Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Cruz, Afonso (2021). O Vício dos Livros. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 128

Início da leitura: 08/06/2021

Fim da leitura: 08/06/2021

Quando se chega ao fim de um livro e se diz “já?”, “Não pode acabar agora!”, é porque nos tocou. Era previsível. Primeiro, o título foi logo um braço estendido a pedir-me “Lê-me!”, não fosse também meu “O Vício dos Livros”. Depois, Afonso Cruz é Afonso Cruz.

O Vício dos Livros de Afonso Cruz é um livro tão bom que sabe a pouco! Para além de nos conduzir, através das suas reflexões pessoais, curiosidades e memórias, ao âmago de um “amor maior”, fala-nos de livros e de autores que, de alguma forma, o marcaram no seu percurso de leitor. E fá-lo de uma forma simples, com sentido de humor, de forma poética que cativa e deixa o leitor rendido e sem vontade de pousar o livro.

Falar deste livro é citar Afonso Cruz, pois é quase impossível contar o que é incontável se não pelo autor. Desde a ternura com que fala da avó que se esquecia do avançado da idade ao contar as suas histórias, que o faz pensar na “luz por dentro” (de que falava Mário Quintana) que embeleza as “histórias dos velhos”. Ou quando nos conta como os livros podem influenciar até uma relação amorosa. Ou quando nos diz que, como “a morte também é leitora”, devemos andar “sempre com um livro na mão” para a distrair. Ou quando nos conta a história de uma escritora árabe que se divorciou porque, nas palavras que o autor cita da mesma “Comecei a ler e libertei-me”. Ou quando explica que o que afasta as pessoas da leitura são argumentos falaciosos e, citando António Basanta, refere que “não é a falta de tempo que impede a leitura: é a falta de desejo”. Argumentos como “gostaria muito, mas não tenho tempo para ler”, “adoro ler, mas o trabalho não deixa”, “costumava ler, mas as responsabilidades agora são muitas” não passam de desculpas, porque se pode ler até “entre trabalhos e tarefas” “nos transportes”, “enquanto almoça”, “na casa de banho”, “antes de dormir”. Adorei a passagem sobre “O poeta que foi assassinado pelos próprios livros e não pude deixar de rir com os exemplos, de que cito apenas um: “o pianista e compositor Charles-Valentin Alkan morreu a 30 de março de 1888 esmagado pela sua biblioteca”. Literalmente, sentiu “o peso esmagador do que leu”.  Depois, a forma como cada um organiza a sua biblioteca e a surpresa que pode ter ao colocar um livro meio ao acaso e com o qual tem “encontros inesperados”.

Ainda tem o poder de dizer o que penso, o que me faz pensar realmente, quando refere, com alguma mágoa, das histórias que poderia ter ouvido e, pura e simplesmente ignorou numa dada altura da sua vida. Refere que “a maior viagem possível é ouvir” e dá conta de uma frase de um livro de Antonio Basanta, que diz “A primeira biblioteca que conheci na minha vida foi a minha mãe (…) Cada noite, antes de dormir, visitávamos as estantes da sua memória”.

Termino com uma passagem que não poderia mesmo deixar de citar, por me identificar tanto com ela: “Por vezes, os livros que não são lidos podem assumir um ar acusador. Muitos leitores sentem alguma culpa quando olham para pilhas de livros por ler. No meu caso, considero estes livros uma possibilidade de ser livre: não tenho apenas um livro para ler, tenho muitos, e isso permite-me escolher o próximo”.

Peixoto, José Luís (2021). Almoço de Domingo. Lisboa: Quetzal Editores.


Nº de páginas: 264

Início da leitura: 05/06/2021

Fim da leitura: 05/06/2021 

Almoço de Domingo é um romance biográfico do comendador Rui Nabeiro. O próprio facto de o narrador ser, na maioria da obra, de primeira pessoa, na pessoa do próprio Rui, confere-lhe esse caráter ficcional. As memórias apresentadas são as de um homem de 90 anos. Talvez por esse facto, surjam, na maior parte das vezes, alternadas, diria mesmo quase fundidas, mescladas. Porém, sem nunca perder a lucidez que ainda o caracteriza e que é por demais evidente nas mesmas memórias. É de louvar esta lucidez, a forma como recorda lugares, gentes, acontecimentos, cheiros, sabores, regressos a casa.

Se fosse, à letra, uma biografia, haveria com certeza muito mais que dizer. Assim, nota-se que José Luís Peixoto escolheu os episódios que considerou mais marcantes e mais ligados à vida pessoal deste homem.

Rui Nabeiro é-nos apresentado com toda a humildade, convicções e espírito de sacrifício que o tornaram no empresário de sucesso e de renome como há poucos.

Quando, em 1961, cria a marca Delta, poderia pensar-se num empresário como tantos outros. Mas Rui era diferente. Fazia questão de se fazer presente. Nas fábricas, junto dos comerciantes e donos de cafés e restaurantes que lhe comprariam o café, no estrangeiro… A sua presença não era, contrariamente à de tantos empresários, uma presença distante. Ele falava com todos, sorria a todos, sempre pouco preocupado com, por exemplo, o “fato de treino fora de moda” que envergava. Eram esta simplicidade e humildade que cativavam.

Muitos são os acontecimentos que recorda, desde os pais, os irmãos, a irmã mais nova doente e que morre demasiado nova; quando é chamado à inspeção; os tempos de escola; o pão que ajudava a migar, na infância, para as sopas de pão; o tio Joaquim e os jantares com ele; o olhar de Marcelo Caetano; o jogo que foi ver, onde estava também Jorge Sampaio; o rapaz de quem o pai tomava conta; a morte do “amigo sincero”; o almoço com Mário Soares e Felipe Gonzalez nas mesas improvisadas da Cooperativa Progresso Campomaiorense, entre muitos muitos outros acontecimentos em que nos envolvemos e nos cativam.

Porém, de todos os acontecimentos, o que mais me emocionou foi, sem dúvida, a sua relação com a esposa, Alice. Não imagina “que vida teria tido sem ela”. Recorda o dia do casamento, um casamento simples, no qual “havia demasiada igreja para um ajuntamento tão modesto”. Casou aos 22 anos. Alice tinha 20 e trabalhava na costura. São setenta e sete anos que recorda com carinho. Relembra, com especial ternura, as manhãs de sábado com Alice, mesmo quando já tem de a ajudar a levantar-se, quando ela lhe pede que abra algumas persianas para entrar “mais sábado sobre os tapetes”. Relembra a voz dela “a ganhar primaveras no momento em que dizia o nome dos filhos, netos e bisnetos”, nestes sábados “que acrescentavam mais sabor à comida”. E que bonita a passagem em que nos fala do amadurecimento da sua relação: “…havia uma delicadeza especial, uma espécie de segredo, um encanto a que apenas se chega depois de muitos anos. Alice, esse nome atravessava o tempo, e o tempo era a vida”.

E, por fim, o regresso a Campo Maior, agora tão diferente do que era antes, mas que continua a considerar como o seu “regresso a casa”. É um regresso a casa para um almoço de domingo, onde celebrará os seus 90 anos, com toda a família e amigos.

Para além de uma vida riquíssima, dos episódios eximiamente escolhido pelo autor, temos a linguagem e o estilo de José Luís Peixoto, que nos consegue cativar e prender à narrativa. As repetições utilizadas concedem intensidade à mensagem que se quer transmitir, como se se tornassem parte dos nossos pensamentos, ficando a “martelar”. E depois, depois o mais importante: a poeticidade da linguagem de Peixoto, que nos comove, que nos arrepia, e que, neste livro, me fez sentir este regresso a casa como meu, como se nesta memória de um almoço de domingo, fosse um dos presentes, a sentir este aconchego de família. E que aconchego nos dá este livro! Recomendo tanto!

 

Zusak, Markus (2019). Nada Menos que um Milagre. Lisboa: Editorial Presença.

Nº de páginas: 496

Início da leitura: 05/06/2021

Fim da leitura: 06/06/2021

Nada Menos que um Milagre é um livro do escritor australiano Markus Zusak, traduzido por Miguel Romeira.

Devo dizer que parti para a leitura deste livro com muitas expectativas, uma vez que tinha adorado o seu livro mais conhecido A Rapariga que Roubava Livros, uma obra emblemática que decorre na Segunda Guerra.

Porém, não se revelou tão fácil entrar nesta história, talvez pela própria estrutura do livro ou pelo facto de nos dar a conhecer um grande número de personagens logo no início da história. Fui gostando do livro, à medida que fui avançando na história, deixando-me enredar na trama, nas alegrias e sofrimentos das personagens, com as quais é fácil criar empatia, unidas por um laço forte de amizade, até, finalmente, ter gostado. Não tanto como do anterior, sou sincera, mas é uma boa história, bem escrita.

Temos como narrador o irmão mais velho, Matthew, que nos conta como, a certa altura da sua vida, ele e os seus quatro irmãos perderam a mãe e o pai abandonou a casa, deixando-os sozinhos, imersos no caos de uma vida sem adultos, mas, apesar de tudo, feliz.

Entretanto, o pai regressa com um desafio: gostaria de ter a ajuda de um dos filhos para construir uma ponte. Clay é o único filho que aceita o desafio do pai. Mas o que estará por detrás desta decisão? Que segredo esconde Clay? Não será a ponte uma metáfora da própria vida? Um elo de ligação com um novo rumo, um novo sentido, uma nova forma de acreditar, uma redenção, um milagre? Não será a ponte o caminho que todos os mortos têm de percorrer, transpor, para alcançar a salvação? Ou, tão simplesmente, uma forma de aceitar a morte e de nos reconciliarmos com a vida?

Sem dúvida, um livro a ler!

 

Carey, Peter (2011). O Japão É Um Lugar Estranho. Lisboa: Tinta-da-China

Nº de páginas: 176

Início da leitura: 05/06/2021

Fim da leitura: 05/06/2021

O Japão É Um Lugar Estranho é um livro do australiano, nascido em 1943, Peter Carey e traduzido por Carlos Vaz Marques. Neste livro, o autor conta-nos a viagem que o autor fez com o filho ao Japão, decisão que tomou quando o filho lhe disse “Quando for grande, vou viver para Tóquio”. Charley, o filho, tem apenas 12 anos quando se apaixona por mangas, a banda desenhada representativa do Japão, em particular Akira, que começou como manga, mas depressa se tornou no filme de animação, ou melhor, anima, que se caracteriza pela conjugação de realismo e exagero e uma enorme quantidade de temas abordados.

Esta viagem permitiria a Carey estreitar laços com o filho, abordar a cultura que está na origem de mangas e todo o exotismo deste país asiático.

Pai e filho estão decididos a visitar o que designam como o “verdadeiro Japão”, com o intuito de conhecerem escritores e produtores de mangas e anima.

Reconheço a mestria da escrita de Carey e as descrições pormenorizadas e bastante interessantes de Tóquio. Gostaria apenas de estar mais familiarizada com a banda desenhada japonesa para usufruir plenamente de toda a história. Ainda assim, considero que viajei pelos olhos deste exímio observador, apreciei as histórias que foram sendo contadas e aprendi mais sobre a cultura oriental. O Japão é, sem dúvida, “um lugar estranho”.

Backman, Fredrik (2020). Um Homem Chamado Ove. Lisboa: Editorial Presença.

Nº de páginas:312

Início da leitura: 24/05/2021

Fim da leitura: 29/05/2021

Um Homem chamado Ove, de Fredrik Backman, traduzido por Alberto Gomes, é mais um livro muito ao estilo deste autor, que tem o dom das palavras e uma grande dose de humor e criatividade. Um livro simples em termos de linguagem, que serve para descontrair após leituras “mais fortes”. Contudo, desengane-se se pensa que este livro se esgota no humor que passa ao leitor. A temática abordada é delicada - o suicídio - a perda do sentido da vida e o desejo de abandonar tudo e deixar de viver.

Contudo, a história não se esgota por aqui. Ove é um homem que nos cativa, pois, apesar do constante mau humor, tem um bom coração e, ainda que não o dê propriamente logo a entender, preocupa-se com o próximo.

Ove é um homem de meia idade, cuja vida é feita de rotinas e que sente prazer em manter a ordem e o bem-estar do bairro onde vive. Vistoria, todas as manhãs, a ordem o cumprimento de regras e a segurança do bairro. Certifica-se de que não houve ladrões a tentar assaltar alguém, de que os caixotes do lixo estão impecáveis, de que os condutores respeitam as regras de circulação e de proibição. Conduz um Saab…

Sendo um homem de hábitos, houve duas situações que vieram alterar as suas rotinas e que, consequentemente, o fizeram pôr em causa a sua razão de viver: a mulher, Sonja, morreu, com cancro e ele está em vias de perder o emprego, com uma proposta de reforma antecipada, por não se adaptar à exigência das novas tecnologias.

Toma, então, a decisão de morrer. Veste o seu melhor fato. Porém, várias são as circunstâncias que o vão impedindo de pôr termo à vida. De entre essas circunstâncias, estão os novos vizinhos, especialmente a nova vizinha e as suas filhas. Também o gato, os amigos improváveis e uma série de acontecimentos vão atrasando a sua decisão. Será a amizade capaz de o fazer superar os traumas e ganhar novo sentido pela vida?

Apesar de ser um rezingão, tem bom coração, é trabalhador, um homem de princípios, que vive numa profunda solidão.

É impossível não nos deixarmos cativar e comover com as personagens deste livro, em especial com o Ove.

Aconselho sem reservas!

5*

Agualusa, José Eduardo (2006). O Vendedor de Passados. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 231

Início da leitura: 23/05/2021

Fim da leitura: 23/05/2021

O Vendedor de Passados é um livro escrito por José Eduardo Agualusa e é muito peculiar. Fazendo lembrar uma fábula, a história chega-nos através de uma osga, o Eulálio, que se sentia ignorada por Félix Ventura até ao dia em que ele a ouviu rir. A partir daí, Félix passa a chegar mais cedo a casa e a conversar com ela, pelo que ela chega a pensar que já se sentem ligados por “um fio de amizade”. Além de testemunha, confidente, esta é uma osga com sonhos e emoções.

Félix, um negro albino, residente em Luanda, apresenta-se, normalmente, como um genealogista, mas o que ele realmente faz é vender passados que lhe encomendam, sendo uma espécie de traficante de memórias, um negócio secreto com que lucravam ambas as partes. Ele, que as vendia, e quem lhas comprava também, uma vez que passava a ter um passado com ilustres ancestrais, uma árvore genealógica, até com fotografias dos avós e bisavós. Compravam um passado decente, uma família numerosa, mostrando-se, às vezes, muito exigentes. Os seus clientes eram, geralmente, empresários políticos, generais, pessoas importantes da emergente burguesia angolana.

Esta construção de passados é, para Félix, de certa forma, fácil, uma vez que possui uma vasta biblioteca, herdada pelo pai, que era alfarrabista. O seu interesse pelos livros, pelas histórias, a pesquisa que efetua, permitem-lhe criar árvores genealógicas verosímeis.

Um livro diferente, bem escrito, revelando um grande sentido de humor por parte do escritor, uma imensa criatividade. O final também é surpreendente.

Não é um livro fácil, mas é um livro que nos faz pensar. Até que ponto pode ir a manipulação da memória? Só seremos alguém se tivermos um passado brilhante? Até que ponto não seremos todos nós criadores de passados? Ao recordarmos o passado, não o fazemos de forma pessoal, recriando e ficcionando acontecimentos de acordo com os nossos desejos? Não escrevemos todos nós o nosso passado? Até que ponto, a guerra e a perda de alguma identidade esteve na origem desta necessidade de recriar passados, sem manchas de sangue, de guerra, de opressão?

Aconselho a leitura!

Coben, Harlan (2019). Não Desistas. Lisboa: Editorial Presença

Nº de páginas: 288

Início de leitura: 22/05/2021

Fim da leitura: 22/05/2021

Não Desistas é um policial escrito por Harlan Coben e traduzido por Marta Mendonça.

É um livro que cativa desde o início, revelando um grande sentido de humor, uma linguagem bastante acessível e, diria mesmo, cinematográfica, pelo seu ritmo acelerado, sem momentos mortos, em que estamos permanentemente ansiosos por saber o que vem a seguir. É, com efeito, um livro que se lê num ápice, apesar da letra pequena (o que as editoras poderiam evitar).

Só para terem uma ideia deste sentido de humor passo a citar a frase que dá abertura ao livro: “Daisy usava um vestido preto muito justo e com um decote tão profundo que quase estaria habilitado para dar aulas de Filosofia.”

A história tem início com Dale Miller, num café, a próxima vítima de uma burla levada a cabo por Daisy e Rex, que, a pedido de um elemento de casais em divórcio, para ficarem com a custódia dos filhos, solicitavam os seus serviços. Daisy só tinha de seduzir a vítima, fazê-lo beber o máximo que podia e depois pedir-lhe que a levasse a casa. Rex, que era polícia, faria uma operação stop, na qual multava e prendia o condutor que acompanhava Daisy por excesso de álcool. Já haveria aqui pano para mangas. Mas, desta vez, não corre tudo como o planeado. Rex e Daisy serão surpreendidos pela vítima e mais não digo.

E é a seguir que começa o enredo propriamente dito. Nap é um detetive, que vive em Nova Jérsia e que terá seguido esta profissão com o intuito de descobrir quem, há cerca de 15 anos, assassinou o seu irmão gémeo, Leo, com o qual vai conversando mentalmente, e a namorada do irmão, Diana. Relembra o homicídio, em que ninguém acredita, referindo-se antes ao acontecimento como “suicídio duplo” ou “morte acidental”.

É aqui que esta história se começa a ligar à anterior, uma vez que são encontradas impressões digitais, no carro que fora mandado parar pela polícia, de Maura. Começamos a associar Daisy a Maura, que seriam a mesma pessoa. Maura teria sido namorada de Nap e terá desaparecido desde o trágico “acidente” que vitimou Leo e Diana. Apesar de os pais de Maura não a terem dado como desaparecido, vimos a perceber que foi o próprio Nap quem a deu como desaparecida no Sistema Automático de Identificação de Impressões Digitais. Maura, juntamente com Leo, Diana e outros colegas do secundário, teria feito parte de um Clube da Conspiração, ao qual Nap, na adolescência, não terá dado grande importância, considerando-o inofensivo e infantil. Porém, a certa altura, começa a perceber e a interligar os acontecimentos. Os membros do grupo têm vindo a aparecer mortos. Quem andariam eles a desafiar, na juventude, o que teriam eles descoberto que pudesse levar alguém a querer livrar-se deles.

Vale a pena acompanhar o percurso desta investigação, uma vez que é sempre surpreendente, até ao fim, mantendo o suspense até se descobrir toda a verdade.

Deixo apenas mais uma passagem para terem uma pequena noção do sentido de humor que perpassa neste livro:

“ – Quer fazer uma luta de orelhas comigo?

- Uma quê?

- O seu mano – faço sinal com a cabeça na direção do Polícia Dois – vai-se embora. Trancamos a porta. Pousamos as armas. Um de nós sai deste quarto com a orelha do outro na boca. Que me diz?

Aproximo-me dele e simulo uma dentada.” 

Glaiter, Seni (2019). O Senhor Doubler e a Arte de Cultivar Batatas. Cacém: HarperCollins.

Nº de páginas – 384

Início da leitura: 21/05/2021

Fim da leitura: 22/05/2021

O Senhor Doubler e a Arte de Cultivar Batatas é um livro escrito pela autora inglesa Seni Glaister e traduzido por Ana Filipa Velosa.

Como falar deste livro? Pela capa e título, não fazia ideia do conteúdo abordado. Mas o certo é que, talvez por ser diferente, vi-me curiosa perante o conteúdo. E devo dizer que superou as minhas expetativas.

Com magia, ironia, verdade e sentido de humor, este livro aborda temáticas importantíssimas, que muitas vezes desvalorizamos ou evitamos pensar. De entre estas temáticas, destaco a velhice, a capacidade de amar na velhice, o menosprezo dos filhos que tomam decisões em função dos seus interesses, o cancro, a vida e a morte, Deus, o altruísmo, as convicções, os sonhos, os propósitos…

É impossível ler este livro sem refletir, sem nos colocarmos questões como: a velhice será em si um fim? Serão os filhos um reflexo da educação que receberam ou podem ser simplesmente maus, geneticamente maus? Até que ponto algumas atitudes inadequadas do ser humano nos permitem julgá-lo e condená-lo? O que existe por detrás de alguns comportamentos e formas de vida? Não ignoraremos o que nos rodeia, por ser mais fácil assim e porque observar e intervir dá trabalho? Até que ponto nos poderemos aprisionar dentro de nós mesmos e deixar de ver o que nos rodeia? Será uma pessoa louca pelo facto de as outras a considerarem louca?

Não, não é um livro de autoajuda, tem enredo, tem personagens às quais depressa nos afeiçoamos, outras que nos chocam pelas suas atitudes e pelo facto de parecer que as conhecemos do nosso dia a dia.

É um livro completo. Não tem momentos mortos. Há, isso sim, tempo para refletir, tempo para viver e é impossível não nos comovermos, não darmos uma boa gargalhada. São livros assim que nos deixam com uma autêntica ressaca literária. O que ler a seguir? Como entrar agora noutra história?

Claro, como já se devem ter apercebido, adorei!

“…as nossas lembranças raramente coincidem. Os factos são os mesmos, mas a forma de retê-los depende muito do nosso estado de espírito naquele momento e do uso que damos a essas lembranças…” (pp. 282-283)

 Dalton, Trent (2019). O Rapaz que Conquistou o Mundo. Madrid: HarperCollins.

 

Nº de páginas: 480

Início da Leitura: 10/05

Fim da Leitura: 19/05

O Rapaz que Conquistou o Mundo é um romance escrito por Trent Dalton, autor australiano, e traduzido por Fátima Tomás da Silva.

Este é um livro que fala de situações cruéis que existem e que, muitas vezes, preferimos ignorar ou nem pensar, para não nos magoarem. Há assuntos tabu, que são autênticas bofetadas, mas depois…depois há um carinho que perpassa e que dói pelo contexto em que acontece.

Eli Bell, o narrador da história, tem apenas 12 anos e, em 1980, vive nos subúrbios de Brisbane com a família, destacando-se a mãe, Frances, o padrasto, Lyle e o irmão August, tratado por Gus, que não fala (mais tarde, ficamos a saber o motivo, que traumas o terão deixado assim). A mãe consome drogas, o padrasto é traficante e Eli quer apenas vir a ser uma boa pessoa, tornar-se num jornalista de renome. Conseguirá Eli não se deixar contaminar por toda a podridão que o envolve?

Eli é uma criança que, apesar de crescer neste ambiente, tem em si muito amor e sentido de proteção em relação à família. Protege a mãe, por quem sente um amor incondicional; quer acreditar que Lyle, no fundo, é um homem bom e está disposto a fazer tudo para o agradar. No que se refere ao irmão, há entre eles uma relação muito bonita, um entendimento e um amor que transparece e Eli entende o irmão, mesmo que este fale por gestos, desenhando palavras nos ar. Eli capta o sentido de todas! E esta relação entre os dois irmãos é uma relação que comove, pois está acima de tudo o que de mau lhes vai acontecendo nas suas vidas tão jovens.

São crianças que crescem num ambiente muito duro, de tráfico de droga, de impropérios que se tornaram vulgares, de violência e que, mesmo assim, têm em si um amor que vai resistindo e os vai ajudando a viver.

Quando é desmantelada esta rede de tráfico, Eli e Gus sentem o seu mundo desmoronar e veem-se obrigados a ir viver com o pai, um homem bêbado e deprimido.

É uma história dura, infelizmente mais realista do que gostaria (apesar de ser ficcionada).

Um livro a ler!

Martínez, Agustin (2018). Monteperdido, A vila das meninas desaparecidas. Carnaxide: Suma das Letras.

Nº de páginas: 464

Início da leitura: 11/05/2021

Fim da leitura: 17/05/2021

Monteperdido é um livro escrito por Agustin Martínez, nascido em Espanha e traduzido por Gonçalo Neves. É um thriller psicológico, cuja ação se desenrola numa vila situada nos Pirenéus.

Tudo decorria tranquilamente, até ao dia em que, após um comum dia de escola, Ana e Lucía, duas jovens de 12 anos, em vez de regressarem como habitualmente a suas casas, desapareceram.

Acontece que, cinco anos depois, ocorre um acidente, no qual morre o condutor e uma jovem fica gravemente ferida. Quando reconhecem a rapariga como Ana, uma das raparigas desaparecidas, os inspetores responsáveis pelos seus processos, reaberto o caso, Sara Campos e Santiago Bain, questionam-se e dão início a uma investigação exaustiva, uma vez que ainda haverá a possibilidade de encontrarem Lucía com vida.

