Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

 Cooper, Gwen (2023). O Gato que Sobreviveu. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Raquel Espada

Nº de páginas: 272

Início da leitura: 27/03/2023

Fim da leitura:29/03/2023

**SINOPSE**

"A última coisa que Gwen queria era ter mais preocupações. Já tinha dois gatos, um emprego miserável e o coração partido. Foi então que a veterinária dos seus gatos lhe telefonou a partilhar a história de um gatinho cego abandonado com apenas três semanas de vida. Gwen não conseguiu evitar comover-se com o relato e tomou a decisão imediata de acolher o novo gatinho.

Foi amor à primeira vista. Todos a alertaram que o seu gato Homero (assim batizado em homenagem ao poeta cego homónimo, autor de Odisseia) seria sempre medroso e desajeitado, mas o gatinho em que ninguém acreditava cresceu rapidamente até se tornar um dínamo de três quilogramas com um coração gigante que criava laços de amizade com cada pessoa que se cruzasse no seu caminho.

A lealdade inabalável de Homero, a sua capacidade ilimitada de amar e o seu entusiasmo por superar obstáculos transformaram a vida de Gwen e inspiraram-na a seguir os seus sonhos. Mais tarde, quando conheceu o amor da sua vida, percebeu que Homero lhe tinha ensinado a lição mais valiosa de todas: o verdadeiro amor é invisível aos olhos.

O Gato Que Sobreviveu é uma história de superação, autoconhecimento e transformação capaz de nos emocionar e fazer compreender que, para conseguirmos o que queremos da vida, muitas vezes precisamos de dar um salto no escuro, confiar nos nossos instintos e acreditar que, tal como os gatos, cairemos sempre de pé."
Este livro é de uma doçura incrível. Os animais têm, de facto, o poder de mudar as nossas vidas, a nossa forma de pensar e atenuar as desigualdades. É um livro comovente, que nos faz sorrir, nos faz refletir sobre a capacidade de adaptação perante uma incapacidade física e a resiliência e, sobretudo, a capacidade de amar.
Gwen tem dois gatos e, quando decidiu adotar um gatinho cego, não sabia até que ponto a sua vida poderia mudar. O gato, que batizou de Homero, estava prestes a mostrar como viver uma verdadeira odisseia. Gwen vê-se obrigada a mudar tudo e todos os hábitos que poderiam, em sua casa, pôr em risco um gatinho cego. Mas Homero revela-se um gato mais aventureiro e ativo que qualquer gato com visão. Acaba, com o seu feitio, por despertar não apenas reações de pena, mas grande admiração e amizade por parte dos amigos de Gwen. 
Aconselho este livro, não só a quem gosta de gatos, porque dele tiramos várias lições. 

Ernaux, Annie (2022). Um Lugar ao Sol Seguido de Uma Mulher. Porto: Livros do Brasil.

Tradução: Eduardo Saló
Nº de páginas: 152
Início da leitura: 25/03
Fim da leitura:  27/03

**SINOPSE**
"Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, uma filha procura preencher um vazio que é seu, traçando em simultâneo um retrato coletivo sobre uma época, um meio social, uma ligação familiar. Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez cabe à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na história. Neste volume reúnem-se os dois textos de Annie Ernaux sobre estas perdas: Um Lugar ao Sol, sobre o pai, publicado em 1984 e vencedor do Prémio Renaudot, e Uma Mulher, sobre a mãe, lançado em 1988. Duas peças literárias fulgurantes, misto de biografia, sociologia e história, onde resplandece a ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto da quebra desse elo vital."
Este é um livro constituído por duas obras da autora. Este é um livro de memórias, que não pretendendo ser autobiográfico, não deixa de o ser efetivamente. Na primeira parte, "Um Lugar ao Sol", fala-nos da morte do pai. Em "Uma Mulher" fala-nos da perda da mãe, que passa também pela doença de Alzheimer. É, portanto um livro sobre estas perdas por que todos, mais tarde ou mais cedo, passam. Por isso, dependendo das nossas perdas pessoais, é natural que haja perceções diferentes do livro. Para mim, é um livro que me toca, que me remete para as minhas próprias perdas, para a dificuldade em lidar com os lutos da vida. A par desta visão intimista, sobressai também uma contextualização histórica, a pobreza em que os mais desfavorecidos viviam, em França. A coragem para se reerguerem dos escombros e montar um negócio que os transporia para uma pequena burguesia e que exigia comportamentos e formas de estar que se coadunassem com esta nova condição. Foram trabalhadores árduos, nem sempre sentiram a confiança que a inferioridade anteriormente incutida lhes deixou. Não é um livro para "devorar", mas para refletir e apreciar.
Vale a pena ler Annie Ernaux!

Garvin, Eileen (2022). A Música das Abelhas. Alfragide: Editora Leya.

Tradução: Ana Lourenço

Nº de páginas: 392

Início da leitura: 20/03

Fim da leitura: 24/03

**SINOPSE**

"Alice Holtzman, de 44 anos, vive numa cidade rural do Oregon e está presa a um emprego sem futuro, a recuperar emocionalmente da morte inesperada do marido. Começa a sofrer ataques de pânico pela reviravolta que a sua vida deu e nem mesmo as adoradas abelhas que cria na sua quinta, nos seus tempos livres, conseguem aliviá-la.

O encontro chocante com Jake, um problemático adolescente paraplégico, e o subsequente interesse sincero dele pelas suas abelhas levam-na a tentar resgatá-lo da vida tóxica que leva em casa. Na vida de Alice surge igualmente Harry, um jovem de 24 anos desesperado por trabalho, que responde ao anúncio publicado por ela quando procura alguém para ajudá-la na quinta.

