Ganho, Tânia (2025). Lobos. Lisboa: Dom Quixote.
Lobos, da escritora Tânia Ganho, é uma obra densa e perturbadora, que mergulha em temáticas difíceis como o abuso sexual, o poder patriarcal e os meandros obscuros da dark web. Trata-se de um romance corajoso que procura denunciar realidades incómodas, dando voz às vítimas e expondo a crueldade muitas vezes silenciada pela sociedade.
Tânia Ganho consegue criar uma atmosfera de tensão constante, com uma escrita direta, crua e sem pudores, o que, por vezes, pode ser desconfortável, mas é justamente esse desconforto que reforça o impacto da narrativa. É um livro que não se lê com leveza — e não deve ser lido assim. A sua força está na capacidade de confrontar o leitor com realidades que preferiríamos ignorar.
Contudo, é importante referir que, em certos momentos, a obra torna-se algo repetitiva. Determinadas ideias e imagens são reiteradas de forma que, embora possam reforçar a gravidade das situações, por vezes enfraquecem o ritmo narrativo. Esta repetição poderá cansar alguns leitores e quebrar um pouco a fluidez da leitura. Ainda assim, esse recurso poderá ser interpretado como intencional — uma tentativa de sublinhar a persistência do trauma e a dificuldade de se libertar de um passado marcado pela violência.
No plano temático, o livro é profundamente atual e necessário. Em tempos em que o debate sobre o consentimento, o silêncio das vítimas e o poder das redes digitais está em destaque, Lobos surge como uma denúncia ficcionada, mas extremamente próxima da realidade. A autora não tem medo de incomodar, e isso é um dos grandes méritos do romance.
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