Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Esquível, Laura (2020). O Diário de Tita. Alfragide: Edições ASA.







Nº de páginas: 304

Início da leitura: 16/07/2021

Fim da leitura: 17/07/2021

 

O Diário de Tita é um romance de Laura Esquível, traduzido por Tânia Sarmento e que nos dá conta dos segredos que estiveram por detrás da família De la Garza do célebre Como Água para Chocolate.

 

Sinopse:

“Todas nós, cozinheiras, sabemos que dentro das panelas acontecem coisas maravilhosas. Há amor. Há união. Há fogo. Há paixão. Tudo se dissolve. Tudo se mistura. Tudo se transforma. E é isso que eu ofereço a Pedro todas as manhãs. O meu amor transformado em cheiro, em sabor, em calor. Quem diz que isso não é fazer amor?
Tita de la Garza cumpre a tradição do seu país e dedica a sua vida a cuidar da mãe. No seu rosto, sempre um sorriso. No coração, uma mágoa profunda que apenas o seu diário conhece…

Nas páginas gastas deste caderno, Tita revela a sua alma. De receitas a recordações, desenhos a fotografias, amores torturados a infidelidades, é neste local sagrado que Tita partilha os segredos do seu coração.

Um livro íntimo que acompanha todos os passos da família De la Garza - e em que Laura Esquivel nos mostra os mágicos e secretos fios com que se teceu a trama de Como Água para Chocolate, a maravilhosa história que encantou o mundo.”

 

Opinião:

Um livro completamente diferente, em termos gráficos, com a configuração de um diário, não só pelo tipo de letra desenhada, mas pelas imagens de colagens, desenhos, cartas e fotos e pela sugestão de páginas queimadas, de um diário que resistiu às chamas para nos revelar segredos e nos deliciar com a história e as receitas de Tita.

Além do aspeto gráfico, é, Como Água para Chocolate, um livro muito bem escrito. Uma escrita simples, mas íntima, poética, mágica e, realmente, deliciosa. Dramas familiares que se cruzam com tradições mexicanas, muito bem retratadas. Um livro que aconselho vivamente!

Apesar de ser o segundo livro de uma trilogia, é possível ler-se sem se ter lido o primeiro, se bem que o primeiro seja realmente muito bom.

Coelho, João Pinto (2015). Perguntem a Sarah Gross. Alfragide: Publicações Dom Quixote.



Nº de páginas: 448

Início da Leitura: 13/07/2021

Fim da Leitura: 16/07/2021

Sinopse:

“Em 1968, Kimberly Parker, uma jovem professora de Literatura, atravessa os Estados Unidos para ir ensinar no colégio mais elitista da Nova Inglaterra, dirigido por uma mulher carismática e misteriosa chamada Sarah Gross. Foge de um segredo terrível e procura em St. Oswald’s a paz possível com a companhia da exuberante Miranda, o encanto e a sensibilidade de Clement e sobretudo a cumplicidade de Sarah. Mas a verdade persegue Kimberly até ali e, no dia em que toma a decisão que a poderia salvar, uma tragédia abala inesperadamente a instituição centenária, abrindo as portas a um passado avassalador.

Nos corredores da universidade ou no apertado gueto de Cracóvia; à sombra dos choupos de Birkenau ou pelas ruas de Auschwitz quando ainda era uma cidade feliz, Kimberly mergulha numa história brutal de dor e sobrevivência para a qual ninguém a preparou.

Rigoroso, imaginativo e profundamente cinematográfico, com diálogos magistrais e personagens inesquecíveis, Perguntem a Sarah Gross é um romance trepidante que nos dá a conhecer a cidade que se tornou o mais famoso campo de extermínio da História. A obra foi finalista do prémio LeYa em 2014.”

Opinião:

É sempre com imenso prazer que leio um livro de João Pinto Coelho, um escritor completo, que concilia boas histórias, criatividade, boa escrita, ritmo cinematográfico, o que nos deixa sempre irremediavelmente presos às histórias. A narração é alternada entre a época de 1923 e a de 2013, de forma bem concebida.

Entendo perfeitamente a razão de o autor ter sido finalista do Prémio Leya em 2014 com este livro. E creio que seria um justo vencedor, não menosprezando o Pão-de-Açúcar de Afonso Reis Cabral.

Gosto da forma como Pinto Coelho escreve sobre o Holocausto, como desenvolve as questões políticas que estiveram por detrás da História e não apenas o falar por falar de muitos livros que apostam logo, nos seus títulos, em Auschwitz e Birkenau, para se tornarem mais vendáveis. As personagens são credíveis, fortes, muito bem trabalhadas. Sentimos com elas, ouvimos histórias com elas, queremos, como elas, saber mais e perceber tudo o que se passou e, finalmente, surpreendemo-nos com elas e como elas!

É uma história sem heróis, mas com seres humanos, com tudo o que têm de bom e de mau. Ninguém, afinal, é perfeito, não é? E o comportamento destas personagens desperta-nos sentimentos de impotência, de resistência, de arrogância, de repulsa, de indignação, mas também de admiração, de comunhão, de alívio, de perda e de luto. E, ainda que seja um tema pesado, não deixa de nos suscitar ternura e despertar alguns sorrisos. É um livro duro, que nos abana e que toda a gente devia ler! É um livro completo.

Isaac, Maria (2017). Onde Cantam os Grilos. Lisboa: Cultura Editora.


Nº de páginas: 296

Início da leitura: 11/07/2021

Fim da leitura: 12/07/2021

Onde Cantam os Grilos é um romance de Maria Isaac, nascida no norte de Portugal e residente em Lisboa, finalista do Prémio Fundação Eça de Queiroz 2019 e a voz do podcast literário “Palavra”.

SINOPSE:

“Ainda bebé, Formiga foi deixado num cesto nos degraus da casa da Herdade do Lago.

O mistério da sua chegada é apenas mais um na longa história da herdade e das várias gerações dos Vaz, que a assombra de lendas e maldições: uma fonte inesgotável de mistérios fascinantes para a imaginação do rapazinho cabeça de vento.

Deslumbrado pela vida da família que venera de forma atrapalhada, Formiga corre e trepa a árvores, encolhe-se, faz-se invisível, inventa um pouco de tudo para conseguir acompanhar conversas, descobrir mais um segredo.