Ao longo da narrativa vão-se intercalando momentos presentes com momentos passados. Monteperdido é um local fechado e repleto de segredos, não sendo fácil tentar, num sítio destes, descobrir o que, de facto aconteceu. Mas cinco anos é muito tempo, muitas coisas mudaram, muitas relações pessoais alteraram e os próprios pais de Ana, agora divorciados, já não são os mesmos.

O espaço onde a ação se desenrola é magnífico, capta pelo mistério envolvente, o ambiente sombrio e os animais que adquirem grande simbolismo na narrativa.

Apesar de considerar que é uma boa história, penso que peca pelo excesso de informação, pela morosidade da narrativa, que poderia, muito bem, contar com menos páginas.

Considero que é um livro bem escrito, sem ser excecional, mas que vale a pena ser lido.

Schulman, Alex (2021). Sobreviventes. Porto: Porto Editora.


Nº de páginas: 224

Início da leitura: 07/05/2021

Fim da leitura: 09/05/2021

Sobreviventes é um livro escrito pelo escritor e jornalista sueco Alex Schulman e traduzido por João Reis. Posso afirmar que é daqueles livros que nos prendem logo à primeira página, envolvendo-nos de tal forma que seríamos capazes de o ler sem interrupções, se assim pudéssemos e tivéssemos tempo. A própria forma como a intriga está estruturada, alternando momentos passados, em que os protagonistas eram ainda crianças e o momento presente, em que, como adultos, regressam à casa de campo onde foram criados, para sepultar a mãe. Os verdadeiros acontecimentos decorreram na infância e são eles que explicam as personagens que se nos apresentam no momento presente, especialmente um acidente que os mudou para sempre, que explicam o seu caráter, os seus traumas, os seus medos, as suas ousadias, as suas raivas e as suas frustrações. Em todo o percurso de leitura, sentimos que nada sabemos e, quando, enquanto leitores, nos julgamos detentores da história, eis que ela se reconstitui seguindo um percurso inesperado. Talvez, por isso mesmo, nos mantenha presos, de coração apertadinho, a bater numa pulsação de ansiedade em conhecer o resto da história.

Sem dúvida, que até o título foi bem escolhido. Sobreviveram aos acontecimentos mais atrozes, às rivalidades criadas pelos próprios progenitores, aos momentos de raiva, a tudo o que os tornava diferentes uns dos outros, à indiferença a que foram votados, durante toda a vida, pelos próprios pais. E sobreviveram porque, ainda assim, apesar de todos os acontecimentos e divergências, havia um laço que os unia…

E mais não digo, pois quero que sintam o que senti ao ler este livro!

Há muito que não lia um livro assim, em que nada é supérfluo, em que tudo faz sentido, em que, depois do livro, fica o próprio livro, a residir nos nossos pensamentos. Ainda não sou capaz de o arrumar na estante. Tenho de olhar para ele, virar e revirar, reler o último capítulo…

Spence, Alan (2009). A Terra Pura. Lisboa: Editorial Presença. 

Nº de páginas: 336 
Início da leitura: 02/05/2021
Fim da leitura: 06/05/2021 

A Terra Pura é uma obra escrita por Alan Spence e traduzida por Manuela Madureira, que, apesar de ser ficcional, parte de um fundo histórico, ao inspirar-se na biografia de Thomas Glover, um escocês, que é o protagonista da história narrada (a sua trágica paixão por uma cortesã deu origem à criação da ópera Madame Butterfly, de Puccini). 

Glover é um escocês que decidiu ir trabalhar para Nagasáqui, em 1858, onde se estabeleceu e se deixou cativar pela cultura nipónica e cuja vida se pautou por uma extrema ambição. Para além de ser dotado para os negócios, o seu carácter confiante, comunicativo e ousado, conferiu-lhe sempre algum carisma, que lhe possibilitou uma fácil integração e uma relação com algumas das pessoas mais importantes da sua época. Começou por trabalhar numa empresa chá, mas rapidamente abriu a sua própria empresa, exportando chá. Mas a sua ambição levou-o à venda de ópio, armas, canhões, navios. Inaugurou a primeira locomotiva no Japão. Foi inteligente ao casar-se com Sono do clã Satsuma, que lhe permitiu ampliar o negócio e não ser visto como estrangeiro. Glover foi um apoiante do período Meiji japonês, pelo seu desejo de abrir o Japão ao Ocidente. Depois de falir, terá desenvolvido a mina de carvão Takashima, revelando-se como uma figura preponderante na industrialização do Japão fundador de uma empresa naval que, mais tarde se tornou na Mitsubishi do Japão. E não foi só a nível profissional que se salientou. A sua vida amorosa foi igualmente tumultuosa. Teve três filhos de três mulheres diferentes. 

É um livro interessante pelos factos reais em que é baseado relativamente a Thomas Glover e à própria história do Japão. Porém, não achei extraordinário, talvez por não ter conseguido criar empatia com o protagonista. Nem sempre a ambição é positiva, talvez esse seja um dos fatores para não me ter identificado de todo com Thomas Glover.

 


Cruz, Afonso; Carvalho, Ana Margarida; Ferraz, Carlos Vale-, Carvalho, Cristina; Beja, Filomena Marona; Fanha, José; Real, Miguel; Camarneiro, Nuno; Carvalho, Sérgio Luís de (2016). Uma Terra Prometida. Lisboa: Zero a Oito.

Nº de páginas: 192

Início da leitura: 30/04/2021

Fim da leitura: 01/05/2021

Este é um livro que resulta de um desafio lançado a José Fanha para escrever sobre um determinado tema atual e motivador, escolhendo para tal vários escritores e foi assim que nasceu esta obra, que integrou o Plano Nacional de Leitura do 3º Ciclo do Ensino Básico.

Gostei muito dos contos, sendo que o que menos me cativou foi o do Carlos Vale Ferraz.

Destaco, de entre todos, igualmente bons, os que mais me cativaram, falando um pouco sobre eles.

