Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Backman, Fredrik (2018). A Minha Avó Pede Desculpa. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 336

Início da Leitura: 20/02/2021

Fim da leitura: 27/02/2021

A Minha Avó Pede Desculpa é um livro escrito por Fredrik Backman e traduzido por Elsa T. S. Vieira. Detentor de uma imaginação prodigiosa, o autor põe-nos perante uma história brilhante, contada por uma criança de “sete, quase oito anos”, Elsa. 

Elsa vive com a mãe e o padrasto e visita, esporadicamente, o pai. Gosta de todos eles, mas nenhum chega aos calcanhares da avó materna, com quem passa mais tempo e que muito contribuiu para ela ser a criança que é, detentora de uma sabedoria muito madura para a sua idade, de uma imaginação sobejamente fértil, de um gosto por uma leitura também algo invulgar para a sua idade e de um coração tão grande que, a cada passo, a cada atitude, nos deixa rendidos e a sentir uma imensa ternura por ela.

Começamos por conhecer a Avozinha como alguém que, apesar dos seus 77 anos, tem uma maneira de ser e de viver muito peculiares. É uma avó um pouco taralhouca, capaz de gerar os maiores ódios, mas, também, as maiores paixões. 

É ela que instiga a curiosidade da neta, é ela, com a sua personalidade completamente irreverente, e nada esperada numa avozinha, que a leva a querer saber e compreender sempre mais. E é a Elsa que ela consegue contar as suas histórias (que não tiveram sucesso com a filha), que desperta a curiosidade de ir ao Sr. Google pesquisar tudo o que não sabe, aprendendo o que é e não é para a sua idade, se é que há uma idade para se saberem as coisas. É esta avó que não trata Elsa como uma criança, que a faz crescer e ser a criança especial que é. 

Elsa é uma menina muito inteligente, muito curiosa, muito espevitada e sensata. É nela que a avó delega a imensa responsabilidade de pedir desculpa, por ela, a todos quantos possam ter sofrido com a sua irreverência. Quando não entende algo, Elsa pesquisa e fica a saber. Vai enchendo um frasco com as palavras novas que vai aprendendo e, seguramente, é uma criança que sabe mais que grande parte dos adultos.

Um livro que me fez rir, outras tantas enternecer e, muitas vezes, comover.

Aconselho vivamente!

Zambujal, Mário (2005). Crónica dos Bons Malandros. Lisboa: Quetzal Editores.

Nº de páginas: 152

Início da leitura: 25/02/2021

Fim da Leitura: 27/02/2021


Crónica dos Bons Malandros, livro de estreia de Mário Zambujal em 1980, é um livro intemporal, um clássico. 

Uma escrita fluída, muito "à frente", continua a sê-lo ainda agora. É um livro que, apesar da sua simplicidade, está escrito de forma cativante e brilhante.

Tudo começa com os preparativos para um assalto, pela quadrilha do Renato. O alvo são umas joias que se encontram em exposição na Gulbenkian. Será o assalto das suas vidas, habituados a malandragens de pouca monta.

Entretanto, é-nos explicado, através de analepses, como é que cada membro do bando acabou por se juntar a Renato e como chegaram juntos a este assalto.

É hilariante e torna-se impossível não nos rirmos com as peculiaridades de cada um destes jovens (rapazes e raparigas), bem como até nos enternecermos com algumas vidas tão complicadas que lhes escreveram o passado e ditaram este presente.

Após estas analepses, é retomado o assalto. Um assalto brilhante e hilariante. Que grande criatividade! 

Conseguirão eles enriquecer como tinham previsto?

Convido-vos à leitura deste livro, tendo por seguro que não se vão arrepender e vão divertir-se imensamente!

Mackintosh, Clare (2019). Deixa-me Mentir. Lisboa: Cultura Editora.

Nº páginas: 320

Início da leitura: 15/02/2021

Fim da leitura: 20/02/2021

Deixa-me Mentir é um thriller escrito por Clare Mackintosh e traduzido por Fátima Martins.

Anna é uma jovem mãe, que perdeu os pais, em circunstâncias semelhantes, suicídio. Porém, por várias cartas que tem vindo a receber, pelo caráter dos pais, não acredita que tenha sido apenas suicídio. Quando recebe uma mensagem de aniversário que diz “Suicídio? Pensa Melhor”, decide ir falar com Murray, um polícia reformado, que ainda trabalha como apoio civil na esquadra da sua área de residência. Murray acaba por começar a investigar.

A par da história de Anna, é narrado parte do passado, que diz respeito à mãe e ao pai, o que nos permite ir encaixando peças soltas e até adensa mais o mistério do desaparecimento dos pais de Anna.

Somos ainda envolvidos nos dramas pessoais de Murray, que vive uma situação preocupante com a esposa, que sofre de perturbações do foro psiquiátrico e que divide o tempo entre internamentos e regressos a casa, onde tenta, por várias vezes o suicídio.

As histórias vão alternando, o que nos instiga a continuar a leitura para descobrirmos o que, de facto sucedeu.

Este foi um livro que me captou a atenção mas que, no final, considero que deixou um pouco a desejar, tornando-se pouco credível.

Outro aspeto que tenho de referir como menos agradável é a forma como está escrito, ou melhor, traduzido. Há várias incorreções que me distraem do foco principal, erros e não apenas gralhas, que, no meu entender, não deviam existir, quando houve tradutora e revisora. Esta é uma preocupação que as editoras devem ter, pois, assim, até um grande livro pode ser prejudicado.

Aconselho a leitura a quem queira alguma distração e goste de policiais thrillers.