Mas o último segredo que ele descobre revela-se demasiado grande para a curiosidade bem-intencionada de uma criança, e um erro seu acaba por destruir o único mundo que conhece e pôr fim à sua infância.

Mais de vinte anos depois, Formiga regressa à Herdade do Lago e escreve para um leitor invisível, relembrando tudo o que foi e que não deveria ter sido.

Uma história doce contada pela voz de um adulto que fala pela criança que foi um dia."

OPINIÃO:

Com a simplicidade de um narrador de 10 anos, que se vai apaixonando por poesia, a história chega-nos através de Formiga, a criança que fora deixada num cesto na Quinta do Lago e que foi acolhida e educada pela estranha família Vaz.

Gostei da forma como está escrito, pois a linguagem retrata as personagens que a utilizam, permitindo-nos imaginá-las a tecer algumas considerações entre elas.

É um drama familiar, a que Formiga assiste, vivendo todos os anseios e problemas da família que o acolheu. Em toda a narrativa, vamos tendo regionalismos, menção a tradições, iguarias e superstições do norte do país, o que o torna mais verosímil.

Formiga é uma criança aplicada nas tarefas que lhe são distribuídas. Adora a natureza, calcorrear a quinta, subir às árvores, entre outras. Gosta de saber tudo o que se passa com todos os membros da família. Uma família repleta de segredos, de paixões moralmente não aceites.

Vai desenvolvendo um gosto especial por poesia, que regista num caderno que lhe foi oferecido por Fernando e que passa a ser o seu grande tesouro.

Numa linguagem fluída, damos por nós a dar colo a esta criança, que depressa se torna o nosso Formiguinha e que queremos acompanhar até ao fim. Não sei se esse fim foi o melhor. Senti que faltava algo. Outro aspeto que considerei um pouco forçado, foi a inspiração no “Amor de Perdição”, porque a perdição de amor poderia ser mais consistente e trabalhada.

Em todo o caso, no computo global, gostei.

Nº de páginas: 224

Início da leitura: 10/07/2021

Fim da leitura: 11/07/2021

1984, A Novela Gráfica é uma adaptação do clássico de George Orwell por Fido Nesti, publicada em 2020 pela Penguin Random House.

Sinopse:

“No ano 1984, Londres é uma cidade lúgubre, em que a Polícia do Pensamento vigia de forma asfixiante a vida dos cidadãos. O mais grave dos crimes é ter uma mente livre.

Winston Smith é um peão nesta engrenagem perversa e a sua função é reescrever a História para a adaptar ao que o Partido considera a versão oficial dos feitos. É o que faz, até decidir questionar a verdade do sistema repressor. Na ânsia de liberdade e verdade, arrisca a vida ao apaixonar-se por uma colega, a bela Julia, e rebelar-se contra o poder vigente.

Publicada originalmente em 1949, a obra mais poderosa de George Orwell é, pela primeira vez, adaptada a novela gráfica, no traço do artista brasileiro Fido Nesti, que capta magistralmente os rostos, corpos e cenários de um mundo que, cada dia, é menos difícil de imaginar.”

Opinião:

Esta distopia, com uma realidade prevista quando a obra foi escrita, em 1949, faz-nos pensar que Orwell era um visionário. Não estaremos todos, hoje em dia, sob a mira do “grande irmão”?

Mas quando essa mira é posta ao serviço de um governo totalitarista, lembrados a toda a hora, por cartazes que indicam que “O Grande Irmão está a ver-te”, obrigados a viver “graças a um hábito transformado em instinto”, vigiados de forma constante e meticulosa pelos telecrãs, não podendo manifestar jamais qualquer sentimento (nem sequer de espanto), celebrando “A Semana do Ódio”, constatamos que não é fácil viver sem que se sentir atemorizado, receoso de cometer alguma imprudência. A ação decorre em Londres, designada como Pista Um e Winston Smith vive sob essa pressão, temendo até lembra-se do passado, da mãe e da irmã. Receia manifestar o que realmente pensa (“eu odeio o Grande Irmão”), pois a Polícia do Pensamento está sempre atenta. Então, a verdade tem, necessariamente, de passar a ser a do Partido. Ninguém é livre de viver nem de pensar. Até a língua, sujeita ao novo e reduzido Dicionário de Novilíngua, é uma forma de repressão, porque a tacanhez de espírito é muito conveniente a um Partido repressivo como o vigente.

Gostei muito deste livro, penso que não desvaloriza a obra original e confere-lhe, se possível, mais vivacidade, através do poder evocativo da imagem. As ilustrações são impressionantes, duras, captando de forma tão intensa os pensamentos, emoções, medos e vidas das personagens, que, em alguns momentos, nos arrepiam e nos levam a sofrer com elas.

Melo, Filipe e Cavia, Juan (2021). Balada para Sophie. Lisboa: Penguin Random House Grupo Editorial.

Nº de páginas: 320

Início da Leitura:10/07/2021

Fim da Leitura: 10/07/2021

Balada para Sophie é uma novela gráfica, escrita por Filipe Melo e ilustrada por Juan Cavia, que acabou de vencer os Prémios Bandas Desenhadas 2020 em três categorias: publicação, argumento e ilustração nacionais. Foi também Prémio Livro do Ano Bertrand na categoria de melhor livro de ficção lusófona, a par de O Mapeador de Ausências de Mia Couto. Bem merecidos estes prémios.

Esta novela gráfica é, de facto, extraordinária. Além de ilustrações maravilhosas, o argumento é, realmente, uma delícia.

Sinopse:

“Cressy-la-Valoise, 1933

Dois jovens pianistas, nascidos numa pequena vila francesa, cruzam-se num concurso local. Julien Dubois, o herdeiro privilegiado de uma família rica, e François Samson, o invisível filho do responsável pela limpeza do teatro. Nessa noite, um deles venceu.

Cressy-la-Valoise, 1997

Uma enorme mansão é abalada pela inesperada visita de uma jornalista. Numa nuvem de cigarros e memórias, algures entre a realidade e a fantasia, Julien vai compondo, como numa partitura, uma história sobre o preço do sucesso, rivalidade, redenção e pianos voadores. Afinal, algum deles alguma vez terá vencido? E haverá ainda alguma música por tocar?”