“Déjeneur sur l’Herbe com Alguém a Afogar-se” é um conto de Afonso Cruz, que nos fala de uma família que vai fazer um piquenique no campo. Enquanto comem, veem alguém no rio a afogar-se. Não percebem se se trata de um homem, uma mulher ou até de uma mulher com um filho nos braços. Ainda assim, continuam a comer calmamente. Quando fazem uma caminhada, voltam a ver a imagem do outro lado do rio e percebem que está aflito. Parece-lhes que está a acenar. A mãe acena de volta, mas ignora, uma vez que “não conhecia aquela gente de lado nenhum”, podiam ser “pessoas desinteressantes ou aborrecidas ou até delinquentes…”. Pode, ainda, ser “um pobre”. A filha atira um brigadeiro que nem chega lá e o filho continua a ler e a comover-se com a sua leitura, no regresso para casa. Um conto pequeno mas tão completo! A forma de escrita de Afonso Cruz é absolutamente extraordinária. Consegue, com algum humor (negro) e muita ironia colocar num conto tudo quanto sofrem os refugiados, esta indiferença de que são alvo, por parte de pessoas que se comovem com ficção, mas que se mantêm no seu mundinho, impávidas e serenas perante o sofrimento alheio. Muito bom.

No conto “O meu Prédio” de Cristina Carvalho saliento a mensagem e a forma como está escrito. O narrador é um jovem de 11 anos, cuja família, apesar de pobre, manteve-se sempre unida e nunca lhes faltou comida na mesa, até a guerra lhes levar tudo. No dia em que a mãe resolve fazer um bolo, rebenta uma bomba nos prédios ao lado, que deixará na memória deste jovem, quando sente o cheiro de bolos, uma náusea e uma sensação de “tristeza infinita”. E passo a citar algumas passagens de entre tantas que me comoveram: “A guerra estava ali a estalar na avenida, a lamber os prédios, a galgar passeios e rotinas, a dizimar as vidas de tanta gente”. “Eu sei o que é ter fome, isso sei! É uma sensação escarlate, esta sensação de fome. Começo por ter dores de estômago, que vão descendo e passam a ser cólicas na barriga. Depois vem um formigueiro intenso na ponta dos meus dedos, quero levar as mãos à cabeça, levantar os braços e não consigo. Não tenho forças”. Conseguem partir para as ilhas Féroe, na Dinamarca, mas nem todos conseguem lá chegar e é este narrador, de onze anos que refere: “Se me lembro dos meus pais e dos meus irmãos? Lembro-me, sim. Vejo-os a boiar, inchados, já muito perto da praia. Eu tive sorte.”

Em “Europa! Europa!”, de Miguel Real, é-nos contada a viagem de barco de Muhammad, Mirian e a sua bebé. A criança, fruto da violação de Mirian em Missnana, não é aceite pelo marido, que considera que a deviam ter abandonado na mesquita, pois constituía só mais um fardo. Agora, ali, enfrentando a apinhada embarcação uma forte ondulação, Mirian confessa que ouvira dizer que os passadores lançavam pessoas ao mar, caso a ondulação piorasse. Muhammad tenta convencer Mirian de que a bebé só causará problemas, está doente, cheia de febre e eles não terão dinheiro para as despesas dos médicos. Acaba por sugerir-lhe que a lance ao mar. Mas, Mirian não larga a filha. Até que lhes parece avistar a Europa. Será?

Aconselho a leitura deste livro!

Ferraz, Carlos Vale (2017). A Última Viúva de África. Porto: Porto Editora.

Nº de Páginas: 200

Início da leitura: 26/04

Fim da leitura:  29/04

A Última Viúva de África é um romance de Carlos Vale Ferraz, que ganhou o Prémio Literário Fernando Namora em 2018.

A minha dúvida é como falar deste romance. Mas vou tentar.

Miguel Barros é um produtor cinematográfico à beira da falência. Toma conhecimento, através do realizador Herberto Popovic, de uma notícia de jornal, de que um emigrante francês milionário, de nome Fernando Oliveira, queria comprar uma igreja numa povoação do concelho de Vieira do Minho para a transformar num panteão para a sua mãe, de forma a santificá-la. Apesar de não ser o estilo do produtor, nas circunstâncias financeiras em que se encontra, acaba por ponderar esta ideia rocambolesca para argumento de um filme.

Este início de narrativa torna-se aliciante e revela até algum sentido de humor, pelo que fiquei à espera de um romance algo leve e divertido.

Tal não aconteceu. Miguel Barros pede à jornalista Lívia Catarino para recolher informações para o argumento do filme. O que ele não sabia era que a mãe deste Fernando Oliveira era Alice Oliveira, a Madame X, informadora de governos e de mercenários, que ele conhecera nas suas andanças por África (Congo e Angola) e com a qual partilhara vivências, no passado.

Acontece que a personagem que dá título à obra, sobre a qual idealizei o foco da narrativa, acabou por ser relegada a um segundo plano. A partir daqui, passamos a acompanhar Miguel Barros nas suas memórias durante o seu percurso por África.

Acontece que essas memórias não me preencheram, não me transpuseram para o espaço referido, como eu gostaria, uma vez que alguns dos locais, nomeadamente Angola, fizeram parte da minha vida (onde nasci). Se bem que algumas questões sejam abordadas de forma pertinente, ainda que não com a profundidade que eu gostaria de ter visto e já li noutros livros. Poderia o autor não querer entrar em pormenores, mas, para isso, deveria ter dado um foco diferente à personagem de Miguel e conferido um relevo maior à Madame X.

Não é um livro de leitura fácil ou rápida. Necessita, pois, de uma concentração e um silêncio, que permitam a sua compreensão.

Apesar de bem escrito, não considero que tenha uma escrita fluida e que nos prenda à narrativa com a avidez de leitura a que gosto de me render.

Manicka, Rani (2005). A Guardiã dos Sonhos. Porto: Asa Editores, S.A.

Nº de páginas: 512 páginas

Início da leitura: 12/04/2021

Fim da leitura: 22/04/2021

A Guardiã dos Sonhos é um romance escrito por Rani Manicka, uma autora nascida na Malásia e a viver na Grã-Bretanha. É traduzido por Teresa Curvelo.

Um livro no qual eu não pegaria, por ser demasiado cor-de-rosa. Talvez esse facto me tenha levado a pensar que a história seria igualmente cor-de-rosa. Estava redondamente enganada. Foi preciso uma leitura conjunta para pegar nele. Li-o a par de outro, o que quebrou um pouco um ritmo de leitura que, quanto a mim, merecia uma leitura mais rápida e concentrada, uma vez que a história tem imensas personagens. O facto de parar e ler outro livro, fez com que, muitas vezes, tivesse de retomar um pouco mais atrás para me contextualizar.