Destes encontros nasce uma amizade inesperada que, com uma ameaça que paira sobre a comunidade em que vivem e sobre a população local de abelhas, leva o improvável trio a unir-se em defesa das abelhas e, no processo, Alice, Jake e Harry acabam por descobrir uma oportunidade para ultrapassar os seus problemas e talvez até conseguir, quando menos esperam, uma segunda oportunidade na vida.

Comovente, caloroso e animador, A Música das Abelhas fala do poder da amizade, da compaixão face à perda, e de encontrar a coragem de recomeçar, em qualquer idade, quando as coisas não correm como se espera."
Não vou contar nada em relação à história, uma vez que a sinopse já o faz muito bem. Apenas digo que é um livro muito bom, bem escrito e que vale a pena ler. As personagens, diferentes do que é hábito, são-nos apresentadas como o anti-herói. Alice não é uma personagem simpática ou atenciosa. É apenas ela própria, com defeitos e virtudes, mas com fortes convicções em relação àquilo em que acredita. Nem sempre tem a força necessária, porque carrega em si fantasmas do passado que a fragilizam e a enclausuram na sua "ilha". Jake é um adolescente paraplégico, que foi sempre muito problemático. E Harry procura emprego, após sair da prisão. Todos diferentes, acabam por se cruzar... Não é um livro de leitura compulsiva, mas reflexiva. Aqui, a depressão tem vários rostos e é um tema que nos angustia, mas que é uma realidade cada vez mais presente.

Burton, Jessie (2015). O Miniaturista. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Catarina F. Almeida

Nº de páginas: 404

Início da leitura: 18/03/2023

Fim da leitura: 19/03/2023

**SINOPSE**

"Num dia de outono de 1686, a jovem Nella Oortman, recém-casada com um próspero mercador de Amesterdão, Johannes Brandt, chega à cidade na expetativa da vida esplendorosa que este casamento auspicioso lhe promete. Mas, entre a amabilidade distante do marido e a presença repressiva da cunhada, Nella sente-se sufocar na sua nova existência.
Até que um dia, Johannes lhe oferece uma réplica perfeita, em miniatura, da casa onde vivem. Nella encomenda então a um miniaturista algumas peças para ornamentar a casa. Mas algo de surpreendente acontece: novas encomendas de miniaturas continuam a chegar sem terem sido solicitadas, como presságios silenciosos de futuras tragédias.
Um romance de estreia magnífico, sobre amor e traição, que evoca com grande sensualidade a atmosfera da Amesterdão do século XVII."
Uma história intrincada e muito bem construída. Penso quer nunca me esquecerei desta história, tão intensa, tão dramática, uma história que se apodera de nós desde o início e que, ao longo das 404 páginas, não tem momentos mortos e nos faz continuar a ler, numa grande ansiedade, sempre com novas revelações espantosas, criando um constante suspense e um ritmo cinematográfico que nos prende e nos impede de pousar o livro. 
Para além de nos prender pelo próprio enredo, desde as miniaturas elaboradas detalhadamente pelo "miniaturista" para uma casa de bonecas, através das quais se prenuncia acontecimentos futuros, todos os pormenores são bem trabalhados: a época, a sociedade, as crenças, os costumes, a fome, a pobreza que levava a casamentos por interesse, a indefinibilidade do amor, os segredos irreveláveis, o racismo, a força das mulheres tão reprimidas aos seus espaços caseiros, a sodomia, a pena de morte... Soube que foi feita uma série a partir deste livro e fiquei bastante curiosa.
Um livro que vale a pena ler!

Claudel, Philippe (2017). A Árvore dos Toraja. Porto: Porto Editora.

Tradução: Artur Lopes Cardoso

Nº de páginas: 136

Início da leitura: 16/03/2023

Fim da leitura: 17/03/2023

**SINOPSE**

«O que são os vivos? À primeira vista tudo parece evidente. Estar com os vivos. Mas que significa isso, verdadeiramente, estar vivo? Quando respiro e caminho, quando como, quando sonho, estou inteiramente vivo? Quando sinto o calor doce de Elena estou mais vivo? Qual é o grau mais elevado de estar vivo?»

Um cineasta no meio da vida perde o seu melhor amigo e reflete sobre o papel que a morte ocupa na nossa existência. Entre duas mulheres maravilhosas, entre o presente e o passado, na memória dos rostos amados e na luz dos encontros inesperados, A árvore dos Toraja celebra as promessas da vida."
Há livros que divertem. Há livros que entretêm. Há livros que ensinam. Há livros que nos fazem refletir. Há livros que nos chocam. Há livros que evocam memórias... E, depois, há estes livros, difíceis de enquadrar numa simples definição.
Que pequeno grande livro! E que bem escreve o autor!
O protagonista desta história, um cineasta de "meia idade", e também narrador, fala-nos de cinema, livros, amores, amizades, daa forma como os outros nos veem, da forma como nos vemos, da vida e da morte.
Quando se vê confrontado com o facto de o seu grande amigo Eugène ter cancro, começa a questionar-se sobre a vida e a morte ("...quando é que ficamos gravemente doentes? Quando tudo está bem ou quando tudo está mal?"). Conclui que "Vivemos sempre com uma imagem parcial de nós mesmos. Nunca captamos a nossa imagem tal como os outros nos veem." Até que ponto a nossa idade, mentalmente, nos muda a perceção das coisas e nos impede de usufruir plenamente de todos os momentos, sem medos, sem hesitações, sem erros, sem feridas?
O título, parte de uma lenda que o narrador teve oportunidade de conhecer sobre os Toraja, habitantes da ilha de Sulawesi, na sua existência "obsessivamente ritmada pela morte": a de uma árvore especial, que constitui a sepultura de crianças de muito tenra idade, que são colocadas numa cavidade esculpida na árvore, que, depois, se fecha e cicatriza, "guardando o corpo da criança no seu próprio grande corpo". "Então, pouco a pouco, começa a viagem que a faz subir aos céus, ao ritmo paciente do crescimento da árvore." 
Quando o protagonista conta esta história ao seu amigo Eugène, este sussurra-lhe "- A morte faz de todos nós crianças."
E, por mais que o ser humano use de "estratagemas, máquinas, sentimentos, artifícios" para enganar o tempo, ele está sempre lá, quando, ao fim do dia, leem, no espelho, "a sua idade verdadeira bem no fundo dos seus olhos tristes".
Para além de toda esta riqueza, está a forma como Claudel escreve, límpida, poética mas, ao mesmo tempo, de um naturalismo descritivo que nos põe em confronto com a realidade e nos faz pensar... E, depois, há esta capa belíssima e que, se quiséssemos, teria tanto o que explorar!
Aconselho vivamente!

