D'Orey, Frederico (2024). Nascido de Ninguém. Lisboa: Guerra e Paz.
N.º de páginas: 144Gostei muito deste livro. A escrita de Frederico d’Orey é contida, elegante e profundamente humana. Não precisa de grandes artifícios para comover — há uma honestidade crua na forma como nos apresenta Hans, esse rapaz com um passado manchado por culpas, que nem sempre lhe pertencem.
A relação entre o trauma individual e o peso da História foi muito bem explorada. Senti que o autor não estava interessado apenas em contar uma história “comovente”, mas sim em mostrar como as feridas do passado nos moldam — mesmo quando tentamos recomeçar, longe de tudo. Há uma dimensão humana, quase silenciosa, que nos obriga a olhar para dentro.
Além disso, a construção da identidade do protagonista — entre a Áustria e Portugal, entre o passado e o presente — tem uma delicadeza rara. O livro não nos dá tudo de bandeja, e isso torna-o ainda mais poderoso. Há espaço para o leitor respirar, imaginar, sentir.
É daqueles romances que terminamos devagar, quase com pena, e que nos acompanha por muito tempo. Recomendo.
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