                                                                                                                  Célia Gil

Ernaux, Annie (2020). Os Anos. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 200

Início da leitura:

Fim da leitura: 20/02/2021

Este livro, Os Anos de Annie Ernaux, traduzido por Maria Etelvina Santos, é um livro excecional. Muito bem escrito, muito completo, um livro que nos faz refletir, que nos envolve, nos devolve vivências guardadas na memória, nos dá a conhecer livros, filmes, músicas (de tal forma, que damos por nós a ir pesquisar e a encontrar algumas pérolas literárias, musicais e cinematográficas). Não é, por isso mesmo, um livro de leitura rápida, exige um compromisso, tempo de reflexão que nada têm a ver com o fugaz, apesar de a maior parte dos acontecimentos narrados terem sido vítimas da frugalidade da própria vida. Mas é literatura, sim! Quem gosta de verdadeira e boa literatura, vai inevitavelmente gostar deste livro.

Os acontecimentos d’Os Anos são-nos apresentados como imagens, flashes que compõem, de certa forma, uma autobiografia impessoal. Há um observar de fora para dentro. Uma interpretação. As imagens são efémeras, permanecem na memória as imagens seletivas. E é incrível como tendemos, ao longo da vida, a replicar imagens aparentemente gastas. Com o tempo, estamos a ser o que foram os pais e até os avós. Estamos a replicar o que criticávamos. Estamos a valorizar o que menosprezávamos.

Muitas foram as passagens que assinalei com post-it, passagens que, de alguma forma, me fizeram refletir ou, simplesmente, sorrir. Exemplifico com o momento em que a narradora menciona o presente, em que o casal tem mais valor do que o solteiro. Em que tudo o que criticavam nos pais, é reproduzido – o casamento, a obsessão pela ascensão social, profissional e material. É um presente em que o ter suplanta o ser. O ser que sonhava, que queria saber, que chocava, desafiava, não se conformava, ficou no passado, do qual se sente uma saudade quase narcísica, um desejo de se desprender desta burguesia comezinha que se aceitou e voltar ao passado, onde ainda não havia eta preocupação com o material. É incrível como a narradora aborda temas tão pertinentes e tão atuais e como conseguimos perceber que nem sempre evoluímos. Quando pensamos, por exemplo, em momentos em que a mulher se impôs e se afirmou na sociedade, somos levados imediatamente a pensar “onde está essa mulher que lutou pelos seus direitos? Acomodada?” E são tantos os temas! Abordados de forma crua e irónica.

Preservam-se estas imagens d’Os Anos na memória, onde ficam, de forma seletiva, registos de acontecimentos, de músicas que ouvimos e, num determinado momento, nos marcaram, de livros que lemos, de escritores com que nos identificámos. Como se a nossa memória tivesse pequenas gavetas, que vamos abrindo sempre que nos sentimos afastar de quem realmente somos. Por vezes, sentimos necessidade de recuperar essas memórias. Outras, surgem naturalmente quando, por exemplo, as associamos a uma vivência presente. Outras, ainda, quando olhamos para trás numa reflexão sobre o que foi e tem sido a nossa vida.

Escusado será dizer que adorei este livro. Um pequeno grande livro!

Ficaria aqui a fazer uma cópia de todo o livro para poder exemplificar a dimensão de tudo o que nos transmite e prende a atenção. Porém, como não o posso fazer, destaco apenas algumas passagens:

- A propósito do ano de 1968: “Todos podiam usar da palavra, quer representando um grupo, uma condição ou uma injustiça, tinham direito a falar e a serem ouvidos, fossem ou não intelectuais. Ter passado por uma determinada experiência enquanto mulher, homossexual, dissidente de uma classe, prisioneiro, agricultor, mineiro, concedia-lhes o direito de falar em nome próprio, de dizer eu. (…) Saíamos dos debates de duas horas sobre a droga, a poluição ou o racismo, numa espécie de embriaguez e, no fundo, com a consciência de não ter ensinado nada aos alunos, questionando se não estaríamos a trabalhar para aquecer, mas ainda assim pensando que a escola servia para alguma coisa.” (pp.86-87)

“As vergonhas de antigamente já não faziam sentido. A culpabilidade era ridicularizada: somos todos judaico-cretinos, a infelicidade sexual denunciada, falta-de-prazer o pior insulto. (…) O discurso do prazer suplantava tudo. Era preciso ter prazer a ler, a escrever, a tomar banho, a defecar. A finalidade de qualquer atividade humana era o prazer. Pensávamos na nossa história, no que era ser mulher. Percebíamos que não tínhamos tido a nossa parte de liberdade sexual, criativa, em relação a tudo o que é concedido ao homem. (…) percorríamos as nossas vidas retrospetivamente, sentíamo-nos capazes de deixar marido e filhos, de nos desligarmos de tudo e de escrever com crueldade. (…) Um sentimento comum a muitas mulheres estava em vias de desaparecer – o da sua inferioridade natural.” (pp.88-89)

“É verdade que todas as causas estavam ao rubro, comités de estudantes do liceu, autonomistas, ecologistas, antinucleares, objetores de consciência, feministas, homos, todos se exaltavam, mas não se uniram.” (pág. 99)

E mais, muitos exemplos teria de destacar! Sobre a II Guerra Mundial, sobre tudo e nada!

Leiam, vão gostar!

                                                                                             Célia Gil

Bravo, Íris (2020). A Terceira Índia. Lisboa: Cultura Editora.

Nº de Páginas – 484

Início da leitura – 8 de fevereiro

Fim da leitura – 14 de fevereiro

A Terceira Índia de Íris Bravo é um romance que se caracteriza por uma escrita fluente, mas que ficou muito aquém das minhas expetativas.

Primeiro, é um livro demasiado extenso, tornando-se a história muito repetitiva, com pormenores que dispensávamos.

Segundo, as personagens não me cativaram. Sofia tem 32 anos, é professora e casada com Ricardo, um “betinho” pretensioso. Sofia é uma eterna adolescente, não revelando a maturidade suficiente na gestão das suas relações amorosas. Preocupa-se com o bem da humanidade. Porém, vangloria-se disso.