Gallagher, Charlie (2023). Presa em Casa. Lisboa: Alma dos Livros.


Tradução: Francisco Silva Pereira

Nº de páginas: 352

Início da Leitura: 12/03

Fim da leitura: 15/03

**SINOPSE**

"O tempo de Grace está a esgotar-se. Estendida no chão da casa de banho, luta por recuperar o fôlego depois de ser pontapeada pelo companheiro. Encolhe-se, com dores nas costas e no tronco, nas zonas onde ele lhe atirou com a porta. Não pode ignorar mais os sinais: se não conseguir escapar dali vai acabar por morrer.

Entretanto, Maddie Ives, detetive numa equipa especializada em proteger mulheres vítimas de maus-tratos, visita Grace depois de uma denúncia anónima. Quando a conhece, recomenda-lhe que mantenha um diário e detalhe tudo o que possa servir como prova em caso de agressão.

Grace procura dizer-lhe o que está a acontecer para que Maddie a ajude. No entanto, não consegue ser totalmente honesta. O companheiro vigia-a constantemente e obriga-a a fingir estar bem quando alguém os visita. Por isso, ninguém entende realmente o seu drama, o terror da situação. Enquanto mantém as aparências, a sua vida está em contagem decrescente.

Ao mesmo tempo, Maddie Ives tem outros assuntos urgentes para resolver: um rapaz morto numa casa de banho, um bombista dentro de um carro à procura de justiça e até o regresso de um antigo colega com cicatrizes profundas do passado. Será ela capaz de lidar com tudo e ainda ajudar Grace a salvar-se?"

Que dizer deste livro que não tenha sido mencionado na sinopse? Que, apesar de ser uma livro de ficção, chama a atenção para o que continua a ser um grande problema muito preocupante na sociedade: a violência doméstica. E todos os atos brutais aqui narrados, ainda que ficcionais, é bom que agitem as mentes, que abram as mentes para tudo o que as vítimas realmente passam, os traumas que ficam, o medo... Gostei do facto de Grace, a nossa vítima, ter procurado formas de comunicação através da escrita de um diário, no qual se dirige a Maddie, detetive especializada nestes casos de violência doméstica.
Há momentos de perder o fôlego, em que nos apetece entrar na história e mudar o rumo aos acontecimentos. Aliás, não há momentos mortos. E isso é um fator muito positivo, pois significa que a história nos envolveu e não nos deixou indiferentes. É de leitura compulsiva e pena tenha de não ter podido lê-lo de uma penada, pois o tempo não estica. Mas é um verdadeiro "page turner"!
A não perder pelos verdadeiros apreciadores de romances policiais.

Chan, Jessamine (2023). Escola Para Boas Mães. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Maria do Carmo Figueira

Nº de páginas: 368

Início da leitura: 06/03/2023

Fim da leitura: 11/03/2023

**SINOPSE**

"Frida Liu está exausta. Depois de ser abandonada pelo marido com uma filha pequena, vê-se obrigada a conciliar o trabalho a tempo parcial com a educação de Harriet. Mas, por mais que ame a filha e por muito que se esforce, nada parece ser suficiente. E tudo piora quando Frida tem um dia muito mau e se vê obrigada a deixar a menina sozinha em casa por algumas horas.

O Estado tem vigiado mães como Frida: mulheres que deixam os filhos sem supervisão, que se distraem com outros afazeres enquanto as crianças brincam, que cometem erros. Frida perde a guarda de Harriet e é inserida num programa de reabilitação que visa formar mulheres para se tornarem boas mães.

Perante o risco de perder Harriet para sempre, Frida tem de provar que consegue corresponder aos padrões de exigência da Escola para boas mães - que consegue aprender a ser boa, mesmo quando o julgamento parece injusto e o sucesso parece impossível."

Este é um livro que nos prende e angustia. Transmite raiva, apetece largá-lo e, ao mesmo, tempo, é impossível deixar de o ler. A sinopse já nos diz tudo. Apenas acrescento algumas perguntas:
Haverá mães perfeitas? É possível transformar-se numa mãe perfeita? O que é uma mãe perfeita? E se, por uma falha como mãe, se visse obrigada a afastar-se do/a seu/sua filho/a, preso numa escola onde supostamente aprenderia a ser mãe com um bebé resultante de IA? E se também se afeiçoasse a essa criança? E se ficasse para sempre proibida de estar, viver com o/a filho/a, até onde o instinto maternal a poderia conduzir?
Muitas as questões, muitas as angústias, muitas as raivas, numa sociedade cada vez mais fria, mais distante dos sentimentos e em que apenas se julgam os comportamentos sem se tentar perceber o que está por detrás deles. Uma sociedade implacável. Uma sociedade cruel. Uma obra a ler!

Slimani, Leïla (2022). Vejam Como Dançamos. Lisboa: Alfaguara.

