O Livreiro de Paris


George, Nina (2013). O Livreiro de Paris. Lisboa: Editorial Presença.

Desde a primeira página que nos sentimos cativados por esta personagem principal, o Jean Perdu. Como seria bom encontrar na realidade esta personagem, este livreiro que tinha um barco livraria ancorado no rio Sena, em Paris. Como era bom frequentar esta farmácia literária, onde alguém sensível e atento como Perdu nos pudesse diagnosticar os problemas e propusesse um livro para a sua resolução!

Assim é Perdu, que tem uma série de pacientes-clientes, muito peculiares, com doenças muito específicas, mas que ele consegue, através do tom de voz, do olhar, de tudo o que emanam de si, conhecer como ninguém. Só assim vai ao encontro da prescrição do livro adequado aos vários sintomas, em “doses fáceis de digerir (entre 5 e 50 páginas). Se possível, com os pés quentes e/ou um gato ao colo”.

A título de exemplo, receita Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Cervantes para tomar “em caso de conflitos entre a realidade e o ideal”. Se o problema consistir no vício do Facebook e dependência do The Matrix, o antídoto eficaz contra esta tecnocracia da Internet, poderá ser o The Machine Stops, de Eduard Foster. “Contra a tristeza e pela coragem de continuar”, nada melhor do que Os Degraus, de Hermann Hesse. Até José Saramago pode ser prescrito, porque o seu Ensaio sobre a Cegueira é eficaz “contra o excesso de trabalho e para descobrir o que é verdadeiramente importante. Contra a cegueira para o sentido da própria vida”.

Mas este romance não se limita a esta farmácia, vai muito para além disso, precisamente porque Perdu tem a cura para todos os males, menos para o seu, um desgosto de amor de há vinte anos atrás, uma pessoa que se foi embora, Manon, com quem tivera um romance intenso, deixando-o frio, fechado para o amor, numa tristeza sem par.

É quando aparece uma nova mulher na sua vida, passado este tempo todo, que vem despertá-lo para a realidade em que ele se deixara adormecer sem viver. Catherine encontra uma carta deixada por Manon há vinte anos e consegue convencer Perdu a lê-la. Esta carta, onde Manon confessa que se vai embora, vai casar com alguém capaz de lhe proporcionar a estabilidade emocional que ela precisa num momento em que está doente e condenada à morte, vai mudar a vida de Perdu, que parte com o seu barco livraria em busca de respostas, à procura de si mesmo, com a sensação de ter agido incorretamente, não ter ido atrás de Manon, não ter lido a carta, não ter conseguido vê-la pela última vez.
Nesta viagem, onde o acompanha um jovem escritor a quem a inspiração tinha atraiçoado, terá Perdu encontrado a sua razão de viver? Poderia Catherine ser um paliativo para a dor que sentia? Ou seria até mais do que isso e ele nunca se dera a oportunidade de voltar a viver?

Nada como ler este livro para rir, chorar, descontrair, se emocionar, se surpreender, encontrar novas personagens que ficarão para sempre na nossa memória literária.
                                              Célia Gil

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