Pamuk, Orhan. A Cidadela Branca. Ed.4. Lisboa:
Editorial Presença, 2006.
A
Cidadela Branca, de Orhan Pamuk, autor que foi prémio
Nobel da Literatura em 2006, é um livro enigmático e que confronta o leitor com
as suas dúvidas existenciais, tão fortemente vivenciadas pelos protagonistas do
livro.
No séc. XVII, um jovem
estudante aristocrata veneziano, numa viagem entre Veneza e Nápoles, é
capturado por piratas turcos, tornando-se prisioneiro e escravo em Istambul.
Entretanto, um cientista
inventor, conhecido como o Mestre, toma-o como seu escravo e é assim que se
decide a aprender com ele tudo o que tinha a ensinar-lhe sobre o Ocidente.
Juntos, vão procurando também dar resposta às solicitações do Sultão. O Mestre
vai transmitindo ao Sultão tudo o que vai aprendendo com o escravo, se bem que,
no início, o Sultão, ainda demasiado jovem, se mostre mais interessado em profecias
e histórias sobre animais.
Quando a peste invade
Istambul, o Sultão exige ao Mestre que lhe apresente uma solução eficaz para a
diminuição do número de mortos.
Entre eles, que possuem
uma incrível e simbólica semelhança física, nasce uma cumplicidade que chega a
ser doentia, uma relação de amor-ódio, que vai de uma total não aceitação do
outro à conclusão de que não poderiam viver um sem o outro.
No momento em que se veem obrigados
a ficar em casa, para evitar contrair a peste, o Mestre e o escravo decidem
escrever as suas respetivas autobiografias.
É neste momento que se
cria uma relação de dependência entre os dois em que, apesar das diferenças
civilizacionais que os separam, são tremendamente assustadoras as semelhanças
que os unem e que os levam, a partir das autobiografias, a um jogo de espelhos
no qual se fundem as próprias identidades ao ponto de as questionarem e pensarem
até que ponto não poderão viver a vida um do outro.
O Mestre acaba por
retomar a vida do escravo, antes de ter sido feito prisioneiro, tornando-se
numa pessoa culta. Já o escravo, vive a vida do Mestre, tornando-se bárbaro,
cruel e selvagem.
Uma metáfora da vida em
comum, onde, muitas vezes, as pessoas, na busca da sua identidade dentro de uma
relação, sentem que deixaram de ser quem eram para passarem a ser como o outro,
anulando-se e transformando-se nele. Afinal, alguém saberá dar a resposta à
pergunta “Quem sou?”
A Cidadela Branca de
Orhan Pamuk é esta viagem psicológica e existencial à mente humana que esta
semana convido a fazer, eu que sou a Célia Gil.
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