Carvalho,
Rodrigo Guedes de (2009). A Casa Quieta.
Leya.
Este
livro, que vai sendo narrado por diferentes personagens, permite-nos ter uma
perceção do que pensa cada uma delas, pelo que facilmente ficamos íntimos
destas personagens tão reais. Salvador, um arquiteto, é casado com Mariana, que
se debate, em fase terminal, com um cancro que a vai consumindo. O irmão de
Salvador, António, é um antigo combatente, sofre de um trauma de guerra. Todo
este enredo triste é tão convincente que somos levados a sofrer com as
personagens.
Os
capítulos têm sempre o mês a que se referem no início, não seguindo um tempo
cronológico linear, com analepses que nos explicam pormenores anteriores, que,
curiosamente, sentimos necessidade de ir percebendo.
Com
uma escrita oralizante, intimista, Guedes de Carvalho aborda uma temática quotidiana
para quem já perdeu para o cancro um ente querido, de forma tão real que
conseguimos sentir a dor das personagens, as suas dúvidas mais comezinhas e as
suas considerações mais comuns.
Passo
a ler algumas passagens demonstrativas do poder das palavras de Guedes de
Carvalho:
“É
então isto a morte. Abrires os olhos à espera de uma revelação e esbarrares no
nada.” (Pág. 9)
“Havia
um relógio de parede que nunca funcionou mas de que gostávamos como se funcionasse,
como se tivesse préstimo. Eram as nossas coisas. Agora são coisas.” (pág. 247)
Tu
eras (…). Tu eras as luzes acesas. Eras uma casa à minha espera. (…) A fechares
o mundo lá fora”. (Pág. 247)
“Filhos,
doutor, (…) levam o que temos de melhor sem nunca nos devolverem, ainda que
esperemos, (…)”
“Um
bebé é só mais uma pessoa que vai morrer. Havemos de cuidar dele, de o
entreter, de lhe comprar roupa e dar a papa, de o levar à escola, de o levar ao
dentista. Ele há-de estudar, tirar boas ou más notas, vestir-se sozinho (…),
tirar a carta, abrir guarda-chuvas e rir das tempestades, rebolar-se na cama
com outros corpos igualmente frescos secos firmes robustos, consultará as
pautas de notas afixadas, irá festejar a passagem de ano, há-de abrir e
oferecer presentes, dizer amo-te e sofrer por amor. (…) Um bebé é só mais uma
pessoa que vai morrer.” (pág. 242).
Célia Gil
1 Comentarios
Gostei da amostrinha e trechos escolhidos. Bela apresentação! beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminar