Ahern, Cecelia (2017). Os Imperfeitos.
Lisboa: Editorial Presença
Os
imperfeitos, de Cecelia Ahern, é uma obra cuja ação
decorre num futuro, em que a sociedade, depois de uma grave crise, se organizou
em perfeitos e imperfeitos.
Celestine North é
perfeita, tem o namorado perfeito, a família perfeita e um futuro garantidamente
perfeito. Esforça-se para agradar ao namorado e futuro sogro, o juiz
Crevan, que todos os dias julga, no Tribunal, pessoas como perfeitas ou
imperfeitas. Tudo corre bem, até ao dia em que, a caminho da escola, numa
viagem de autocarro, com a irmã e o namorado, Celestine se questiona como pode
ser perfeito alguém que não pode ajudar um imperfeito a precisar urgentemente
de ajuda. Compadece-se de um senhor imperfeito, que se está a sentir mal
e, pelo facto de o ajudar a sentar-se, é levada a Tribunal.
O juiz Crevan
promete-lhe que correrá tudo bem, porque ela vai negar que ajudou um imperfeito
e será ilibada. Porém, durante o julgamento, Celestine é incapaz de mentir e
acaba por confessar que ajudou o imperfeito.
Como todos os
imperfeitos, e para dar o exemplo, Celestine é marcada como imperfeita, com
tatuagens, com que os costumavam marcar. Cada parte do corpo que é tatuada tem
um significado condizente com o crime cometido. Porém, o juiz, despeitado pela
insubordinação de Celestine, decide puni-la marcando-a com mais tatuagens que
algum imperfeito tenha. 5 seria o máximo das tatuagens, mas nela são feitas
seis, algo nunca visto. As pessoas que a viram a ser tatuada, acabam, mais
tarde, por desaparecer, não podendo interceder a seu favor. E Carrick que
também viu, antes de ela ir para casa, disse-lhe que ainda se iriam encontrar.
É ele a única esperança de Celestine para provar que o juiz fez algo de proibido.
Tudo se
desmorona, até na escola, onde era uma aluna perfeita, uma vez que passa a ser
rejeitada nas aulas pelos professores, a ser gozada e ignorada pelos colegas,
como se tivesse sarna. Ela começa à procura das pessoas que pudessem ter visto
o momento em que foi marcada, mas não encontra ninguém, nem mesmo Carrick.
Aos poucos
Celestine percebe, que mesmo sem qualquer intenção, tornou-se uma espécie de
símbolo para todos os imperfeitos, porque a sua atitude em Tribunal, não
dizendo exatamente o que o seu futuro sogro queria ouvir, deu coragem a muitos,
que passaram a vê-la como um rosto para uma possível revolução.
Conseguirá
Celestine voltar a ter uma vida minimamente normal, mesmo sendo imperfeita?
Conseguirá ela reencontrar Carrick?
Penso que
tiramos deste livro uma grande lição: as pessoas estão cada vez mais a agir por
si e a pensar apenas em si, não se importando com os outros. E, muitas vezes,
quem ajuda, acaba por ser mal-interpretado e julgado.
Célia Gil
0 Comentarios