Lobos, Tânia Ganho

Ganho, Tânia (2025). Lobos. Lisboa: Dom Quixote.

N.º de páginas: 352
Início da leitura: 10/06/2025
Fim da leitura: 14/06/2025

**SINOPSE**
"Fedra passou mais de vinte anos nalguns dos piores lugares da Terra. Depois de ter estado no Ruanda, Kosovo, Iraque, Mali, a antropóloga forense regressa por fim a casa. O seu novo trabalho no Instituto de Medicina Legal obriga-a a mergulhar diariamente nas profundezas sórdidas da dark net, uma experiência irreparavelmente solitária.

Stefan vive na cabana que construiu numa floresta. Após décadas de nomadismo, o antigo repórter de guerra alemão leva uma vida de eremita, procurando na sua relação com a natureza um contraponto à crueldade humana que testemunhou.

Leonor, uma adolescente de 14 anos, isola-se no apartamento familiar, num bairro privilegiado de Lisboa, após ser vítima de um crime sexual. Helena, a mãe, revela-se incapaz de lidar com o trauma e refugia-se numa obsessão que ameaça destruí-la a ela e à filha.

Nos bastidores destas vidas que se entrelaçam, Amélia, uma mulher no limite da memória e da sobrevivência, guarda a chave de um mistério que poderá nunca ser desvendado.

O regresso de Tânia Ganho à ficção apresenta-nos pessoas que enfrentam os seus demónios num momento de viragem das suas vidas e do mundo."

Lobos, da escritora Tânia Ganho, é uma obra densa e perturbadora, que mergulha em temáticas difíceis como o abuso sexual, o poder patriarcal e os meandros obscuros da dark web. Trata-se de um romance corajoso que procura denunciar realidades incómodas, dando voz às vítimas e expondo a crueldade muitas vezes silenciada pela sociedade.

Tânia Ganho consegue criar uma atmosfera de tensão constante, com uma escrita direta, crua e sem pudores, o que, por vezes, pode ser desconfortável, mas é justamente esse desconforto que reforça o impacto da narrativa. É um livro que não se lê com leveza — e não deve ser lido assim. A sua força está na capacidade de confrontar o leitor com realidades que preferiríamos ignorar.

Contudo, é importante referir que, em certos momentos, a obra torna-se algo repetitiva. Determinadas ideias e imagens são reiteradas de forma que, embora possam reforçar a gravidade das situações, por vezes enfraquecem o ritmo narrativo. Esta repetição poderá cansar alguns leitores e quebrar um pouco a fluidez da leitura. Ainda assim, esse recurso poderá ser interpretado como intencional — uma tentativa de sublinhar a persistência do trauma e a dificuldade de se libertar de um passado marcado pela violência.

No plano temático, o livro é profundamente atual e necessário. Em tempos em que o debate sobre o consentimento, o silêncio das vítimas e o poder das redes digitais está em destaque, Lobos surge como uma denúncia ficcionada, mas extremamente próxima da realidade. A autora não tem medo de incomodar, e isso é um dos grandes méritos do romance.

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