Tradução: Tânia Ganho

Nº de páginas: 344

Início da leitura: 04/03/2023

Fim da leitura: 05/03/2023

**SINOPSE**

"1968, Marrocos: Mathilde, alsaciana, e Amine, oficial do Exército marroquino, são um casal com uma longa história atrás de si e um incerto futuro pela frente, à imagem do país onde vivem. Esta é a história de uma família hesitante entre a tradição e a modernidade, protagonizada por uma mulher enredada entre duas culturas, sufocada pelo conservadorismo do país onde escolheu viver e dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade. É também a história de um país que acabou de conquistar a independência e que procura o seu lugar, entre o espartilho religioso e o fascínio pelo Ocidente, entre a repressão e o hedonismo.

Leïla Slimani, uma das vozes mais importantes da literatura francesa, regressa à história da própria família para construir um romance cheio de personagens inesquecíveis e imagens fortes. Retratando um tempo e um lugar em que ressoam os ecos do Maio de 68 e as mulheres encetam o pedregoso caminho da emancipação, a escritora reafirma a sua impressionante destreza narrativa e o olhar clínico sobre a intimidade."
Este é o segundo volume da saga "O País dos Outros", sobre a família de Mathilde e Amine, ela francesa da Álsácia e ele marroquino. Neste livro, são vinte anos mais velhos e são donos de uma quinta próspera, retratando dois mundos em transformação: Marrocos e a questão da independência, os hippies americanos dos anos 60; e França, a lidar com o Maio de 1968. Agora são os seus filhos que seguem o seu rumo e nos levam entre danças e contradanças, em que a desigualdade de género é ainda muito evidente. Aïcha, a criança do primeiro livro, cresce, torna-se médica, optando pela obstetrícia (o que ainda era visto como uma atividade menor, feita até à altura por mulheres que não precisavam de curso). Aïcha apaixona-se... O irmão deixa-se envolver por este hedonismo hippie... E mais não posso revelar.
Tal como o primeiro, é surpreendente e bom. O ritmo é alucinante e não apetece largar o livro antes de terminar. 

 Yagisawa, Satoshi (2023). Os Meus Dias na Livraria Morisaki. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Marta Pinho

Nº de páginas: 144

Início da Leitura: 01/03/2023

Fim da Leitura: 03/03/2023

**SINOPSE**

Esta é uma história em que a magia dos livros, a paixão pelas coisas simples e belas e a elegância japonesa se unem para nos tocar a alma e o coração.

"Estamos em Jimbocho, o bairro das livrarias de Tóquio, um paraíso para leitores. Aqui, o tempo não se mede da mesma maneira e a tranquilidade contrasta com o bulício do metro, ali ao lado, e com os desmesurados prédios modernos que traçam linhas retas no céu.

Mas há quem não conheça este bairro. Takako, uma rapariga de 25 anos, com uma existência um pouco cinzenta, sabe onde fica, mas raramente vem aqui. Porém, é em Jimbocho que fica a livraria Morisaki, que está na família há três gerações: um espaço pequenino, num antigo prédio de madeira. Estamos assim apresentados ao reino de Satoru, o excêntrico tio de Takako. Satoru é o oposto de Takako, que, desde que o rapaz por quem estava apaixonada lhe disse que iria casar com outra pessoa, não sai de casa.

É então que o tio lhe oferece o primeiro andar da Morisaki para morar. Takako, que lê tão pouco, vê-se de repente a viver entre periclitantes pilhas de livros, a ter de falar com clientes que lhe fazem perguntas insólitas.

Entre conversas cada vez mais apaixonadas sobre literatura, um encontro num café com um rapaz tão estranho quanto tímido e inesperadas revelações sobre a história de amor de Satoru, aos poucos, Takako descobre uma forma de falar e de estar com os outros que começa nos livros para chegar ao coração. Uma forma de viver mais pura, autêntica e profundamente íntima, que deixa para trás os medos do confronto e da desilusão."

Este seria um livro para ler numa tarde, não fosse ele, no meu entender, algo entediante. Confesso que comprei este livro, pela capa maravilhosa, pelo título cheio de promessas e pela sinopse que aponta para uma premissa que, bem desenvolvida, ter-me-ia, com certeza, cativado. Digamos que é um livro fofinho, mas não passa disso. A linguagem é muito básica. A história acaba por ganhar outros contornos que remetem a livraria e o amor pelos livros (prometidos na sinopse) para segundo plano.
Gostei da parte inicial, da chegada de Takako ao bairro de referência em Tóquio, pelas imensas livrarias que possui; a forma como o tio, aos poucos, a vai orientando para sair do estado de apatia em que estava a sua vida, o nascimento de uma paixão pelos livros. A partir daí, há uma reviravolta que, quanto a mim, deixa muito a desejar.
A linguagem é demasiado simples, faltando-lhe a intensidade necessária para a história que é. Serve, porém, de entretenimento.

Lundberg, Sofia (2019). A Agenda Vermelha. Porto: Porto Editora.

Tradução: Elsa T.S. Vieira

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 24/02/2023

Fim da leitura: 26/02/2023

**SINOPSE**

"Doris pode ter noventa e seis anos e morar sozinha em Estocolmo, mas tal não significa que não continue ligada ao mundo. Todas as semanas, aguarda ansiosamente o telefonema por Skype com Jenny, a sobrinha-neta americana que é, simultaneamente, a sua única parente. As conversas com a jovem mãe levam-na de volta à sua própria juventude e tornam mais suportável a iminência da morte, que Doris sente a rondá-la. De uma forma muitíssimo lúcida, escolhe, de entre as inúmeras memórias que uma vida longa carrega, as que estão relacionadas com aqueles que conheceu e amou e cujo nome inscreveu numa pequena agenda vermelha.