OPINIÃO

Devo dizer que não consegui largar este livro enquanto não o terminei. É uma verdadeira delícia. Uma história profunda que não nos deixa indiferentes. Daquelas que não esqueceremos tão facilmente.

Começamos com a visita de Adelina, que se apresenta em casa de um antigo pianista famoso, Julien Dubois (que ficou conhecido sob o nome artístico de Eric Boujour), como uma jornalista do Le Monde, para fazer uma entrevista. Depois de recusar e de ela ficar a dormir ao relento à porta de sua casa,  Julien acaba por aceder a dar-lhe a entrevista. É aí que passamos a conhecer o verdadeiro Julien Dubois, como se tornou pianista, quais as verdadeiras motivações, as rivalidades, o mundo da fama e o pedantismo, o que o tornou, aos seus olhos, um vilão.

E mais não conto, porque aconselho vivamente a deliciar-se com esta excelente obra. Bem escrita, com um argumento incrivelmente bom! Este protagonista é um anti-herói, que nos revolta e, ao mesmo tempo, nos comove. Duro, verosímil e enternecedor, é uma leitura a não perder!

“É incrível a força que se ganha…Quando alguém acredita em nós mais do que nós próprios.” (pág. 103).

NG, Celeste (2014). Tudo o Que Ficou Por Dizer. Alfragide: Edições ASA.

Nº de Páginas: 248

Início da leitura: 06/07/2021

Fim da leitura: 09/07/2021

Tudo o que Ficou por Dizer é um romance escrito pela norte americana Celeste Ng, traduzido por Cristina Correia.

Sinopse

«"Lydia morreu. Mas eles ainda não sabem."

Começa assim o avassalador romance de Celeste Ng. É de manhã, a família desperta para o pequeno-almoço. O pai, a mãe, o filho mais velho e a filha mais nova. Há, porém, um lugar vago à mesa e um silêncio que pesa. A filha do meio, a favorita dos pais, está ausente.

Como morreu, ou porque morreu, é para já um enigma. Há um inquérito, dúvidas, suspeitas e acusações. E uma teia delicada de dramas antigos, de segredos, que se vão desvendando pela voz (e pelo olhar) de cada um dos elementos da família. Apaixonamo-nos por eles, tão expostos (e tão frágeis) nesse momento de perda. Conhecemos a mãe, loura e de olhos azuis, que abandonou o sonho de uma vida pela filha - a quem depois virá a exigir o impossível. O pai, de ascendência chinesa, que projeta na única filha de traços ocidentais a sua própria integração na América. E conhecemos os irmãos de Lydia, a quem foram dadas apenas as sobras do amor - mas que nem por isso deixaram de a amar.

Tudo o que Ficou por Dizer é um romance pungente, narrado numa voz terna, por vezes poética, sempre precisa. É uma obra sobre os não-ditos, os abismos que se abrem nas famílias, os esquecimentos do amor. E sobre esse enorme mistério chamado Lydia, que na hora da sua morte ofereceu à família, por fim, uma hipótese de redenção.»

Opinião: Inicialmente, pensei que se tratava de um thriller. Porém, à medida que fui lendo, apercebi-me que é um drama familiar. Mas não é um drama familiar lamechas, antes pelo contrário. Este livro é forte, duro e faz-nos refletir. Esta família sui generis, que começou com um casamento que nunca foi aceite pela avó materna de Lydia (que nunca chegou sequer a saber da existência dos netos), tem uma vida que, provavelmente, muitos têm, com as dúvidas, o questionamento do papel de cada um no seio familiar, a transposição dos sonhos dos pais para os filhos (ignorando ou fazendo por ignorar que isso os poderá tornar muito infelizes), a distinção entre os filhos, as dúvidas existenciais, as dúvidas no casamento, as relações extraconjugais, as relações e opções sexuais… A história começa precisamente pelo fim: a Lydia, uma das filhas do casal, morreu. A partir daí, alternando tempos da narrativa, vamos tentando perceber se houve um crime e o que poderá ter provocado a morte de Lydia. Num ritmo por vezes lento, outras vezes rápido, integramos esta família para a acompanharmos nos seus dramas. É fácil tentar percebê-las, de tão verosímeis que são as personagens. Numa escrita agradável, surge um drama bem articulado e que, muitas vezes, nos choca e nos faz pensar como os pormenores podem ser fundamentais no seio familiar. Muitas vezes, pensamos que conhecemos bem as pessoas, que cuidamos delas, que as vemos. Mas será assim?

Aconselho a leitura deste livro, que não me deixou indiferente.


Dewitt, Jasper (2021). O Paciente. Amadora: TopSeller.

Nº de páginas: 208

Início da leitura: 05/07/2021

Fim da leitura: 05/07/2021

O Paciente é um thriller escrito por Jasper Dewitt e traduzido por Marta Mendonça.

Confesso que parti para esta leitura já algo apreensiva, pelas críticas negativas que tinha lido. Porém, não consigo apreciar um livro se não o li. Porém, a referência a uma semelhança com A Paciente Silenciosa de Alex Michaelides, que adorei, também constituía uma motivação.

Sinopse:

“Os nossos receios mais profundos e as nossas recordações mais dolorosas são o que o alimenta.

Numa série de publicações online, Parker H., um jovem e ambicioso psiquiatra, relata o seu terrível trabalho num hospital psiquiátrico e o seu esforço para curar um paciente desconcertante e muito perigoso: um homem de 40 anos que está internado desde os 6. Trata-se do caso mais difícil da instituição, pois o paciente não tem diagnóstico conhecido, e os seus sintomas parecem evoluir com o tempo. Cada pessoa que tentou tratá-lo foi levada à loucura ou ao suicídio.

Desesperados e temerosos, os diretores do hospital mantêm-no rigidamente confinado e permitem apenas o contacto indispensável com a equipa para a segurança de todos, convencidos de que libertá-lo representaria uma séria ameaça para a sociedade.

Parker assume a responsabilidade de descobrir o que aflige esse paciente misterioso, com o objetivo de o curar. Mas as coisas fogem ao seu controlo desde o primeiro encontro. E, diante de uma possibilidade inimaginável, Parker é forçado a questionar tudo aquilo em que julgava acreditar.”