É casada com Ricardo, um arquiteto de uma família nobre ribatejana. Porém, face à sua incapacidade de engravidar (sofre de endometriose), tendo apenas um ovário, acaba por ficar obcecada, não desistindo, ainda que os médicos a aconselhem a parar e submete-se a várias tentativas de FIV. Para além deste drama, acaba por descobrir que o marido a traiu com uma estagiária e sai de casa, pedindo-lhe o divórcio.

Quando uma amiga lhe propõe que a substitua nas suas funções docentes em Moçambique, para se poder tratar de um tumor, Sofia não hesita e decide partir para Moçambique. Esperava eu que este fosse o ponto de viragem da história. Mas não foi assim.

Logo na viagem conhece Alex, com quem acaba por se envolver. E mais não digo, para não adiantar muito e revelar pormenores a quem quer ler.

Só na parte final é que a ação ganha um pouco de suspense, mas de forma pouco credível. O final inesperado, até poderia ser interessante, se a história tivesse tido a força e o interesse que a premissa inicial prometia.

Kelman, Suzanne (2020). Uma Janela Com Vista Sobre os Telhados. Lisboa: Editorial Planeta


Nº de páginas: 412

Início da leitura: 31/01/2021

Fim da leitura: 06/02/2021

Uma Janela Com Vista Sobre os Telhados é um romance escrito por Suzanne Kelman e traduzido por Jorge Pereirinha Pires, cuja ação decorre em Amsterdão durante a Segunda Guerra Mundial.

Josef Held era um professor de matemática que levava uma vida pacata até ao dia em que dá abrigo em sua casa a um jovem aluno judeu, Michael, que se vê forçado a separar-se da sua namorada, Elke, quando a Gestapo começou a capturar os judeus.

Até àquele momento, o professor vivia na mais profunda solidão, acompanhado de memórias que o consumiam e não o deixavam ser feliz. É quando dá abrigo a Michael, no sótão de sua casa, que a sua vida ganha um novo sentido. Uma história de resiliência, de fé, de amizade, de sacrifício e de altruísmo.

Mas esta estadia de Michael no seu sótão não é fácil nem pacífica, uma vez que Josef se vê obrigado a receber em sua casa a sobrinha, Ingrid, que vivia com um nazi. Esse facto, fazia com que vivessem sempre com o coração nas mãos e receosos de que Michael pudesse ser descoberto. Quando o jovem adoece, Josef dá-nos a todos uma lição de vida e sacrifica-se, adoecendo também, para poder trazer do hospital medicamentos e, assim, curar, o seu novo amigo.

Por quanto tempo seria possível esconder um judeu, quando os nazis passavam tudo a pente fino para os capturar? Ainda por cima com uma sobrinha defensora do nazismo?

Teria Michael ainda direito a amar, recuperando a sua relação com Elke, o grande amor da sua vida? Estaria ela ainda à sua espera, depois de tanto tempo sem saber nada dele?

E Josef, poderia ainda ser feliz?

Uma leitura que não pode mesmo perder! Um livro intenso, de linguagem fluida que nos faz estremecer, sentir a dor que invade as personagens e se apodera inevitavelmente de nós.  Li este livro com metas, numa leitura conjunta. Gosto muito dessas leituras e até é interessante esperar ansiosamente pelo dia seguinte para prosseguir numa leitura tão intensa e viciante.


O’Brien, Edna (2019). Na Floresta. Amadora: Cavalo de Ferro

 

Nº de páginas: 240

Início da leitura: 30/01/2021

Fim da leitura: 31/0/2021

Na Floresta é um livro escrito por Edna O’Brien e foi traduzido por Manuel Alberto Vieira. Um livro que tem tanto de pesado, forte, lúgubre, sinistro, macabro, quanto de empolgante e envolvente. Comecei ontem e não consegui quase pousar (a não ser para ler 50 páginas de outro livro que comecei hoje para um desafio de leitura conjunta).

Que livro! Ainda estou em choque e, ao mesmo tempo, em êxtase! Um forte e cru abanão. Baseado numa história real sobre o desaparecimento de Imelda Riney, de 29 anos e seu filho, de 3 anos, em abril de 1994, no Condado de Clare, bem como de um padre, Joe Walshe, do Condado de Galway. Até que ponto se é do bem ou do mal? Será que uma infância de rejeição, de sofrimento, de abusos, entre uma e outra instituição, serão suficientes para justificar a atuação e a conduta de um homicida?

Partindo da história real já mencionada, surge-nos o jovem problemático Mich O’Kane, um órfão de mãe (a única pessoa que, segundo ele, o entendia), temido por todos e que, ao sair do local onde vivia, prometeu regressar com um banho de sangue. Mich é um jovem desequilibrado, sem limites para nada, sem emoções morais e que atribui os seus atos às vozes do mal que lhe falam e com as quais conversa durante os seus sonhos ou alucinações, na sua própria solidão. E é impressionante como a autora nos coloca perante os pensamentos, a mente psicótica deste jovem. Cheguei, no início, a ter pena da criança que, como muitas crianças, foi vítima de tanta violência e de abusos nas instituições por que passou. Mas, se calhar, já desde a infância que lá estava aquele ser distorcido e violento que, mais tarde se vem a revelar. Um psicopata é sempre um psicopata, sem noção de nada (já tive um aluno com perturbações deste foro e que tentou matar os avós. Confirmo que nunca sabia como ia reagir numa aula. Sei que tinha um plano detalhado para destruir a cidade onde vivo. Era preciso tratá-lo com “pinças”, sempre a medo, sem saber a próxima reação. Por isso, ainda mais curiosa fiquei para tentar perceber uma mente destas, algo que não tem explicação).

Um livro 5 estrelas. Muito bem escrito, envolvente e para o qual somos sugados como um lodaçal que nos absorve e é com dificuldade que dele saímos.

                                                                                                                  Célia Gil

Mckenzie, Catherine (2016). Regressar. Amadora: Topseller.

