filipe
N.º de páginas: 256
Início da leitura: 26/05/2025
Fim da leitura: 29/06/2025

**SINOPSE**
"Quando duas mulheres a quem o destino não sorriu têm um encontro inesperado, a vida mostra-lhes que há uma forma poderosa de curar as feridas: abrir a nossa alma e o nosso coração.

Sally, 17 anos, anorética, foge da vida, de todos, do mundo. Liss, 50 anos, fugiu do mundo, está longe de todos, e o centro da sua vida é uma quinta, de que cuida sozinha. Por um acaso do destino, cruzam-se, e Liss estende a mão a Sally. Ao contrário de todos os outros adultos que conhece, Sally percebe que Liss não a julga. E, ao decidir ajudar Sally, Liss percebe que está a quebrar, pela primeira vez, a solidão dos seus dias.

Assim começa uma história que não teria história se Sally tivesse ficado apenas uma noite, como previsto. Porém, os dias transformam-se em semanas, enquanto Liss vai mostrando àquela adolescente tão magoada o seu mundo: como tratar das árvores, cuidar das abelhas, colher as peras selvagens. E, devagar, ambas abrem as suas almas e os seus corações, partilhando, tímida mas genuinamente, o que as fez chegar ali, tão longe dos outros, feridas pela vida; e há uma esperança, suave, doce e perfumada que começa a perfilar-se no horizonte.

Profundo, belo e inspirador, este é o romance que tocou milhares de leitores, sendo um dos livros mais recomendados pelos livreiros alemães nos últimos anos. Uma história que nos revela o poder transformador da amizade e nos recorda como podemos voltar a encontrar-nos a nós mesmos, se partilharmos a verdade que há em nós."
Neste livro são abordados temas como o trauma, a saúde mental, a maternidade, o silêncio e a regeneração pela natureza, de foma subtil, sem dramatismos exagerados nem a reviravoltas artificiais; em vez disso, oferece um retrato realista, tocante e profundamente humano do sofrimento e da lenta, mas possível, redenção emocional.
A prosa de Arenz é lírica e sensorial. A descrição da paisagem rural — os campos, as árvores, os cheiros, o ritmo das estações — torna-se quase uma personagem por si só, funcionando como espelho e contraponto do estado emocional de Sally. A natureza surge como lugar de reencontro, de silêncio fecundo e de purificação. O "perfume das peras selvagens" é um símbolo central: remete para memórias, para o passado e para a beleza frágil das coisas simples.
As personagens são autênticas e enigmáticas, e, sem serem idealizadas, apresentam os seus defeitos e, grande parte das vezes, interagem através dos seus silêncios.
Aconselho.

Queirós, Eça; Oliveira, André. O Crime do Padre Amaro. Lisboa: Levoir.

N.º de páginas: 64
Início da leitura: 23/05/2025
Fim da leitura:  27/05/2025

**SINOPSE**
"O Crime do Padre Amaro, foi publicado em 1875. Através da sua narrativa faz, uma crítica à vida hipócrita do clero e da sociedade burguesa da época. A sua publicação marca o início do Realismo português e é considerado por muitos a melhor obra do movimento.

Após a morte do pároco José Miguéis, foi transferido para Leiria um jovem padre chamado Amaro Vieira. Aconselhado pelo cônego Dias, seu mestre de moral no seminário, Amaro instalou-se na casa da D. Joaneira. À noite na casa, havia encontros entre beatos e o clero, marcados por jantares, músicas, conversas, jogos e discussões sobre fé. É nesse cenário que o padre Amaro se encanta por Amélia, uma jovem muito bonita. Passam a trocar olhares, despertando o ciúme de João Eduardo, noivo da moça.