Opinião: Primeiramente, este livro nada tem a ver com A Paciente Silenciosa. Este é um livro muito fraco, que, para além de não ter grande substância, tem uma escrita que não me atrai. Inclusive a apresentação da história como publicações num fórum de psiquiatras. Também achei o enredo pouco credível, em vários aspetos: o processo o paciente, as tentativas de cura, a família, o facto de estar internado há tantos anos… Então, a partir do momento em que, de repente, surge uma explicação sobrenatural vinda do nada, foi o descalabro total. Não há comparação possível entre este e A Paciente Silenciosa, esse sim estimulante, bem escrito e com um enredo que nos prende do início ao fim.

Só não deixei a leitura a meio, porque raramente o faço.


Haig, Matt (2021). A Biblioteca da Meia-Noite. Amadora: TopSeller.

Nº de páginas: 336

Início da Leitura: 03/07/2021

Fim da Leitura: 04/07/2021

A Biblioteca da Meia-Noite é um romance escrito por Matt Haig e traduzido por Ana Mendes Lopes.

“Sinopse do livro:

Se pudesses escolher a melhor vida para viver, o que farias?

No limiar entre a vida e a morte, depois de uma vida cheia de desgostos e carregada de remorsos, Nora Seed dá por si numa biblioteca onde o relógio marca sempre a meia-noite e as estantes estão repletas de livros que se estendem até perder de vista. Cada um desses livros oferece-lhe a hipótese de experimentar uma outra vida, de fazer novas escolhas, de corrigir erros, de perceber o que teria acontecido se tivesse escolhido um caminho diferente. As possibilidades são infinitas e vários horizontes se abrem à sua frente.

Mas será que algum desses caminhos lhe proporciona uma vida mais perfeita do que aquela que conheceu? Na altura da escolha final, Nora terá de olhar para dentro de si mesma e decidir o que de facto lhe preenche a vida e o que faz com que valha a pena vivê-la.

A Biblioteca da Meia-Noite transformou-se num bestseller a nível internacional, com um milhão de livros vendidos em todo o mundo.”

Opinião: Escrito numa linguagem simples, fluída e, ao mesmo tempo, intensa, este livro veio no momento certo. De cariz filosófico, a história é a resposta à pergunta que se coloca na sinopse: “Se pudesses escolher a melhor vida para viver, o que farias?”

É quando Nora decide morrer, num momento em que tudo lhe corre mal, desde a morte do gato à perda do emprego, à desistência do seu casamento…que encontra um vasto número de possibilidades nesta Biblioteca da Meia-Noite. Esta confere-lhe a oportunidade de experimentar as vidas que poderia ter escolhido, as milhares de hipóteses que foi descartando ao longo da vida e que constam do “Livro dos arrependimentos”. Mas, acontece que, após cada deceção experienciada, regressa sempre a esta biblioteca, a qual só desaparecerá, se ela encontrar a vida que quer realmente viver ou que, de algum modo, faça sentido viver. Esta busca ontológica, surge, assim, em forma de fábula, “entre vidas” ou numa “vida paralela”, totalmente irreal, mas cativante.

É inevitável não nos identificarmos com alguns dos arrependimentos. Todos nós, de uma maneira geral, nos questionamos se vivemos a vida que sonhámos, como escolhemos viver esta vida, o que determinou essas escolhas.

De certa forma, apesar de considerar a premissa maravilhosa, esperava mais substância, menos previsibilidade, menos otimismo, uma vez que toca em temas sobejamente importantes, como o suicídio, a depressão, os receios, os arrependimentos, as indecisões, as tomadas de decisão, que nem sempre são as melhores, nem as que desejamos. Uma boa leitura de verão, quando precisamos repor energias e encarar com otimismo o que a vida nos possa reservar.

Tyce, Harriet (2021). As Tuas Mentiras. Amadora: TopSeller.

Nº de páginas: 384

Início da leitura: 01-07-2021

Fim da leitura: 03-07-2021

As Tuas Mentiras é um thriller escrito por Harriet Tyce e traduzido por Marta Mendonça.

Apesar de, em alguns momentos, a história se revelar um pouco lenta, gostei bastante deste livro. É um thriller psicológico que envolve temáticas bastante atuais e pertinentes. Não haverá, em todas as escolas, uma comunidade de mães/pais que exercem uma enorme pressão sobre os filhos para que sejam os melhores, tenham as melhores notas, entrem nas melhores Universidades? E quantas vezes estes pais procuram médicos que receitam estimulantes para a memória dos filhos, alegando que andam cansados por causa dos testes e que precisam de uma ajudinha? E a pressão exercida sobre os miúdos, a competitividade que lhes é passada?

Outro assunto atual: a pedofilia e a forma como, algumas pessoas, ainda que formadas e informadas, desvalorizam e atribuem as culpas à forma como as crianças se vestem, se pintam, se comportam, como se isso fosse a desculpa para o “ataque” de um pedófilo sem escrúpulos!?

Não menos importante, o tema da corrupção. Quantas pessoas se veem envolvidas em empresas fraudulentas, acabando por, sem querer, pôr em risco a própria família?

Sadie Roper regressa a Londres com a filha, Robin, à casa da sua infância, da sua falecida mãe, apesar de não ter as melhores memórias desses tempos. Sadie deixa para trás o marido, que a terá traído e tenciona retomar a sua atividade profissional, como advogada criminal. Consegue inscrever a filha na escola que frequentou na infância, apesar de ser muito difícil obter vaga. Pensa que esta exceção se terá devido ao facto de também ela ter sido uma antiga aluna dessa escola.

É nesta escola que Sadie encontra a tal comunidade de mães que estimulam uma competitividade entre as filhas, que não é, de maneira nenhuma, saudável. Se nem tudo corre bem nesta adaptação de Robin à nova escola, também profissionalmente não corre tudo às mil maravilhas. Sadie vê-se perante um caso, aparentemente de fácil resolução, mas que a intriga e incomoda. Também o regresso às memórias dos tempos em que viveu naquela casa com a sua mãe, não são as melhores. Apesar de, aos poucos, começarem a integrar-se melhor a comunidade local, nem tudo corre bem.