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 26/01/2021

Fim da leitura: 29/0/2021

Regressar é um romance escrito por Catherine Mckenzie e foi traduzido por Maria da Graça Pinhão.

Emma Tupper é uma advogada em ascensão a quem a mãe, ao falecer, deixa um bilhete para uma viagem à Tswanalândia, um país africano (Namíbia). Emma parte para África para passar um mês de férias. Porém, adoece, sobrevive a um terramoto que terá deixado tudo devastado e, só após seis meses, regressa.

Ao regressar, não imagina o que a espera ou mesmo que não é esperada, pois já tinha sido dada como morta. Ao chegar a casa, verifica que a chave não funciona. Afinal, a casa teria sido alugada a outro inquilino, Dominic. Ao ser dada como morta, foi encerrada a sua conta bancária, deixando de efetuar o pagamento da renda da casa. Também o seu lugar no escritório de advogados tinha sido preenchido. E até o namorado, Craig, a esqueceu e deu novo rumo à sua vida sentimental.

Não sei como reagiria se isto me acontecesse, simplesmente ter deixado de existir. Mas Emma é uma personagem persistente, inteligente e com um grande sentido de humor. E enfrenta a luta que tem pela frente para recuperar a sua existência, a sua vida.

Aconselho a leitura deste livro, escrito de forma muito fluída, que se lê num ápice, sem momentos mortos. O final tem um ritmo ainda mais acelerado, envolvendo-nos totalmente na história.

Penso que este romance daria “pano para mangas”, pois não é muito desenvolvida a estadia da personagem em África e gostaria de saber mais sobre a sua vivência da catástrofe natural por que terá passado.

Molini, Elena (2020). A Pequena Farmácia Literária. Barcarena: Editorial Presença

Nº de páginas: 264

Início da leitura: 22/01/2021

Fim da leitura: 25/01/2021

A Pequena Farmácia Literária é o primeiro romance de Elena Molini, a proprietária da Piccola Farmacia Letteraria, uma livraria de Florença e foi traduzido por Vasco Gato.

Confesso que a capa do livro e o título me fascinaram e impulsionaram a ler este livro. Gosto de histórias sobre livros e livrarias.

A história decorre nesta livraria, sendo, no entanto, ficcional.

Blu é a protagonista deste livro, narradora na primeira pessoa. Após algumas desilusões com outras experiências com livros, numa editora e numa livraria, resolve abrir a sua própria livraria. No início, não se revela uma tarefa simples e lucrativa, até ter uma ideia…

Entretanto, a par da biblioterapia que vai empreendendo na sua livraria, Blue vai relatando a história do seu grupo de amigas muito sui generis, que nos convida a embrenharmo-nos nas suas aventuras. O final da história de Blu encerra uma revelação que nos surpreende.

É um livro de leitura simples, com uma linguagem atual e sem grandes arabescos literários, bom para uma leitura de verão ou uma leitura leve depois de um livro mais denso. Com momentos hilariantes, faz-nos sorrir e sonhar.

Quanto a mim, a parte melhor do livro é mesmo a relação com os livros, pelo que dispensaria muitas das histórias casuais que vão sendo narradas e que não me prenderam tanto à narrativa.

Gostei das recomendações literárias e do capítulo final que nos explica o funcionamento da livraria, com exemplos de bulas literárias.

O facto de a ação decorrer num espaço real, levou-me a pesquisar sobre o mesmo e partilho convosco um vídeo que encontrei no Youtube sobre esta livraria

e o link da página de Facebook (https://www.facebook.com/piccolafarmacialetteraria/).

Por fim, só me resta dizer que adorava visitar esta livraria!


Carvalho, Mário de (1991). Casos do Beco das Sardinheiras. Lisboa: Editorial Caminho.

Nº de páginas: 96 páginas

Início da leitura: 21/01/2021

Fim da leitura: 23/0/2021

Contos breves sobre casos onde se cruzam situações caricatas dos habitantes de um bairro, os seus linguajares, crenças, atitudes com o sobrenatural. Histórias que fazem rir, surpreendem e culminam num epílogo super criativo.

As personagens, com nomes engraçados, representando um Beco tipicamente português, manifestam também alguma singularidade. Perante situações de difícil resolução, os habitantes do Beco das sardinheiras tem sempre uma solução a propor, ainda que possa não vir a resultar plenamente. Como o autor diz, são personagens que podem não ser os heróis de grandes obras, mas que lhe assaltam os sonhos. E é como se de sonhos se tratasse, que nos surgem, por entre acontecimentos corriqueiros e outros que parecem não fazer muito sentido, até absurdos. Assim são os sonhos!

Vallès, Tina (2018). A Memória da Árvore. Alfragide: Dom Quixote.

Nº de páginas: 145

Início da leitura: 14/01/2021

Fim da leitura: 16/01/2021

A Memória da Árvore é um livro escrito pela autora Tina Vallès, nascida em Barcelona, traduzido do catalão por Artur Guerra e Cristina Rodriguez.

Este é um livro sobre afetos. Escrito de uma forma irrepreensível e que nos deixa de olhos vidrados do início ao fim. São afetos que nos aquecem e nos enchem a alma.

A história é narrada por uma criança, o Jan, uma criança que nos cativa com as suas palavras. O amor imenso que nutre pelo avô é enternecedor. Tudo começa quando os avós se mudam para sua casa, porque o avô está com Alzheimer. Poderia ficar feliz, mas, ao verificar que os pais não tinham sorrido, perguntou-lhes “- Posso ficar contente?”. Mas, quando se apercebe de tudo o que tem de prescindir por ter os avós em casa, não faz mais perguntas, pois não quer mais respostas. Tudo ia mudar, inclusive a rotina das férias de verão, que já não iam passar a Vilaverd, onde viviam os avós…

No meio de toda a tristeza vivida, o nosso narrador é a lufada de vida nesta casa. O avô começa a ir esperá-lo à escola e, a caminho de casa, conta-lhe histórias de que ele nunca irá esquecer. “Então o meu avô pôs voz de conto antigo e disse-nos que ele em pequeno tivera uma árvore que o protegia do sol do meio-dia e lhe servia de cabana, de esconderijo, de confidente.” À noite conta-lhe fábulas que o farão crescer e que o acompanharão para sempre nas suas memórias. Assim se constroem as memórias.

