Dag,
Niklas Natt Och (2019). 1793. Lisboa: Suma das Letras.
Nº
de páginas: 352
Início
da leitura: 12/10/2020
Fim
da leitura: 19/10/2020
1793 é
uma estreia do escritor sueco Niklas Natt Och Dag e traduzido por Rita
Figueiredo, recebeu um prémio da Academia Sueca de Escritores de Crime.
Não
foi um livro que me tenha despertado interesse nas primeiras páginas. Porém, à
medida que fui lendo, percebendo a relação entre as personagens, e me fui
deparando com uma muito boa contextualização histórica, fiquei
irremediavelmente presa ao livro.
1793
é um policial, com características de romance histórico e nuances de romance
gótico, que relata uma autêntica história de terror, em Estocolmo de
finais do século XVIII. Uma história macabra, dura, chocante, crua, hedionda e
repugnante. Tudo começa com um corpo que é encontrado a boiar num rio, um
cadáver mutilado, sem membros, sem língua, sem dentes e de órbitras vazias no
lugar dos olhos. Mikel Cardell é um ex-militar que perdeu um braço
na Guerra Russo-Sueca de 1788–1790 e que vive ainda com traumas, que anda
constantemente bêbado, em especial por ter perdido o seu melhor amigo numa das
batalhas navais que ocorreram nesse conflito militar. A autoridade é
chamada a intervir, e Cardell conhece Cecil Winge, um advogado conceituado, com
uma postura moral irrepreensível, que presta serviços à polícia e que fica
muito intrigado com este caso. Mas Cecil sofre de tísica e o estado avançado da
doença ameaça o seu trabalho na investigação. Ainda assim, esta dupla
improvável junta-se para trabalhar num caso que envolve altas esferas do poder e que
vai levar o leitor a uma viagem imersiva à Estocolmo de finais do século XVIII.
Apesar
de todo o clima de terror que envolve estas personagens, é fácil criar empatia
por Cardell e Winge. Também, o interesse deles neste caso, arrasta-nos para
todas as diligências, como se as fossemos presenciando e estivéssemos ao lado
deles em cada nova descoberta. É uma história com História, pelo que
acompanhamos os acontecimentos da vida cosmopolita da Suécia da época, com os
costumes de um povo que conduzia a sua vida difícil por entre estalagens,
praças, portos, aquecendo-se na bebida, em tabernas. Neste ambiente destacam-se
mulheres desprezadas e usadas, a guarda que exercia o poder através da
violência, uma sociedade feroz, bruta, insana e depravada que, aquecida pelo
álcool, não só aplaudia a violência, como incentivava essa mesma violência sob
as vestes da justiça.
Paralelamente
a estas personagens, surgem outras não de menor relevo, das quais destaco Ana
Stina, pela sua força e coragem tão invulgares para a época.
Sem
dúvida que foi um livro de que gostei muito de ler, pela forma como a narrativa
está construída, pela linguagem bem trabalhada, pela própria contextualização
histórica exímia. Não é, no entanto, um livro que aconselhe a pessoas
excessivamente sensíveis.
Célia
Gil
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