O primeiro contato físico entre o casal aconteceu numa fazenda da família; Amaro beijou o pescoço de Amélia, e ela saiu correndo. Amaro, com receio de se envolver mais intimamente e todos descobrirem, resolveu mudar para outra casa. Amélia acaba por ficar grávida. Quando a hora chegou, Amaro entregou a criança a uma família que tem a fama de matar as crianças que lhe são entregues. E a criança realmente morre. Amélia não suporta ficar longe do filho, acaba também por morrer."
Quase todos já devem conhecer a obra de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro. Esta é uma adaptação, em novela gráfica, com argumento de André Oliveira e ilustração de Ricardo Santo. A adaptação mantém os temas centrais do romance original: a crítica à Igreja e à sua influência social e moral; a hipocrisia da sociedade provinciana; a repressão dos desejos individuais; a tragédia pessoal provocada por estruturas sociais rígidas. Apesar de, naturalmente, haver cortes e simplificações, há um cuidado em manter o tom crítico e o drama central — a relação entre Amaro e Amélia, com todas as suas implicações morais e sociais.
Esta obra é uma excelente porta de entrada para o universo de Eça de Queirós, pois ajuda a captar o interesse dos alunos e estimula o debate sobre a adaptação de clássicos para outros meios (literatura vs. banda desenhada, fidelidade vs. recriação).

 Tenório, Jeferson (2024). De Onde Eles Vêm. Brasil: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 208
Início da leitura: 24/05/2025
Fim da leitura: 25/05/2025

**SINOPSE**
"De onde eles vêm tem como pano de fundo o ingresso dos primeiros cotistas na universidade brasileira. Na história, que se passa em Porto Alegre, por volta dos anos 2000, acompanhamos o despertar racial do narrador, Joaquim, em meio a um ambiente hostil. Órfão, tendo que cuidar da avó doente, desempregado e sem dinheiro, Joaquim busca a todo custo manter seu amor pelos livros e pela literatura. Romance de formação de um leitor, este é o retrato de uma jornada feita de obstáculos num momento em que políticas para amenizar desigualdades eram vistas como problema, não como possibilidade de solução.

"Uma obra fundamental para entender o Brasil contemporâneo e, principalmente, para a compreensão do que é ser negro neste desenho de país em que as questões étnico-raciais eclodem como marcadores nas relações interpessoais e com o Estado. A Lei de Cotas, tão atacada por um debate público por vezes raso e permeado por todos os ranços de uma nação fundada em bases excludentes, ganha corpo e rosto na trama. Quem sabe a ficção, mais uma vez, venha em socorro do exercício de empatia tão difícil entre nós." — Eliana Alves Cruz

"Numa prosa enxuta e despojada, ao jeito de uma confidência, Jeferson Tenório entrecruza vidas de gente marcada pela pobreza, pelo preconceito e pela exclusão. Os personagens que entretecem esta narrativa são tão reais que parecem escapar de todo e qualquer exercício ficcional. Mas é exatamente essa a arte invulgar do autor: nas frestas do muro ele encontra o fulgor de uma luz. É nessa fugaz e improvável revelação que estas pessoas tão cotidianas descobrem a resposta à pergunta do título deste livro: de onde eles vêm? Onde nascem esses extraordinários momentos em que se revela a humanidade e a vida que nos habitam?" — Mia Couto"
Esta é uma obra que me sensibilizou pela sua franqueza, pela forma direta como retrata as dificuldades enfrentadas por jovens negros no Brasil ao ingressarem no ensino superior através do sistema de cotas. A narrativa acompanha Joaquim, um jovem negro, órfão, desempregado e cuidador da avó doente, que entra na universidade pelo sistema de cotas raciais. Não é fácil ser-se um jovem cuidador, não é fácil prosseguir os estudos quando não se tem dinheiro...
Joaquim quer ser escritor, mas as dificuldades sociais, o racismo e a pobreza, não lho permitem vingar no mundo da escrita. Ganhar um concurso literário, permitir-lhe-ia mais facilmente fazer face a despesas que enfrenta. Porém, tal não acontece e Joaquim vai perdendo a vontade, o entusiasmo pela escrita e vai-se sentindo inseguro do que escreve. Enquanto leitor, lê uma panóplia de escritores (referências que gostei de ler).
Conseguirá Joaquim ultrapassar as dificuldades e concretizar os seus sonhos?
Uma obra que espicaça para a realidade social, através de uma narrativa envolvente. Aconselho!