E, mesmo em momentos mais tristes, e passo a citar “O sorriso do meu avô voltou, e dele saíram os ramos de todas as árvores que iríamos ver no dia seguinte”.  São precisamente estas histórias, este amor do e pelo neto, que lhe vão avivando memórias e atrasando o processo de esquecimento. Contrariamente aos pais que “chegavam à escola com cara de trabalho”, os avós tinham cara de quem tem o tempo todo para ele, ainda que, por vezes, também o olhassem com aquele “olhar de vidro” de quem fica com as emoções à flor da pele.

Este é um livro escrito com uma tal sensibilidade e pureza, que é impossível não nos deixarmos envolver e seguir esta família que nos abraça e nos comove. Apesar das perdas, há sempre uma aprendizagem a retirar e uma celebração da vida.

Termino com mais uma passagem, pois só lendo se tem perceção da dimensão da linguagem utilizada, da harmonia, do sentimento que transmite:

“Lancei-me para cima do meu avô e abracei-o com muita força, com o meu nariz colado ao pescoço dele, ao seu cheiro a detergente da roupa e à espuma de barbear. Olhei para os seus botões, todos abotoados como sempre, e pensei que vai chegar um dia em que talvez não os saiba abotoar. Toquei num deles e decidi que serei eu a abotoá-los, que o meu avô andará sempre com os botões bem abotoados. E ao pensar isto tive vontade de chorar e escondi a cara nos ombros dele.”

Foi impossível não chorar com este livro, mas não com a dureza das palavras ou da situação vivida, antes com a sensibilidade com que tudo é retratado. Adorei!

Ainda que seja um livro recomendado para leitura no ensino secundário pelo PNL, penso que é um livro que deveria ser lido por todas as faixas etárias!

Levi, Primo e Benedetti; Leonardo De. Assim Foi Auschwitz. Lisboa: Objectiva, 2020.

Nº de páginas: 296

Início da leitura: 11/01/2021

Fim da leitura: 13/01/2021

Assim foi Auschwitz é um livro de Primo Levi e Leonardo De Benedetti, traduzido por Federico Carotti.

Este é um livro com testemunhos inéditos de Primo Levi e Leonardo De Benedetti, que parte de um relatório pormenorizado das condições de vida nos Lager, que lhes foi pedido pelo exército soviético, no fim da II Guerra e da libertação dos campos de concentração pelas forças aliadas.

De uma objetividade chocante e detalhada, é um livro de memórias sobre o Holocausto. Este não é um romance, é uma história de vida real e que deve servir de referência a quem escreve sobre o tema ou, pura e simplesmente, quer estar informado sobre o que realmente sucedia nos campos de concentração e extermínio.

Gostei dessa objetividade, que considero fundamental na abordagem deste tema e atendendo à forma incoerente e “leve” como tem sido romanceado. A repetição de testemunhos poderia tornar o livro maçador, o que não sucede, antes nos permite comparar e verificar a assertividade desses testemunhos.

À semelhança de muitos outros judeus, o italiano Primo Levi foi exilado num campo de trabalho em Auschwitz, em 1944, tendo na altura 24 anos. Foi em Auschwitz que Levi conheceu Benedetti, médico judeu, também prisioneiro. É, através de um exercício de memória, que os dois recordam as suas vivências nesses campos, acompanhando esse exercício de memória com reflexões e críticas bem fundamentadas, que nos permitem perceber com pormenor todos os horrores vividos nestes campos durante o Holocausto.

Termino, citando duas passagens que sintetizam muito bem o que se pretendeu transmitir através deste livro: “Não é lícito esquecer, não é lícito calar” e “Pensem: há menos de vinte anos, e no coração desta Europa civilizada, sonhou-se um sonho demente, o de edificar um império milenar sobre milhões de cadáveres e de escravos”.

Tordo, João (2020). Felicidade. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 328

Início da leitura: 04/01/2021

Fim da leitura: 10/01/2021

Felicidade é um livro de João Tordo, publicado em outubro de 2020. A ação decorre em Lisboa, na década de 70 e 80.

No início da história, somos confrontados com um protagonista masculino, de quem não sabemos o nome, vítima de uma vida trágica que envolve três irmãs gémeas, Felicidade, Angélica e Esperança.

Desde o início nos questionamos sobre as personagens e o que terá conduzido à tragédia que nos é logo apresentada no início da narrativa. A partir daqui surge, em analepse, a história desta personagem.

Tudo começa na altura em que o protagonista frequenta a mesma escola que a trigémeas, tem ele apenas 17 anos. De personalidades muito diferentes, é Felicidade que lhe pisca o olho. E é por ela que ele se apaixona perdidamente.

Ao longo da narrativa, acompanhamos a vida do protagonista desde a adolescência à idade adulta.

É notório que houve um grande trabalho de pesquisa por parte do autor, conseguindo contextualizar a história, de forma credível e completa. Também gostei da divisão em três atos, que confere à história características de uma tragédia grega. A própria escolha do nome das personagens femininas foi muito bem feita. Gostei da forma como nos são apresentados os pais do protagonista e a mãe das gémeas. Igualmente curiosa é a forma como é abordado o tema da crença esotérica, a procura de uma catarse que permita às almas sossegarem. A realçar ainda a mestria com que Tordo escreve.