As histórias desse passado colorido - o amor platónico pelo pintor modernista Gösta Adrian-Nilsson; o trabalho como manequim de alta-costura em Paris, na década de 1930; a fuga clandestina num barco que é bombardeado pelos soldados alemães do III Reich, no auge da Segunda Guerra Mundial - recriam uma existência plena que, embora se aproxime do derradeiro final, não está isenta de surpresas: um lembrete agridoce de que, na vida, os finais felizes não são apenas ficção."
Este é daqueles livros quentinhos, que nos reconfortam. Doris é uma personagem que irradia doçura, força de vontade, amor. Tem 96 anos, uma mente lúcida, é inteligente, resiliente, persistente e deixa a sua história de vida contada na sua "Agenda Vermelha", que lhe foi oferecida pelo pai, na infância. E, apesar de ir registando também na sua agenda as perdas (que, nesta idade, foram já muitas), as dificuldades por que passou, nunca se deixou vergar pelos infortúnios da vida, sendo que esta agenda é também uma história de conquistas, de sobrevivência e, sobretudo, de amor, um amor que "move montanhas" e pelo qual estaria disposta até a uma fuga clandestina num barco, em plena II Guerra Mundial. É uma história de amor e de esperança. Aconselho vivamente a leitura! 

Hunter, Cara (2021). Pura Raiva. Porto: Porto Editora.

Tradução: Cláudia Ramos

Nº de páginas: 404

Início da leitura: 21/02/2023

Fim da leitura: 23/02/2023

**SINOPSE**

UMA RAPARIGA É RAPTADA NAS RUAS DE OXFORD. MAS ESTE É UM RAPTO DIFERENTE, PARA O INSPETOR FAWLEY.
Uma adolescente é encontrada a vaguear pelos arredores de Oxford, desorientada e angustiada. A história que Faith Appleford conta é assustadora: amarraram-lhe um saco de plástico na cabeça e levaram-na para um local isolado. Por milagre, sobreviveu. Mesmo assim, recusa-se a apresentar queixa.
O Inspetor Fawley investiga, mas há pouco que ele possa fazer sem a cooperação de Faith, que parece esconder alguma coisa. Mas o quê? E porque será que Fawley continua com a sensação de que já viu um caso como este?
Quando outra rapariga desaparece, Adam Fawley não tem escolha e tem mesmo de enfrentar o seu passado.
Gostei muito deste policial. Este é o segundo livro que leio da autora e, se bem que tenha o primeiro, ainda não o li e não tenho muito o hábito de ler por ordem. Li No Escuro e, agora, este. Porém, entendi e acompanhei perfeitamente. Claro, com mais vontade fiquei de ler os restantes!
Envolve-nos, desde o início, com a história de uma jovem, Faith, que é raptada e violentada e que se recusa a apresentar queixa para que o seu segredo não seja revelado. A polícia acredita que se tratou de uma questão de ódio, de raiva, provocado pela sua beleza e inteligência.
Porém, passado pouco tempo, outra jovem, que estuda na mesma escola, desaparece. Começa a ser lançada a suspeita de que o "violador da beira da estrada" terá regressado...Porém, a autora tem este dom de mudar o rumo à história... E mais não posso dizer. Apenas refiro que é um livro que, além de servir ao entretenimento, aborda questões sociais muito atuais e preocupantes. Depois, a história é narrada, muito ao jeito da autora, com uma detalhada investigação, que nos faz acompanhar os inspetores nas suas investigações (também em jornais, redes sociais, que são hoje uma excelente ferramenta de trabalho, uma vez que revelam, quase sempre, demasiado...), nos interrogatórios...
Um livro que aconselho.

Peixoto, José Luís (2000). Morreste-me. Lisboa: Temas e Debates.

Nº de páginas: 40

Data da releitura: 20/02/2023

**SINOPSE**

"Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora.
Um livro de culto há muito tempo indisponível no mercado português." [Porto Editora]
Este pequeno grande livro foi-me oferecido por uma amiga num momento em que passei pelo mesmo.
Regresso a ele várias vezes, porque tudo o que Peixoto descreve com uma grande qualidade literária, é a expressão do que senti e sinto quando perdi os meus pais (o meu pai, com 49 anos e a minha mãe, com 55). Ler este livro é voltar ao passado, é entrar nas salas de tratamentos, é ver o vazio num olhar que não sabemos ao certo se ainda nos vê e conhece, é estar à cabeceira da cama até ao último suspiro (depois da respiração ofegante que ainda quer prender à vida) é passar por tudo outra vez e é ouvir um testemunho que fica para sempre a ecoar nos nossos corações, é, como diz o autor, o desespero, o vazio total.
Voltar a este livro é olhar-me por dentro, porque José Luís Peixoto consegue dizer tudo o que sentimos e que sempre pensei que seria inenarrável. 
Ao ler algumas opiniões depreciativas, penso que falta a esse leitor passar por tudo isto. não que o deseje, não o desejo a ninguém. Mas falta-lhe sentir esta obra em toda a sua plenitude, senti-la nas entranhas, senti-la em tudo aquilo em que a vida nos tornou, em tudo o que passamos para sermos o que somos (ou não) hoje. E o autor fá-lo, de forma tão intensa, tão poética, tão gritante e desesperadamente boa... Através deste livro, sinto que há um grito interior que se liberta nestas linhas, um grito que vou sufocando cá dentro.
Volto a este livro sempre que me sinto perdida, sempre que preciso olhar para dentro de mim. Só assim me reencontro. Obrigada José Luís Peixoto!

Frankl, Viktor E. (2012). O Homem em Busca de um Sentido. Alfragide: Lua de Papel.