 Feito, Virginia (2025). Victorian Psycho. Lisboa: Alfaguara.

Tradução: Sofia Ribeiro
N.º de páginas: 232
Início da leitura: 23/05/2025
Fim da leitura: 24/05/2025

**SINOPSE**
"Regressa finalmente, ainda mais provocadora e audaz, a que já é considerada por muitos a mestre espanhola do romance de suspense, que apanhou de surpresa imprensa, livreiros e leitores com Mrs. March, galardoado com o Prémio Valencia Negra.

Grim Wolds, Inglaterra: Winifred Notty chega a Ensor House disposta a desempenhar o papel da precetora vitoriana perfeita. Leal aos patrões, Mr. e Mrs. Pounds, compete-lhe educar os filhos destes, Drusilla e Andrew: a ela no Francês e na arte da costura, a ele, nas disciplinas de Álgebra e História. E, claro, contar-lhes histórias de embalar…

Contudo, Ensor House e os seus habitantes ocultam perversões e segredos sombrios, e depressa se torna evidente que Miss Notty tão-pouco é quem parece. Com o tempo, os outros criados da casa vão-se apercebendo de comportamentos bizarros: conta histórias sinistras às crianças, deambula, ao luar, em roupa interior pelos relvados da propriedade.

Além disso, há todo um passado da precetora que vai levantando inúmeras suspeitas. Que aconteceu às crianças com quem trabalhou antes? Por que razão o reverendo, seu padrasto, dormia com uma arma e a porta trancada depois da morte da mãe de Miss Notty? Que aconteceu realmente à sua mãe?

Divertido e macabro em doses iguais, Victorian Psycho vem confirmar o que Mrs. March deixava já intuir: a certeza de que estamos perante uma das vozes mais importantes da nova literatura de suspense, no melhor estilo de mestres como Patricia Highsmith, Daphne du Maurier ou Charles Dickens."
Esta é uma obra provocadora e que subverte as convenções do romance vitoriano, fundindo humor negro, crítica social e horror psicológico.

A sensação dominante durante a leitura é de desconforto — no melhor dos sentidos. A autora sabe exatamente onde cutucar o leitor: na expetativa de normalidade, nas convenções do romance gótico, na idealização de personagens femininas que costumam ser frágeis ou virtuosas.

A protagonista, Winifred, é um caso à parte. Não é uma vilã caricata nem uma anti-heroína glamorosa. Ela é genuinamente perturbadora, às vezes engraçada, noutras insuportável — mas nunca previsível. A sua frieza, os jogos psicológicos e o desprezo pelas normas sociais criam um magnetismo estranho: repulsa e fascínio coexistem o tempo todo.

Não é um livro para qualquer um. É preciso "ter estômago" para o ler. Quem não gosta de violência, sangue e afins, não deve ler este livro.

Tocarckuk, Olga (2022). Histórias Bizarras. Lisboa: Cavalo de Ferro.

Tradução: Teresa Fernandes Swiatkiewicz
N.º de páginas: 216
Início da leitura: 21/05/2025
Fim da leitura: 23/05/2025

**SINOPSE**
"Uma recolha inédita de contos, em que a celebrada autora de Viagens nos dá a conhecer os espaços infinitos que escapam à nossa razão, estabelecendo correspondências insólitas entre o real e o imaginário.

Um médico escocês do século XVII, ao serviço do rei da Polónia, descobre uma estranha raça de crianças verdes. Uma família de quatro mulheres idênticas, que se podem ligar e desligar, vê a sua rotina ser perturbada pelo aparecimento de dois vizinhos. Um mundo onde impera o uso do metal mantém a sua ordem graças ao sacrifício de um misterioso semideus com mais de trezentos anos. Uma mãe deixa uma estranha herança de vários frascos de conserva ao seu filho preguiçoso.