Tinha tudo para ser uma boa história e não deixa de o ser, embora deva salientar dois aspetos menos positivos: a abordagem excessiva de momentos de erotismo de forma algo brejeira (deve ser moda agora!) e algumas comparações com personagens clássicas. No meu entender, essas características, poderiam ser percetíveis nas próprias personagens, na forma como agem, no decurso da narrativa, não carecendo de explicações tão exaustivas.

Chamberlain, Diane (2016). Vidas Esquecidas. Amadora: Topseller.

Nº de páginas: 384

Início da leitura: 02/01/2021

Fim da leitura: 09/01/2021

Vidas Esquecidas é um livro escrito pela Diane Chamberlain e traduzido por Ana Mendes Lopes.

Este romance prendeu-me à leitura logo nas primeiras páginas. Não estivesse eu a ler outro livro em simultâneo, apesar do número de páginas, teria devorado este livro em muito pouco tempo. Por outro lado, gostei de prolongar a sua leitura, porque foi sempre um prazer voltar a retomar a sua leitura. É um livro intenso, que aborda questões sociológicas de famílias desfavorecidas, temas controversos como a “eugénia” e que nos revolta, choca, inquieta e comove. A "Eugenia" era um programa esterilização, muito utilizada durante a II Guerra com a ideologia de atingir a “pureza racial”, e que continuou a ser amplamente utilizada, mesmo após a II Guerra, em vários países. Entre 1929 e 1975 a Carolina do Norte esterilizou sete mil dos seus cidadãos. No total cerca de 65 mil americanos foram esterilizados em 33 Estados. Apesar de ser um tema abordado de forma fictícia, retrata acontecimentos que podemos situar em termos históricos e que nos ajudam a perceber e a consciencializar para estes programas de apuramento racial tão injustos e abomináveis.

A história decorre na Carolina do Norte, na zona de Grace County em 1960. Jane Forrester, recém-formada e casada com um médico, começa a trabalhar como assistente social, ainda que o marido preferisse que ela ficasse em casa e tivesse logo filhos, como a maior parte das mulheres dos seus amigos. Mas Jane não se identifica com essas mulheres e quer exercer a sua profissão.

Jane começa a prestar assistência a famílias muito pobres e, inicialmente com o desejo de mostrar as suas capacidades profissionais, acaba por se envolver emocionalmente nos casos que segue. A família que mais a comove e interessa é constituída por Ivy, a irmã (mãe solteira e esterilizada pela “eugénia”) e a avó.

À semelhança do livro O Segredo da Minha Irmã, a história é narrada alternadamente por duas personagens, neste caso, Ivy e Jane, o que torna a narrativa mais envolvente. Os capítulos são breves, mas intensos e, sempre que queremos saber como a história continua, passamos para a outra personagem, que, por sua vez, também nos envolve e absorve completamente.

Posso dizer que adorei este livro, até mais do que o anterior, tal a carga emocional e riqueza destas personagens, que nos sugam e nos levam com elas para as suas vidas complexas e únicas.

Que segredos escondem estas mulheres? Até que ponto Jane consegue separar a sua vida das vidas que assiste?

Uma leitura que aconselho vivamente!

5 estrelas!

Fossum, Karin (2009). A Noiva Indiana. Alfragide: Dom Quixote.

Nº de páginas: 282

Início da leitura: 28/12/2020

Fim da leitura: 01/01/2021

A Noiva Indiana é um policial escrito pela norueguesa Karin Fossum e foi traduzido por José Mendonça da Cruz. Ganhou o prémio do Jornal Los Angels Times, na categoria de policial/thriller e foi finalista do Gold and Silver Dagger Award.

Günder Jomann, um norueguês solteirão, vendedor de máquinas agrícolas, parte para a Índia à procura de uma noiva. Lá, no café restaurante que frequenta desde o primeiro dia e onde regressa todos os dias, conhece Poona, uma empregada de mesa e acredita que, ainda que com algumas características físicas não totalmente perfeitas, como os dentes (que poderia vir a corrigir depois), ela é a mulher com quem quer casar. Por seu turno, Poona deixa-se encantar por ele, apesar de “não ter muito cabelo e não ser rápido a agir ou a pensar”, mas vê nos seus olhos azuis uma calma e sinceridade de homem bom que a cativa, possui “mãos fortes e acolhedoras” e dele exala uma “força tranquila”. Acredita que será feliz com ele, que terá uma vida boa. Neste momento, podemos ver que este livro é mais do que um policial, tem também algo de existencialista, de análise do ser humano, dos seus limites, convidando-nos a uma reflexão, levando-nos a indagar-nos sobre as razões de determinadas condutas. Não terá sido também a pobreza em que vivia Poona, que já só tinha um irmão na Índia e ainda mais pobre do que ela, que a levaria a aceitar casar-se com Günder? Indagações à parte, acabam por casar na Índia. Günder regressa antes à Noruega, visto que Poona tem ainda alguns assuntos a resolver. E fica marcado o dia do seu regresso, pelo qual Günder aguarda com muita ansiedade e alegria.

Porém, quando está para ir buscar a sua esposa ao aeroporto, recebe um telefonema que o impede de o fazer. A irmã, Marie, sofreu um terrível acidente de viação e encontra-se em coma no hospital. Estando o cunhado fora, teria de ser Günder a ir ter com a irmã. Fica em pânico. Com poucos amigos, não sabia como haveria de contornar esta situação e não podia sair de ao pé da irmã. Pede, então, a um taxista conhecido que a vá buscar, dando-lhe todos os pormenores para que ele a encontre.

Tal não sucede, ele não a encontra.

Mais tarde, é encontrada uma indiana morta e desfigurada a escassos metros da casa de Günder.

Quem poderia ter cometido uma atrocidade daquelas?

Todos os indícios levam a um jovem, Gøran. Mas terá sido mesmo ele? Estas dúvidas acompanham-nos até ao fim.