Tradução: Francisco J. Gonçalves

Nº de páginas: 160

Início da leitura: 18/02/2023

Fim da leitura: 19/02/2023

**SINOPSE**

"Nos seus momentos de maior sofrimento, no campo de concentração, o jovem psicoterapeuta Viktor E. Frankl entregava-se à memória da sua mulher - que estava grávida e, tal como ele, condenada a Auschwitz. Conversava com ela, evocava a sua imagem, e assim se mantinha vivo. Quando finalmente foi libertado, no fim da guerra, a mulher estava morta, tal como os pais e o irmão. No entanto, ele alimentara-se de outro sonho enquanto estava preso, e, este sim, viria a realizar-se: projetava-se no futuro, via-se a falar perante um público imaginário, e a explicar o seu método para enfrentar o maior dos horrores. E sobreviver. Viktor E. Frankl sobreviveu. E até morrer, aos 92 anos, divulgou por todo o mundo o método desenvolvido no campo de concentração - a Logoterapia.

O psicoterapeuta descobriu que os sobreviventes eram aqueles que criavam para si próprios um objetivo, que encontravam um sentido futuro para a existência - fosse ele, por exemplo, cuidar de um filho ou escrever um livro. Em O Homem em Busca de um Sentido, escrito em 1946, o autor narra na primeira parte a sua dramática luta pela sobrevivência. E na segunda, em breves páginas, sintetiza os mais de 20 volumes ao longo dos quais desenvolveu o seu método - aplicável a qualquer pessoa, em qualquer circunstância da vida."

Este é um livro que nos apresenta factos pouco abordados pelos sobreviventes do Holocausto. Não é um livro de ficção, mas o testemunho de um psicoterapeuta. Conta-nos os vários estádios por que passaram os prisioneiros, tentando responder à questão: "como se refletia no espírito de um prisioneiro comum a vida diária num campo de concentração?" Conta-nos que as atrocidades por que passaram, chegava a impedi-los de terem sentimentos e conferia-lhes apatia, morte emocional, uma frieza total face à morte, face à dor, face à própria vida. Refugiam-se no sonho de voltar para casa e dependem dessa esperança. A partir do momento em que desistem de viver, são os primeiros a morrer, porque, para se viver, é preciso encontrar um sentido por que viver. Mas será que quem conseguiu, de facto, voltar para casa rejubilou de alegria? Que sentimento dominou os prisioneiros libertados dos Campos de Concentração? Estas são algumas questões sobre as quais o psicoterapeuta se debruça. Gostei, mas tive pena de o autor não ter aprofundado um pouco mais essas reflexões.

 Sepúlveda, Luis (2019). História de uma Baleia Branca. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 136

Início da leitura: 18/02/2023

Fim da leitura: 18/02/2023

**SINOPSE**

"De uma concha apanhada por uma criança numa praia chilena, ao Sul do Mundo, uma voz se eleva, cheia de lembranças e sabedoria. É a voz da baleia branca, o mítico animal que durante décadas tem guardado as águas que separam a costa de uma ilha sagrada para os povos nativos daquele lugar, o Povo do Mar. O cachalote da cor da lua, a maior das criaturas do oceano, conheceu a imensa solidão e a imensa profundidade do abismo e dedicou a sua vida a cumprir fielmente a tarefa misteriosa que lhe foi confiada por um cachalote-ancião, resultado de um pacto há muito tempo estabelecido entre baleias e marinheiros. Para cumpri-lo, a grande baleia branca teve de proteger aquele mar de outros homens, estranhos, que com os seus navios ali chegavam para tirar tudo sem respeitar nada.

Foram sempre eles, os baleeiros, a contar a história da temida baleia branca, mas agora é chegado o momento de ouvirmos a sua voz na velha língua do mar." [Porto Editora]
Como é bom ler Sepúlveda! E esta pequena fábula é simplesmente maravilhosa! Conta-nos da ligação que, há muitos anos atrás, existia entre a baleia e o homem e de como o homem conseguiu, com a sua ambição desmedida, destruir essa ligação. É interessante percebermos esta relação, tentarmos perceber, na perspetiva da baleia enquanto narrador, o que poderia levar uma baleia a afundar o navio Essex. A crueldade e ambição do homem fazem com que nada o detenha, nem que para isso tenha de sacrificar algo ou alguém. Como nos diz esta baleia, a primeira vez em que viu os homens a lutarem: "Parece que os homens são a única espécie que ataca os seus semelhantes...".
Que cada humano colha desta fábula o exemplo da baleia cor de lua: a amizade, o espírito de sacrifício, a resiliência...Recomendo muito a sua leitura!

Whitaker, Chris (2022). O Fim É o Princípio. Lisboa: Bertrand Editora.

Tradução: Vasco Teles de Menezes

Nº de páginas: 400

Início da leitura: 15/02/2023

Fim da leitura: 17/02/2023

**SINOPSE**

"Aclamado como um dos melhores livros de 2021 pela crítica e pelos leitores do Reino Unido, vencedor dos mais prestigiantes prémios literários do género e fenomenal êxito de vendas nos Estados Unidos e um pouco por toda a Europa, este romance brilhante, cuja ação se desenrola entre uma pequena cidade na costa da Califórnia e a vastidão do Montana, surpreende pela forma como, a partir de um crime, cresce para lá da demarcação de um género literário e transforma-se num épico americano sem limites, belíssimo e com uma galeria de personagens, cenários e situações inesquecíveis.

A narrativa gira em torno de Duchess, uma jovem de treze anos que se autointitula «fora da lei», e Walk, chefe de esquadra da polícia de Cape Haven, um homem com o olhar fixo no passado e que nunca saiu da pequena cidade onde cresceu. Duchess diz que as regras são para os outros, e razão não lhe falta. Desde cedo se fez protetora feroz do irmão mais novo, Robin, e figura adulta na vida de Star, mãe solteira incapaz de cuidar de si própria ou de velar pelos interesses dos dois filhos. Também Walk faz tudo para proteger Duchess e Robin, mas por motivos distintos.