Eis algumas das histórias fascinantes que se encontram neste volume. Histórias capazes de desafiar expectativas e certezas, histórias que desenham os contornos de um presente alternativo e de um futuro apocalíptico; de confins geográficos que têm tanto de incompreensível quanto de familiar; de seres humanos alienados, solitários, perdidos. São histórias em que nada do que parece é e que encerram uma pergunta: a estranheza estará dentro de nós ou será ela uma característica do mundo?

Conjugando o grotesco, o fantástico, o humor negro e a beleza poética, Histórias Bizarras é mais um testemunho da singularidade literária e imaginativa de Olga Tokarczuk, que, unindo lugares e tempos, lança um olhar distópico e terno sobre a realidade e as profundezas da mente humana."

Esta obra, de Olga Tokarczuk, é uma coletânea de contos, que nos leva a universos onde o real e o imaginário se entrelaçam de forma inquietante. Reúne doze contos que exploram temas como identidade, solidão, morte e transformação, sempre com um toque de estranheza e profundidade psicológica, tão ao estilo de Tokarczuk. As personagens enfrentam situações insólitas, como um médico escocês do século XVII que descobre uma raça de crianças verdes, ou uma família de mulheres idênticas que podem ser ligadas e desligadas, perturbadas pela chegada de vizinhos. Cada narrativa convida à reflexão sobre a condição humana e os limites da realidade.

Críticos destacam a capacidade da autora em provocar o leitor, levando-o a questionar as suas próprias percepções e crenças. A tensão constante nas histórias serve como um convite à introspeção, explorando as profundezas da mente humana e os aspectos mais sombrios da existência. Ainda assim, já li outras obras da autora de que gostei mais, como o Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, Empúsio e A Alma Perdida.

 Garrett, Almeida; Morgado, André F. (2025). Frei Luís de Sousa. Lisboa: Levoir.

N.º de páginas: 64
Início da leitura: 17 de maio de 2025
Fim da leitura: 22 de maio de 2025

**SINOPSE**
"Frei Luís de Sousa é o nome religioso de Manuel de Sousa Coutinho, português que em 1600 ocupava o posto de capitão-mor de Almada e que se julga ter habitado no Bacelo, a sua propriedade situada no Pragal.

O enredo, inspirado na vida do escritor seiscentista Frei Luís de Sousa, de seu nome secular D. Manuel de Sousa Coutinho, tem como pano de fundo a resistência à dominação filipina.

D. João de Portugal foi dado como morto na batalha de Alcácer Quibir. Passaram-se sete anos e D. Madalena de Vilhena casa com D. Manuel de Sousa Coutinho, de quem tem uma filha, Maria, formando um lar virtuoso e feliz. A sua existência só é perturbada pelos tristes pressentimentos da frágil e sensível Maria e de Telmo, o velho aio, que continua à espera do regresso de D. João.

Este aparece, disfarçado de romeiro, e dá a conhecer a sua verdadeira identidade. o desfecho é trágico: Maria morre na igreja, no preciso momento em que os seus pais professam."

Esta adaptação para banda desenhada de Frei Luís de Sousa, publicada pela Levoir, representa uma ousada e meritória reinterpretação gráfica de um dos marcos do teatro romântico português. A obra original, da autoria de Almeida Garrett, é um drama histórico e patriótico do século XIX que mergulha nas complexidades da honra, do dever e da identidade nacional — temas que a adaptação consegue preservar e reinterpretar com sensibilidade visual e contemporaneidade.

André F. Morgado, responsável pela adaptação textual, realiza um trabalho de equilíbrio entre fidelidade ao texto original e acessibilidade moderna. A linguagem mantém um certo tom clássico, mas evita o anacronismo excessivo, tornando o enredo compreensível para leitores menos familiarizados com o teatro oitocentista. A estrutura da narrativa segue de forma coerente os grandes momentos dramáticos da peça — o regresso do suposto falecido D. João de Portugal, o dilema de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, e o desfecho trágico. Há uma clara preocupação em respeitar a densidade dramática da peça, mas também em usar os recursos visuais como veículo de interpretação, em vez de simples ilustração.