Aconselho a leitura deste livro para quem gosta de thrillers psicológicos, uma vez que nos envolve, está bem escrito e aborda temáticas bastante pertinentes.

Kelly, Julia (2021). A Luz sobre Londres. Amadora: TopSeller.

Nº de páginas: 336

Início da leitura: 26/06/2021

Fim da leitura: 28/06/2021

A Luz sobre Londres é um romance de ficção histórica de Julia Kelly, traduzido por Rita Carvalho e Guerra.

Inspirada num livro que leu sobre as artilheiras da Segunda Guerra Mundial, a autora deste livro, parte deste momento histórico e destas mulheres do Exército, Serviço Territorial Auxiliar, que trabalhavam no Comando Antiaéreo defendendo os céus de Londres, recrutadas pelas suas aptidões, para nos contar duas histórias que se entrecruzam, e que misturam, na perfeição, ficção e realidade.

Cara, recém-divorciada, discreta e extremamente curiosa e perspicaz, quando incumbida de analisar e avaliar os bens de uma propriedade antiga, descobre, numa das caixas que verifica, um diário que data da II Guerra Mundial. Fica irremediavelmente presa a este e aos protagonistas do mesmo, principalmente à sua autora, Louise Keene, de quem encontra uma foto na qual reconhece um uniforme também usado pela sua avó. Acaba por se envolver na leitura do diário e por tentar encontrar a sua autora. A partir daqui, temos as duas narrativas a surgirem num processo de alternância e que, de alguma maneira, têm ligações que cruzam segredos de duas famílias.

Louise vivia numa pequena aldeia na Cornualha e, aos 19 anos, era completamente submissa aos pais. Considera-se uma rapariga tímida e apagada, deixando que seja a prima, Kate, totalmente diferente dela e que prendia todas as atenções sobre si, a brilhar onde quer que fossem, se bem que não era muito dada a saídas. Tinha já o seu futuro delineado pelos pais, inclusive o futuro noivo, que havia partido para a guerra, por quem deveria esperar para se casar e formar família. Foi quando a prima a convenceu a sair um dia, à noite, que se faria luz sobre os seus próprios objetivos de vida. Nessa noite conheceu Paul, um piloto da Força Aérea Britânica que a faria repensar a sua vida, os seus sonhos e o seu destino. Quando ele partiu, decidiu alistar-se no Exército e foi então que integrou a unidade de baterias antiaéreas e se tornou artilheira.

Que destino estaria reservado a Louise? Conseguiria ela sair incólume de uma guerra tão cruel, numa função que colocava a sua vida constantemente em risco?

E relativamente a Cara, onde a conduzirá a leitura do diário de Louise?

Fica o convite para mergulhar com Cara na leitura deste Diário e seguir a vida destas mulheres-coragem, as artilheiras, e perceber de que forma a vida das duas mulheres se interliga.

Bem escrito para o género, a autora consegue cativar-nos e prender-nos à história.

Mola, Carmen (2021). A Noiva Cigana. Lisboa: Suma das Letras.

 


Nº de páginas: 368

Início da leitura: 24/06/2021

A Noiva Cigana é um thriller escrito por Carmen Mola e traduzido por Raquel Nobre Guerra.

Um livro que nos prende desde o início e só conseguimos pousar quando terminado. Com uma premissa interessante, criativa, descrições sádicas, a par de uma alternância entre duas histórias que se interligam na perfeição, este é, atrever-me-ia a dizer, um dos melhores thrillers do ano.

Tudo começa com a morte de Susana Macaya, filha de pais ciganos, mas emancipada, a viver sozinha e com um estilo de vida em nada convencional. Desaparece durante a sua despedida de solteira, sendo encontrado o corpo dois dias depois, vítima de uma tortura macabra com larvas, tal como tinha acontecido com a irmã, Lara, que também fora morta em idênticas circunstâncias. Tudo leva a crer que o assassino é o mesmo. Mas como poderá ser o mesmo, se este se encontra preso? Não é assim tão linear e, a certa altura, estamos tão envolvidos no misterioso crime, que facilmente seguimos todos os passos da investigação levada a cabo pela equipa de Elena Blanco, uma detetive inteligente, de temperamento forte e enigmático, que gosta de Karaoke, de beber e tem uma obsessão com as imagens captadas por uma câmara de vídeo instalada na sua varanda e que lhe permite ver quem passa pelo parque. O que estará por trás dessa obsessão?

A não perder de vista pelos apreciadores deste género!

 Springora, Vanessa (2020). Consentimento. Lisboa: Alfaguara Portugal.

 

Nº de páginas: 184

Início da leitura: 22/06

Fim da leitura: 23/06

Consentimento é um pequeno grande livro autobiográfico da escritora parisiense Vanessa Springora.

De imediato, a leitura deste livro me deixou num tremendo mal-estar. O ritmo alucinante da narrativa, fez-me lembrar um desabafo que queremos expulsar o mais rápido possível de nós, como se a rapidez com que se conta esta história, pudesse torná-la menos penosa para quem a vivenciou, uma espécie de expurgação, como se algo que estivesse atravessado entre a alma e a escrita, pudesse sair como um vómito de tudo quanto a autora viveu, um vómito, onde possa, de uma vez por todas, libertar-se de um passado que ninguém se consegue imaginar a viver. É, por isso, um grande “murro no estômago” do leitor, que fica imediatamente preso à narradora, que entende que, apesar de muitas das situações descritas poderem ter sido evitadas, nem sempre tudo acontece como queremos e, muitas vezes, se consente no que é e deve ser inconsentido.

Afinal, o que pode estar por detrás de um consentimento? Será apenas vontade própria? Imaturidade? Vivências anteriores e desprendimento de que sempre se foi alvo? Consentimento por parte de um familiar?

Um grito de alerta para tantos e tantos consentimentos que há por aí, que, reprimidos, podem destruir uma pessoa. Um livro que mexe connosco e que aponta diretamente o dedo a um escritor francês conceituado, a cujas condutas reprováveis a sociedade foi sempre fechando os olhos. Quantas e quantas vítimas não continuam a ser ignoradas?