É um livro intenso, forte e dramático. Dei por mim a suster a respiração, a acompanhar as personagens na sua saga familiar. São histórias de vida que comovem, devidamente contextualizadas no tempo e no espaço. As descrições são tão realistas que nos sentimos lá, que absorvemos os aromas, sentimos as texturas e os sabores. Uma exótica saga familiar que nos fala de amores, desamores, paixões, vinganças, mitos, tradições, dificuldades, superação e desilusão. Uma história de guardiãs de um sonho difícil ou mesmo impossível de alcançar, contada na primeira pessoa de várias personagens e alternadamente. Esta organização da história torna-a ainda mais interessante e rica, pois coloca-nos perante maneiras de pensar de agir e de percecionar os acontecimentos e as pessoas de forma diferente e pessoal.

A história tem início numa família do Ceilão, em 1931. Devido à pobreza vivida, a mãe de Lakshimi decide casá-la (tendo ela apenas 14 anos) com um homem mais velho e “supostamente” rico da Malásia. É assim que vê a filha partir e que sofre em prol de um futuro melhor para a filha e para a própria família. Só que este homem não é, afinal, rico e acumulou dívidas. É Lakshmi que arregaça as mangas e luta pela sua família. Acaba por se tornar uma matriarca muito exigente, de personalidade muito forte e, em vários momentos, cruel em relação aos filhos. A invasão japonesa da Malásia e a morte da filha Mohini às mãos dos japoneses, semeia nela uma cólera que não consegue aplacar e que desperta o que de pior existe dentro de si. Também o filho mais velho, Lakshmnan, ficará devastado para sempre e o sentimento de culpa por não ter conseguido proteger a irmã acompanhá-lo-á durante toda a vida.

Aconselho a leitura!

 

Hannah, Sophie (2007). O Pesadelo de Alice. Lisboa: Gótica.

Nº de páginas: 354

Início da Leitura: 12/04/2021

Fim da leitura: 18/04/2021

O Pesadelo de Alice é um livro escrito por Sophie Hannah e traduzido por Ana Mendes Lopes.

Apesar de ser classificado como thriller psicológico, penso que será mais um romance policial. E, apesar de muito elogiado pela imprensa, não foi um livro que me tivesse cativado. Considero que a ação anda sempre à volta do mesmo, muito repetitiva e com um final demasiado previsível. Ainda pensei que nos trocassem as voltas e que o assassino pudesse não ser ninguém de que eu suspeitasse no início. Porém, nem o fim me surpreendeu. 
Não consegui sentir empatia por nenhuma das personagens, que se mostram irritantes e nos mexem com os nervos.

A premissa em si até era boa, só não foi suficientemente aproveitada:

Duas semanas depois de ter a sua filha, Alice Fancourt ausenta-se de casa por algumas horas. Quando chega a casa, vê que a porta de casa está aberta, o que nunca acontecia e encontra o marido a dormir no sofá. Corre para o quarto da filha e, quando lá chega, depara-se com uma criança que diz não ser a sua filha, mas sim uma outra bebé. O marido não acredita nela. Alice espera que a sogra acredite e deseja que regresse o mais depressa possível de umas férias de que estava a usufruir com o neto, o filho do primeiro casamento de David. A sogra parece acreditar nela. Alice pensa que, de alguma forma o marido está envolvido na morte da primeira mulher. A forma como o seu comportamento se está a tornar hostil, ele que foi sempre um jovem mimado pela mamã, deixa-a muito temerosa e receia que lhe possa acontecer o mesmo que sucedeu à ex-mulher, que a tentou alertar antes de morrer.

Acreditará a polícia na história de Alice? Que segredos ainda estarão por revelar?

Backman, Fredrik (2019). Britt-Marie Esteve Aqui. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 304

Início da Leitura: 05/04/2021

Fim da leitura: 10/04/2021

Britt-Marie Esteve Aqui é um livro escrito por Fredrik Backman e traduzido por Elsa T. S. Vieira. Este é o segundo livro que leio do escritor e recupera uma das personagens do livro que li anteriormente, A Minha Avó Pede Desculpa, que é a Britt-Marie.

Se no livro que li anteriormente, fiquei com má impressão relativamente a Britt, este livro conseguiu despertar em mim outros sentimentos em relação a esta personagem. Há, inicialmente, uma curiosidade por uma personagem relativamente “odiosa”, porque caprichosa, monótona, que foi anulando, durante toda a sua vida, a sua própria personalidade. Aos poucos, esta personagem começa a entranhar-se em nós, de tal forma que somos levados a fazer parte da sua vida, como se fosse nossa vizinha do lado. O que quero dizer com isto é que este autor é um excelente contador de histórias e apresenta-nos personagens com corpo, verosímeis, com as quais é fácil criar empatia.

Britt, depois de cerca de 40 anos a viver exclusivamente para o casamento, em que se anulou para dizer “o meu marido pensa”, “o meu marido diz”, em que esperava por ele até tarde, em que acreditava nele, apesar de, lá no fundo, reconhecer os vários indícios das suas traições.

É esta Britt que diz “Não!”, que deixa o marido e a casa, para refazer a sua vida e se reencontrar.

Com 63 anos, Britt vai pedir emprego. A sua determinação leva-a a conseguir um emprego temporário como zeladora no centro recreativo de Borg, uma localidade perdida no espaço e no tempo, vítima de uma crise económica que em nada contribui para a crença em dias melhores. De certa forma, parece e que os seus habitantes foram desistindo, foram perdendo a crença.

A ida de Britt para Borg foi o melhor que poderia ter acontecido, não só a Britt como a todos os habitantes de Borg. As crianças de Borg assumem Britt como a sua nova treinadora de futebol. E esta dá por si a pensar como antes não pensava, a fazer coisas que nunca tinha sonhado fazer (até a beber e a fumar!).

Será ela capaz de se reencontrar? Ou, à primeira oportunidade, regressará para casa, um local onde se sente mais estável e acomodada às suas rotinas de sempre, sem ter de pensar por ela, sem ter de viver em função dela?

Apesar de ter gostado mais do livro que li anteriormente, também adorei este. Fredrik escreve muito bem, consegue dar dinamismo à narrativa, tem sentido de humor e cria personagens absolutamente fantásticas!