Com traço firme, expressivo e detalhado, Medina cria ambientes que respiram o espírito do século XVII, mantendo uma paleta sóbria que acentua a atmosfera trágica e introspetiva. As expressões faciais e a linguagem corporal dos personagens são fundamentais na transmissão da emoção — uma componente essencial num drama cuja força reside, muitas vezes, nos silêncios e olhares. Recomendo.

Nova, Rita Da (2025). Apesar do Sangue. Lisboa: Manuscrito Editora.

N.º de páginas: 248
Início da leitura: 18/05/2025
Fim da leitura: 20/05/2025

**SINOPSE**

"«Ninguém sabe o que custa conquistar uma criança que desistiu do mundo até ter de o fazer.»

Glória está a envelhecer. Na tomada de consciência de que o fim pode estar para breve, é no neto que recaem todas as suas preocupações: se ela desaparecer, quem vai cuidar dele? Quem vai tomar conta de Pedro, o rapaz que todos escolheram abandonar?

Rita da Nova está de volta com um romance em que os relatos dos vários protagonistas se entrelaçam para contar uma história repleta de feridas profundas.

Com uma narrativa delicada e carregada de sensibilidade, a autora transporta-nos num enredo não linear em que todas as personagens principais têm direito a fazer-se ouvir: Glória, a avó que aguenta todas as tempestades da família. Helena, a mãe que abandona o filho. Eduardo, o padrasto que já não o é, mas que nunca esqueceu a criança de quem cuidou um dia.

E Pedro, claro, Pedro, o elo que os une: o rapaz que todos rejeitaram, que ninguém soube amar sem prazo e que, em breve, pode precisar desesperadamente de uma nova oportunidade."

Que livro maravilhoso! Concordo com a autora, quando, nos agradecimentos, menciona: "Este livro tornou-se, desde o dia em que me sentei para o escrever, no terraço de um Airbnb no Porto, na coisa favorita que escrevi até hoje." E confesso que gostei de todos os seus livros que li até hoje. Mas este! Este supera todas as expetativas. É uma história que tanto nos desampara, nos fere, nos comove, como nos abraça, nos aquece a alma e nos preenche. 

Apesar do Sangue é uma obra que convida à reflexão sobre os laços familiares e a importância das relações que escolhemos cultivar. Com uma narrativa envolvente e personagens profundamente humanas, Rita da Nova oferece uma leitura tocante e memorável.

A história é contada através de múltiplas perspetivas, permitindo ao leitor compreender as motivações e emoções de cada personagem. A autora utiliza uma estrutura não linear, alternando entre diferentes momentos temporais, o que enriquece a narrativa e aprofunda o desenvolvimento das personagens, muito bem construídas.

Chegamos ao fim com aquela sensação de nostalgia por já estar a terminar, pois queríamos continuar. É daqueles livros que promete deixar uma valente ressaca literária. Recomendo muito.

Natsukawa, Sosuke (2025). O Gato Que Salvava Bibliotecas. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: André Pinto Teixeira
N.º de páginas: 192
Início da leitura: 17/05/2025
Fim da leitura: 18/05/2025

**SINOPSE**
"Se fomos felizes uma vez, porque não voltar a estar com um dos gatos mais adorados do mundo? Regresse ao aconchego e descubra onde anda Tigre, o gato que salvava livros e… bibliotecas.

Se ainda não conhece Tigre, está na altura de o fazer. Nanami, uma menina de 13 anos que adora ler, está prestes a encontrá-lo, e a sua vida mudará para sempre. no meio da biblioteca, que é uma segunda casa para ela, Nanami está com os seus melhores amigos: os livros. Mas, agora, alguns deles estão a desaparecer das estantes, e ela suspeita de um homem de fato cinzento. Há qualquer coisa nele que não bate certo. E se o seguisse?