A quem ler: prepare-se para suster a respiração do início ao fim do livro, que vai, com certeza, ler de uma assentada!

North, Alex (2021). O Amigo das Sombras. Amadora: Topseller.

Número de páginas: 320

Início da leitura: 19/06

Fim da leitura: 20/06


O Amigo das Sombras é um thriller escrito por um autor inglês sob o pseudónimo de Alex North e traduzido por Pedro Póvoa.

Intercalando o passado e o presente, há ainda, passados 25 anos, um mistério que nasce das sombras do bosque e ensombra as personagens por meio de “sonhos lúcidos”. Quando um crime do passado se volta a repetir no presente, pela projeção que teve entre os jovens, nos esconsos mais sombrios da Internet, tudo é questionado e as dúvidas permanecem no ar, as sombras vão tratando de ocultar os verdadeiros acontecimentos, desvendados apenas no final da história.

Charlie Crabtree era um jovem sinistro, de sorriso sombrio e que terá cometido um crime que chocou toda a comunidade. Paul Adams está de volta, passados todos estes anos, à sua terra natal, para se despedir da mãe, bastante doente, a viver numa casa de repouso. Ainda assim, em breves momentos de lucidez, a mãe alerta-o e pede-lhe que não volte a casa. O que se esconderá, passados todos estes anos, em casa de Paul? Terá ainda Charlie, que desaparecera misteriosamente há 25 anos, alguma coisa a ver com os novos crimes? É o que vos convido a descobrir, acompanhando a inspetora Amanda Beck nas investigações.

Este é um livro que se lê num ápice, apresentando uma linguagem simples, mas bem estruturada. É uma história bem construída e cativante, muito na linha de Stephen King (não fossem os protagonistas apreciadores e leitores compulsivos de King).

Aconselho a leitura!

Frank, Anita (2021). Os Desaparecidos. Lisboa: TopSeller

Nº de páginas: 416

Início da Leitura: 14/06/2021

Fim da Leitura: 18/06/2021

Os Desaparecidos é um livro que se insere no género literatura fantástica com laivos de gótico, escrito por Anita Frank e traduzido por Leonor Bizarro Marques.

Stella Marcham acabara de perder o noivo, Gerald, que a guerra ceifou demasiado cedo. A esta irremediável perda, juntam-se as recordações que teve enquanto enfermeira que vivenciou a guerra na frente de combate. Esta tragédia, acaba por fazê-la fechar-se em si própria e, apesar de os pais acharem que ela estava doente, Stella ripostava afirmando que apenas se sentia de luto.

Entretanto, é-lhe proposto pelo cunhado, Hector, que ela vá com ele para sua casa, uma vez que a irmã, Madeleine, precisa dela e poderia ser bom para ambas. Madeleine estava grávida e teria perdido um bebé antes do regresso de Stella. Stella decidiu levar com ela a criada, Annie Burrows, uma rapariga enigmática, que, apesar de a deixar desconfortável, é a única disponível para a acompanhar.

Já em Greyswick, a mansão rural da família de Hector, acaba por perceber que a irmã não está bem. Esta revela-se muito ansiosa e confidencia-lhe que ouve uma criança chorar e que não se sente segura ali. Também Stella começa a aperceber-se de situações estranhas, como o bebé que chora no quarto das crianças e os soldadinhos de chumbo que vão sendo colocados de forma a que ela os descubra e se amedronte.

Quando o cunhado regressa, traz consigo o Sr. Sheers, que lhe garantira que conseguiria provar que não existiam ali fantasmas, que era tudo fruto da imaginação das irmãs Marcham. Também o cunhado acredita que é tudo fruto da imaginação delas, não dando crédito aos acontecimentos que Madeleine lhe conta. Porém, quando vivencia uma situação em que, na sala onde se encontravam todos, sucedem acontecimentos muito estranhos, acaba por levar Madeleine consigo. Stella fica e tenta perceber o que se passa na mansão. Entretanto, descobrira que Annie tinha o poder, tal como tivera o pai dela, de comunicar com os mortos, que iam deixando pistas para ela ler. Mas serão mesmo entes mortos que pairam na mansão? Não será, como Sr. Sheers afiançava, fruto da imaginação das irmãs? Ou haveria alguém por detrás de todos os acontecimentos insólitos que decorrem na mansão?

Esta é uma história que, apesar de não avançar rapidamente, de ter alguns momentos um pouco lentos, vai-nos prendendo até ao fim.

Apesar de não ser uma apreciadora de fantasia, gostei deste livro. Mantém-nos presos à narrativa, com o suspense necessário para o leitor viver o adensar do mistério, se questionar e sentir curiosidade na resolução dos mistérios. As próprias descrições contribuem para criar esse clima místico e enigmático. A linguagem é fluente e ajuda na recriação de um ambiente de início do século XX.

Recomendo a leitura!

Novo, Isabel Rio (2018). A Febre das Almas Sensíveis. Lisboa: Dom Quixote.

Nº de páginas: 200

Início da leitura: 12/06/2021

Fim da leitura: 13/06/2021

A Febre das Almas Sensíveis, escrito pela portuense Isabel Rio Novo lê-se num ápice. É absolutamente viciante!

Ousaria começar com uma passagem da obra: “A quase todos nós, filhos do tempo, a eternidade inspira uma angústia involuntária, e o infinito, um medo misterioso. Talvez por isso gostemos das histórias de assombrações, que escutamos com um misto de arrepio e espanto.”

Foi com este misto de “arrepio e espanto” que adentrei nesta leitura.

Intercalando uma narrativa de primeira pessoa com uma de terceira, surgem-nos personagens distintas e uma teia de histórias que se cruzam e se fundam na própria História, em que a tuberculose, doença das multidões operárias das cidades, mal alimentadas e consumidas pelo excesso de trabalho, dos sobreviventes das guerras, dos estropiados, dos desnutridos, dos miseráveis. Essas eram, na verdade, as almas sensíveis.