“…qualquer ser humano tem tão poucas oportunidades de estar no presente, de escapar à tirania do tempo e de se perder no momento. De amar alguém sem medida. De explodir de paixão.

(…)

Toda a paixão é infantil. É banal e ingénua. Não é nada que aprendamos; é instintiva, e por isso domina-nos. Derruba-nos. Arrasta-nos como uma inundação. Todas as outras emoções pertencem à terra, mas a paixão habita o universo.”

Tavares, António (2019). Homens de Pó. Lisboa: Dom Quixote.

Nº de páginas: 224

Início da leitura: 02/04

Fim da leitura: 02/04

Homens de Pó é um livro escrito por António Tavares, que venceu o Prémio Leya com O Coro dos Defuntos, em 2015.

Tudo começa em Angola, onde, no meu entender, decorre a mais realista parte desta história. Pela descrição dos tiros, das metralhas, dos mortos, dos cheiros, das cores e dos sons, somos conduzidos para lá e convidados a presenciar todas as atrocidades vividas. O narrador, um jovem está no meio deste mundo de morte e refere “Fugir é levar o medo às costas”. É este o sentimento que o acompanha, quando foge da guerra. É apanhado por uma bala que lhe entra pela perna e lhe perfura um braço. O hospital, onde a mãe o leva, está um caos e um enfermeiro sentencia-lhe “Tem de se cortar o braço”. A mãe volta a colocar-lhe a ligadura e leva-o dali para fora. E fogem para o cais, dispostos a embarcar para Portugal. Viajam os retornados (os portugueses) e os recuados (os africanos): os homens de pó.

Apesar de todos os problemas, desgraças, mortes, perpassa em todo este livro uma ironia que, mesmo em momentos mais dramáticos, nos faz esboçar um sorriso.

Homens de Pó conta-nos a história de um grupo de homens vindos de África – os recuados – para Portugal caótico do pós 25 de Abril. Trabalham na construção civil, no norte do país e vivem no estaleiro em contentores, completamente desterrados e sem quaisquer outras referências que não as poucas memórias que guardam dos tempos de África. À noite contam histórias uns aos outros, por necessidade e cumplicidade, dado que nada mais lhes resta do passado. De dia, constroem as estradas por onde passarão os carros dos ricos; um trabalho muito duro e num constante ambiente de pó que se lhes cola ao corpo e onde nem conseguem quase respirar.

O único aspeto que vai atenuar um pouco este pessimismo em que vive o narrador é Júlia, uma jovem pobre, que vive da pesca. Júlia começa por ser uma boa amiga, a quem ele confidencia o que lhe vai na alma, e passo a citar: “Falávamos da vida. Contei-lhe como eram os meus dias; ela parecia não acreditar que alguém pudesse viver num sítio fora do mundo. Um não-lugar. (…) nós, os recuados, tínhamos um problema com tudo o que não fosse o presente. O passado estava perdido, e sem este não se tem esperança nem crença; por isso nunca projectávamos os dias que haveriam de chegar, e só fazíamos pequenos planos.”

E, apesar de nos incomodarem determinados acontecimentos, de nos angustiarmos com a frustração que, na maior parte das vezes, assola as personagens, cuja vida se faz de pó e em pó terminará, fica sempre uma luz, uma esperança ao fundo deste túnel de pó. No meu entender, Júlia é a candeia que lhe permite ver essa réstia de luz.

Não foi dos melhores livros que li sobre a temática. Tendo vivido, ainda que muito nova, esta realidade, torno-me mais exigente na forma como é abordada. Ainda assim, vale a pena ler e está muito bem escrito.

Lagerlöf, Selma (2017). O Tesouro. Lisboa: Cavalo de Ferro, 3ª edição.


Nº de páginas: 100

Início da leitura: 01/04

Fim da leitura: 02/04

O Tesouro é um clássico da literatura europeia, escrito por Selma Lagerlöf, traduzido do sueco por Liliete Martins.

De realçar que Selma Lagerlöf foi a primeira mulher a ganhar um Prémio Nobel da Literatura.

Gostei muito deste livro, porque, apesar de pequeno, é uma história cativante e que não carecia de mais enredo, uma vez que tem tudo. Aborda temáticas relacionadas com a riqueza, a família, a morte, o amor, a traição, a vingança… No verdadeiro sentido da palavra, é um tesouro!

Tudo se passa numa pequena cidade costeira, onde, apesar de o verão já ter chegado, o mar continua gelado, impedindo alguns soldados de partirem nos seus barcos.

A ação tem início com a personagem Torarin, um vendedor de peixe, que segue numa carroça, tendo por companhia o seu cão, com o qual vai conversando. Um cão com um dom premonitório, que Torarin não deveria ignorar. Quando para em casa do Sr. Arne, um ancião muito conceituado e rico, o cão uiva, mas o dono não liga e senta-se a jantar, como já era hábito, com Arne e a sua família. Durante o jantar, a esposa de Arne fica lívida e menciona que ouve, ao longe, o barulho de facas a serem afiadas. Ninguém lhe dá crédito.

Torarin, após a refeição, segue viagem. No dia seguinte, fica a saber que a casa do Sr. Arne foi assaltada e consumida pelo fogo. A família terá sido chacinada, com exceção da filha adotiva Elsalill, que se terá escondido atrás do fogão. Torarin, com pena da rapariga, leva-a para sua casa.

É aqui que a história ganha contornos de fábula e se misturam fantasia, superstição e religião.

Torarin não sabe se sonhou ou se, de facto, aconteceu. Mas, recorda-se de, ao passar novamente por casa do Sr. Arne, um criado lhe ter dito para entrar e jantar com o Sr. Arne, que o esperava. Surpreendido por ver a casa sem vestígios da destruição que tinha visto com os seus próprios olhos (apesar de não ver a arca do tesouro), não entende quando se senta a jantar com Arne e a sua família. Este fala em vingança e diz que não terão sossego nos seus túmulos, enquanto não forem capturados os assassinos. Incumbe a neta, a mais jovem, de levar a cabo essa vingança.

Entretanto, há um jovem que se aproxima mais de Elsalill, a quem ela não reconhece e por quem acaba por se apaixonar.

Quando a sua “irmã” lhe aparece, sente-se encurralada. O que deverá fazer, fugir e casar com aquele homem que ama ou ajudá-la na vingança merecida? Uma decisão difícil que só poderão saber como terminou se lerem o livro, que muito aconselho!

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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