É um livro surpreendente, bem escrito, com uma narrativa que prende, que desperta a curiosidade. A certa altura, vemo-nos incapazes de o largar. Não queremos perder nenhum pormenor da investigação do inspetor Konrad Sejer. Aos poucos, sentimo-nos habitantes de Elvestad, conhecemos (de vista) todos os seus moradores, alguns capazes de nos despertar mesmo raiva. Mas, o que é certo, é que não conhecemos profundamente ninguém. E qualquer um, por motivos diferentes ou até sem qualquer motivo aparente, poderia ter sido o assassino.

Aconselho vivamente a leitura deste livro.

Zimler, Richard (2020). Insubmissos. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 356

Início da leitura: 21/12/2020

Fim da leitura: 27/12/2020

Insubmissos é o romance mais recente de Richard Zimler e foi traduzido por Daniela Carvalhal Garcia.

A história gira em torno de um professor de guitarra clássica, a quem morreu um irmão com sida. Também ele homossexual, envolve-se com um aluno, António, um jovem talentoso e irreverente, carente no que se refere à relação familiar com o pai, um homem rígido e pouco dada a afetos. António acaba por se envolver com portadores do VIH, contraindo ele próprio a doença, aos 24 anos. Quando percebe que está infetado, António sente que a sua vida acaba ali, nada mais fazendo sentido.

Quando o professor fica a saber disto, decide mostrar a António que ainda tem uma vida pela frente e que não pode desistir pura e simplesmente de viver. Assim, organiza uma viagem de carro com destino a Paris, onde preparara uma surpresa a António, uma audição com um conceituado professor de música, que lhe poderia abrir horizontes e ampliar os seus estudos de música.

Quando Miguel, o pai de António, sabe da viagem, disposto a aproximar-se do filho de quem se distanciara ou nunca chegara mesmo a aproximar-se. Talvez quisesse redimir-se da sua ausência na vida do filho, do seu sentimento de culpa por as coisas terem chegado onde chegaram ou, pura e simplesmente, para se encontrar a si próprio, uma vez que caíra numa vida com que não se identificava, que não o fazia feliz.

Uma viagem a três, cada um carregando um rastilho de emoções prestes a fazer explodir uma bomba a qualquer momento. Uma viagem que representa uma procura de sentido para uma vida que se prevê breve, de encontros, de dúvidas, de conhecimento, de revelações, numa tentativa, por parte de cada personagem, de renascer das cinzas, aceitar a morte, aceitar a velhice, reconciliar-se com o passado e viver o que a vida pode ainda reservar de bom.

Este livro despertou-me emoções contraditórias. Por um lado, a história é muito bem pensada. A forma como Zimler escreve prende, de facto, o leitor do início ao fim, com um ritmo rápido e sem momentos mortos.

Porém, se esta história precisava que se falasse das relações físicas, precisava. O que considero excessivo é que, para se falar de sexo sem tabus, se recorra a uma linguagem que o vulgarize e lhe retire o encanto que tem, seja ele heterossexual ou homossexual. Nem sequer era necessário estar sempre a mencionar as relações físicas e de forma detalhada com uma carga erótica tão grande. Sendo algo natural, era evitável ser abordado com uma obsessão e compulsão tão grande como o faz Zimler.

Talvez esta seja a grande razão por que gosto mais dos outros livros do Zimler.

Summers, Coutney (2019). Sadie. Amadora: Topseller.

Nº de páginas: 320

Início da leitura: 13/12/2020

Fim da leitura: 20/12/2020

 


Sadie é um livro escrito por Courtney Summers e traduzido por Dina Antunes, que ganhou o prémio Edgar Awards de 2019 na categoria de Melhor Livro Jovem Adulto.

O radialista West McCray recebe um telefonema a pedir ajuda para localizar uma rapariga desaparecida. Apesar de inicialmente desvalorizar a situação, começa a interessar-se pelo desaparecimento de Sadie Hunter, uma jovem de 19 anos, iniciando um podcast dedicado à investigação do seu desaparecimento. A par desta história, é narrado o desaparecimento de Sadie, depois de a mãe, dependente de drogas e álcool, a abandonar a ela e à irmã, Mattie. Tudo indica que Sadie tenha cuidado da irmã com todo o zelo, após este abandono. Quando a irmã é brutalmente assassinada, Sadie parte em busca do criminoso para fazer justiça, quiçá com as suas próprias mãos.

Em forma de podcast, este é um thriller young adult que nos prende pela história em si, uma história que envolve, que vai abalando as nossas emoções. É um livro que aborda temas duros como as dependências, as preferências por um determinado filho, o abandono, a pedofilia e o homicídio, mas de uma forma que não choca, talvez por ser destinado à leitura por jovens. De coração apertado, somos levados por Sadie nesta viagem conturbada, à procura de pistas, tentando desvendar tudo o que terá estado por detrás da morte da irmã. Uma história dramática, escrita de forma simples, direta e empolgante. À medida que vamos avançando na leitura, vemo-nos cada vez mais presos nas malhas deste enredo e a desejar saber mais.

Uma leitura que recomendo para quem gosta destas temáticas e de thrillers.

Santos, António Costa (2007). Proibido. Lisboa: Guerra e Paz Editores.

Nº de páginas: 216

Início da leitura: 08/12/2020

Fim da leitura: 12/12/2020

Proibido é um livro escrito por António Costa Santos e devo dizer que foi uma delícia ler este livro. Adorei a forma como está escrito, o humor e o saber de que este livro é feito.

Muito bem estruturado, com imagens exemplificativas da época do Estado Novo, este livro conta-nos histórias da História. É com sentido de humor que António Costa Santos nos conta histórias hilariantes de proibições de lei e tradição, agora inconcebíveis, naquela época do lápis azul, onde a justiça era levada a situações extremas e até ridículas, ao ponto de, neste momento, nos provocar o riso ou sorriso incrédulo.