Assim, é-nos contada a história de um “estranho” agregado familiar das Fontainhas, a par da visita a um sanatório em ruínas por uma jovem, que aí descobre umas páginas escritas e outros objetos, que funcionam como uma espécie de apontamentos que vai recolhendo, e ainda um outro narrador de terceira pessoa, que vai recordando vários tuberculosos famosos que foram vítimas desta doença, de entre médicos, professores e, essencialmente, poetas. E, essencialmente poetas, pela sua condição de almas sensíveis e frágeis, de quem mais facilmente a doença se poderia apropriar. De entre estes escritores, são referidos Walt Whitman, as irmãs Brontë, Anton Tchekov, Balzac e, entre nós, Cesário Verde, António Nobre, Júlio Diniz, Soares de Passos, Sebastião da Gama, José Duro, entre outros.

Uma narrativa engenhosa, extremamente bem escrita e cativante.

A história que mencionei no início é a da família de Alice e Manuel, cujos filhos foram nascendo em diferentes localidades de Portugal: Figueiró dos Vinhos, Peniche, Buarcos, tendo vivido ainda em Vila da Barca, Figueira da Foz, Coimbra, uma vez que Alice era professora e não tinha colocação efetiva. O pai dividia-se entre “vários sonhos e a frustração de nunca os ver concretizados”. Certo era, que não havia grande amor naquela casa, com uma mãe ausente e um pai que “oscilava entre a ternura e a severidade”. Eduardo assumia perante os irmãos, Gilberto e Armando, as responsabilidades dos pais ausentes. No meio desta desestruturação toda, Alice começa a trair o marido com outro homem.

Quando Armando apresenta a futura esposa à mãe, esta rege mal e, perante a afronta que sente quando Manuel se coloca do lado do filho, Alice decide que, a partir daquele dia, deixaria de ser mãe deles e nunca mais queria vê-los sequer. Gilberto foi o único que ficou com a mãe. Quando a mãe diz a Eduardo que nunca conseguirá concretizar o seu sonho de ser médico, este promete a si mesmo que o há de conseguir.

Armando acaba por casar com Natália e têm uma menina, a Laura. A criança é a primeira a morrer vítima de tuberculose. Armando acaba por ser internado num sanatório, no Caramulo.

É incrível a descrição minuciosa que é feita da vida de Armando no Sanatório, os amigos que faz, o que observa, a solidão que enfrenta, a morte a que assiste. É tudo de um realismo e, ao mesmo tempo, de uma poeticidade (um decadentismo romântico) que nos enternecem a alma.

Impressionante também é conseguir encontrar-se um ideal de beleza feminina nas feições marcadas por esta febre que tanta gente matou: “A palidez dos olhos húmidos, as faces enrubescidas e a rouquidão da voz sublinhavam a languidez dos corpos, a alvura dos dentes e a tonalidade dos cabelos, tornando os anjos tísicos modelos da estética feminina cultuada pelos românticos”.

Ter-se-á Armando curado e regressado a casa, para junto de Natália? E Eduardo, conseguiu ele formar-se? E Alice, conseguiu ela cumprir a sua promessa de nunca mais querer ver os filhos?

Certo é que é de forma febril que se lê este livro, absolutamente intenso e brilhante!

Carvalho, Cristina (2011). A Casa das Auroras. Lisboa: Planeta.

Nº de páginas:192

Início da leitura: 12/06/2021

Fim da leitura: 12/06/2021

A Casa das Auroras é um romance de Cristina Carvalho. A sinopse despertou-me logo a atenção. Quando comecei a ler, percebi que é daqueles livros que requer uma certa introspeção, um silêncio, para se poder entrar nesta casa e sentarmo-nos com as personagens a beber um chá redentor.

Esta é uma casa com pelo menos 300 anos e de mulheres, que a visitam. Porém, ninguém sabe quem são, nem por que se encontram ali todas as noites, nem quantas são. Consta ainda que nunca morrerão.

A narradora, de primeira pessoa, afirma que terá sido o mistério que envolve esta casa, as situações insólitas que por lá se passam, “inusitadas, estranhas, fantasmagóricas”, que a terão levado ali. É uma repórter e terá chegado ali com o intuito de escrever sobre uma morte ocorrida em condições estranhas. E nunca mais saiu dali. Sem conseguir desvendar o mistério, a Casa das Auroras constitui a mola que a faz viver, porque, ao mesmo tempo que a assusta, encanta e prende cada vez mais.

E onde fica esta casa? Supostamente situa-se num local ficcional, Quintas, uma pequena aldeia em Portugal. Pela descrição, chega-se lá por um desvio da praia da Calada.

Tiágostinho, o homem mais velho da aldeia, era pai de Bela, a rapariga desaparecida. Quando a narradora lhe pergunta pela filha e pela amiga, Alex, ele refere-lhe que elas continuam a aparecer na Casa, mas que ninguém as vê.

Quando a repórter visita a Casa das Auroras, fica numa espécie de letargia, um estado anestesiado, que a faz ver 6 mulheres sentadas à volta de uma mesa, a beber chá. Não se conheciam umas às outras e, todos os dias, eram mulheres diferentes. Eram as Auroras. Em torno da mesa, propõe-se contar os seus relatos, os seus segredos, as histórias que envolveram as suas mortes, os que as rodeavam, faziam parte das suas vidas, como se comportavam…

De entre essas histórias, temos, por exemplo:

-  A mais velha, de 91 anos, que conta a história da mulher-lobo, do padre que cai em tentações da carne e do filho que nasceu dessas circunstâncias;

- A mais nova, que sempre desejou flutuar, levitar no espaço, cuja professora de Moral implicava com ela por querer conhecer a Lua tal como Neil Armstrong ou Edwin Aldrin. Implicava também por ela usar calças (coisas de homem), estando, no entender da professora, possuída pelo demónio.

- A jovem de 20 anos, muito apaixonada, que viu desmoronar o seu sonho de amor durante um tremor de terra, na década de 60.

…

E outras tantas histórias, que aqui não conto, mas que poderão conhecer quando lerem o livro.

Numa escrita rica, a autora vai pintando uma série de quadros improváveis, mas com uma mestria que cativa o leitor.

Recomendo.

Gonçalves, Hugo (2019). Filho da Mãe. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 240

Início da Leitura: 09/06/2021

Fim da Leitura: 11/06/2021

 


Filho da Mãe é um romance biográfico de Hugo Gonçalves, no qual o autor faz uma incursão ao passado, na tentativa de recordar a mãe, o impacto que a sua doença e morte tiveram nele.