A ele move-o a necessidade de sarar uma ferida antiga, para sempre por fechar, a de ter sido o seu testemunho a enviar Vincent para a cadeia, o seu melhor amigo, condenado pelo homicídio da irmã de Star. Culpado ou inocente, volvidos trinta anos Vincent está prestes a sair em liberdade. Cape Haven fica em suspenso, e cabe a Duchess e a Walk enfrentar o problema que o regresso de Vincent impõe.

Assassínio, vingança, justiça. Por vezes inquietante, outras animado por um otimismo vital, O Fim É o Princípio submerge-nos na luta comovente que o ser humano tem de travar para discernir o bem do mal, uma interrogação cuja resposta, por vezes, só conhecemos no fim do caminho."
Neste livro tão intenso acompanhamos um ano da vida de uma adolescente, Duchess Day Radley, de apenas treze anos (se bem que às vezes pareça mais velha) que se autointitula «fora da lei», e de Walk, o chefe da esquadra de polícia, numa pequena cidade da Califórnia. Duchess é uma jovem destemida e protetora, preocupada sobretudo com a segurança do irmão, Robin, acabando por agir de forma corajosa mas também um pouco irrefletida, provocando graves consequências em muitas das pessoas que a rodeiam. Também Walk tudo faz para proteger Duchess e Robin, havendo razões que se prendem com um crime, sobre o qual testemunhara no passado, a motivar essa preocupação. 
O que todos querem é, afinal, "um fim correto e justo", mas, como diz o próprio Walk "A esperança é secular. E a vida é frágil. E às vezes agarramo-nos a ela com demasiada força, embora saibamos que ela vai quebrar."
Confesso que, no início, me custou entrar dentro da narrativa. Mas este é daqueles livros que nos vai prendendo à medida que o vamos lendo, até estarmos irremediavelmente dentro da história, a sofrer com as personagens, a acompanhá-las em todos os momentos. Depois, há uma solidão que perpassa toda a obra e que nos comove (por exemplo, quando Duchess pensa em ligar para alguém, mas, depois de cair em si, apercebe-se que não tem a quem telefonar, a quem pedir ajuda). 
É um livro muito bom e cuja leitura recomendo muito.

Haddon, Mark (2003). O Estranho Caso do Cão Morto. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Sílvia Serrano Santos

Nº de páginas: 233

Início da leitura: 12/02/2023

Fim da leitura: 13/02/2023

**SINOPSE**

"Referido pelo The Times como «um dos melhores livros de 2003» O Estranho Caso do Cão Morto é muito divertido. Conta a história de Christopher Boone, um miúdo autista, com apenas 15 anos que vive enredado no seu próprio mundo, longe de tudo e de todos. Possui uma memória fotográfica e é um aluno excelente a matemática e a ciências mas detesta o amarelo e o castanho e não suporta que alguém lhe toque. Absorvido pela sua doença, Christopher desperta um dia quando encontra o cão da sua vizinha morto, no meio do jardim, com uma forquilha atravessada. A partir daqui nunca mais será o mesmo pois só descansará quando descobrir quem cometeu tão atroz crime."

Este livro é uma verdadeira delícia. Christopher Boone é um jovem de 15 anos, autista e um verdadeiro ás da matemática. A história é narrada por ele. Christopher encontra o cão da vizinha morto e decide empreender uma investigação até encontrar o assassino. Mas essa investigação trará consigo outras revelações e obrigá-lo-á a enfrentar medos, mas também lhe permitirá algumas conquistas. Uma história doce, muito diferente do habitual e com uma numeração dos capítulos muito original. Recomendo vivamente!

Letria, José Jorge (2002). Mouschi, o Gato de Anne Frank. Lisboa: Edições ASA.

Nº de páginas: 38

Início e fim da leitura: 11/02/2023

**SINOPSE**

Mouschi existiu realmente e foi levado para o anexo por Peter van Pels, um jovem companheiro de cativeiro de Anne Frank. O dia-a-dia no anexo, a rotina de um grupo de pessoas refugiadas do terror nazi e a esperança numa libertação que acabou por não chegar, são assim contados neste livro por um animal de estimação que se transformou em testemunha singular de uma tragédia humana.

É curioso como um livro infantil nos pode dar tanto! Um pequeno livro com uma grande mensagem. Este é um livro ficcional, que parte da história real contada no Diário de Anne Frank. É sobejamente conhecida a paixão do autor por animais e é extremamente interessante a perspetiva deste acontecimento real, contado ficcionalmente pelo gato de Anne Frank, deixando também o gato a sua visão deste acontecimento tão triste da história mundial. Ao mesmo tempo, é de uma ternura e de uma sensibilidade incríveis, o que permite explicar aos mais jovens acontecimentos passados na II Guerra, de uma forma que eles entendem e que convém mesmo que não esqueçam.
Não vou recontar a história, mas deixo-vos esta passagem: "Se eu soubesse chorar, mesmo transformado em personagem deste livrinho de memórias, teria sempre duas lágrimas guardadas, uma para Anne e outra para o meu amor por ela. Quem matou esta menina merece ser castigado eternamente por todas as estrelas que há no céu."
Um livro que nos enternece, nos entristece e nos comove. Recomendo muito a sua leitura!

Lopes, Joana M. (2019). Cabeça de Andorinha. Lisboa: Livros Horizonte.

Nº de páginas: 28

Início e fim da leitura: 11/02/2023

**SINOPSE**

O nosso planeta é um lugar cheio de cabeças: umas andam sempre nas nuvens, outras baralham as ideias todas.

No meio de tantas cabeças, há algumas muito especiais - são cabeças de andorinha e é delas que nascem as ideias que fazem do mundo um lugar mais bonito.

