Dieudonné, Adeline (2019). A Verdadeira Vida. Lisboa: Gradiva Publicações.
Nº de páginas: 190
Início da leitura: 09/10/2020
Fim da leitura: 11/10/2020
A Verdadeira Vida é
um livro escrito pela belga Adeline Dieudonné e traduzido por Tiago Marques. É
daqueles livros que não se pode mesmo julgar pela capa, que, quanto a mim, é
pouco apelativa para a história que encerra. Este livro foi, com todo o mérito,
Prémio Romance FNAC 2018 e Prémio Renaudot dos Estudantes 2018.
Não é fácil falar deste livro, pois tudo nele é diferente. O que
poderia ser uma história familiar comum, é tudo menos comum. É de uma crueza,
de uma acidez, que nos abana, nos sacode, deitando por terra qualquer ideia pré-concebida
ou teoria que pudéssemos tecer. E, no entanto, há um amor fraternal que
subsiste a tudo e a todos, às próprias vicissitudes da vida.
A protagonista e narradora do livro tem apenas dez anos e um irmãozinho
mais pequeno a quem protege. Vivem com os pais e com os milhares de cadáveres
no quarto que designa “quarto dos cadáveres” e que são o troféu de anos e anos
de caça por parte do pai.
Num dia, como tantos outros, em que passa a carrinha dos gelados, ela pede inocentemente duas bolas e chantilly, longe de esperar o que se sucederia ao seu pedido. O vendedor de gelados, ao premir o sifão, este explodiu-lhe nas mãos e penetrou-lhe pela cara, da qual ficou apenas metade. O irmãozinho Guilles também presenciou. E, a partir daquele dia, tudo piorou (se é possível) nas suas vidas.
Segue-se uma narrativa de cortar a respiração, na qual esta criança tudo
faz para livrar o irmão dos fantasmas que começam a povoar-lhe o cérebro. Esta
criança tem a esperança de o conseguir, construindo uma máquina do tempo, com a
qual possa voltar ao passado e evitar que tudo se passe como se passou.
Desiludida com a magia em que inicialmente acreditava, vira-se para a ciência e
torna-se uma brilhante aluna de Física. Tudo o que consegue, até mesmo os seus
estudos e conhecimentos, deve-os a si, ao seu esforço, à sua capacidade de improvisar
e trabalhar. Ela sabe que “a verdadeira vida” dependerá única e exclusivamente
dela.
Tudo nesta história se precipita para um ponto alto brutal e
sanguinolento, que não apenas choca, também comove e nos deixa de coração
apertadinho.
Mas mais não conto. Aconselho vivamente a leitura deste pequeno
grande livro!
Célia
Gil
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