Não foi um tema fácil para mim, uma vez que me revejo sobretudo no que concerne à doença, de que foram vítimas os meus pais, com 49 e 55 anos.

Num relato pessoal e introspetivo, começa por nos contar sobre o momento em que perdeu a mãe, em 1985, tinha ela apenas 32 anos e ele 8. Vai intercalando vários momentos da sua vida, numa busca pelo passado, por tudo o que ficou esquecido nas brumas da memória e a procura que fez, ouvindo familiares e amigos que, de alguma forma, conheceram a mãe.

Em 2015, a avó entrega-lhe um saco de plástico com o testamento do avô, que ele só abrirá um ano depois.

Sobre a doença da mãe pouco sabia e pouco ficou a saber pelo pai que se fechou “à beira do precipício de uma depressão”.

Recorda que, quando tinha 8 anos, sabendo que a mãe estava doente, embora não se falasse nisso, achava que “se andasse pela casa de joelhos, esfolando a pele”, as suas feridas poderiam, de alguma maneira, substituir as da sua mãe. Nesta altura, combatia o mistério da doença, refugiando-se no sobrenatural e na ficção. Estas são breves recordações. Muitas são as perguntas que se coloca, uma vez que grande parte das suas vidas “em comum foi apagada”. Sabia apenas que “A doença era uma criatura incorpórea, capaz de atravessar paredes” e “O cancro: um apaixonado pacto suicida unilateral”.

Em breves conversas com o pai, anos depois, fica a saber que ele e a mãe tinham uma forte ligação.

Quando a mãe morreu, “…sentia a brutalidade da sua ausência – inarredável, sem solução, o silêncio soprado nas veias como no interior das paredes de uma casa devoluta.”

No momento em que o pai refez a sua vida com Rita, ele passou a andar com uma foto dela para não lidar “mais com o constrangimento de dizer aos novos colegas” que a mãe tinha morrido.

Aos 17 anos, entregou-se aos vícios - sexo, drogas e álcool – formas de “escapismo, um recurso simples para algo profundo”, porque “por vezes, revolta e autodestruição são a mesma coisa”.

Com quase 40 anos, assume, pela primeira vez, que a perda exige o luto. Foi então que abriu o testamento do avô.

Termino com mais uma frase do autor, que, quanto a mim, resume bem esta obra: “de todos os eventos biográficos da família, nenhum foi tão decisivo e irrevogável. A ausência da minha mãe é aquilo que sou”, sendo que a sua maior mágoa foi nunca se ter despedido da mãe.

Este foi um livro que li de forma íntima, revendo-me na dor sentida, nas perguntas que o autor ia colocando (“Como era a voz dela? Como era a voz do seu cansaço ou entrecortada por um soluço?... Qual o tom do seu riso? Cantava ao estender a roupa? Como dizia o meu nome?").

É impossível ficar indiferente, por exemplo, quando, ao falar do pai, refere: “Um homem que teve de a deixar no hospital, entregue a estranhos, que pegariam no corpo e o levariam para a morgue…O meu pai esperou na sala de embarque e entrou no avião sabendo que, nas duas horas e meia que se seguiam, a sua mulher morta estaria no porão, debaixo dos seus pés, viajando a três quilómetros da face da terra onde seria enterrada”.

Um livro que se lê com um aperto no peito, uma amálgama de memórias que nos contraem os músculos e nos fazem, inevitavelmente, deixar escapar umas lágrimas teimosas.

Silva, Rui da Conceição (2015). Quando o Sol Brilha. Barcarena: Marcador.

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 08/06/2021

Fim da leitura: 09/06/2021

Quando o Sol Brilha é um romance escrito por Rui Conceição Silva, um escritor português, nascido em 1963 em Figueiró dos Vinhos.

A ação decorre na Quinta dos jardins, em Granja dos Pardais, onde vive o narrador, Edmundo, a família, onde se inclui o pai de Edmundo, Felismino, também conhecido por Jardins, que deixou de reconhecer o próprio filho, a quem trata por vizinho e que passa os dias sentado numa cadeira à beira de uma janela, através da qual vê passar cavalos imaginários. Ficara assim desde que encontrou a mulher, Alice, morta na horta.

Numa linguagem metafórica e doce, onde perpassa a nostalgia de um passado perdido nas brumas da memória, o narrador relembra e conta-nos a sua vida. Os bons momentos da infância, da sua íntima relação com a natureza. Tornou-se uma pessoa triste, “refém da sua melancolia” quando, no fim da infância, aprendeu a “ler os rostos das pessoas”. Estudou apenas até aos dez anos, altura em que o pai o mandou pastar as ovelhas. Tinha um grande amor pelos livros e fazia-se acompanhar nos montes por livros que requisitava na biblioteca. A partir dos catorze anos, o pai arranjou-lhe emprego numa fábrica de fundição de vila velha. Casou com Evangelina e teve três filhos. 

O narrador alterna histórias das pessoas da aldeia e a sua própria história pessoal, utilizando uma linguagem coloquial típica da região que retrata. É uma pessoa feliz.

Mas há um acontecimento na vida do protagonista que lhe vai roubar os sonhos e que o faz ver, pela primeira vez, os mesmos cavalos que o pai via e aos quais chamava de “os filhos do vento”. Este incidente despoleta incidentes tristes que vêm transtornar e transformar Edmundo, trazendo-lhe um sofrimento tão intenso que “todos os olhos morreram de lágrimas”.

Enternecedora e comovente. Nesta obra perpassa a dor, a angústia, a revolta que vem como um gélido silêncio, que não se evita, não se contorna, apenas para ser mais bonito.

Até que ponto este sofrimento pode arrastar o protagonista para o limbo ao ponto de deixarem de se reconhecer? Será que, após mergulhar neste sofrimento absoluto, é possível livrar-se da noite que lhe morava na alma? É possível que o sol volte a brilhar?

Esta é uma história que nos dói, porque, apesar de ficcional, a reconhecemos de histórias que presenciámos, pessoas que conhecemos, histórias que ouvimos contar e, por isso mesmo, com uma verosimilhança que a torna avassaladora. 

Aconselho a leitura!

 

 

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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