Um livro cheio de cor e sensibilidade, pensado para ajudar as crianças a descobrir a importância dos afetos e da imaginação.
Gosto muito de ler livros infantis. E temos escritoras muito boas, realmente boas. Fiquei surpreendidíssima com a mensagem que a autora passa através deste pequeno livrinho. 
Logo desde o início, percebemos que todos chamam à nossa pequena protagonista e narradora "cabeça de andorinha", o que é algo que não lhe desagrada. Porém, discorda da avó, quando esta lhe diz que "cabeça de andorinha" é o mesmo que "cabeça de vento" e distraída, porque não considera ter "cabeça de vento", nem se considera distraída.. Esta é a cabeça de quem já está esquecido das coisas. Ela não, ela tem uma boa memória e os seus pensamentos estão ligados à sua cabeça como os papagaios, por um cordel. E esses pensamentos estão apenas concentrados em coisas mais importantes do que as que são visíveis aos olhos. Afinal, parece que o mundo seria bem melhor se mais pessoas tivessem "cabeça de andorinha"! Recomendo a leitura deste livro e não só por crianças. Há por aí muita gente aborrecida que precisava de ver o mundo com os olhos do coração.

Shattuck, Jessica (2017). As Mulheres no Castelo. Lisboa: Planeta Manuscrito.

Número de páginas: 360

Início da leitura: 05/02/2023

Fim da leitura: 10/02/2023

**SINOPSE **

"Baseado numa história verídica.
Na guerra fizeram escolhas impossíveis, agora têm de viver com elas.

Três mulheres, assombradas pelo passado. Marianne von Lingenfels volta ao castelo abandonado, dos antepassados do marido.
Para cumprir a promessa que fez aos corajosos companheiros do marido: encontrar e proteger as suas mulheres no meio das cinzas da derrota da Alemanha nazi.

Um livro com uma pesquisa histórica rigorosa e que oferece um novo olhar e novas realidades da Segunda Guerra Mundial, um dos períodos mais lidos da nossa história."

Escolhi ler este livro, porque me pareceu mais tranquilo e, depois da leitura anterior, "Fome", precisava de algo mais leve. Confesso que não tive uma relação muito fácil com o livro, porque me senti, em vários momentos, pela quantidade de personagens em torno das protagonistas, um pouco perdida, tendo, por várias vezes, de recuar para apanhar o fio à meada. Pensei que estas mulheres, no castelo, pudessem, de alguma forma, ter um papel mais representativo na II Guerra e no pós guerra. Esperava mais delas, pelas próprias qualidades que lhes vão sendo atribuídas. Depois, alguns erros de português impediram-me de a usufruir em plenitude. Digamos que fui arrastando a leitura, tendo sido um dos livros que, ultimamente, mais tempo me demorou a ler.
A premissa é muito boa, mas o resultado final não foi exatamente o que eu esperava. Carece de personagens mais intensas, que nos fosse permitido conhecer melhor através de uma visão omnisciente do narrador. A forma vaga como são retratadas, esvazia-as um pouco da personalidade que eu tinha idealizado na minha mente.

Hamsun, Knut. Fome. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2008.

Tradução: Liliete Martins

Nº de páginas: 190 

Início da leitura: 01-02- 2023

Fim da leitura: 04-02- 2023

**SINOPSE**

Os delírios solitários e as tortuosas reflexões de um jovem escritor, errando através das ruas da cidade de Kristiania, a atual Oslo, acompanhado pela sua inexorável antagonista, a fome. Um romance marcante, considerado o início da grande literatura do século xx, que antecipou e influenciou a obra de nomes como Franz Kafka, Albert Camus ou John Fante.


Há livros em que entramos imediatamente na história. Neste caso, é o livro que entra em nós, de forma visceral, nos suga as forças, nos perturba, nos faz perceber que o que nos parece um grande problema, é, afinal de contas, tão pequeno comparativamente ao que nos é narrado nesta história. 
Publicado em 1890, este livro terá influenciado grandes escritores, revelando-se um marco na literatura do século XX: Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Henry Miller, Ernest Hemingway, Bertolt Brecht, André Breton, H. G. Wells, Stefan Zweig, Charles Bukowski, entre outros.
Numa linguagem simples, sem artifícios, é-nos contada uma história muito complexa, a de um suposto jornalista, que vai sobrevivendo com a publicação de alguns textos em jornais (quando são aceites, o que se vai tornando cada vez mais raro). Este homem, vai morrendo aos poucos, primeiro porque se esquece de comer; depois, porque não tem o que comer. Sempre que se vê com algum dinheiro no bolso, tenta ajudar quem precisa. Porém, aos poucos, vai-se deparando com a dificuldade em manter o que sempre prezou: a sua honestidade. E penso que é a consciência de estar a agir mal, de não se reconhecer em determinadas atitudes, que o faz sentir-se humilhado e no limiar da loucura e da morte. 
Há um crescendo de intensidade, à medida que a fome também vai dominando o protagonista, operando nele um esboço cadavérico que nem ele próprio reconhece.
Uma história perturbadora, que, se tivesse lido, sem saber a data em que foi escrita, julgaria mais atual, porque intemporal.
Ainda bem que li o livro antes de ler a biografia do autor, pois acredito que o facto de este se ter aliado a Hitler durante a ocupação nazi à Noruega na Segunda Guerra Mundial poderia ter-me provocado alguma repulsa. Afinal, grande ironia, o autor que sabe o que é a fome e nos fala dela da forma intensa como o faz neste seu livro, acabar por, ele próprio, ter-se aliado a alguém que tanta gente deixou morrer à fome...
Independentemente das suas escolhas políticas, tenho de admitir que este é um livro fantástico e que vale a pena ser lido.

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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