E num tom hilariante, é possível abordar questões sérias, de aprendizagem e consciencialização de tudo quanto foi conquistado. Sentimos o quão difícil deve ter sido às gerações passadas ultrapassar estas proibições que eram um exemplo evidente da violação dos direitos humanos. E louvamos todos os que lutaram por um futuro livre do “colete de forças” em que se via encarcerado o ser humano.

Era proibido ler, editar e vender certos livros, o que terá levado à detenção de vários escritores sobejamente nossos conhecidos. A desigualdade de género era bem evidente na forma como a mulher era vista e integrada na sociedade, o que exemplifico com um dos exemplos que mais me chocou: a mulher casada não podia viajar sozinha sem uma autorização por escrito por parte do marido. Era proibido beber coca-cola, usar biquíni, pedir o divórcio, dar beijos em público, ouvir certas músicas, casar com uma professora, entre tantas outras de que não vou falar, para que possam ler o livro e ficar tão surpreendidos quanto eu.

Ler este livro é perceber melhor a ignorância, a pobreza e a injustiça em que o povo português vivia. Um livro muito importante também para que nunca esqueçamos e nunca mais se repitam as perversidades do regime de Salazar.

***** estrelas!

                                                       Célia Gil

Hirata, Andrea (2013). Os Guerreiros do Arco-Íris. Barcarena: Editorial Presença

Nº de páginas: 286

Início da leitura: 02/12/2020

Fim da leitura: 07/12/2020

Os Guerreiros do Arco-Íris é um romance escrito por Andrea Hirata, um escritor indonésio e traduzido por Maria João Freire de Andrade.

Antes de dizer o que quer que seja sobre os acontecimentos narrados neste livro, devo dizer que é fantástico! Não é qualquer livro que tem o poder de nos envolver de tal forma, que com ele choramos, rimos, sofremos, vibramos. Por vários momentos, senti o peito apertadinho a sofrer pelas personagens, ou melhor, com as personagens. Uma história de vida, de luta, de persistência, de desigualdades sociais, de exploração infantil, de desvalorização de escolas das aldeias, a par de uma grande persistência, de professores que fazem a diferença, de alunos que também fazem a diferença, de um grande espírito de sacrifício e resiliência, e, ainda, entremeando com momentos puramente mágicos, com a crença em fantasmas, com o amor (que, com efeito, comanda e muda a vida), momentos de vitória, nos quais me vi a torcer com ansiedade por um grupo de jovens e muitos momentos hilariantes nos quais era impossível não soltar uma boa gargalhada.

Esta é uma história que, segundo a Amazon, “se lê como um moderno conto de fadas”, mas um conto de fadas em que, nem sempre tudo corre às mil maravilhas. Narrada na primeira pessoa, é pela voz de Ikal, uma criança de seis anos, no início do romance, que nos chega esta história incrível. A ação decorre na ilha de Belitong, uma aldeia muito pobre e onde as crianças começam a trabalhar muito cedo a apanhar pimenta, a embrenharem-se pela perigosa selva para apanharem madeira de agara e sândalo amarelo, a trabalhar em lojas, a calafetar barcos, a ralar coco e como moços de recados dos barcos de pesca.

Porém, para este grupo de crianças, pelo menos até certa altura, a escola era o lugar onde eram felizes, mas manter a escola aberta é uma luta constante e muitas são as adversidades por que passam. Estes jovens estudantes são, com efeito, “guerreiros do arco-íris”, que tudo fazem para defender a sua escola, mesmo quando tencionam derrubá-la para explorar o estanho que estaria debaixo da sua estrutura.

Conseguirão os dois troféus ganhos em provas diferentes ser suficientes para manter a escola aberta? Que futuro estará reservado para estas crianças pobres?

Este é mesmo um livro que todos deviam ler, que alguns jovens que têm acesso à educação de mão beijada e não aproveitam, deviam ler. Que todos deviam ler!

Um romance 5 estrelas. É daqueles romances que nos deixa a ressacar. O próximo a ler tem de ser mesmo bom, ou vou ter sempre saudades deste!

                                                                                                                  Célia Gil

Pimenta, Samuel (2015). Os Números Que Venceram os Nomes. Barcarena: Marcador Editora

Nº de páginas: 176

Início da leitura: 29/11/2020

Fim da leitura: 01/12/2020

Os Números Que Venceram os Nomes é um romance de Samuel Pimenta, que ganhou o Prémio Jovens Criadores – Literatura. Não é de todo fácil classificar este livro, é uma distopia que, ao mesmo tempo, constitui também uma parábola. Um livro que perturba, mas que alerta, ao mesmo tempo, para a desumanização que está a dominar a nossa sociedade.

A ação decorre num futuro indeterminado, num momento em que, comprovada matematicamente a existência de Deus (e de uma única religião) por meio de uma fórmula matemática, os homens veem-se obrigados a trocar os seus nomes por números. É-lhes feita uma lavagem cerebral e, caso alguém se questione ou vivencie uma situação que ponha em risco esta nova sociedade, é internado em hospícios, onde continua a lavagem cerebral, com medicação que não lhes permite lembrarem-se que não são mais do que um número. Tudo passa a ser regido por números – pessoas, países, ruas, animais…. Como se de máquinas se tratasse e não de pessoas, já que estas deixam de ter identidade, passando a ser um número de um sistema de dados.

Um Nove Um Seis é um rapaz que vive sozinho e trabalha num call center. Certa noite, cruza-se com um gato na rua e começa a ter visões de acontecimentos passados, com esse gato. É internado num hospício. Partilha o quarto com um velho inconformado, que o alerta para a necessidade de não tomar os comprimidos que lhe dão, que é isso que o novo regime quer, anular todos os seres e formatá-los. É, ao seguir os conselhos do velho, que Um Nove Um Seis tenta descobrir quem é, o que é um nome e qual a sua função.

É um livro pequeno, mas não tinha de ser maior para cumprir o seu objetivo.

Gostei muito da forma como Samuel escreve, direta e atenta. Ler este livro é como respirar de um só fôlego!

Recomendo!

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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