Quando Tigre, um gato malhado falante, aparece para a avisar sobre o perigo que pode estar a correr, Nanami une-se a ele e, juntos, tentam encontrar todos os livros desaparecidos. Porém, nada pode prepará-los para a aventura que estão prestes a viver…

Enternecedor e maravilhoso, envolto em sabedoria japonesa, este é um romance que nos mostra o poder dos grandes livros e nos lembra de que devemos sempre guiar-nos pelo que nos faz crescer na vida: conhecer-nos a nós mesmos e iluminar o caminho com a luz da nossa alma, procurando o que nos aconchega o coração."
Este é um "livro fofinho", mas bem escrito. 
O Gato Que Salvava Bibliotecas é uma obra contemporânea do autor japonês Sosuke Natsukawa, originalmente publicada em 2020. Enquadrando-se no género da ficção literária com elementos de fantasia, o livro combina uma narrativa sensível com reflexões filosóficas acerca da leitura, da solidão e do papel transformador dos livros. Com uma linguagem acessível, porém carregada de simbolismo, a obra destaca-se como uma fábula moderna sobre o valor intrínseco da literatura.
Há claramente uma crítica alegórica a aspetos negativos da cultura contemporânea do livro: a leitura superficial, o consumismo editorial, a mecanização do saber e o isolamento do pensamento crítico. Esses temas são apresentados de forma alegórica, mas inteligível, fazendo do livro uma leitura acessível tanto a jovens quanto a adultos.
Em alguns momentos, perpassa pela obra um tom excessivamente didático, o que pode causar uma certa previsibilidade na condução do enredo e esvaziar a força simbólica de alguns episódios. Ainda assim, a obra consegue preservar seu valor ao estimular o leitor a questionar como e por que lemos — uma questão cada vez mais pertinente em tempos de consumo veloz de informação. Aconselho.
Zafón, Carlos Ruiz (2014). As Luzes de Setembro, 1995. Lisboa: Planeta.
Tradução: Maria do Carmo Abreu
N.º de páginas: 256
Início da leitura: 15/05/2025
Fim da leitura: 16/05/2025

**SINOPSE**
"Um misterioso fabricante de brinquedos que vive em reclusão numa gigantesca mansão povoada de seres mecânicos e sombras do passado...
Um enigma em torno de estranhas luzes que brilham entre a neblina que rodeia a ilhota do farol. Um ser de pesadelo que se oculta nas profundezas do bosque...
Estes e outros elementos tecem a trama do mistério que unirá Irene e Ismael para sempre durante um mágico Verão em Baía Azul. Um enigma que os levará a viver a mais emocionante das aventuras num labiríntico mundo povoado de luzes.

Um livro fascinante de intriga, fantasia, mistério e amor com uma tensão e um suspense que aumenta à medida que avançamos na história. E sempre envoltos numa atmosfera ameaçadora."
Convenci-me que tinha lido os livros todos de Zafón, mas, afinal, O Príncipe da Neblina é o primeiro de uma trilogia. Ainda me fica a faltar o segundo desta trilogia da Neblina. Que bom! Foi uma boa surpresa. Sempre gostei muito da forma como Zafón escrevia, toda a magia que imprimia às suas histórias, tão envolventes e empolgantes. Esta não foi exceção. Eu, que até nem sou grande apreciadora de fantasia, não consigo ficar indiferente a estes livros de Zafón, bem como a todos os que escreveu.
A narrativa centra-se em Simone Sauvelle e nos seus filhos, Irene e Dorian, que, após a morte do patriarca da família, se mudam de Paris para a Normandia. Lá, Simone aceita um emprego como governanta na mansão Cravenmoore, pertencente a Lazarus Jann, um enigmático fabricante de brinquedos mecânicos. À medida que a família se adapta à nova vida, eventos misteriosos e sombrios começam a ocorrer, envolvendo autómatos assustadores e segredos do passado. É impossível não nos deixarmos envolver por estas personagens e pelas suas histórias, pelo constante mistério criado em torno delas, do seu passado e do seu presente. Apesar de ser um livro mais direcionado para leitores juvenis, fiquei rendida e aconselho!
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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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